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Inteligencia-emocional-Daniel-Goleman

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A Emoção na Clínica Médica

“— Quem ensinou tudo isso ao senhor, Doutor?

A resposta veio prontamente:

— O sofrimento.”

Albert Camus,

A Peste

Uma dorzinha nas virilhas me fez ir ao médico. Tudo estava

normal, exceto o resultado do exame de urina. Havia traços de

sangue.

— Quero que você vá ao hospital e faça alguns exames...

função renal, citologia... — ele disse, no tom objetivo que é

próprio dos médicos.

Não sei o que ele disse depois. A palavra citologia era tudo

o que havia na minha cabeça. Câncer.

Tenho uma vaga lembrança do que ele me disse sobre

quando e onde fazer os exames. Era uma instrução simples, mas

tive de pedir que a repetisse três ou quatro vezes. Citologia — a

palavra ainda reverberava na minha cabeça. Este pequeno

vocábulo me tomara de assalto.

Por que essa minha reação? Meu médico estava apenas sendo

minucioso e competente, percorrendo as ramificações numa

árvore de decisão diagnóstica. Havia uma probabilidade mínima

de eu ter câncer. Mas essa análise racional era irrelevante

naquele momento. Na terra dos doentes, as emoções reinam

supremas; o medo bane o raciocínio. Ficamos tão fragilizados

emocionalmente quando doentes porque nosso bem-estar mental

repousa, em parte, na ilusão de que somos invulneráveis. A

doença — sobretudo uma doença severa — acaba com essa

ilusão, desmentindo a premissa de que nosso pequeno mundo

está protegido de qualquer coisa. De repente ficamos abalados,

desamparados e conscientes de nossa vulnerabilidade.

O problema se agrava quando os médicos não levam em

consideração o lado emocional do paciente, mesmo quando lhe

dão toda a assistência clínica. Essa falta de percepção demonstra

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