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Inteligencia-emocional-Daniel-Goleman

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que o garoto que esbarrou no outro é mais combativo, e que a

raiva do menino que bateu é justificada.12

Esse julgamento precipitado denuncia uma profunda distorção

perceptiva nas pessoas que em geral são agressivas: agem com

base na presunção de hostilidade ou ameaça, dando muito

pouca atenção ao que de fato se passa. Assim que presumem

ameaça, partem para a ação. Por exemplo, se um garoto

agressivo joga xadrez com outro que mexe uma pedra fora de

hora, ele acha que houve “trapaça”, sem parar para pensar se

foi um engano. Ele sempre supõe a maldade, nunca a inocência;

e a reação é de hostilidade automática. Juntamente com a

percepção reflexa de um ato hostil, vem uma agressão

igualmente automática; em vez de, digamos, chamar a atenção

do outro para o engano, ele parte para a acusação, berrando,

batendo. E quanto mais essas crianças agridem, mais automática

se torna a agressão, e mais o repertório de alternativas — a

polidez, o gracejo — fica reduzido.

Essas crianças são emocionalmente vulneráveis, pois têm um

baixo limiar de perturbação, irritando-se muitas vezes com as

mais variadas coisas; uma vez perturbadas, não raciocinam com

clareza, de modo que vêem atos benignos como hostis e recaem

no superaprendido hábito de bater.13

Essas distorções perceptivas para a hostilidade já estão a

postos na primeira série. Enquanto a maioria das crianças, e

sobretudo os meninos, é bagunceira no jardim-de-infância e na

primeira série, as mais agressivas não aprenderam um mínimo

de autocontrole na segunda série. Quando outras crianças já

começaram a aprender a negociar e a chegar a um acordo nas

desavenças que ocorrem no pátio, os brigões optam cada vez

mais pela força e pelo grito. Eles pagam um preço social: após

duas ou três horas do primeiro contato no pátio de recreio com

um brigão, as outras crianças já declaram que não gostam

dele.14

Mas estudos que acompanharam crianças desde os anos do

pré-escolar até a adolescência constatam que metade dos alunos

que na primeira série eram desordeiros, incapazes de se dar

com os outros, desobedientes com os pais e resistentes com os

professores se torna delinqüente na adolescência.15 Claro, nem

todas essas crianças agressivas seguem o caminho que conduz à

violência e à criminalidade na vida posterior. Mas, de todas as

crianças, são essas as que tendem a cometer crimes violentos.

A tendência para o crime aparece muitíssimo cedo na vida

dessas crianças. Quando crianças de um jardim-de-infância de

Montreal foram classificadas por grau de hostilidade e criação de

caso, aquelas a quem, aos 5 anos, fora atribuído um mais alto

grau, já tinham dado muito mais provas de delinqüência apenas

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