Inteligencia-emocional-Daniel-Goleman
americanos. — Foi realmente estranho, porque ninguém atirouneles. E, depois que passaram pela berma, de repente eusimplesmente já estava fora do combate. Não mais queriacontinuar fazendo aquilo, pelo menos naquele dia. Deve teracontecido o mesmo com todo mundo, porque todos desistiram.Cessamos o combate.3O poder que esses monges tranqüilos e corajosos exerceramna pacificação dos soldados, no calor de um combate, ilustra umprincípio básico da interação entre as pessoas: as emoções sãocontagiantes. É evidente que essa história assinala um extremo. Amaior parte do contágio emocional é muito mais sutil, parte deum tácito intercâmbio que ocorre em qualquer interação com ooutro. Transmitimos e captamos modos uns dos outros, algocomo uma economia subterrânea da psique, em que algunsencontros são tóxicos, outros, revigorantes. Esse intercâmbioemocional se dá, em geral, de forma sutil, quase imperceptível;a maneira como um vendedor nos diz “obrigado” pode fazer-nossentir ignorados, ressentidos, ou ser de fato um agradecimento edar mostras de consideração.Enviamos sinais emocionais sempre que interagimos, e essessinais afetam aqueles com quem estamos. Quanto mais hábeissomos nas relações que mantemos com o outro, melhorcontrolamos os sinais que enviamos; a forma reservada com quese comporta a sociedade bem-educada é, enfim, apenas ummeio de assegurar que nenhum vazamento emocionalperturbador vai prejudicar os relacionamentos (uma regra socialque, quando utilizada nos relacionamentos íntimos, é sufocante).Inteligência emocional inclui o controle desse intercâmbio;“muito benquisto” e “encantador” são termos que empregamospara qualificar pessoas com as quais gostamos de estar porquea habilidade social delas nos faz bem. As pessoas capazes deajudar outras a aliviar seus sofrimentos possuem um produtosocial especialmente valorizado; são as almas para as quais sevoltam as outras quando se encontram em dificuldades. Todossomos parte dos recursos utilizados por outrem para alterar seuestado de espírito, para o melhor ou para o pior.Pensem na notável demonstração de sutileza com que asemoções passam de uma pessoa para outra. Numa experiênciasimples, dois voluntários preencheram um formulário ondedeveriam informar como se sentiam naquele momento e,depois, simplesmente ficaram sentados um diante do outro,calados, enquanto esperavam que a pesquisadora voltasse à sala.Dois minutos depois, ela voltou e pediu-lhes que tornassem apreencher outro formulário, nos moldes do anterior. A duplatinha sido escolhida exatamente porque uma das pessoas eramuito expressiva emocionalmente e a outra, inexpressiva.
Invariavelmente, o estado de espírito da mais expressiva haviapassado para a mais passiva.4Como se dá essa mágica transmissão? É possível que, deforma não deliberada, imitemos as emoções que vemos exibidaspor outra pessoa, através de uma mímica motora inconscientede sua expressão facial, gestos, tom de voz e outros indicadoresnão-verbais de emoção. Através dessa imitação, as pessoasrecriam em si o estado de espírito da outra — é uma ligeiraversão do método de Stanislavsky, no qual os atores lembramgestos, movimentos e outras expressões de uma emoção quesentiram intensamente no passado, para evocar de novo essessentimentos.A imitação cotidiana de sentimentos é, em geral, bastantesutil. Ulf Dimberg, pesquisador sueco da Universidade deUppsala, constatou que quando as pessoas vêem um rostosorridente ou irado, os seus próprios rostos mostram sinais dessemesmo estado de espírito através de ligeiras mudanças nosmúsculos faciais. As mudanças são evidenciadas por meio desensores eletrônicos, mas não são, em geral, visíveis a olho nu.Quando duas pessoas interagem, a transferência de estado deespírito ocorre da mais expressiva para a mais passiva.Acontece, porém, que certas pessoas são particularmentesusceptíveis