*Dezembro/2019 - Revista Biomais 36
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
TECNOLOGIA<br />
V<br />
azamentos de petróleo estão atingindo<br />
mais de 450 praias no Nordeste do Brasil,<br />
alcançando areia, estuários e manguezais.<br />
Para conter a contaminação, métodos<br />
naturais são a recomendação de especialistas como a<br />
melhor alternativa de biorremediação.<br />
O Igeo/Ufba (Instituto de Geociências da Universidade<br />
Federal da Bahia) apresentou ao Comando<br />
Unificado de Incidentes, em Salvador, uma minuta<br />
em que estão indicados métodos biotecnológicos<br />
de remediação. O documento indica processos que<br />
aceleram a degradação dos compostos de petróleo já<br />
impregnados nas áreas afetadas, realizando a limpeza<br />
da toxicidade microscópica, impossível de ser feita<br />
com o trabalho manual.<br />
As técnicas foram desenvolvidas pelo Igeo, com<br />
patente da Ufba, individualmente ou em parceria com<br />
a Universidade de Salvador - Unifac. As inovações<br />
aliam tecnologia e insumos encontrados facilmente<br />
nas costas baiana e nordestina, o que reduz o custo<br />
ao mesmo passo em que evita o uso de produtos<br />
químicos, diminuindo a inserção de novas substâncias<br />
possivelmente tóxicas nas biotas já impactadas pelo<br />
derramamento de óleo. Apesar de novas, as técnicas já<br />
foram testadas com amostras do óleo que chegou ao<br />
litoral do nordeste brasileiro.<br />
“O que fazemos é usar organismos vivos para<br />
remover os poluentes do ambiente. Não adianta só<br />
tirar a poluição visual, é preciso eliminar os compostos<br />
invisíveis, como benzeno, tolueno e xileno, ou no<br />
mínimo diminuir a presença deles. Aí entra a biotecnologia,<br />
com diferentes indicações para cada ambiente”,<br />
explica o professor da Ufba, Ícaro Moreira, que já<br />
atuou na agência ambiental do governo canadense na<br />
área de remediação em episódios de derramamento<br />
de petróleo.<br />
Para remover poluentes que já estão dissolvidos<br />
na água, a técnica utilizada é baseada em microalgas<br />
que se alimentam do carbono contido nas substâncias<br />
tóxicas. Neste processo, a água contaminada entra em<br />
um reator contendo microalgas que se abastecem do<br />
carbono. Em seguida, a água limpa é liberada de volta<br />
no ambiente. Já as microalgas, após se alimentarem<br />
de carbono e crescerem, viram uma biomassa que<br />
pode ser utilizada para produção de biodiesel. “É um<br />
Apesar de novas, as<br />
técnicas já foram testadas<br />
com amostras do óleo<br />
que chegou ao litoral do<br />
nordeste brasileiro<br />
processo que não gera resíduo. A água fica limpa e a<br />
microalga pode virar um combustível também limpo”,<br />
completa Moreira em entrevista ao portal UOL.<br />
O processo, além de sustentável, é altamente<br />
eficaz: um dos estudos desenvolvidos no Programa<br />
de Pós-Graduação em Geoquímica - Petróleo e<br />
Meio Ambiente da Ufba mostrou que as microalgas<br />
conseguem, em um período de 28 dias, eliminar 94%<br />
dos poluentes de amostras da chamada “água do<br />
petróleo” (efluente resultante da produção petrolífera<br />
que é considerado um dos efluentes mais poluídos do<br />
mundo).<br />
Uma estimativa feita pelo professor Ícaro Moreira,<br />
um dos coautores das pesquisas que deram origem às<br />
técnicas de biorremediação, aponta que um conjunto<br />
de reatores capaz de tratar 1,5 mil litros de água marinha<br />
a cada três dias custaria cerca de R$ 50 mil para<br />
implantação, com custo de manutenção mensal de R$<br />
7 mil. Ao final do processo, a biomassa gerada poderia<br />
ser vendido por R$ 1 mil/quilograma.<br />
“No final das contas, a biomassa gerada paga as<br />
contas e ainda dá lucro. Isso é um exemplo bem claro<br />
do que nós chamamos de economia circular”, aponta<br />
Moreira.<br />
Já as áreas de areia de praia ou áreas de mangue<br />
apresentam dificuldades para limpeza manual e maior<br />
risco de impregnação de substâncias poluentes.<br />
Nesses casos, a recomendação da entidade é fitorre-<br />
<strong>36</strong> www.REVISTABIOMAIS.com.br