Inteligencia-emocional-Daniel-Goleman

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dos primeiros quatro anos de vida, as conseqüências duradourassão grandes:A criança que não consegue se concentrar, que émais desconfiada que confiante, mais triste ou zangadado que otimista, mais destrutiva que respeitosa, e muitoansiosa, que vive preocupada com fantasiasassustadoras, e que se sente em geral infeliz — umacriança assim tem, normalmente, pouca oportunidade,quanto mais igual oportunidade, de reivindicar para sias possibilidades que o mundo lhe oferece.9COMO FABRICAR UM BRIGÃOMuito se pode aprender sobre os efeitos para toda a vidacausados por pais emocionalmente ineptos — sobretudo em seupapel de tornar as crianças agressivas — através de estudoslongitudinais com um grupo de 870 pessoas do norte do estadode Nova York, que foram acompanhadas dos 8 aos 30 anos.10Os mais belicosos deles, quando crianças — os mais briguentose que habitualmente apelavam para a força física para imporsua vontade —, eram os que provavelmente teriam deabandonar a escola e, aos 30 anos, tinham folha corrida pelaprática de crimes violentos. Também pareciam estar passandoadiante sua tendência à violência: seus filhos, na escola primária,eram exatamente os encrenqueiros que tinham sido os seus paisdelinqüentes.Há um ensinamento a ser extraído sobre a agressividade,passada de geração a geração. Afora quaisquer tendênciasherdadas, os encrenqueiros, já adultos, agiam de modo que avida em família era o local de aprendizagem da agressão.Quando crianças, tiveram pais que os disciplinaram de formaarbitrária e com implacável severidade; como pais, repetiam opadrão. Isso é válido para qualquer que tenha sido aquele — opai ou a mãe — que, na infância, fora altamente agressivo.Meninas agressivas tornavam-se exatamente tão arbitrárias eseveras no disciplinamento de seus filhos e o mesmo aconteciacom os meninos, quando se tornaram pais. E, embora punissemseus filhos de forma muito severa, não se interessavam muitosobre a vida deles, ignorando-os na maior parte do tempo.Simultaneamente, passavam para os filhos um exemplo vívido— e violento — de agressividade, um modelo que levavamconsigo para a escola e as brincadeiras, e que era adotado paraa vida em geral. Esses pais não eram necessariamente maus,

nem deixavam de querer o melhor para os filhos; o que elesestavam fazendo era apenas repetir o estilo adotado por seuspróprios pais.De acordo com esse modelo de violência, essas criançaseram caprichosamente disciplinadas: se os pais estavam de mauhumor, elas recebiam castigos severos; se de bom humor,podiam ficar impunes em casa. Assim, o castigo ocorria nãopelo que a criança tinha feito, mas ao sabor do humor paterno.Eis a receita perfeita para o sentimento de inutilidade edesamparo, e para a sensação de que o mundo é uma grandeameaça e, a qualquer momento, podemos ser atingidos. Vista àluz da vida doméstica que a gera, a atitude combativa edesafiadora dessas crianças diante da vida em geral faz umcerto sentido, por mais infeliz que continue sendo. O que édoloroso constatar é como essas lições deprimentes sãoaprendidas cedo, e como são terríveis os custos para a vidaemocional de uma criança.MAUS-TRATOS: A EXTINÇÃO DA EMPATIANa bagunça de uma creche, Martin, de apenas dois anos emeio, esbarrou numa menina, que, inexplicavelmente, abriu oberreiro. Martin tentou pegar na mão dela, mas quando amenina se afastou, ele deu-lhe tapinhas no braço.Como a menina continuasse a chorar, Martin desviou os olhose gritou, muitas vezes, cada vez mais rápido e mais alto:— Pare já com isso. Pare já com isso!Quando outra vez deu-lhe tapinhas, ela não “obedeceu”. Eleentão arreganhou os dentes como um cachorro rosnando,sibilando para a menina que chorava.Mais uma vez, começou a dar tapas, que se transformaramem murros, e ele continuou batendo sem parar na coitada damenina, apesar dos gritos dela.Esse incidente perturbador demonstra como o maltrato — seragredido seguidamente ao sabor dos humores dos pais —distorce a inclinação natural da criança para a empatia.11 Areação bizarra e quase brutal de Martin à aflição da coleguinhade brincadeira é típica de crianças como ele, vítimas elaspróprias, desde pequenas, de espancamento e outros maustratosfísicos. Essa reação destaca-se como um flagrantecontraste com as habituais súplicas e tentativas das criançaspequenas para consolar um coleguinha que chora, examinadasno Capítulo 7. A violenta reação de Martin a um sentimento deaflição que ele presenciou na creche talvez reflita o que eleaprendeu em casa sobre lágrimas e aflição: o choro dever serenfrentado a princípio com um peremptório gesto de consolo,

nem deixavam de querer o melhor para os filhos; o que eles

estavam fazendo era apenas repetir o estilo adotado por seus

próprios pais.

De acordo com esse modelo de violência, essas crianças

eram caprichosamente disciplinadas: se os pais estavam de mau

humor, elas recebiam castigos severos; se de bom humor,

podiam ficar impunes em casa. Assim, o castigo ocorria não

pelo que a criança tinha feito, mas ao sabor do humor paterno.

Eis a receita perfeita para o sentimento de inutilidade e

desamparo, e para a sensação de que o mundo é uma grande

ameaça e, a qualquer momento, podemos ser atingidos. Vista à

luz da vida doméstica que a gera, a atitude combativa e

desafiadora dessas crianças diante da vida em geral faz um

certo sentido, por mais infeliz que continue sendo. O que é

doloroso constatar é como essas lições deprimentes são

aprendidas cedo, e como são terríveis os custos para a vida

emocional de uma criança.

MAUS-TRATOS: A EXTINÇÃO DA EMPATIA

Na bagunça de uma creche, Martin, de apenas dois anos e

meio, esbarrou numa menina, que, inexplicavelmente, abriu o

berreiro. Martin tentou pegar na mão dela, mas quando a

menina se afastou, ele deu-lhe tapinhas no braço.

Como a menina continuasse a chorar, Martin desviou os olhos

e gritou, muitas vezes, cada vez mais rápido e mais alto:

— Pare já com isso. Pare já com isso!

Quando outra vez deu-lhe tapinhas, ela não “obedeceu”. Ele

então arreganhou os dentes como um cachorro rosnando,

sibilando para a menina que chorava.

Mais uma vez, começou a dar tapas, que se transformaram

em murros, e ele continuou batendo sem parar na coitada da

menina, apesar dos gritos dela.

Esse incidente perturbador demonstra como o maltrato — ser

agredido seguidamente ao sabor dos humores dos pais —

distorce a inclinação natural da criança para a empatia.11 A

reação bizarra e quase brutal de Martin à aflição da coleguinha

de brincadeira é típica de crianças como ele, vítimas elas

próprias, desde pequenas, de espancamento e outros maustratos

físicos. Essa reação destaca-se como um flagrante

contraste com as habituais súplicas e tentativas das crianças

pequenas para consolar um coleguinha que chora, examinadas

no Capítulo 7. A violenta reação de Martin a um sentimento de

aflição que ele presenciou na creche talvez reflita o que ele

aprendeu em casa sobre lágrimas e aflição: o choro dever ser

enfrentado a princípio com um peremptório gesto de consolo,

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