Inteligencia-emocional-Daniel-Goleman

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15.01.2020 Views

planejadas e organizadas as ações para que alcancemos umobjetivo, incluindo os emocionais. No neocórtex, uma série emcascata de circuitos registra e analisa essa informação,compreende-a e, por meio dos lobos pré-frontais, organiza umareação. Se no processo é exigida uma resposta emocional, oslobos pré-frontais a ditam, trabalhando em comum com aamígdala e outros circuitos no cérebro emocional.Essa progressão, que permite discernir a resposta emocional,é o esquema-padrão, com a significativa exceção dasemergências emocionais. Quando uma emoção dispara, empoucos momentos os lobos pré-frontais efetuam o equivalente aum cálculo da relação custo/benefício das miríades de reaçõespossíveis e decidem que uma delas é a melhor.11 Nos animais,quando atacar, quando fugir. E quanto a nós, humanos..., quandoatacar, quando fugir — e também quando apaziguar, persuadir,atrair simpatia, fechar-se em copas, provocar culpa, lamentarse,assumir uma fachada de bravata, mostrar desprezo — eassim por diante, percorrendo todo o repertório de ardisemocionais.A resposta neocortical é mais lenta em tempo cerebral que omecanismo de seqüestro porque envolve mais circuitos.Também é mais criteriosa e ponderada, pois mais pensamentosantecedem o sentimento. Quando registramos uma perda eficamos tristes, ou nos alegramos com uma vitória, ou refletimossobre alguma coisa que alguém disse ou fez e depois ficamosmagoados ou zangados, é o neocórtex agindo.Como acontece com a amígdala, sem o funcionamento doslobos pré-frontais grande parte da vida emocionaldesapareceria; sem a compreensão de que alguma coisamerece uma resposta emocional, não há nenhuma resposta.Neurologistas suspeitavam desse papel dos lobos pré-frontais nasemoções desde o advento, na década de 1940, daquele“tratamento” cirúrgico um tanto desesperado — e tristementeenganoso — para a doença mental: a lobotomia pré-frontal, que(muitas vezes malfeita) removia parte dos lobos pré-frontais ouentão seccionava as ligações entre o córtex pré-frontal e océrebro inferior. Numa época anterior à existência de remédioseficazes para a doença mental, a lobotomia foi saudada como asolução para a perturbação emocional grave — era só cortar asligações entre os lobos pré-frontais e o resto do cérebro que se“aliviava” a aflição do paciente. Infelizmente, o custo para amaioria dos pacientes era, também, a perda de suas emoções.O circuito-chave ficava destruído.Supõe-se que os seqüestros emocionais envolvem duasdinâmicas: o disparo da amígdala e a não-ativação dosprocessos neocorticais que em geral mantêm o equilíbrio da

resposta emocional — ou um recrutamento das zonasneocorticais para a urgência emocional.12 Nesses momentos, amente racional é inundada pela emoção. Uma das maneiras deo neocórtex agir como eficiente administrador da emoção —avaliando as reações antes de agir — é amortecer os sinais deativação enviados pela amígdala e outros centros límbicos —assim como um pai que impede um filho impulsivo de pegaruma coisa e o manda, em vez disso, pedir direito (ou esperar)o que quer.13A principal chave de “desligar” a emoção aflitiva parece sero lobo pré-frontal esquerdo. Neuropsicólogos que estudamhumores de pacientes com danos em partes dos lobos frontaisdeterminaram que uma das tarefas do lobo pré-frontal esquerdoé agir como um termostato nervoso, regulando emoçõesdesagradáveis. Os lobos pré-frontais direitos são um local desentimentos negativos, como medo e agressividade, enquanto osesquerdos refreiam essas emoções brutas, provavelmenteinibindo o lobo direito.14 Num grupo de pacientes que sofreramderrame, por exemplo, aqueles cujas lesões haviam ocorrido nocórtex pré-frontal esquerdo tinham tendência a preocupações emedos catastróficos; aqueles com lesões no direito eram“exageradamente animados”; durante os exames neurológicos,faziam piadas com tudo e mostravam-se tão descontraídos quevisivelmente nem se preocupavam com o resultado doexame.15 E ainda houve o caso do marido feliz: um homemcujo lobo pré-frontal direito fora parcialmente removido numacirurgia para correção de uma má-formação do cérebro. Amulher contou aos médicos que depois da operação o maridosofrera uma mudança radical de personalidade, passando airritar-se com menos facilidade e — como ela estava feliz! —estava mais carinhoso.16O lobo pré-frontal esquerdo, em suma, parece fazer parte deum circuito neural que pode desligar, ou pelo menos amortecer,quase todos os impulsos negativos mais fortes da emoção. Se aamígdala muitas vezes age como um disparador de emergência,o lobo pré-frontal esquerdo faz parte da chave de “desligar” aemoção perturbadora: a amígdala propõe, o lobo pré-frontaldispõe. Essas ligações pré-frontal-límbicas são cruciais na vidamental muito além do simples refinamento da emoção; sãoessenciais para fazer-nos navegar em meio às decisões maisimportantes na vida.HARMONIZANDO EMOÇÃO E PENSAMENTOAs ligações entre a amígdala (e as estruturas límbicasrelacionadas) e o neocórtex são o centro das batalhas ou dos

