Inteligencia-emocional-Daniel-Goleman

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briga com o marido, Michael: ele queria ver o jogo DallasCowboys-Philadelphia Eagles, ela queria ver o noticiário da TV.Quando ele se instalou para assistir ao jogo, a Sra. Lenick lhedisse que estava “cheia daquele rúgbi”. Foi ao quarto, pegou umrevólver calibre 38 e desfechou-lhe dois tiros, quando ele,sentado, via o jogo. A Sra. Lenick foi acusada de tentativa dehomicídio doloso, foi presa e, depois, solta sob uma fiança de 50mil dólares; o Sr. Lenick foi considerado como em boascondições de saúde, recuperando-se das balas que lhe rasparamo abdome e perfuraram a omoplata esquerda e o pescoço.23Embora poucas brigas conjugais sejam tão violentas — ou tãodispendiosas —, ainda assim oferecem uma boa oportunidadepara levar inteligência emocional ao casamento. Por exemplo,os casais em casamentos duradouros tendem a se ater a um sóassunto e dar a cada cônjuge, logo de início, a oportunidade dedeclarar sua opinião.24 Mas esses casais dão um importantepasso adiante: mostram um ao outro que estão sendo ouvidos.Como sentir-se ouvido é muitas vezes exatamente o que ocônjuge queixoso de fato quer, em termos emocionais um ato deempatia é um grande redutor de tensão.O que mais notadamente falta nos casais que acabam sedivorciando são tentativas dos cônjuges, numa discussão, dereduzir a tensão. A presença ou ausência de meios de sanaruma desavença é o que faz a diferença nas brigas de casais quetêm um casamento saudável e as dos que acabam emdivórcio.25 Os mecanismos de reparo que impedem umadiscussão de escalar para uma terrível explosão são medidassimples como, por exemplo, manter a discussão nos trilhos,mostrar empatia e reduzir a tensão. As medidas básicas sãocomo um termostato emocional, impedindo os sentimentosexpressos de transbordarem e esmagarem a capacidade doscônjuges de se concentrarem no problema em questão.Uma estratégia geral para fazer um casamento dar certo énão se concentrar nas questões específicas — educação dosfilhos, sexo, dinheiro, tarefas domésticas —, que são motivo debriga entre os dois, mas sim cultivar a inteligência emocional docasal, com isso melhorando as possibilidades de resolver ascoisas. Um punhado de aptidões emocionais — sobretudo sercapaz de acalmar-se (e acalmar o outro), de criar empatia, desaber ouvir — dá ao casal a possibilidade de resolver, de fato,as suas divergências. Isso torna possíveis desacordos saudáveis,as “boas brigas”, que permitem a um casamento florescer esuperar as coisas negativas que, quando vão se acumulando,podem destruí-lo.26Claro, nenhum desses hábitos emocionais muda da noite parao dia; é preciso, no mínimo, persistência e vigilância. Os casais

podem fazer as mudanças-chave na proporção direta damotivação que têm para tentar. Muitas ou a maioria dasrespostas emocionais tão facilmente provocadas no casamentoforam esculpidas desde a infância, aprendidas primeiro emnossos relacionamentos mais íntimos ou moldadas para nós pornossos pais, e levadas para o casamento inteiramente formadas.E assim somos preparados para certos hábitos emocionais —reagindo com exagero ao que parece, por exemplo, ser umaofensa, ou nos fechando em copas ao primeiro sinal deconfronto —, embora possamos ter jurado que não iríamos agircomo nossos pais.Recuperando a CalmaToda emoção forte tem sua raiz no impulso para agir: ocontrole desses impulsos é básico para a inteligência emocional.Mas isso pode ser particularmente difícil nos relacionamentosamorosos, onde temos tanta coisa em jogo. As reaçõesprovocadas aqui tocam em algumas de nossas mais profundasnecessidades de sermos amados e respeitados, no medo doabandono ou da perda de afeto. Não admira que possamos agirnuma briga conjugal como se estivesse em causa a nossaprópria existência.Mesmo assim, nada se resolve positivamente quando omarido ou a mulher está em pleno seqüestro emocional. Umaaptidão-chave é os cônjuges aliviarem seus próprios sentimentosangustiados. Em essência, isso significa dominar a habilidade derecuperar-se rapidamente da inundação causada por umseqüestro emocional. Como a capacidade de ouvir, pensar efalar com clareza desaparecem durante um desses picosemocionais, acalmar-se é um passo imensamente construtivo,sem o qual não pode haver maior progresso na solução do queestá em causa.Casais que ambicionam muito mais para seu relacionamentopodem aprender a monitorar o pulso a cada cinco minutos,mais ou menos, na ocorrência de uma interação incômoda,apalpando a carótida, alguns centímetros abaixo do lobo daorelha e do queixo (pessoas que fazem aeróbica aprendem issofacilmente).27 Contando-se o pulso por 15 segundos emultiplicando-se por quatro tem-se o ritmo de batidas porminuto. Fazer isso quando em estado de calma proporcionauma linha de referência; se o pulso sobe mais do que, digamos,dez batidas por minuto, assinala o início de uma inundação. Sesobe tanto, o casal precisa de uma folga de vinte minutos um dooutro para acalmar-se antes de retomar a discussão. Emborauma folga de cinco minutos possa parecer bastante longa, o

