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PARQ 64

FKA Twigs Vintage Delight Veganismo

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Vintage Delight
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O regresso de FKA TWIGS aos discos com MAGDALENE eleva

a artista à estratosfera. Os domínios multimédia das suas

canções a que nos habituou continuam, mas desta vez

a voz assume o verdadeiro eixo da sua existência. Como

se a sua voz interior ganhasse corpo e assumisse o controlo

do corpo. Após quatro anos, FKA TWIGS revela uma

mulher quebrada pela sua separação com o ator ROBERT

PAT TINSON e com os seus problemas de saúde. Mas revela

ao mesmo tempo, que ao invés de debilitada regressa luminosa

e poderosa.

O recurso a inúmeras formas que a tecnologia oferece e as

diferentes expressões de arte são exponenciadas com uma

abordagem muito mais intíma, sobretudo na composição

escrita das canções. O feminino da sua existência é explorado

até à medula. MAGDALENE não sendo uma ode à figura

cristã propriamente dita, toma-a como referência contrapondo-a

com a complexidade humana que a artista viveu.

A expressão artística encontra pontos em comum com a

islandesa BJÖRK, na sua exposição, através da expressividade

visual, mas também pelo recurso ao seu universo interior

como matéria prima para os seus discos. As emoções

estão à flor da pele. As feridas ainda estão abertas.

A sua voz purga a sua dor mais intíma.

Os arranjos musicais deambulam entre o orgânico e o sintético

das matrizes eletrónicas. O recurso ao piano, às flautas

e aos coros, juntamente com o exercício vocal mais musculado,

fazem das suas canções um processo de expiação e

ao mesmo tempo cria um forte elo com os ouvintes, como

tão bem o fazem os temas “Home with you” e “Fallen Alien”.

A abertura do disco “Thousand eyes” introduz a poderosa versatilidade

da sua voz, que cativa e que nos prende de alma

e coração, como um abraço apertado peito a peito, o qual

não se quer largar. “Mirrored Heart” vai mais longe, como se

fosse possível, e a simbiose perfeita entre o ouvinte e a

artista é finalmente completada.

A emotividade é dissecada até à sua pura essência em

“Daybed” e “Cellophone”, o single de apresentação do disco,

criando a ilusão de que não existe nada mais no universo

do que as suas palavras. A busca pela compreensão do seu

desamor torna-se na nossa busca, na nossa partilha. Urge

a vontade de ouvir e compreender o que a artista canta.

Urge a necessidade de mergulhar nas suas emoções.

A melancolia e a tristeza de “Sad Day” chega a ser enternecedor.

O tempo e o espaço são ditados pela história que

nos conta. Sem aviso prévio, estamos dentro dela, somos

inseparáveis dela. Será que a estamos a vivê-la ou a revivê-la?

É tão estranho que chega a ser assustador a nossa

identificação com aquelas palavras. As suas palavras ou

as nossas palavras?

A escolha da figura de Maria Madalena surge, como a artista

comentou numa entrevista, por se tratar de uma mulher

dotada de uma extraordinária complexidade. Questionou‐se

porque seria ela conhecida apenas pela sua profissão de

prostituta se possuía habilidades de curadeira? O mote serve

também para a artista questionar a sua própria sexualidade

e mediatismo enquanto artista. Qual Maria Madalena,

sentira-se absorvida pelo estrelato do namorado, ofuscada

e vitima de cyberbullying pelos fans de PAT TINSON. O sentido

da sua existência e o resgate da sua essência vemos

tão bem retratado, evidentemente, em “Mary Magdalene”.

O seu segundo disco marca uma evolução extraordinária

enquanto artista. A artista avant-garde arquiteta verdadeiras

pérolas musicais como NICOLAS JAAR, ARCA e SKRILLEX.

No sentido em que cruza os elementos analógicos com os

tecnológicos. A narrativa que atravessa o disco conta histórias

vindas de si ou de emoções comuns a toda a gente.

No entanto, perspetiva a importância do papel da mulher,

sobretudo extraindo a misoginia das relações e atribuindo

ao feminino o seu verdadeiro poder, celebrando a sua singularidade

e beleza interior.

texto por Carlos Alberto Oliveira

SOUNDSTATION

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