Inteligencia-emocional-Daniel-Goleman

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15.01.2020 Views

e, sobretudo, uma ansiedade sufocante”.14 Depois, há os sinaisintelectuais: “confusão, falta de concentração mental e lapsos dememória”, e, num estágio posterior, a mente “dominada pordistorções anárquicas”, e “uma sensação de que meus processosde raciocínio estavam envoltos numa maré tóxica e inominávelque obliterava toda reação prazerosa ao mundo vivo”. Há osefeitos físicos: não dormir, sentir-se apático como um zumbi,“uma espécie de dormência, desalento, porém maisparticularmente uma curiosa fragilidade”, juntamente com uma“agitação nervosa”. Depois vem a perda de prazer: “A comida,como tudo mais no âmbito sensitivo, era absolutamente insípida.”Por fim, a perda de expectativas, à medida que “a cinzentagaroa do horror” chegava a um desespero tão palpável como sefora uma dor física, uma dor tão insuportável que o suicídioparecia ser a única saída.Nessas grandes depressões, a vida é paralisada; nenhumrecomeço pode ser visualizado. Os próprios sintomas dadepressão revelam uma vida em suspenso. Para Styron, nãoadiantou nenhum medicamento ou terapia; foi a passagem dotempo e o refúgio num hospital que acabaram varrendo adesolação. Mas, para a maioria das pessoas, sobretudo aquelascom casos menos severos, a psicoterapia ajuda, como ajuda amedicação — o Prozac é o remédio da moda, porém mais deuma dúzia de outros medicamentos oferece alguma ajuda,sobretudo para a depressão severa.Eu me concentro aqui na tristeza mais corriqueira que, nomáximo, se transforma, tecnicamente falando, em “depressãosubclínica” — ou seja, a melancolia comum. Este é um tipo dedesolação que as pessoas podem controlar por si mesmas, setiverem os recursos interiores. Infelizmente, algumas dasestratégias a que mais freqüentemente se recorre podem terefeito contrário e deixarem as pessoas se sentindo pior do queantes. Uma delas consiste em ficar sozinho, o que muitas vezesé desejado por pessoas que se sentem deprimidas; na maioriadas vezes, porém, essa providência só acrescenta à tristeza umasensação de solidão e isolamento. Isto talvez explique em partepor que Diane Tice constatou que a tática mais comum paracombater a depressão é ter vida social — sair para comer fora,ir a um jogo ou ao cinema; em suma, fazer alguma coisa comos amigos ou a família. Dá certo se o resultado for não pensarna tristeza. Mas simplesmente prolonga o estado de espírito se aocasião for utilizada apenas para ruminar sobre o que a deixounessa situação.Na verdade, uma das principais maneiras de determinar seum estado depressivo vai persistir ou passar é o grau deruminação das pessoas. A preocupação com o que nos

deprime, parece, torna a depressão mais intensa e prolongada.Na depressão, a preocupação assume várias formas, todasconcentrando-se num aspecto da própria depressão — ocansaço que sentimos, a pouca energia ou motivação que temos,por exemplo, ou o pouco que estamos produzindo. De ummodo geral, nada dessa reflexão é acompanhado por qualquerlinha concreta de ação que possa amenizar o problema. Entreoutras preocupações que surgem na depressão, estão a pessoa“isolar-se e pensar no quanto está-se sentindo mal, que ocônjuge pode rejeitá-la porque ela está deprimida e perguntarsese vai ter mais uma noite de insônia”, diz Susan Nolen-Hoeksma, psicóloga de Stanford, que estudou a ruminação empessoas deprimidas.15As pessoas deprimidas, às vezes, justificam esse tipo deruminação dizendo que estão tentando “se compreendermelhor”; na verdade, estão alimentando os sentimentos detristeza sem tomar nenhuma medida que possa de fato tirá-lasda depressão. Assim, na terapia, pode ser perfeitamenteproveitoso refletir a fundo sobre as causas de uma depressão, seisso conduz a intuições ou ações que mudem as condições que acausam. Mas uma imersão passiva na tristeza apenas piora ascoisas.A ruminação também pode aumentar a depressão criandocondições... ora, mais deprimentes. Susan dá o exemplo de umavendedora que fica deprimida e passa tantas horas preocupadacom isso que não sai para importantes visitas de negócios. Suasvendas então caem, fazendo-a sentir-se um fracasso, o quealimenta sua depressão. No entanto, se ela reagisse à depressãotentando distrair-se, poderia muito bem ir fundo nas visitas aosclientes como uma maneira de se desligar da tristeza. As vendastalvez não caíssem e uma venda eventual poderia aumentar suaautoconfiança, reduzindo a depressão.Susan constata que as mulheres tendem muito mais aruminar, quando deprimidas, que os homens. Ela acha que issoexplica, em parte, o fato de elas receberem duas vezes mais odiagnóstico de depressão do que os homens. É óbvio que existemoutros fatores, como o fato de as mulheres falarem maisabertamente sobre suas angústias ou terem mais coisas em suasvidas para deprimi-las. E os homens, duas vezes mais que asmulheres, afogam sua depressão no alcoolismo.Descobriu-se em alguns estudos que a terapia cognitivadestinada a mudar esses padrões de pensamentos é equivalenteà medicação para o tratamento da depressão clínica branda, emelhor que a medicação para prevenir o retorno da depressãobranda. Duas estratégias são particularmente eficazes nocombate.16 Uma é aprender a contestar os pensamentos

