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PARQ 64

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SUDAN ARCHIVES é BRITNEY DENISE PARKS, vocalista, violinista,

produtora que há um par de anos acusou nos radares

mais sensíveis graças a algumas indicações soltas dadas

através da conceituada Stones Throw de PEANUT BUTTER

WOLF. Agora é nessa mesma editora que se estreia com

Athena, belíssimo disco entre a folk, a soul e o hip hop que a

anuncia como um sério valor a ter em conta para o futuro.

Diz-se que não devemos julgar um livro pela capa, mas será

difícil ignorar a capa do teu disco [Athena]: o corpo negro

enquanto beleza clássica; é algo muito poderoso. Qual é a

ideia subjacente?

SA: É como dizes: o que é beleza clássica?

No meu mundo, parece ser algo

muito específico, está projectado para

uma beleza branca, como o que surge

em revistas e programas televisivos. A

diversidade parece ser pobre em formas

de beleza. Algo que abordo no Athena

é o colorismo, ser uma mulher negra

de pele escura, por experiência. Já me

disseram coisas estranhíssimas: “Meu

Deus, és tão bonita para uma mulher

negra!” ou “és mesmo gira para uma rapariga

de pele escura!” Isso é de doidos.

A tua editora descreve-te como uma violinista, uma cantora,

compositora e produtora —o que quero saber é se divides

esses papéis de acordo com uma hierarquia específica

ou se, sendo tudo parte da mesma persona artística,

não dás mais importância a um do que o outro.

SA: Quero dizer que me vejo como violinista

em primeiro lugar, mas também

como desenhadora de paisagens sonoras.

Ainda não sou mestre, mas aquilo

em que sou é a saber exactamente

o que quero. Antigamente, nunca sabia

o que queria para a minha música.

Agora, sei precisamente como quero

a minha produção, que instrumentos

desejo. Usei o violino como base desse

mundo: sinto que construo mundos

através de sons.

É uma boa imagem. O violino é um instrumento que está

ligado à experiência negra na América, mas não necessariamente

nos últimos tempos. O que te fez pegar nesse

instrumento?

SA: Foi quando eu era muito nova, a

ver pessoas tocar fiddle music [música

de violino]. A minha mãe disse-me

que, com oito anos de idade, quando

vi pessoas a tocar fiddle music e música

irlandesa de jig [jig music], e quando

vi isso, implorei-lhe por um violino. Foi

assim que tudo começou. Tocava muito

na igreja e isso deu-me confiança,

porque aprendi a tocar só de ouvir. Isso

fez-me criar as minhas próprias melodias

e canções.

Conseguiste colaborar com a WILMA ARCHER e o PAUL WHITE.

Como chegaste até estes dois produtores?

SA: Tinha a mente muito aberta. Quando

as pessoas chegavam de Londres, estava

simplesmente aberta para as conhecer.

O ARCHER e o WHITE são multi-instrumentistas:

tocam bateria, guitarra,

tudo. Poder colaborar com pessoas assim

é muito fixe, ambos têm uma musicalidade

robusta e uma abordagem

electrónica experimental. Fazer música

não exige esforço, percebes?

A tua ligação à Stones Throw foi algo surpreendente. Como

conheceste o PEANUT BUTTER WOLF? Achas que te enquadras

no plantel?

SA: Conheci-o através do M AT T H E W

DAVID, que é A&R. Tornou-se conhecido

com um projecto de beatmaking. Estava

um pouco nervosa para lhe mostrar a

minha música. Quando finalmente o fiz,

a ideia era lançá‐la na Leaving Records,

mas o CHRIS e o MAT THEW pensaram

que a Stones Throw seria uma opção

melhor para mim. Conheci-o no estúdio

porque estava a mostrar música ao

CHRIS, ele entrou com cão, a não dizer

muito e bazou. Lembrei-me posteriormente

dele.

Imagino que também possamos ler a capa do álbum como

metáfora para como expões as tuas emoções nas letras.

Fala-me um pouco dos temas deste novo disco.

SA: Estou a cantar temas como a dualidade:

o que é certo e errado, bom

e malévolo, lidar com esses lados. E

talvez confrontação, ter de lidar com

eles e não fugir. Antigamente, eu falava

de forma mais suave, mas para fazer

uma deusa, tens de ser austera e

agressiva, confrontar os teus problemas.

Sinto que o colorismo é um problema

mundial hoje; não há culturas

que valorizem a pele escura, e parece

que todas valorizam o quão menos escuro

és. As pessoas advertem sobre

poderes ficar demasiado bronzeado —

coisas que te fazem crer que, para seres

bonito, tens de ter uma pele mais

clara: falo disto porque, apesar de não

passar por essas coisas, senti que não

tinha representação.

texto por Rui Miguel Abreu

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