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Inteligencia-emocional-Daniel-Goleman

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Um professor me disse, por exemplo, que uma onda de medo

varrera a escola quando foi anunciado que se aproximava o Dia

de São Patrick; algumas crianças, de algum modo, imaginaram

que o dia era em homenagem ao assassino, Patrick Purdy.

— Sempre que ouvimos uma ambulância se dirigindo para a

casa de repouso que fica na mesma rua da escola, tudo pára —

disse-me outro professor. — As crianças ficam à escuta, para

ver se a ambulância pára aqui na escola ou se segue adiante.

Durante semanas, muitas crianças ficaram com medo dos

espelhos dos banheiros; correra na escola o boato de que a

“Sangrenta Virgem Maria”, uma espécie de monstro de fantasia,

escondia-se ali. Semanas após o tiroteio, uma menina correra

frenética à diretora da escola, Pat Busher, berrando:

— Estou ouvindo tiros! Estou ouvindo tiros!

O som era da corrente que balançava num poste de

tetherball.[1]

Muitas crianças tornaram-se supervigilantes, sempre à

espreita de que o terror se repetisse; alguns meninos e meninas

passavam o recreio rondando perto das portas da sala de aula,

não se atrevendo a sair para o pátio onde haviam ocorrido os

assassinatos. Outros só brincavam em grupos pequenos e,

enquanto isso, uma das crianças ficava de olheiro. Muitos

continuaram durante meses a evitar as áreas “más”, onde as

crianças haviam morrido.

As lembranças persistiram, também, através de sonhos

desagradáveis, que invadiam o inconsciente das crianças durante

o sono. Além de pesadelos com o tiroteio, elas eram invadidas

por sonhos de ansiedade que as deixavam apreensivas pela

hipótese de que, em breve, também morreriam. Algumas

tentavam dormir de olhos abertos para não sonhar.

Todas essas reações são bem conhecidas por psiquiatras

como os sintomas principais do distúrbio da tensão póstraumática

(PTSD).[2] No núcleo desse trauma, diz o Dr.

Spencer Eth, psiquiatra infantil especializado em PTSD em

crianças, está “a intrusa lembrança da ação violenta central: o

golpe final com o punho, a faca entrando, o disparo de uma

espingarda. As lembranças são experiências perceptivas intensas

— a visão, o som e o cheiro dos tiros; os gritos ou o súbito

silêncio da vítima; o jorrar do sangue; as sirenes da polícia”.

Esses momentos vívidos, aterrorizantes, dizem hoje os

neurocientistas, tornam-se lembranças impressas nos circuitos

emocionais. Os sintomas são, na verdade, sinais de uma

amígdala cortical superestimulada impelindo as vívidas

lembranças do momento traumático a continuar invadindo a

consciência. Como tal, as lembranças traumáticas tornam-se

gatilhos sensíveis, prontos para soar o alarme ao menor sinal de

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