Inteligencia-emocional-Daniel-Goleman
bichinhos.— Não pode, não — diz Barbara rudemente. — A gente nãoquer saber de você hoje.Quando Bill protesta em favor de Linda, Nancy junta-se aoataque:— A gente odeia ela hoje.Porque correm o risco de ouvir, explícita ou tacitamente “Agente odeia você”, é compreensível o cuidado que todas ascrianças têm quando vão abordar. Essa ansiedade, claro, nacerta não é muito diferente da sentida por um adulto que, numcoquetel com desconhecidos, fica de fora de um grupo deamigos aparentemente íntimos que papeiam alegremente. Comoesse momento em que estão fora de um grupo é tão importantepara a criança, é também, como disse um pesquisador,“altamente diagnóstico (...) revelando rapidamente diferenças dehabilidade social”.13Em geral, os recém-chegados apenas observam por umtempo, depois se juntam muito hesitantes a princípio, sendomais assertivos só por etapas muito cautelosas. O que maisimporta para saber se a criança é aceita ou não é a medida emque ela é capaz de entrar no quadro de referência do grupo,sentindo que tipo de brincadeira está havendo, qual não.Os dois pecados capitais que quase sempre levam à rejeiçãosão tentar tomar logo a dianteira e não entrar em sincronia como quadro de referência. Mas é isso exatamente que as crianças“chatas” tendem a fazer: entrar à força num grupo, tentandomudar o tema de uma maneira muito abrupta, ou, logo de cara,dando suas opiniões, ou simplesmente discordando logo dosoutros — tudo isso sugere tentativas de chamar a atenção parasi mesmas. Paradoxalmente, o que resulta é serem ignoradas ourejeitadas. Por outro lado, as crianças que são queridas pelasoutras são aquelas que passam algum tempo observando ogrupo para entender o que está acontecendo, antes de entrarnele, e depois fazem alguma coisa para mostrar que aceitam;esperam até ter seu status no grupo confirmado, para só depoistomar a iniciativa de sugerir o que o grupo deve fazer.Voltemos a Roger, o menino de 4 anos que Thomas Hatchidentificou como alguém que possui um alto nível de inteligênciainterpessoal.14 A tática de Roger para entrar num grupo eraprimeiro observar, depois imitar o que outra criança fazia e,por fim, falar com a criança e juntar-se plenamente à atividade
— uma estratégia cativante. A habilidade de Roger foidemonstrada, por exemplo, quando ele e Warren brincavam depôr “bombas” (na verdade, pedrinhas) em suas meias. Warrenpergunta a Roger se ele quer entrar num helicóptero ou numavião. Roger pergunta, antes de comprometer-se:— Você está num helicóptero?Esse momento aparentemente inócuo revela sensibilidadecom os interesses dos outros e a capacidade de agir com basenesse conhecimento de uma maneira que mantém orelacionamento. Hatch comenta sobre Roger:— Ele “testa” o coleguinha para que os dois e a brincadeirapermaneçam em conexão. Já vi muitas crianças quesimplesmente entram nos helicópteros ou aviões e, literal efigurativamente, voam para longe uma da outra.BRILHANTISMO EMOCIONAL: RELATÓRIO DE UM CASOSe a capacidade de interagir socialmente é atestada pelahabilidade de aliviar sentimentos dolorosos, controlar alguém noauge da ira talvez seja a medida última da maestria. Os dadossobre autocontrole de raiva e contágio emocional sugerem queuma estratégia eficaz é distrair a pessoa furiosa, ter empatiacom seus sentimentos e ponto de vista e, depois, tentar fazercom que encare os fatos de uma outra forma, de modo asintonizá-la com uma gama de sentimentos mais positivos — éuma espécie de judô emocional.Essa refinada habilidade na bela arte da influência emocionaltalvez seja mais bem exemplificada por uma história contadapor um velho amigo, o falecido Terry Dobson,15 que na décadade 1950 foi um dos primeiros americanos a estudar a artemarcial aikidô no Japão. Uma tarde, ele voltava para casa, numtrem suburbano de Tóquio, quando entrou um operário enorme,belicoso e muito bêbado. O homem, cambaleando, se pôs aaterrorizar os passageiros: gritando palavrões, avançou parauma mulher com um bebê no colo e jogou-a em cima de umcasal de velhos, que se levantou e iniciou uma debandada parao outro extremo do vagão. O bêbado, fazendo outros ataques (e,em sua raiva, errando), agarrou a coluna de metal no meio dovagão com um rugido e tentou arrancá-la.Nessa altura Terry, que estava no auge da forma física apósoito horas de exercício no aikidô, sentiu-se no dever de intervir,para que ninguém se machucasse seriamente. Mas lembrou-se
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bichinhos.
— Não pode, não — diz Barbara rudemente. — A gente não
quer saber de você hoje.
Quando Bill protesta em favor de Linda, Nancy junta-se ao
ataque:
— A gente odeia ela hoje.
Porque correm o risco de ouvir, explícita ou tacitamente “A
gente odeia você”, é compreensível o cuidado que todas as
crianças têm quando vão abordar. Essa ansiedade, claro, na
certa não é muito diferente da sentida por um adulto que, num
coquetel com desconhecidos, fica de fora de um grupo de
amigos aparentemente íntimos que papeiam alegremente. Como
esse momento em que estão fora de um grupo é tão importante
para a criança, é também, como disse um pesquisador,
“altamente diagnóstico (...) revelando rapidamente diferenças de
habilidade social”.13
Em geral, os recém-chegados apenas observam por um
tempo, depois se juntam muito hesitantes a princípio, sendo
mais assertivos só por etapas muito cautelosas. O que mais
importa para saber se a criança é aceita ou não é a medida em
que ela é capaz de entrar no quadro de referência do grupo,
sentindo que tipo de brincadeira está havendo, qual não.
Os dois pecados capitais que quase sempre levam à rejeição
são tentar tomar logo a dianteira e não entrar em sincronia com
o quadro de referência. Mas é isso exatamente que as crianças
“chatas” tendem a fazer: entrar à força num grupo, tentando
mudar o tema de uma maneira muito abrupta, ou, logo de cara,
dando suas opiniões, ou simplesmente discordando logo dos
outros — tudo isso sugere tentativas de chamar a atenção para
si mesmas. Paradoxalmente, o que resulta é serem ignoradas ou
rejeitadas. Por outro lado, as crianças que são queridas pelas
outras são aquelas que passam algum tempo observando o
grupo para entender o que está acontecendo, antes de entrar
nele, e depois fazem alguma coisa para mostrar que aceitam;
esperam até ter seu status no grupo confirmado, para só depois
tomar a iniciativa de sugerir o que o grupo deve fazer.
Voltemos a Roger, o menino de 4 anos que Thomas Hatch
identificou como alguém que possui um alto nível de inteligência
interpessoal.14 A tática de Roger para entrar num grupo era
primeiro observar, depois imitar o que outra criança fazia e,
por fim, falar com a criança e juntar-se plenamente à atividade