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Inteligencia-emocional-Daniel-Goleman

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freqüentemente, é anacrônica — sobretudo no fluido mundo

social em que nós, humanos, vivemos. Como repositório de

memória emocional, a amígdala examina a experiência,

comparando o que está acontecendo agora com o que

aconteceu no passado. Seu método de comparação é

associativo: quando um elemento-chave de uma situação

presente é semelhante àquele do passado, pode-se dizer que se

“casam” — motivo pelo qual esse circuito é falho: age antes de

haver uma plena confirmação. Ordena-nos freneticamente que

reajamos ao presente com meios registrados muito tempo atrás,

com pensamentos, emoções e reações aprendidos em resposta

a acontecimentos talvez apenas vagamente semelhantes, mas

ainda assim o bastante para alarmar a amígdala.

Eis por que uma ex-enfermeira do Exército, traumatizada

pelo incessante fluxo de ferimentos horríveis de que cuidou na

guerra, é acometida de repente por um misto de pavor,

repugnância e pânico — uma repetição de sua reação no

campo de batalha, provocada mais uma vez, anos depois, pelo

mau cheiro quando abre a porta de um armário e descobre que

seu filho pequeno enfiou ali uma fralda suja. Basta que poucos

elementos esparsos da situação pareçam semelhantes a algum

perigo do passado para que a amígdala dispare seu alerta de

emergência. O problema é que, junto com as lembranças

emocionalmente carregadas que têm o poder de provocar essa

reação de crise, podem vir do mesmo modo formas obsoletas

de respondê-la.

À imprecisão do cérebro emocional nesses momentos

acrescenta-se o fato de que muitas lembranças emocionais fortes

datam dos primeiros anos de vida, na relação entre a criança e

aqueles que cuidam dela. Isso se aplica sobretudo aos

acontecimentos traumáticos, como surras ou total abandono.

Durante esse primeiro período de vida, outras estruturas

cerebrais, em particular o hipocampo, que é crucial para as

lembranças narrativas, e o neocórtex, sede do pensamento

racional, ainda não se desenvolveram inteiramente. Na

memória, a amígdala e o hipocampo trabalham juntos; cada um

armazena e conserva sua informação de forma independente.

Enquanto o hipocampo retém a informação, a amígdala

determina se ela tem valência emocional. Mas a amígdala, que

amadurece muito rápido no cérebro infantil, está, no nascimento,

muito mais próxima da forma completa.

LeDoux recorre ao papel da amígdala na infância para

confirmar o que há muito tempo é doutrina básica no

pensamento psicanalítico: que as interações ocorridas nos

primeiros anos de vida estabelecem um conjunto de lições

elementares, baseadas na sintonia e perturbações dos contatos

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