Inteligencia-emocional-Daniel-Goleman
complicadas com que nos deparamos e nossas respostas a elassão moldadas não apenas por nossos julgamentos racionais ounossa história pessoal, mas também por nosso passado ancestral.Esse legado nos predispõe a provocar tragédias, de que é tristeexemplo o lamentável fato ocorrido na família Crabtree. Emsuma, com muita freqüência enfrentamos dilemas pós-modernoscom um repertório talhado para as urgências do Pleistoceno.Esse paradoxo é o cerne de meu tema.Agir impulsivamenteNum dia de início da primavera, eu percorria de carro umpasso de montanha no Colorado, quando uma repentina lufadade neve encobriu o veículo alguns metros à minha frente.Mesmo forçando a vista, eu não conseguia distinguir nada; aneve em redemoinho transformara-se numa alvura cegante. Aopisar no freio, senti a ansiedade me invadir o corpo e ouvi asbatidas surdas do coração.A ansiedade transformou-se em medo total. Fui para oacostamento esperar que a lufada passasse. Meia hora depois, aneve parou, a visibilidade retornou e segui em frente, sendoparado uns 100 metros adiante, onde uma equipe de ambulânciasocorria um passageiro de um carro que batera na traseira deoutro que andava em velocidade mais lenta. A colisão haviabloqueado a rodovia. Se eu tivesse continuado a dirigir na neveque impedia a visibilidade, provavelmente os teria atingido.A cautela que o medo me impôs naquele dia talvez tenhasalvado minha vida. Como um coelho paralisado de terror aosinal da passagem de uma raposa — ou como umprotomamífero escondendo-se de um dinossauro predador — fuitomado por um estado interno que me obrigou a parar, aprestar atenção e a tomar cuidado diante do perigo iminente.Todas as emoções são, em essência, impulsos, legados pelaevolução, para uma ação imediata, para planejamentosinstantâneos que visam lidar com a vida. A própria raiz dapalavra emoção é do latim movere — “mover” — acrescida doprefixo “e-”, que denota “afastar-se”, o que indica que emqualquer emoção está implícita uma propensão para um agirimediato. Essa relação entre emoção e ação imediata fica bemclara quando observamos animais ou crianças; é somente emadultos “civilizados” que tantas vezes detectamos a grandeanomalia no reino animal: as emoções — impulsos arraigadospara agir — divorciadas de uma reação óbvia.6Em nosso repertório emocional, cada emoção desempenhauma função específica, como revelam suas distintas assinaturas
biológicas (ver detalhes sobre emoções “básicas” no ApêndiceA). Diante das novas tecnologias que permitem perscrutar océrebro e o corpo como um todo, os pesquisadores estãodescobrindo detalhes fisiológicos que permitem a verificação decomo diferentes tipos de emoção preparam o corpo paradiferentes tipos de resposta:7• Na raiva, o sangue flui para as mãos, tornando mais fácilsacar da arma ou golpear o inimigo; os batimentoscardíacos aceleram-se e uma onda de hormônios, aadrenalina, entre outros, gera uma pulsação, energiasuficientemente forte para uma atuação vigorosa.• No medo, o sangue corre para os músculos do esqueleto,como os das pernas, facilitando a fuga; o rosto fica lívido,já que o sangue lhe é subtraído (daí dizer-se que alguémficou “gélido”). Ao mesmo tempo, o corpo imobiliza-se,ainda que por um breve momento, talvez para permitirque a pessoa considere a possibilidade de, em vez de agir,fugir e se esconder. Circuitos existentes nos centrosemocionais do cérebro disparam a torrente de hormôniosque põe o corpo em alerta geral, tornando-o inquieto epronto para agir. A atenção se fixa na ameaça imediata,para melhor calcular a resposta a ser dada.• A sensação de felicidade causa uma das principaisalterações biológicas. A atividade do centro cerebral éincrementada, o que inibe sentimentos negativos e favoreceo aumento da energia existente, silenciando aqueles quegeram pensamentos de preocupação. Mas não ocorrenenhuma mudança particular na fisiologia, a não ser umatranqüilidade, que faz com que o corpo se recupererapidamente do estímulo causado por emoçõesperturbadoras. Essa configuração dá ao corpo um totalrelaxamento, assim como disposição e entusiasmo para aexecução de qualquer tarefa que surja e para seguir emdireção a uma grande variedade de metas.• O amor, os sentimentos de afeição e a satisfação sexualimplicam estimulação parassimpática, o que se constituino oposto fisiológico que mobiliza para “lutar-ou-fugir” queocorre quando o sentimento é de medo ou ira. O padrãoparassimpático, chamado de “resposta de relaxamento”, éum conjunto de reações que percorre todo o corpo,provocando um estado geral de calma e satisfação,facilitando a cooperação.• O erguer das sobrancelhas, na surpresa, proporciona umavarredura visual mais ampla, e também mais luz para aretina. Isso permite que obtenhamos mais informação
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complicadas com que nos deparamos e nossas respostas a elas
são moldadas não apenas por nossos julgamentos racionais ou
nossa história pessoal, mas também por nosso passado ancestral.
Esse legado nos predispõe a provocar tragédias, de que é triste
exemplo o lamentável fato ocorrido na família Crabtree. Em
suma, com muita freqüência enfrentamos dilemas pós-modernos
com um repertório talhado para as urgências do Pleistoceno.
Esse paradoxo é o cerne de meu tema.
Agir impulsivamente
Num dia de início da primavera, eu percorria de carro um
passo de montanha no Colorado, quando uma repentina lufada
de neve encobriu o veículo alguns metros à minha frente.
Mesmo forçando a vista, eu não conseguia distinguir nada; a
neve em redemoinho transformara-se numa alvura cegante. Ao
pisar no freio, senti a ansiedade me invadir o corpo e ouvi as
batidas surdas do coração.
A ansiedade transformou-se em medo total. Fui para o
acostamento esperar que a lufada passasse. Meia hora depois, a
neve parou, a visibilidade retornou e segui em frente, sendo
parado uns 100 metros adiante, onde uma equipe de ambulância
socorria um passageiro de um carro que batera na traseira de
outro que andava em velocidade mais lenta. A colisão havia
bloqueado a rodovia. Se eu tivesse continuado a dirigir na neve
que impedia a visibilidade, provavelmente os teria atingido.
A cautela que o medo me impôs naquele dia talvez tenha
salvado minha vida. Como um coelho paralisado de terror ao
sinal da passagem de uma raposa — ou como um
protomamífero escondendo-se de um dinossauro predador — fui
tomado por um estado interno que me obrigou a parar, a
prestar atenção e a tomar cuidado diante do perigo iminente.
Todas as emoções são, em essência, impulsos, legados pela
evolução, para uma ação imediata, para planejamentos
instantâneos que visam lidar com a vida. A própria raiz da
palavra emoção é do latim movere — “mover” — acrescida do
prefixo “e-”, que denota “afastar-se”, o que indica que em
qualquer emoção está implícita uma propensão para um agir
imediato. Essa relação entre emoção e ação imediata fica bem
clara quando observamos animais ou crianças; é somente em
adultos “civilizados” que tantas vezes detectamos a grande
anomalia no reino animal: as emoções — impulsos arraigados
para agir — divorciadas de uma reação óbvia.6
Em nosso repertório emocional, cada emoção desempenha
uma função específica, como revelam suas distintas assinaturas