Inteligencia-emocional-Daniel-Goleman

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15.01.2020 Views

trabalhar coletivamente para montar o primeiro quadrado, econtinuam a trabalhar em conjunto até montar o quebra-cabeça.Mas o terceiro grupo ainda se debate, com apenas umquebra-cabeça próximo da conclusão, e mesmo assimparecendo mais um trapézio que um quadrado. Sean, Fairlie eRahman ainda não atingiram a tranqüila coordenação em que osdois outros grupos entraram. Estão visivelmente frustrados eolham frenéticos as peças sobre a mesa, tentando acertar deforma aleatória e pondo-as junto dos quadrados semiconcluídos,apenas para se decepcionarem porque não se encaixam.A tensão desfaz-se um pouco quando Rahman pega duas daspeças e as põe diante dos olhos como uma máscara; osparceiros riem. Esse será o momento crucial da lição do dia.Jo-An-Varga, a professora, dá um pouco de estímulo:— Os que acabaram podem dar uma só dica aos que aindanão acabaram.Dagan aproxima-se do grupo que está ainda em apuros,indica duas peças que se projetam do quadrado e sugere:— Vocês têm de rodar essas duas peças.De repente, Rahman, a cara larga franzida em concentração,pega a nova gestalt, e as peças rapidamente se encaixam noprimeiro quebra-cabeça, depois nos outros. Ouvem-se aplausosespontâneos quando a última peça se encaixa e o quebracabeçaé inteiramente montado.UM PONTO DE ATRITOMas quando a classe passa a refletir sobre as lições extraídas dotrabalho em equipe, emerge outro diálogo, mais intenso.Rahman, alto e com uma juba de revoltos cabelos negroscortados numa longa escovinha, e Tucker, o observador dogrupo, engalfinham-se numa acirrada discussão sobre a regraque não permite a gesticulação. Tucker, os cabelos louros bempenteados a não ser por uma mecha rebelde, usa uma camisetafolgadona com os dizeres “Seja Responsável”, que, de certamaneira, enfatiza seu papel oficial.— Você pode oferecer uma peça: isto não é fazer um gesto— diz Tucker a Rahman, num tom enfático, de discussão.— É, sim — insiste Rahman, veemente.Jo-An percebe o volume alterado e o crescente staccato dodiálogo e aproxima-se da mesa deles. Trata-se de um incidentecrítico, uma troca espontânea de sentimentos acalorados; é emtais momentos que as lições já aprendidas dão dividendos, eoutras novas podem ser ensinadas com mais proveito. E, comosabe todo bom professor, as lições aplicadas nesses momentoselétricos perdurarão na memória dos alunos.

— Isso não é uma crítica... você cooperou muito bem... mas,Tucker, tente dizer o que quer num tom de voz que não pareçatão crítico — ensina Jo-An.Tucker, agora num tom mais calmo, diz a Rahman:— Você só pode botar uma peça onde acha que se encaixa,entregar ao outro a peça que você acha que ele precisa, semfazer qualquer indicação. Só dar.Rahman responde num tom irado:— É só a gente fazer assim — e ele coça a cabeça parailustrar o movimento inocente — e lá vem ele com “Nada degestos”.Evidentemente, há algo mais na raiva de Rahman do queessa discussão sobre o que constitui ou não um gesto. Seus olhosse dirigem constantemente para a ficha de avaliação que Tuckerpreencheu e que — embora ainda não tenha sido mencionada— na verdade provocou a tensão entre os dois. Nela, Tuckerescreveu o nome de Rahman no espaço destinado a indicar“Quem perturba?”.Jo-An, vendo que Rahman olha a ficha revoltante, arrisca umpalpite, dizendo a Tucker:— Ele acha que você usou uma palavra negativa...perturbador... sobre ele. Que foi que você quis dizer?— Eu não quis dizer que fosse um tipo ruim de perturbação— diz Tucker, agora conciliador.Rahman não aceita, mas também acalmou a voz.— Isso é um pouco exagerado, se quer saber.Jo-An sugere uma maneira positiva de abordar o assunto.— Tucker está tentando dizer que o que se pode considerarperturbador também pode suavizar um pouco as coisas nummomento de frustração.— Mas — protesta Rahman, mais objetivamente —perturbador é quando a gente está muito concentrado numacoisa, e se eu fizesse assim — faz uma expressão ridícula,apalhaçada, os olhos esbugalhados, as bochechas inchadas —isso ia ser perturbador.Jo-An tenta passar mais um ensino emocional, dizendo aTucker:— Ao tentar ajudar, você não quis dizer que ele eraperturbador no mau sentido. Mas deu uma mensagem que nãocorresponde ao que você quis dizer. Rahman precisa que vocêouça e aceite o que ele sente. Ele disse que receber palavrasnegativas como perturbador lhe parece injusto. Não gosta deser chamado assim.Depois, para Rahman, acrescenta:— Eu gosto da forma como você está sendo assertivo comTucker. Não está atacando. Mas não é agradável que nos

— Isso não é uma crítica... você cooperou muito bem... mas,

Tucker, tente dizer o que quer num tom de voz que não pareça

tão crítico — ensina Jo-An.

Tucker, agora num tom mais calmo, diz a Rahman:

— Você só pode botar uma peça onde acha que se encaixa,

entregar ao outro a peça que você acha que ele precisa, sem

fazer qualquer indicação. Só dar.

Rahman responde num tom irado:

— É só a gente fazer assim — e ele coça a cabeça para

ilustrar o movimento inocente — e lá vem ele com “Nada de

gestos”.

Evidentemente, há algo mais na raiva de Rahman do que

essa discussão sobre o que constitui ou não um gesto. Seus olhos

se dirigem constantemente para a ficha de avaliação que Tucker

preencheu e que — embora ainda não tenha sido mencionada

— na verdade provocou a tensão entre os dois. Nela, Tucker

escreveu o nome de Rahman no espaço destinado a indicar

“Quem perturba?”.

Jo-An, vendo que Rahman olha a ficha revoltante, arrisca um

palpite, dizendo a Tucker:

— Ele acha que você usou uma palavra negativa...

perturbador... sobre ele. Que foi que você quis dizer?

— Eu não quis dizer que fosse um tipo ruim de perturbação

— diz Tucker, agora conciliador.

Rahman não aceita, mas também acalmou a voz.

— Isso é um pouco exagerado, se quer saber.

Jo-An sugere uma maneira positiva de abordar o assunto.

— Tucker está tentando dizer que o que se pode considerar

perturbador também pode suavizar um pouco as coisas num

momento de frustração.

— Mas — protesta Rahman, mais objetivamente —

perturbador é quando a gente está muito concentrado numa

coisa, e se eu fizesse assim — faz uma expressão ridícula,

apalhaçada, os olhos esbugalhados, as bochechas inchadas —

isso ia ser perturbador.

Jo-An tenta passar mais um ensino emocional, dizendo a

Tucker:

— Ao tentar ajudar, você não quis dizer que ele era

perturbador no mau sentido. Mas deu uma mensagem que não

corresponde ao que você quis dizer. Rahman precisa que você

ouça e aceite o que ele sente. Ele disse que receber palavras

negativas como perturbador lhe parece injusto. Não gosta de

ser chamado assim.

Depois, para Rahman, acrescenta:

— Eu gosto da forma como você está sendo assertivo com

Tucker. Não está atacando. Mas não é agradável que nos

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