Revista Apólice #250

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>>> reforma de previdênciapossível após a regulamentação da Leinº 6435, em 1977. A partir daquele anoas instituições financeiras e de segurosdeflagraram a corrida pelo mercado dalongevidade enquanto a PrevidênciaSocial foi se deteriorando até o ponto detornar-se insustentável mantê-la sem quehouvesse uma profunda transformaçãode suas diretrizes.“A reforma da Previdência não éuma questão do Brasil, necessariamente.Para mim, é uma questão mundial.Vejo discussões no Japão, na Suécia, naAlemanha; vejo discussões fortíssimasna França, enfim, no mundo inteiro.Mas o que é mais interessante é queas pessoas estão falando muito sobre oassunto e mostrando uma consciênciamuito grande na questão de poupar e deinvestir principalmente com a chegadada aposentadoria”, destaca Malho, daIcatu.Há alguns anos, o coro pela reformaprevidenciária começou a engrossaraté a sua consolidação este ano, mas odebate permanece e há mobilizaçõespolíticas na Câmara e no Senado paraque o texto recentemente aprovado ejá em vigor seja ajustado. Uma destasações é a PEC (Proposta de Emenda àConstituição) — chamada de “PEC paralela”— assinada pelo senador TassoJereissati (PSDB-CE), que também foirelator da reforma da Previdência noSenado. A “PEC paralela” passou pelossenadores em meados de novembro e jáestá na Câmara, prevendo, entre outrasalterações na reforma da Previdência,a de um novo cálculo de aposentadorianovamente sobre 80% correspondentesàs maiores contribuições, desconsiderandoos salários menores, e permitirque a reforma se estenda a servidoresestaduais e municipais, o que gerariauma economia de, aproximadamente,R$ 350 bilhões em dez anos aos estadose municípios que se encontram em umabarafunda fiscal ilimitada. Mas o presidenteda Câmara, Rodrigo Maia (DEM--RJ), já sinalizou publicamente que a“PEC paralela” dificilmente avançarána Casa. Na pior das hipóteses, umadecisão concreta deverá ficar para 2020.Mas há verdadeiramente itens juridicamentesensíveis na reforma da Pre34❙ ❙Pedro Pierobon, doescritório Bruno Calfatvidência? Quais seriam eles? O advogadoPedro Pierobon avalia esse contexto:“Ao longo da tramitação da reformano Congresso, os pontos consideradosmais sensíveis – e que configurariamum retrocesso social passível de questionamentojudicial – foram retirados eos direitos mais básicos foram mantidos,como por exemplo as alterações no Benefíciode Prestação Continuada (BPC) e naaposentadoria rural, que foram deixadasde lado. De igual maneira, o piso de umsalário mínimo para a aposentadoriapermaneceu inalterado. Mesmo assim, jáforam ajuizadas quatro ações diretas deinconstitucionalidade contra a Reformano STF, com pedidos de liminar que serãorelatadas pelo ministro Luís RobertoBarroso.”Previdência privada tambémganha com reformaSe a política ainda insiste em mudaras regras do jogo na Previdência Social,o mercado responde com a evolução daprevidência privada. Em julho, comoindica a Federação Nacional de PrevidênciaPrivada e Vida (FenaPrevi), osnúmeros de previdência complementaraberta recolhidos foram muito bons.Melhores ainda os de agosto, quandoas novas contribuições totalizaram R$11,5 bilhões, superando em pouco maisde 23% o resultado de igual período doano passado. Hoje, a previdência privadaacolhe 13,3 milhões de clientes. Amaciça maioria deles (93%) opta pelomodelo mais popular, o Vida Geradorde Benefício Livre (VGBL). O restantefica, portanto, concentrado no PlanoGerador de Benefício Livre (PGBL),mais dirigido aos clientes de renda alta.Na ponta do lápis, isso significa umcrescimento do mercado de previdênciacomplementar da ordem de 2,2% emrelação ao ano passado. Um percentualainda tímido? Sim, mas sempre emevolução.“A questão relacionada ao crescimentoda renda pega na veia a indústriade previdência complementar. Na medidaem que se tem uma expectativa decrescimento de renda disponível paraconsumo ou para previdência complementarmaior, isso é muito saudável epositivo para o mercado. Mais do quea reforma ter sido aprovada o principalimpacto é o macro, onde se tem o crescimentoda renda real, e se consegueprojetar aí um cenário bastante otimistapara novos entrantes na previdênciaaberta. Já houve um crescimento — aindaque tímido — no último ano de 13,2milhões de clientes para 13,3 milhões,e acho que a recuperação da economiatambém funcionou em função da aprovaçãoda reforma da previdência, quevai fazer com que a maior disponibilidadede renda estimule a previdênciacomplementar”, frisa o vice-presidentede Investimentos, Vida e Previdência daSulAmérica, Marcelo Mello.O temor de quem recorre à previdênciacomplementar é, contudo, a quedados juros, que acaba reduzindo o ganhofinal das aplicações. Mas as empresas dosetor já oferecem fundos multimercadocom percentual mais vantajoso em rendavariável, um recorte estratégico que vemmostrando bons resultados. Estes fundosmultimercado representam, atualmente,12% do segmento de previdênciaprivada. Há sinais claros de que o consumidorbrasileiro está começando a sefamiliarizar com preceitos da educaçãofinanceira.Disciplina para guardarApesar de reconhecer que a reformada Previdência constituiu-se em umpasso significativo para o mercado e que

