Inteligencia-emocional-Daniel-Goleman
acontecera. Ficou espantado ao saber que, enquanto estava tãoconcentrado na cirurgia, parte do revestimento do teto desabara— ele não havia notado nada.O fluxo é um estado de auto-abandono, o oposto daruminação e preocupação: em vez de perder-se em cuidadosnervosos, as pessoas em fluxo se concentram tanto no que estãofazendo que perdem toda a autoconsciência, deixando de lado aspequenas preocupações — saúde, contas, até mesmo o bemestar— da vida diária. Nesse sentido, nos momentos de fluxo aspessoas se tornam desprendidas. Paradoxalmente, as pessoas emfluxo exibem um controle absoluto sobre o que estão fazendo, asreações perfeitamente sintonizadas com as cambiantesexigências da tarefa. E, embora atuem no ponto mais altoquando em fluxo, não se preocupam com seu desempenho,com a questão de sucesso ou fracasso — o que as motiva é opuro prazer do ato em si.Há várias maneiras de entrar em fluxo. Uma delas é manter,de forma deliberada, uma aguda atenção no que está sendo feito;a essência do fluxo é um estado de alta concentração. Parecehaver um circuito de feedback na entrada dessa zona: podeexigir considerável esforço acalmar-se e concentrar-se osuficiente para iniciar a tarefa — esse primeiro passo exigeuma certa disciplina. Mas, assim que a concentração começa afixar-se, assume uma força própria, que ao mesmo tempoproporciona alívio da turbulência emocional e torna fácil atarefa.A entrada nessa zona pode ocorrer também quando aspessoas encontram uma tarefa em que são hábeis e a executamnum nível que pouco exige de sua capacidade. Como me disseCsikszentmihalyi:— As pessoas parecem concentrar-se melhor quando o quelhes é exigido é pouco, e elas podem dar mais. Se o que lhes éexigido é muito pouco, elas se entediam. Se tiverem de lidarcom coisas para elas excessivas, ficam ansiosas. O fluxo ocorrenaquela zona delicada entre o tédio e a ansiedade.28O prazer, a graça e a eficácia espontâneos que caracterizamo fluxo são incompatíveis com seqüestros emocionais, nos quaisos surtos límbicos se apoderam do resto do cérebro. A qualidadeda atenção no fluxo é relaxada, mas altamente concentrada. Éuma concentração muito diferente do esforço para prestaratenção quando estamos cansados ou entediados, ou quandonossa concentração é assediada por sentimentos intrusos como aansiedade ou a raiva.O fluxo é um estado sem interferência emocional, a não serpor um sentimento compulsivo, altamente motivador, de suaveêxtase. Esse êxtase parece ser um subproduto da concentração
de atenção que é um pré-requisito do fluxo. Na verdade, aliteratura clássica das tradições contemplativas descreve estadosde absorção que são sentidos como pura felicidade: fluxoinduzido por nada mais que intensa concentração.Ver alguém em fluxo dá a impressão de que o difícil é fácil:o auge do desempenho parece natural e banal. Essa impressãoé paralela ao que se passa no cérebro, onde um paradoxosemelhante se repete: as mais desafiantes tarefas são executadascom um dispêndio mínimo de energia mental. No fluxo, océrebro se acha num estado “frio”, a estimulação e inibição doscircuitos neurais estão sintonizados com a solicitação domomento. Quando as pessoas se acham empenhadas ematividades que prendem e mantêm, sem esforço, a sua atenção,seu cérebro “se acalma”, no sentido de que ocorre umadiminuição de estimulação cortical.29 Essa descoberta é notável,uma vez que o fluxo permite que as pessoas enfrentem as maisdesafiantes tarefas num determinado campo, seja jogando contraum mestre de xadrez ou solucionando um complexo problemamatemático. A expectativa seria de que essas tarefas desafiantesexigissem mais atividade cortical, e não menos. Mas uma chavepara o fluxo é que ele só ocorre perto do cume da capacidade,onde as aptidões estão bem ensaiadas e os circuitos