Inteligencia-emocional-Daniel-Goleman

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15.01.2020 Views

malícia, os mais “chatos” foram os mais inconvincentes. Talveznão surpreenda o fato de esses jovens se sentirem incapazes defazer amigos; a incompetência social deles torna-se umaprofecia que se autocumpre. Em vez de aprender novas formasde fazer amigos, simplesmente continuam fazendo as mesmascoisas que não deram certo antes, ou apresentam reações aindamais ineptas.43Na loteria do gostar ou não gostar, essas crianças ficamaquém em critérios emocionais importantes: não sãoconsideradas como uma companhia divertida e não sabem,como as outras crianças, se sentir à vontade. Observações sobreesse tipo de criança revelam que, por exemplo, são elas queprovavelmente vão trapacear, emburrar-se, desistir de jogarquando estão perdendo, ou exibir-se e gabar-se das vitórias.Claro, a maioria das crianças quer ganhar num jogo — mas,ganhando ou perdendo, a maioria pode conter sua reaçãoemocional, para não solapar o relacionamento com o amigocom o qual jogam.Embora as crianças sem sensibilidade social — quecontinuamente têm dificuldade para interpretar e reagir aemoções — se transformem em párias sociais, isso não seaplica, claro, a crianças que vivem um momento em que sesentem de fora. Mas, para os que são continuamente rejeitados,essa situação dolorosa de estar à margem as estigmatiza durantetodo o tempo escolar. E as conseqüências para a vida adulta sãopotencialmente grandes. É no caldeirão das amizades íntimas eno tumulto das brincadeiras que as crianças aprimoram asaptidões sociais e emocionais que levarão para relacionamentosposteriores na vida. As crianças que não usufruem desseaprendizado ficam, inevitavelmente, em desvantagem.Compreensivelmente, os que são rejeitados apresentamgrande ansiedade e muitas preocupações, além de ficaremdeprimidos e solitários. Na verdade, mostrou-se que odesempenho emocional na infância é melhor indicador de suasaúde mental aos 18 anos que qualquer outra coisa —classificações de professores e enfermeiros, desempenho escolare QI e mesmo contagens em testes psicológicos.44 E, comovimos, em estágios posteriores da vida, pessoas com poucosamigos e cronicamente solitárias correm maior risco de contrairdoenças e de morrer cedo.Como observou o psicanalista Harry Stack, aprendemos anegociar relações íntimas — resolver divergências e partilharnossos mais profundos sentimentos — em nossas primeirasamizades com os coleguinhas do mesmo sexo. Mas as criançassocialmente rejeitadas só têm metade das possibilidades que têmseus colegas de fazer um melhor amigo durante os anos cruciais

da escola primária, e com isso perdem uma das oportunidadesessenciais de crescimento emocional.45 Um amigo pode fazer adiferença — mesmo quando todos os outros dão as costas (emesmo quando essa amizade não é tão sólida assim).TREINAMENTO PARA A AMIZADEHá esperança para as crianças rejeitadas, apesar de suainépcia. Steven Asher, psicólogo da Universidade de Illinois,projetou uma série de sessões de “treinamento para a amizade”,para crianças rejeitadas por seus colegas, que mostrou algumêxito.46 Identificando alunos da terceira e quarta séries queeram os menos queridos de suas classes, ofereceu-lhes seissessões sobre como “tornar as brincadeiras mais divertidas”,sendo “amigo, divertido e legal”. Para evitar estigmas, dizia-se àscrianças que elas atuavam como “consultoras” do treinador, quetentava aprender que tipos de coisas tornam mais agradáveis asbrincadeiras.As crianças foram treinadas para agir da forma —identificada por Asher — como se comportavam as criançasque eram queridas pelos coleguinhas. Por exemplo, eramestimuladas a pensar em sugestões e acordos alternativos (emvez de brigar), se discordavam das regras das brincadeiras;lembrar-se de conversar e fazer perguntas sobre a outra criançaenquanto brincam; escutar e olhar a outra criança para vercomo ela está se sentindo; dizer alguma coisa simpática quandoa outra pessoa faz algo bem-feito; sorrir e oferecer ajuda ousugestões e encorajamento. As crianças tambémexperimentaram essas amenidades sociais básicas quandojogavam, por exemplo, o tira-varinhas, com um colega declasse, e eram treinadas depois sobre até onde se haviam saídobem. Esse minicurso de entrosamento teve um efeito notável: umano depois, as crianças treinadas — todas escolhidas por seremas menos queridas em suas classes — achavam-se na faixa depopularidade mediana na sala de aula. Nenhuma era umaestrela social, mas nenhuma era uma rejeitada.Resultados semelhantes foram conseguidos por StephenNowicki, psicólogo na Universidade Emery.47 Seu programatreina aqueles que são socialmente marginalizados para queaprimorem a capacidade de interpretar e reagir adequadamenteaos sentimentos de outras crianças. As crianças, por exemplo,são filmadas em vídeo enquanto exercitam a expressão desentimentos como a alegria ou tristeza, e treinadas paraaprimorar a expressão das emoções. Depois, experimentamesse aprendizado com uma criança que querem ter comoamiga.