a população começa a se familiarizarcom preceitos da educação financeira,Mello alerta que o tema “longevidade”será sempre um grande desafio parao setor segurador, exigindo ajustescontínuos nas regras previdenciáriase, fundamentalmente, a adequação demecanismos que contenham o endividamentopúblico.“Qual é o desafio aí? A populaçãobrasileira começa a enxergar cada vezmais que vai viver por muito tempo, epior ainda: vai viver num ambiente detaxa de juros muito baixa. Uma coisaé ter a expectativa de que viverá até 85anos com juros a 14%; outra coisa é tera expectativa que vai viver até 85 anoscom juros a 4%. É uma situação única.A gente nunca viveu essa situação aquino Brasil. Qual a consequência disso? Háalgumas situações que a gente já começa❙❙Marcelo Mello, da SulAméricaa enxergar: a primeira delas é quem jáestá na previdência complementar abertaestá tomando mais riscos, está indo paraprodutos mais sofisticados”, diz Mello,da SulAmérica.Não há dúvida de que a maiorlongevidade na sociedade e, claro, nomercado, exige do consumidor um olharpara o futuro e parcimônia com gastos,sobretudo quando os juros baixosatuais — como frisam os especialistas— reduzem ganhos com aplicações edificulta a acumulação de recursos paraesse futuro que nos aguarda grisalhos.Além da recomendação de que se ingresseo mais cedo possível na previdênciacomplementar, três palavras sãoessenciais para a relação que devemoster com nosso dinheiro nos próximosanos: disciplina, disciplina e disciplina.Somente assim o montante financeiroreligiosamente guardado estará a suaespera mais tarde.A Revista Apólice deseja a todosboas festas e um 2020 de ótimos negócios!

>>> reforma de previdência

possível após a regulamentação da Lei

nº 6435, em 1977. A partir daquele ano

as instituições financeiras e de seguros

deflagraram a corrida pelo mercado da

longevidade enquanto a Previdência

Social foi se deteriorando até o ponto de

tornar-se insustentável mantê-la sem que

houvesse uma profunda transformação

de suas diretrizes.

“A reforma da Previdência não é

uma questão do Brasil, necessariamente.

Para mim, é uma questão mundial.

Vejo discussões no Japão, na Suécia, na

Alemanha; vejo discussões fortíssimas

na França, enfim, no mundo inteiro.

Mas o que é mais interessante é que

as pessoas estão falando muito sobre o

assunto e mostrando uma consciência

muito grande na questão de poupar e de

investir principalmente com a chegada

da aposentadoria”, destaca Malho, da

Icatu.

