Inteligencia-emocional-Daniel-Goleman
rejeição é, para o pessimista, dura de ser aceita, porque ele ainterpreta como se fora: “Não dou pra isso; nunca conseguireivender nada” — uma interpretação que, com certeza,provocará apatia e derrotismo, se não a depressão. Os otimistas,por outro lado, dizem a si mesmos: “Devo estar usando atécnica errada” ou “A última pessoa com quem falei devia estarde mau humor”. Não se vendo a si mesmos, mas identificandoalgo na situação como o motivo de seu fracasso, podem mudara técnica na ligação seguinte. Enquanto a atitude mental dopessimista conduz ao desespero, a do otimista gera esperança.Uma das origens da perspectiva positiva ou negativa talvezseja o temperamento inato; algumas pessoas, por natureza,tendem para um lado ou para outro. Mas, como veremos naParte 4, o temperamento pode ser alterado pela experiência.Otimismo e esperança — da mesma forma que o sentimento deimpotência e desespero — podem ser aprendidos. Por trás dosdois está uma perspectiva que os psicólogos chamam de autoeficácia,a crença de que somos capazes de exercer controlesobre os fatos de nossa vida e de que podemos enfrentar osdesafios que surgirem. O desenvolvimento de qualquer tipo deaptidão fortalece o senso de auto-eficácia, tornando a pessoamais disposta a assumir riscos e buscar maiores desafios. E avitória que obtemos sobre esses desafios, por sua vez, aumenta osentimento de auto-eficácia. Essa atitude torna mais provável queas pessoas usem melhor quaisquer aptidões que tenham oufaçam o necessário para desenvolvê-las.Albert Bandura, psicólogo de Stanford que fez grande parteda pesquisa sobre a auto-eficácia, resume-a bem:— A confiança que as pessoas têm em suas aptidões exerceum profundo efeito sobre essas aptidões. A aptidão não é umapropriedade fixa; há uma imensa variabilidade na maneiracomo atuamos. As pessoas que têm senso de auto-eficácia serecuperam de fracassos; abordam as coisas mais em termos decomo lidar com elas do que se preocupando com o que podedar errado.24FLUXO: A NEUROBIOLOGIA DA EXCELÊNCIAUm compositor descreve os momentos em que sua arte atinge oponto mais alto:Nós entramos num tal nível de êxtase que pareceque não existimos. Tive essa sensação várias vezes.Minha mão parece ser independente de mim, e nadatenho a ver com o que se passa. Simplesmente fico ali
observando, em estado de respeito e encantamento. E acoisa simplesmente flui por si mesma.25Sua descrição é muito semelhante à de centenas de diferenteshomens e mulheres — alpinistas, campeões de xadrez, médicos,jogadores de basquete, engenheiros, gerentes e até mesmoarquivistas — quando falam de um momento em que sesuperaram em determinada atividade. O estado que descrevemé chamado de “fluxo” por Mihaly Csikszentmihalyi, psicólogo daUniversidade de Chicago que coletou essas histórias de máximodesempenho em duas décadas de pesquisa.26 Os atletasconhecem esse estado de graça como “a zona”, onde aexcelência vem fácil, a multidão e os competidoresdesaparecem numa feliz e constante absorção do momento.Diane Roffe-Steinrotter, que ganhou uma medalha de ouro emesqui nas Olimpíadas de Inverno de 1994, disse, depois dacorrida, que só se lembrava de que estava imersa em totalrelaxamento:— Eu me sentia fluir como uma cachoeira.27A capacidade de entrar em fluxo é inteligência emocional noponto mais alto; o fluxo representa, talvez, a última palavra nacanalização das emoções a serviço do desempenho eaprendizado. No fluxo, as emoções são não apenas contidas edirigidas, mas positivas, energizadas e alinhadas com a tarefaque está sendo realizada. Ver-se colhido no marasmo dadepressão ou na agitação da ansiedade é estancar o fluxo.Contudo, o fluxo (ou um mais brando microfluxo) é umaexperiência pela qual quase todo mundo passa às vezes,sobretudo quando no máximo do desempenho ou indo além doslimites anteriormente alcançados. Talvez seja mais bem captadopelo ato de amor extático, a fusão de dois num fluir harmônico.Fluir é uma experiência gloriosa: o sinal característico dofluxo é uma sensação de alegria espontânea, e mesmo deêxtase. Por ser tão bom, é intrinsecamente compensador. É umestado em que as pessoas ficam absolutamente absortas no queestão fazendo, dando atenção exclusiva à tarefa, a consciênciaem fusão com os atos. Na verdade, pensar demais no que estáacontecendo causa interrupção no fluxo — até a idéia “Comoestou fazendo isso maravilhosamente” pode interromper o fluxo.A atenção fica tão concentrada que as pessoas só têmconsciência da estreita gama de percepção relacionada com oque estão fazendo, perdendo a noção de tempo e espaço. Umcirurgião, por exemplo, lembrava uma cirurgia delicada durantea qual entrou em fluxo; quando a concluiu, notou que haviaalguns detritos no chão da sala de operação e perguntou o que
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interpreta como se fora: “Não dou pra isso; nunca conseguirei
vender nada” — uma interpretação que, com certeza,
provocará apatia e derrotismo, se não a depressão. Os otimistas,
por outro lado, dizem a si mesmos: “Devo estar usando a
técnica errada” ou “A última pessoa com quem falei devia estar
de mau humor”. Não se vendo a si mesmos, mas identificando
algo na situação como o motivo de seu fracasso, podem mudar
a técnica na ligação seguinte. Enquanto a atitude mental do
pessimista conduz ao desespero, a do otimista gera esperança.
Uma das origens da perspectiva positiva ou negativa talvez
seja o temperamento inato; algumas pessoas, por natureza,
tendem para um lado ou para outro. Mas, como veremos na
Parte 4, o temperamento pode ser alterado pela experiência.
Otimismo e esperança — da mesma forma que o sentimento de
impotência e desespero — podem ser aprendidos. Por trás dos
dois está uma perspectiva que os psicólogos chamam de autoeficácia,
a crença de que somos capazes de exercer controle
sobre os fatos de nossa vida e de que podemos enfrentar os
desafios que surgirem. O desenvolvimento de qualquer tipo de
aptidão fortalece o senso de auto-eficácia, tornando a pessoa
mais disposta a assumir riscos e buscar maiores desafios. E a
vitória que obtemos sobre esses desafios, por sua vez, aumenta o
sentimento de auto-eficácia. Essa atitude torna mais provável que
as pessoas usem melhor quaisquer aptidões que tenham ou
façam o necessário para desenvolvê-las.
Albert Bandura, psicólogo de Stanford que fez grande parte
da pesquisa sobre a auto-eficácia, resume-a bem:
— A confiança que as pessoas têm em suas aptidões exerce
um profundo efeito sobre essas aptidões. A aptidão não é uma
propriedade fixa; há uma imensa variabilidade na maneira
como atuamos. As pessoas que têm senso de auto-eficácia se
recuperam de fracassos; abordam as coisas mais em termos de
como lidar com elas do que se preocupando com o que pode
dar errado.24
FLUXO: A NEUROBIOLOGIA DA EXCELÊNCIA
Um compositor descreve os momentos em que sua arte atinge o
ponto mais alto:
Nós entramos num tal nível de êxtase que parece
que não existimos. Tive essa sensação várias vezes.
Minha mão parece ser independente de mim, e nada
tenho a ver com o que se passa. Simplesmente fico ali