e, sobretudo, uma ansiedade sufocante”.14 Depois, há os sinais

intelectuais: “confusão, falta de concentração mental e lapsos de

memória”, e, num estágio posterior, a mente “dominada por

distorções anárquicas”, e “uma sensação de que meus processos

de raciocínio estavam envoltos numa maré tóxica e inominável

que obliterava toda reação prazerosa ao mundo vivo”. Há os

efeitos físicos: não dormir, sentir-se apático como um zumbi,

“uma espécie de dormência, desalento, porém mais

particularmente uma curiosa fragilidade”, juntamente com uma

“agitação nervosa”. Depois vem a perda de prazer: “A comida,

como tudo mais no âmbito sensitivo, era absolutamente insípida.”

Por fim, a perda de expectativas, à medida que “a cinzenta

garoa do horror” chegava a um desespero tão palpável como se

fora uma dor física, uma dor tão insuportável que o suicídio

parecia ser a única saída.

Nessas grandes depressões, a vida é paralisada; nenhum

recomeço pode ser visualizado. Os próprios sintomas da

depressão revelam uma vida em suspenso. Para Styron, não

adiantou nenhum medicamento ou terapia; foi a passagem do

tempo e o refúgio num hospital que acabaram varrendo a

desolação. Mas, para a maioria das pessoas, sobretudo aquelas

com casos menos severos, a psicoterapia ajuda, como ajuda a

medicação — o Prozac é o remédio da moda, porém mais de

uma dúzia de outros medicamentos oferece alguma ajuda,

sobretudo para a depressão severa.

Eu me concentro aqui na tristeza mais corriqueira que, no

máximo, se transforma, tecnicamente falando, em “depressão

subclínica” — ou seja, a melancolia comum. Este é um tipo de

desolação que as pessoas podem controlar por si mesmas, se

tiverem os recursos interiores. Infelizmente, algumas das

estratégias a que mais freqüentemente se recorre podem ter

efeito contrário e deixarem as pessoas se sentindo pior do que

antes. Uma delas consiste em ficar sozinho, o que muitas vezes

é desejado por pessoas que se sentem deprimidas; na maioria

das vezes, porém, essa providência só acrescenta à tristeza uma

sensação de solidão e isolamento. Isto talvez explique em parte

por que Diane Tice constatou que a tática mais comum para

combater a depressão é ter vida social — sair para comer fora,

ir a um jogo ou ao cinema; em suma, fazer alguma coisa com

os amigos ou a família. Dá certo se o resultado for não pensar

na tristeza. Mas simplesmente prolonga o estado de espírito se a

ocasião for utilizada apenas para ruminar sobre o que a deixou

nessa situação.

Na verdade, uma das principais maneiras de determinar se

um estado depressivo vai persistir ou passar é o grau de

ruminação das pessoas. A preocupação com o que nos

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