Inteligencia-emocional-Daniel-Goleman

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Finalmente, há o valor terapêutico adicional do médico ouenfermeiro empático, sintonizado com os pacientes, capaz deouvir e de se fazer ouvir. Esse tipo de conduta constitui-se numa“assistência centrada no relacionamento”, na aceitação de que orelacionamento entre médico e paciente é em si um fatorimportante. Esses relacionamentos seriam mais prontamenteestimulados se a formação médica incluísse algumas ferramentasbásicas de inteligência emocional, sobretudo a autoconsciência eas artes da empatia e do saber ouvir.54POR UMA MEDICINA QUE SE ENVOLVAEssas medidas são um começo. Mas, para a medicina ampliarseus horizontes e neles inserir o impacto das emoções, devemselevar a sério duas grandes implicações das descobertascientíficas:1. Ajudar as pessoas a lidar melhor com sentimentosincômodos como a raiva, ansiedade, depressão,pessimismo e sensação de solidão é uma forma deprevenir doenças. Como os dados mostram que atoxicidade dessas emoções, quando crônicas, equivale aohábito de fumar, ajudar as pessoas a lidar melhor comelas tem, potencialmente, um ganho clínico tão grandequanto conseguir que os fumantes deixem de fumar. Umadas maneiras de fazer isso e que se refletiria na saúdepública seria transmitir as mais básicas aptidões dainteligência emocional às crianças, de modo a torná-lashábitos para toda a vida. Outra estratégia preventiva e quegeraria dividendos seria ensinar o controle de emoção apessoas que, idosas, vão se aposentar, uma vez que obem-estar emocional é um dos fatores que determinam sea pessoa idosa declina ou floresce. Um terceiro alvoseriam as chamadas populações de risco — os muitopobres, as mães solteiras que trabalham fora, osmoradores de bairros com alto índice de criminalidade eoutros tais —, que vivem sob extraordinária pressão nodia-a-dia, e que por isso poderiam obter ganhos, do pontode vista clínico, se soubessem lidar com o custo emocionaldessas tensões.

2. Muitos pacientes podem auferir imensos benefíciosquando a assistência clínica é acompanhada deassistência psicológica. Embora o fato de um médico ouenfermeiro oferecer conforto e consolo a um pacienteangustiado já seja um grande passo em direção a umaassistência mais humana, é possível fazer mais. Aconteceque, muitas vezes, a oportunidade de prestar assistênciaemocional se perde na maneira como, hoje, é praticada amedicina; este é um ponto cego para a medicina. Apesardos crescentes dados sobre a utilidade clínica doatendimento a carências emocionais, além dos indícios quesugerem a ligação entre o centro emocional do cérebro eo sistema imunológico, muitos médicos continuam céticosacerca da importância das emoções de seus pacientes emtermos clínicos, descartando qualquer sinal a favor comosendo trivial, folclórico, como “periférico” ou, pior, comoexageros de alguns poucos que querem se promover.Embora cada vez mais aumente a procura por umamedicina mais humana, esta está em vias de extinção. É claroque ainda há médicos e enfermeiros dedicados, que dispensamaos pacientes uma atenção carinhosa e sensível. Mas a própriacultura em mudança da medicina, à medida que se submetecada vez mais a imperativos empresariais, faz com que essetipo de assistência seja cada vez mais difícil de ser encontrado.Mas pode haver um ganho comercial na medicinahumanística: há indícios de que tratar perturbações emocionaisnos pacientes é economicamente vantajoso — sobretudo namedida em que impede ou retarda o início da doença, ou ajudaos pacientes a obter alta mais depressa. Num estudo depacientes idosos com fratura de bacia na Faculdade de MedicinaMt. Sinai, na cidade de Nova York e na Universidade doNoroeste, foi constatado que os pacientes que eram tratados dadepressão, além do tratamento ortopédico normal, deixaram ohospital uma média de dois dias antes; a economia total para ascentenas de pacientes foi de 97.361 dólares em despesasmédicas.55Essa assistência extra também deixa os pacientes maissatisfeitos com seus médicos e com o tratamento. No emergentemercado médico, onde os pacientes muitas vezes têm a opçãode escolher entre planos de saúde concorrentes, os níveis desatisfação sem dúvida entram na equação dessas decisões muitopessoais — experiências frustrantes levam os pacientes a buscarassistência em outra parte, enquanto as agradáveis se traduzemem fidelidade.Acrescente-se, finalmente, que a ética médica exige uma

2. Muitos pacientes podem auferir imensos benefícios

quando a assistência clínica é acompanhada de

assistência psicológica. Embora o fato de um médico ou

enfermeiro oferecer conforto e consolo a um paciente

angustiado já seja um grande passo em direção a uma

assistência mais humana, é possível fazer mais. Acontece

que, muitas vezes, a oportunidade de prestar assistência

emocional se perde na maneira como, hoje, é praticada a

medicina; este é um ponto cego para a medicina. Apesar

dos crescentes dados sobre a utilidade clínica do

atendimento a carências emocionais, além dos indícios que

sugerem a ligação entre o centro emocional do cérebro e

o sistema imunológico, muitos médicos continuam céticos

acerca da importância das emoções de seus pacientes em

termos clínicos, descartando qualquer sinal a favor como

sendo trivial, folclórico, como “periférico” ou, pior, como

exageros de alguns poucos que querem se promover.

Embora cada vez mais aumente a procura por uma

medicina mais humana, esta está em vias de extinção. É claro

que ainda há médicos e enfermeiros dedicados, que dispensam

aos pacientes uma atenção carinhosa e sensível. Mas a própria

cultura em mudança da medicina, à medida que se submete

cada vez mais a imperativos empresariais, faz com que esse

tipo de assistência seja cada vez mais difícil de ser encontrado.

Mas pode haver um ganho comercial na medicina

humanística: há indícios de que tratar perturbações emocionais

nos pacientes é economicamente vantajoso — sobretudo na

medida em que impede ou retarda o início da doença, ou ajuda

os pacientes a obter alta mais depressa. Num estudo de

pacientes idosos com fratura de bacia na Faculdade de Medicina

Mt. Sinai, na cidade de Nova York e na Universidade do

Noroeste, foi constatado que os pacientes que eram tratados da

depressão, além do tratamento ortopédico normal, deixaram o

hospital uma média de dois dias antes; a economia total para as

centenas de pacientes foi de 97.361 dólares em despesas

médicas.55

Essa assistência extra também deixa os pacientes mais

satisfeitos com seus médicos e com o tratamento. No emergente

mercado médico, onde os pacientes muitas vezes têm a opção

de escolher entre planos de saúde concorrentes, os níveis de

satisfação sem dúvida entram na equação dessas decisões muito

pessoais — experiências frustrantes levam os pacientes a buscar

assistência em outra parte, enquanto as agradáveis se traduzem

em fidelidade.

Acrescente-se, finalmente, que a ética médica exige uma

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