neurais maiseficientes.Uma concentração forçada — uma concentração alimentadapela preocupação — produz maior ativação cortical. Mas azona de fluxo e desempenho ideal parece ser um oásis deeficiência cortical, com um dispêndio mínimo de energiamental. Isso faz sentido, talvez, em termos da prática naatividade que permite que as pessoas entrem no fluxo: odomínio das etapas de uma tarefa física, como escalar rochedos,ou mental, como a programação de computadores, significa queo cérebro pode ser mais eficiente em sua execução. As etapasbem praticadas exigem menos esforço do cérebro do que as queestão sendo aprendidas, ou as que ainda apresentam alto graude dificuldade. Do mesmo modo, quando o cérebro trabalhacom menos eficiência, devido ao cansaço ou nervosismo, comoacontece ao fim de um dia longo e estressante, há umturvamento da precisão do esforço cortical, com a ativação demuitas áreas supérfluas — um estado geral que se sente comoestando altamente distraído.30 O mesmo acontece no tédio. Mas,quando o cérebro atua na eficiência máxima, como no fluxo, háuma relação precisa entre as áreas ativas e as exigências datarefa. Nesse estado, mesmo o trabalho árduo pode parecermais renovador e restaurador que cansativo.
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acontecera. Ficou espantado ao saber que, enquanto estava tão
concentrado na cirurgia, parte do revestimento do teto desabara
— ele não havia notado nada.
O fluxo é um estado de auto-abandono, o oposto da
ruminação e preocupação: em vez de perder-se em cuidados
nervosos, as pessoas em fluxo se concentram tanto no que estão
fazendo que perdem toda a autoconsciência, deixando de lado as
pequenas preocupações — saúde, contas, até mesmo o bemestar
— da vida diária. Nesse sentido, nos momentos de fluxo as
pessoas se tornam desprendidas. Paradoxalmente, as pessoas em
fluxo exibem um controle absoluto sobre o que estão fazendo, as
reações perfeitamente sintonizadas com as cambiantes
exigências da tarefa. E, embora atuem no ponto mais alto
quando em fluxo, não se preocupam com seu desempenho,
com a questão de sucesso ou fracasso — o que as motiva é o
puro prazer do ato em si.
Há várias maneiras de entrar em fluxo. Uma delas é manter,
de forma deliberada, uma aguda atenção no que está sendo feito;
a essência do fluxo é um estado de alta concentração. Parece
haver um circuito de feedback na entrada dessa zona: pode
exigir considerável esforço acalmar-se e concentrar-se o
suficiente para iniciar a tarefa — esse primeiro passo exige
uma certa disciplina. Mas, assim que a concentração começa a
fixar-se, assume uma força própria, que ao mesmo tempo
proporciona alívio da turbulência emocional e torna fácil a
tarefa.
A entrada nessa zona pode ocorrer também quando as
pessoas encontram uma tarefa em que são hábeis e a executam
num nível que pouco exige de sua capacidade. Como me disse
Csikszentmihalyi:
— As pessoas parecem concentrar-se melhor quando o que
lhes é exigido é pouco, e elas podem dar mais. Se o que lhes é
exigido é muito pouco, elas se entediam. Se tiverem de lidar
com coisas para elas excessivas, ficam ansiosas. O fluxo ocorre
naquela zona delicada entre o tédio e a ansiedade.28
O prazer, a graça e a eficácia espontâneos que caracterizam
o fluxo são incompatíveis com seqüestros emocionais, nos quais
os surtos límbicos se apoderam do resto do cérebro. A qualidade
da atenção no fluxo é relaxada, mas altamente concentrada. É
uma concentração muito diferente do esforço para prestar
atenção quando estamos cansados ou entediados, ou quando
nossa concentração é assediada por sentimentos intrusos como a
ansiedade ou a raiva.
O fluxo é um estado sem interferência emocional, a não ser
por um sentimento compulsivo, altamente motivador, de suave
êxtase. Esse êxtase parece ser um subproduto da concentração