malícia, os mais “chatos” foram os mais inconvincentes. Talvez

não surpreenda o fato de esses jovens se sentirem incapazes de

fazer amigos; a incompetência social deles torna-se uma

profecia que se autocumpre. Em vez de aprender novas formas

de fazer amigos, simplesmente continuam fazendo as mesmas

coisas que não deram certo antes, ou apresentam reações ainda

mais ineptas.43

Na loteria do gostar ou não gostar, essas crianças ficam

aquém em critérios emocionais importantes: não são

consideradas como uma companhia divertida e não sabem,

como as outras crianças, se sentir à vontade. Observações sobre

esse tipo de criança revelam que, por exemplo, são elas que

provavelmente vão trapacear, emburrar-se, desistir de jogar

quando estão perdendo, ou exibir-se e gabar-se das vitórias.

Claro, a maioria das crianças quer ganhar num jogo — mas,

ganhando ou perdendo, a maioria pode conter sua reação

emocional, para não solapar o relacionamento com o amigo

com o qual jogam.

Embora as crianças sem sensibilidade social — que

continuamente têm dificuldade para interpretar e reagir a

emoções — se transformem em párias sociais, isso não se

aplica, claro, a crianças que vivem um momento em que se

sentem de fora. Mas, para os que são continuamente rejeitados,

essa situação dolorosa de estar à margem as estigmatiza durante

todo o tempo escolar. E as conseqüências para a vida adulta são

potencialmente grandes. É no caldeirão das amizades íntimas e

no tumulto das brincadeiras que as crianças aprimoram as

aptidões sociais e emocionais que levarão para relacionamentos

posteriores na vida. As crianças que não usufruem desse

aprendizado ficam, inevitavelmente, em desvantagem.

Compreensivelmente, os que são rejeitados apresentam

grande ansiedade e muitas preocupações, além de ficarem

deprimidos e solitários. Na verdade, mostrou-se que o

desempenho emocional na infância é melhor indicador de sua

saúde mental aos 18 anos que qualquer outra coisa —

classificações de professores e enfermeiros, desempenho escolar

e QI e mesmo contagens em testes psicológicos.44 E, como

vimos, em estágios posteriores da vida, pessoas com poucos

amigos e cronicamente solitárias correm maior risco de contrair

doenças e de morrer cedo.

Como observou o psicanalista Harry Stack, aprendemos a

negociar relações íntimas — resolver divergências e partilhar

nossos mais profundos sentimentos — em nossas primeiras

amizades com os coleguinhas do mesmo sexo. Mas as crianças

socialmente rejeitadas só têm metade das possibilidades que têm

seus colegas de fazer um melhor amigo durante os anos cruciais

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