Inteligencia-emocional-Daniel-Goleman
drogas e, mais recentemente, à violência. O problema dessascampanhas, porém, é que chegam tarde demais, depois que oproblema visado já atingiu proporções epidêmicas e deitoufirmes raízes na vida dos jovens. São intervenção em crises, oque equivale a enviar ambulâncias para o resgate, em vez dedar uma vacina que previna a doença. Em vez de mais“guerras” desses tipos, o que precisamos é seguir a lógica daprevenção, oferecendo às nossas crianças aptidões paraenfrentar a vida que aumentarão suas oportunidades de evitartodos esses problemas.61Ao me centrar em déficits emocionais e sociais não estoudescartando o papel de outros fatores de risco, como ser criadonuma família fragmentada, violenta ou caótica, ou num bairropobre, de alta criminalidade e com drogas à solta. A própriapobreza desfecha golpes nas crianças: as mais pobres, aos 5anos, já são mais medrosas, ansiosas e tristes que suas colegasmais bem aquinhoadas, e têm mais problemas decomportamento como freqüentes faniquitos e destruição decoisas, uma tendência que continua pela adolescência adentro. Apressão da pobreza também corrói a vida familiar: tende ahaver menos expressão de carinho de parte dos pais, maisdepressão nas mães (muitas vezes solteiras e desempregadas) emaior recurso a castigos severos como berros, pancadas eameaças físicas.62Mas a competência emocional desempenha um papel maisforte e mais importante do que as pressões familiares eeconômicas — e pode ser decisiva na determinação da medidaem que qualquer criança ou adolescente é destruído por essessofrimentos ou encontra um núcleo de maleabilidade parasobreviver a eles. Estudos de longo prazo com centenas decrianças criadas na pobreza, em famílias que as maltratavam,ou com um dos pais com grave doença mental, mostram que osque são maleáveis mesmo diante dos mais severos sofrimentostendem a ter aptidões emocionais fundamentais.63 Entre outras,uma cativante sociabilidade que atrai as pessoas para elas,autoconfiança, persistência otimista diante do fracasso oufrustração, capacidade de rápida recuperação de perturbações euma natureza aberta.A grande maioria das crianças enfrenta essas dificuldadessem terem essas vantagens. Claro, muitas dessas aptidões sãoinatas, a loteria dos genes — mas mesmo qualidades detemperamento podem mudar para melhor, como vimos noCapítulo 14. Uma linha de intervenção, claro, é política eeconômica, dirigida à pobreza e a outras condições sociais quesão a causa desses problemas. Mas, além dessas estratégias (queparecem estar cada vez mais excluídas da agenda social), muito
se pode oferecer às crianças para ajudá-las a tentar superardificuldades tão debilitantes.Vejam o caso dos problemas emocionais, males que cercade um em cada dois americanos enfrenta durante a vida. Umestudo de uma mostra representativa de 8.098 americanosdescobriu que 48% haviam sofrido pelo menos um problemapsiquiátrico.64 Os mais seriamente afetados eram os 14% depessoas que tinham três ou mais problemas psiquiátricos deuma só vez. Esse grupo era o mais perturbado, respondendopor 60% de todas as perturbações psiquiátricas que ocorrem emqualquer dado momento e 90% das mais sérias e incapacitantes.Embora precisem de tratamento intensivo agora, o método idealseria, sempre que possível, prevenir esses problemas. Claro,nem todo problema mental pode ser prevenido — mas alguns,talvez muitos, podem. Ronald Kessler, o sociólogo daUniversidade de Michigan que fez o estudo, me disse:— Precisamos intervir cedo na vida. Veja a garota que sofrede fobia social na sexta série e começa a beber no primeiro anodo secundário para lidar com suas ansiedades sociais. Quandoperto dos 30 anos, momento em que aparece em nossapesquisa, ainda é medrosa, tornou-se viciada em álcool e drogase está deprimida porque sua vida já