espera (1)

entrega grátis
vinícius lucena
Recife, 2019

Três ou quatro vezes por dia somos
notificados por pelo menos três empresas
do ramo de entregas. "cupom de
desconto!". "Entrega grátis!". Nossos
celulares vibram enquanto aguardamos
ansiosamente pela oferta. Também
vibramos. Hora de escolher alguma coisa e
esperar que venham entregar.
Na capital pernambucana, bem como em
outras metrópoles do país, um novo
fenômeno surgiu nos últimos anos.
Aglomerações marcadas por cores
vibrantes e facilmente reconhecíveis são
formadas em pontos movimentados da
cidade. Costumam se instalar perto de
restaurantes populares, de fast food. Onde
há um Mac ou Bk, há um grupo de pelo
menos cinco trabalhadores do lado de
fora, esperando apenas o chamado de
algum desconhecido.
Não é difícil encontrá-los. As imagens
desse ensaio foram feitas na Conde da Boa
Vista, na Rosa e Silva, na Estrada do
Barbalho e na Abdias de Carvalho. Percurso
que, de bicicleta, pode ser feito em menos
de uma hora (se for feito no ritmo dos
entregadores).
No entanto, nem tudo são cupons e
promoções para os que estão imersos no
mundo dos aplicativos de delivery. O
surgimento de novas formas de trabalho
implica novas problemáticas a serem
discutidas. Prestando serviços à grandes
corporações, os entregadores não
possuem garantias trabalhistas. No
trânsito desconcertante e perigoso, são
expostos à situações de risco. Trabalham
sem parar. Não têm férias remunderadas e
nem sonham com um plano de saúde,
folgas e outros direitos.

Alguns reconhecem a precariedade.
Outros, deslumbrados com a ideia de
trabalhar por conta própria, abusam da
inexperiência no âmbito do trabalho e
acabam por cometer exageros. Tudo em
nome da celeridade. Se atrasar, o cliente
esbraveja e avalia mal. Se avaliar mal, o
aplicativo "dá um gelo" no trabalhador.
um entregador ao falar sobre a "empresa à
qual está, de alguma forma, vinculado. O
trabalhador não sabia, talvez, que a maior
das empresas envolvidas no ramo não
aceita pessoas que possuem antecedentes
criminais. Assim como os clientes, os
cobradores esperam e, quando o celular
vibra, eles também vibram.
Sem oportunidades de emprego, o perfil
do entregador que presta serviços à
aplicativos é fácil de ser traçado. Homens,
oriundos de áreas periféricas e negros, em
sua maioria. Se o mercado não oferece
oportunidades para quem possui
qualificação e acabou de sair de um curso
superior (como é o caso de um dos
personagens desse trabalho), resta buscar
uma alternativa que traga dinheiro ao
bolso. "Eles aceitam todo mundo", disse
Vinícius Lucena, dezembro de 2019

BRITNEY RAFAEL, 26
PUBLICITÁRIO

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FDFFD
DDD

MC SAPÃO, 32
ZN NA VEIA

O SOL DO MEIO DIA E O CALOR DO RECIFE
NÃO SÃO SUFICIENTES PARA FAZER COM
QUE OS TRABALHADORES VINCULADOS À
APLICATIVOS PAREM DE CIRCULAR
ENQUANTO AS PESSOAS ESPERAM
IMPACIENTES PELA COMIDA, OS
ENTREGADORES TAMBÉM ESPERAM POR
UM CHAMADO