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PARQ 64

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LISBOA

CIDADE

SAUDADE

texto por António Mourinha Barradas

Apaixonei-me pela cidade onde

nasci através dos olhos dos outros.

Não dos meus, que mal se abriram

fui embora. Dos outros, que

transportam as 7 colinas no olhar.

Altos e baixos de amores jurados

em paredes várias. Barrigadas

de tristeza postas de parte em

cada café ao virar da esquina.

Conversas trocadas entre janelas

para ninguém ficar de fora. Dos

outros, que não a dão a ninguém,

mas deixaram-me agarrá-la aos

poucos, com passinhos de bebé,

que lutavam com a ansiedade de

a palmilhar toda, para não haver

monumento que ficasse de fora.

São as pontes a unir um Cristo, que

não é rei, mas dispõe da melhor

vista do mundo, a um Deus, que

a existir, tocou Lisboa com a mão

toda. Dos suspiros, recheados de

história solta em cada pedra da

calçada portuguesa, até à saudade,

que nasceu aqui. Sem tabuleta para

a celebrar, apenas os traços de um

retrato carregado de sofrimento

e terminado com esperança. Da

Boa, que não se deixa dobrar.

Saudade, sem mais nem porquê,

exposta nos olhos de fundo azul

a misturarem-se com o Tejo.

Miradouros que trocam os rios e

cortam a respiração. Ali não se mira

o Douro, é o Tejo. Outrora palco de

epopeias e ninfas; hoje, psicólogo

de gerações perdidas. Naquele

horizonte coberto de sonhos aos

magodes, desejamos não ir embora.

Aos poucos, fui cheirando a

memória nas ruas apertadas,

sentindo os trajectos feitos sobre

carris gastos e desaguando na

costa que acalma o mar. O meu

mar, tormentoso e revolto.

Nos dias que voam – já nenhum corre

-, aprendi a ver Lisboa como me

ensinaram. Despojada de presunção,

sem medo da novidade e com a luz

que abre sorrisos por cada cara

que passa. Por mais desconhecido

que caminhe, Lisboa há-de ter

sempre o meu mundo a seus pés.

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