está complicada. A grandequestão é: que poderíamos ter feito antes na vida dela paradeter toda essa espiral descendente?O mesmo se aplica, claro, à evasão escolar ou à violência,ou à maior parte da litania de perigos hoje enfrentados pelosjovens. Programas educacionais para prevenir um ou outroproblema específico como uso de drogas e violênciainterferiram desenfreadamente na última década, mais oumenos, criando uma indústria dentro do mercado da educação.Mas muitos deles — incluindo muitos dos mais espertamentedivulgados e amplamente usados — mostraram-se eficazes.Alguns, para pesar dos educadores, até mesmo pareceramaumentar a probabilidade dos problemas que pretendiam evitar,sobretudo o abuso de drogas e o sexo na adolescência.Informação não BastaUm caso instrutivo a esse respeito é o abuso sexual emcrianças. A partir de 1993, cerca de 200 mil casos comprovadosforam comunicados anualmente nos Estados Unidos, com umcrescimento de cerca de 10% ao ano. E, embora as estimativassejam muito variadas, a maioria dos especialistas concorda queentre 20 e 30% de meninas e mais ou menos metade dessaporcentagem de meninos é vítima de algum tipo de abuso
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drogas e, mais recentemente, à violência. O problema dessas
campanhas, porém, é que chegam tarde demais, depois que o
problema visado já atingiu proporções epidêmicas e deitou
firmes raízes na vida dos jovens. São intervenção em crises, o
que equivale a enviar ambulâncias para o resgate, em vez de
dar uma vacina que previna a doença. Em vez de mais
“guerras” desses tipos, o que precisamos é seguir a lógica da
prevenção, oferecendo às nossas crianças aptidões para
enfrentar a vida que aumentarão suas oportunidades de evitar
todos esses problemas.61
Ao me centrar em déficits emocionais e sociais não estou
descartando o papel de outros fatores de risco, como ser criado
numa família fragmentada, violenta ou caótica, ou num bairro
pobre, de alta criminalidade e com drogas à solta. A própria
pobreza desfecha golpes nas crianças: as mais pobres, aos 5
anos, já são mais medrosas, ansiosas e tristes que suas colegas
mais bem aquinhoadas, e têm mais problemas de
comportamento como freqüentes faniquitos e destruição de
coisas, uma tendência que continua pela adolescência adentro. A
pressão da pobreza também corrói a vida familiar: tende a
haver menos expressão de carinho de parte dos pais, mais
depressão nas mães (muitas vezes solteiras e desempregadas) e
maior recurso a castigos severos como berros, pancadas e
ameaças físicas.62
Mas a competência emocional desempenha um papel mais
forte e mais importante do que as pressões familiares e
econômicas — e pode ser decisiva na determinação da medida
em que qualquer criança ou adolescente é destruído por esses
sofrimentos ou encontra um núcleo de maleabilidade para
sobreviver a eles. Estudos de longo prazo com centenas de
crianças criadas na pobreza, em famílias que as maltratavam,
ou com um dos pais com grave doença mental, mostram que os
que são maleáveis mesmo diante dos mais severos sofrimentos
tendem a ter aptidões emocionais fundamentais.63 Entre outras,
uma cativante sociabilidade que atrai as pessoas para elas,
autoconfiança, persistência otimista diante do fracasso ou
frustração, capacidade de rápida recuperação de perturbações e
uma natureza aberta.
A grande maioria das crianças enfrenta essas dificuldades
sem terem essas vantagens. Claro, muitas dessas aptidões são
inatas, a loteria dos genes — mas mesmo qualidades de
temperamento podem mudar para melhor, como vimos no
Capítulo 14. Uma linha de intervenção, claro, é política e
econômica, dirigida à pobreza e a outras condições sociais que
são a causa desses problemas. Mas, além dessas estratégias (que
parecem estar cada vez mais excluídas da agenda social), muito