TECNOLOGIA V azamentos de petróleo estão atingindo mais de 450 praias no Nordeste do Brasil, alcançando areia, estuários e manguezais. Para conter a contaminação, métodos naturais são a recomendação de especialistas como a melhor alternativa de biorremediação. O Igeo/Ufba (Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia) apresentou ao Comando Unificado de Incidentes, em Salvador, uma minuta em que estão indicados métodos biotecnológicos de remediação. O documento indica processos que aceleram a degradação dos compostos de petróleo já impregnados nas áreas afetadas, realizando a limpeza da toxicidade microscópica, impossível de ser feita com o trabalho manual. As técnicas foram desenvolvidas pelo Igeo, com patente da Ufba, individualmente ou em parceria com a Universidade de Salvador - Unifac. As inovações aliam tecnologia e insumos encontrados facilmente nas costas baiana e nordestina, o que reduz o custo ao mesmo passo em que evita o uso de produtos químicos, diminuindo a inserção de novas substâncias possivelmente tóxicas nas biotas já impactadas pelo derramamento de óleo. Apesar de novas, as técnicas já foram testadas com amostras do óleo que chegou ao litoral do nordeste brasileiro. “O que fazemos é usar organismos vivos para remover os poluentes do ambiente. Não adianta só tirar a poluição visual, é preciso eliminar os compostos invisíveis, como benzeno, tolueno e xileno, ou no mínimo diminuir a presença deles. Aí entra a biotecnologia, com diferentes indicações para cada ambiente”, explica o professor da Ufba, Ícaro Moreira, que já atuou na agência ambiental do governo canadense na área de remediação em episódios de derramamento de petróleo. Para remover poluentes que já estão dissolvidos na água, a técnica utilizada é baseada em microalgas que se alimentam do carbono contido nas substâncias tóxicas. Neste processo, a água contaminada entra em um reator contendo microalgas que se abastecem do carbono. Em seguida, a água limpa é liberada de volta no ambiente. Já as microalgas, após se alimentarem de carbono e crescerem, viram uma biomassa que pode ser utilizada para produção de biodiesel. “É um Apesar de novas, as técnicas já foram testadas com amostras do óleo que chegou ao litoral do nordeste brasileiro processo que não gera resíduo. A água fica limpa e a microalga pode virar um combustível também limpo”, completa Moreira em entrevista ao portal UOL. O processo, além de sustentável, é altamente eficaz: um dos estudos desenvolvidos no Programa de Pós-Graduação em Geoquímica - Petróleo e Meio Ambiente da Ufba mostrou que as microalgas conseguem, em um período de 28 dias, eliminar 94% dos poluentes de amostras da chamada “água do petróleo” (efluente resultante da produção petrolífera que é considerado um dos efluentes mais poluídos do mundo). Uma estimativa feita pelo professor Ícaro Moreira, um dos coautores das pesquisas que deram origem às técnicas de biorremediação, aponta que um conjunto de reatores capaz de tratar 1,5 mil litros de água marinha a cada três dias custaria cerca de R$ 50 mil para implantação, com custo de manutenção mensal de R$ 7 mil. Ao final do processo, a biomassa gerada poderia ser vendido por R$ 1 mil/quilograma. “No final das contas, a biomassa gerada paga as contas e ainda dá lucro. Isso é um exemplo bem claro do que nós chamamos de economia circular”, aponta Moreira. Já as áreas de areia de praia ou áreas de mangue apresentam dificuldades para limpeza manual e maior risco de impregnação de substâncias poluentes. Nesses casos, a recomendação da entidade é fitorre- <strong>36</strong> www.REVISTABIOMAIS.com.br
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