ao contágio emocional; sua sensibilidade inata tornaseu sistema nervoso autônomo (um marcador de atividadeemocional) mais facilmente disparável. Essa desvantagemparece torná-las mais impressionáveis; comerciais sentimentaisprovocam-lhes lágrimas, enquanto um rápido papo com alguémeufórico as anima (também pode torná-las mais empáticas, jáque são mais prontamente movidas pelos sentimentos dosoutros).John Cacioppo, o psicofisiologista social da Universidade doEstado de Ohio que estudou esse sutil intercâmbio emocional,observa:— Basta ver alguém manifestar uma emoção e já evocamosem nós esse estado de espírito, quer percebamos que estamosimitando a expressão facial ou não. Isso nos acontece o tempotodo; há uma dança, uma sincronia, uma transmissão deemoções. Essa sincronia de estados de espírito é determinantepara que sintamos se uma interação foi boa ou não.A intensidade de envolvimento que as pessoas experimentamnuma interação reflete-se na maneira como seus movimentosfísicos são organizados enquanto elas conversam — um indíciode fechamento normalmente inconsciente. Uma pessoa balançaa cabeça em concordância quando a outra afirma uma coisa, ouas duas se mexem em suas cadeiras no mesmo instante, ou umase curva para a frente e a outra para trás. A orquestração pode
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Invariavelmente, o estado de espírito da mais expressiva havia
passado para a mais passiva.4
Como se dá essa mágica transmissão? É possível que, de
forma não deliberada, imitemos as emoções que vemos exibidas
por outra pessoa, através de uma mímica motora inconsciente
de sua expressão facial, gestos, tom de voz e outros indicadores
não-verbais de emoção. Através dessa imitação, as pessoas
recriam em si o estado de espírito da outra — é uma ligeira
versão do método de Stanislavsky, no qual os atores lembram
gestos, movimentos e outras expressões de uma emoção que
sentiram intensamente no passado, para evocar de novo esses
sentimentos.
A imitação cotidiana de sentimentos é, em geral, bastante
sutil. Ulf Dimberg, pesquisador sueco da Universidade de
Uppsala, constatou que quando as pessoas vêem um rosto
sorridente ou irado, os seus próprios rostos mostram sinais desse
mesmo estado de espírito através de ligeiras mudanças nos
músculos faciais. As mudanças são evidenciadas por meio de
sensores eletrônicos, mas não são, em geral, visíveis a olho nu.
Quando duas pessoas interagem, a transferência de estado de
espírito ocorre da mais expressiva para a mais passiva.
Acontece, porém, que certas pessoas são particularmente
susceptíveis ao contágio emocional; sua sensibilidade inata torna
seu sistema nervoso autônomo (um marcador de atividade
emocional) mais facilmente disparável. Essa desvantagem
parece torná-las mais impressionáveis; comerciais sentimentais
provocam-lhes lágrimas, enquanto um rápido papo com alguém
eufórico as anima (também pode torná-las mais empáticas, já
que são mais prontamente movidas pelos sentimentos dos
outros).
John Cacioppo, o psicofisiologista social da Universidade do
Estado de Ohio que estudou esse sutil intercâmbio emocional,
observa:
— Basta ver alguém manifestar uma emoção e já evocamos
em nós esse estado de espírito, quer percebamos que estamos
imitando a expressão facial ou não. Isso nos acontece o tempo
todo; há uma dança, uma sincronia, uma transmissão de
emoções. Essa sincronia de estados de espírito é determinante
para que sintamos se uma interação foi boa ou não.
A intensidade de envolvimento que as pessoas experimentam
numa interação reflete-se na maneira como seus movimentos
físicos são organizados enquanto elas conversam — um indício
de fechamento normalmente inconsciente. Uma pessoa balança
a cabeça em concordância quando a outra afirma uma coisa, ou
as duas se mexem em suas cadeiras no mesmo instante, ou uma
se curva para a frente e a outra para trás. A orquestração pode