briga com o marido, Michael: ele queria ver o jogo Dallas

Cowboys-Philadelphia Eagles, ela queria ver o noticiário da TV.

Quando ele se instalou para assistir ao jogo, a Sra. Lenick lhe

disse que estava “cheia daquele rúgbi”. Foi ao quarto, pegou um

revólver calibre 38 e desfechou-lhe dois tiros, quando ele,

sentado, via o jogo. A Sra. Lenick foi acusada de tentativa de

homicídio doloso, foi presa e, depois, solta sob uma fiança de 50

mil dólares; o Sr. Lenick foi considerado como em boas

condições de saúde, recuperando-se das balas que lhe rasparam

o abdome e perfuraram a omoplata esquerda e o pescoço.23

Embora poucas brigas conjugais sejam tão violentas — ou tão

dispendiosas —, ainda assim oferecem uma boa oportunidade

para levar inteligência emocional ao casamento. Por exemplo,

os casais em casamentos duradouros tendem a se ater a um só

assunto e dar a cada cônjuge, logo de início, a oportunidade de

declarar sua opinião.24 Mas esses casais dão um importante

passo adiante: mostram um ao outro que estão sendo ouvidos.

Como sentir-se ouvido é muitas vezes exatamente o que o

cônjuge queixoso de fato quer, em termos emocionais um ato de

empatia é um grande redutor de tensão.

O que mais notadamente falta nos casais que acabam se

divorciando são tentativas dos cônjuges, numa discussão, de

reduzir a tensão. A presença ou ausência de meios de sanar

uma desavença é o que faz a diferença nas brigas de casais que

têm um casamento saudável e as dos que acabam em

divórcio.25 Os mecanismos de reparo que impedem uma

discussão de escalar para uma terrível explosão são medidas

simples como, por exemplo, manter a discussão nos trilhos,

mostrar empatia e reduzir a tensão. As medidas básicas são

como um termostato emocional, impedindo os sentimentos

expressos de transbordarem e esmagarem a capacidade dos

cônjuges de se concentrarem no problema em questão.

Uma estratégia geral para fazer um casamento dar certo é

não se concentrar nas questões específicas — educação dos

filhos, sexo, dinheiro, tarefas domésticas —, que são motivo de

briga entre os dois, mas sim cultivar a inteligência emocional do

casal, com isso melhorando as possibilidades de resolver as

coisas. Um punhado de aptidões emocionais — sobretudo ser

capaz de acalmar-se (e acalmar o outro), de criar empatia, de

saber ouvir — dá ao casal a possibilidade de resolver, de fato,

as suas divergências. Isso torna possíveis desacordos saudáveis,

as “boas brigas”, que permitem a um casamento florescer e

superar as coisas negativas que, quando vão se acumulando,

podem destruí-lo.26

Claro, nenhum desses hábitos emocionais muda da noite para

o dia; é preciso, no mínimo, persistência e vigilância. Os casais

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