planejadas e organizadas as ações para que alcancemos um

objetivo, incluindo os emocionais. No neocórtex, uma série em

cascata de circuitos registra e analisa essa informação,

compreende-a e, por meio dos lobos pré-frontais, organiza uma

reação. Se no processo é exigida uma resposta emocional, os

lobos pré-frontais a ditam, trabalhando em comum com a

amígdala e outros circuitos no cérebro emocional.

Essa progressão, que permite discernir a resposta emocional,

é o esquema-padrão, com a significativa exceção das

emergências emocionais. Quando uma emoção dispara, em

poucos momentos os lobos pré-frontais efetuam o equivalente a

um cálculo da relação custo/benefício das miríades de reações

possíveis e decidem que uma delas é a melhor.11 Nos animais,

quando atacar, quando fugir. E quanto a nós, humanos..., quando

atacar, quando fugir — e também quando apaziguar, persuadir,

atrair simpatia, fechar-se em copas, provocar culpa, lamentarse,

assumir uma fachada de bravata, mostrar desprezo — e

assim por diante, percorrendo todo o repertório de ardis

emocionais.

A resposta neocortical é mais lenta em tempo cerebral que o

mecanismo de seqüestro porque envolve mais circuitos.

Também é mais criteriosa e ponderada, pois mais pensamentos

antecedem o sentimento. Quando registramos uma perda e

ficamos tristes, ou nos alegramos com uma vitória, ou refletimos

sobre alguma coisa que alguém disse ou fez e depois ficamos

magoados ou zangados, é o neocórtex agindo.

Como acontece com a amígdala, sem o funcionamento dos

lobos pré-frontais grande parte da vida emocional

desapareceria; sem a compreensão de que alguma coisa

merece uma resposta emocional, não há nenhuma resposta.

Neurologistas suspeitavam desse papel dos lobos pré-frontais nas

emoções desde o advento, na década de 1940, daquele

“tratamento” cirúrgico um tanto desesperado — e tristemente

enganoso — para a doença mental: a lobotomia pré-frontal, que

(muitas vezes malfeita) removia parte dos lobos pré-frontais ou

então seccionava as ligações entre o córtex pré-frontal e o

cérebro inferior. Numa época anterior à existência de remédios

eficazes para a doença mental, a lobotomia foi saudada como a

solução para a perturbação emocional grave — era só cortar as

ligações entre os lobos pré-frontais e o resto do cérebro que se

“aliviava” a aflição do paciente. Infelizmente, o custo para a

maioria dos pacientes era, também, a perda de suas emoções.

O circuito-chave ficava destruído.

Supõe-se que os seqüestros emocionais envolvem duas

dinâmicas: o disparo da amígdala e a não-ativação dos

processos neocorticais que em geral mantêm o equilíbrio da

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