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Inteligencia-emocional-Daniel-Goleman

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que o momento temido está para acontecer mais uma vez. Esse

fenômeno de gatilho sensível é uma marca característica de

todos os tipos de trauma emocional, incluindo os repetidos

maus-tratos físicos na infância.

Qualquer fato traumatizante pode gravar essas lembranças

disparadoras na amígdala cortical: um incêndio ou acidente de

carro, uma catástrofe natural como um t erremoto ou furacão,

estupro ou assalto. Milhares de pessoas todo ano vivem esse tipo

de tragédia e muitas, ou a maioria, ficam com uma espécie de

ferida emocional marcada no cérebro.

Os atos de violência são mais perniciosos do que catástrofes

naturais como os furacões porque, ao contrário das vítimas de

um desastre natural, as vítimas de uma violência se sentem

como se tivessem sido escolhidas como alvo de uma maldade.

Isso destrói todo um sistema de confiança no ser humano e nas

pessoas com quem se relacionam, crenças que as catástrofes

naturais deixam intatas. De uma hora para outra, o mundo em

que vivemos torna-se um lugar perigoso, onde o outro é visto

como uma ameaça em potencial à nossa segurança.

As crueldades perpetradas pelo homem gravam na memória

de suas vítimas uma predisposição para um medo em relação a

qualquer coisa que evoque, ainda que vagamente, a agressão

sofrida. Um homem que foi golpeado na nuca, e nunca viu o

atacante, ficou tão amedrontado depois, que tentava andar na

rua pouco à frente de uma senhora para sentir-se seguro de que

não seria de novo atingido na nuca.2 Uma mulher assaltada por

um homem que entrou num elevador com ela e a obrigou a sair

à ponta de faca num andar desocupado ficou durante semanas

com medo de entrar não só em elevadores, mas também no

metrô ou qualquer outro espaço fechado onde pudesse sentir-se

acuada; saiu correndo do banco quando viu um homem enfiar a

mão no paletó, da mesma forma como tinha feito o assaltante.

A marca do horror na memória e a supervigilância que dela

resulta podem durar a vida inteira, como constatou um estudo

sobre sobreviventes do Holocausto. Quase cinqüenta anos depois

de terem passado fome, de terem assistido ao massacre de seus

entes queridos e o terror constante nos campos de morte

nazistas, as lembranças que os perseguiam continuavam vivas.

Um terço dizia sentir um medo generalizado. Quase três quartos

deles disseram que ainda ficavam ansiosos com coisas que

lembravam a perseguição nazista, como a visão de um

uniforme, uma batida na porta, cães latindo, ou fumaça subindo

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