Há alguns anos, o coro pela reforma

previdenciária começou a engrossar

até a sua consolidação este ano, mas o

debate permanece e há mobilizações

políticas na Câmara e no Senado para

que o texto recentemente aprovado e

já em vigor seja ajustado. Uma destas

ações é a PEC (Proposta de Emenda à

Constituição) — chamada de “PEC paralela”

— assinada pelo senador Tasso

Jereissati (PSDB-CE), que também foi

relator da reforma da Previdência no

Senado. A “PEC paralela” passou pelos

senadores em meados de novembro e já

está na Câmara, prevendo, entre outras

alterações na reforma da Previdência,

a de um novo cálculo de aposentadoria

novamente sobre 80% correspondentes

às maiores contribuições, desconsiderando

os salários menores, e permitir

que a reforma se estenda a servidores

estaduais e municipais, o que geraria

uma economia de, aproximadamente,

R$ 350 bilhões em dez anos aos estados

e municípios que se encontram em uma

barafunda fiscal ilimitada. Mas o presidente

da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-

-RJ), já sinalizou publicamente que a

“PEC paralela” dificilmente avançará

na Casa. Na pior das hipóteses, uma

decisão concreta deverá ficar para 2020.

Mas há verdadeiramente itens juridicamente

sensíveis na reforma da Pre

34

❙ ❙

Pedro Pierobon, do

escritório Bruno Calfat

vidência? Quais seriam eles? O advogado

Pedro Pierobon avalia esse contexto:

“Ao longo da tramitação da reforma

no Congresso, os pontos considerados

mais sensíveis – e que configurariam

um retrocesso social passível de questionamento

judicial – foram retirados e

os direitos mais básicos foram mantidos,

como por exemplo as alterações no Benefício

de Prestação Continuada (BPC) e na

aposentadoria rural, que foram deixadas

de lado. De igual maneira, o piso de um

salário mínimo para a aposentadoria

permaneceu inalterado. Mesmo assim, já

foram ajuizadas quatro ações diretas de

inconstitucionalidade contra a Reforma

no STF, com pedidos de liminar que serão

relatadas pelo ministro Luís Roberto

Barroso.”

Previdência privada também

ganha com reforma

Se a política ainda insiste em mudar

as regras do jogo na Previdência Social,

o mercado responde com a evolução da

previdência privada. Em julho, como

indica a Federação Nacional de Previdência

Privada e Vida (FenaPrevi), os

números de previdência complementar

aberta recolhidos foram muito bons.

Melhores ainda os de agosto, quando

as novas contribuições totalizaram R$

11,5 bilhões, superando em pouco mais

de 23% o resultado de igual período do

ano passado. Hoje, a previdência privada

acolhe 13,3 milhões de clientes. A

maciça maioria deles (93%) opta pelo

modelo mais popular, o Vida Gerador

de Benefício Livre (VGBL). O restante

fica, portanto, concentrado no Plano

Gerador de Benefício Livre (PGBL),

mais dirigido aos clientes de renda alta.

Na ponta do lápis, isso significa um

crescimento do mercado de previdência

complementar da ordem de 2,2% em

relação ao ano passado. Um percentual

ainda tímido? Sim, mas sempre em

evolução.

“A questão relacionada ao crescimento

da renda pega na veia a indústria

de previdência complementar. Na medida

em que se tem uma expectativa de

crescimento de renda disponível para

consumo ou para previdência complementar

maior, isso é muito saudável e

positivo para o mercado. Mais do que

a reforma ter sido aprovada o principal

impacto é o macro, onde se tem o crescimento

da renda real, e se consegue

projetar aí um cenário bastante otimista

para novos entrantes na previdência

aberta. Já houve um crescimento — ainda

que tímido — no último ano de 13,2

milhões de clientes para 13,3 milhões,

e acho que a recuperação da economia

também funcionou em função da aprovação

da reforma da previdência, que

vai fazer com que a maior disponibilidade

de renda estimule a previdência

complementar”, frisa o vice-presidente

de Investimentos, Vida e Previdência da

SulAmérica, Marcelo Mello.

O temor de quem recorre à previdência

complementar é, contudo, a queda

dos juros, que acaba reduzindo o ganho

final das aplicações. Mas as empresas do

setor já oferecem fundos multimercado

com percentual mais vantajoso em renda

variável, um recorte estratégico que vem

mostrando bons resultados. Estes fundos

multimercado representam, atualmente,

12% do segmento de previdência

privada. Há sinais claros de que o consumidor

brasileiro está começando a se

familiarizar com preceitos da educação

financeira.

Disciplina para guardar

Apesar de reconhecer que a reforma

da Previdência constituiu-se em um

passo significativo para o mercado e que

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