DialogosSuburbanos_Preview
Com o mérito de conciliar reflexões sólidas, estudos sistemáticos e linguagem acessível, este livro desmonta o senso comum sobre subúrbios como lugares degradados, perigosos, tristes, à margem de uma cidade pulsante, praieira, solar, criativa e afável. O Rio de cartão-postal, havaianas no pé e biscoito Globo, não é aquele que norteia este livro. Os subúrbios que passam por aqui são lugares que engendram sociabilidades, criam redes de proteção social, são disputados e negociados dinamicamente por seus habitantes, apresentam diversidades culturais. Por aqui se aprende que a divisão espacial histórica da cidade remonta à concessão das primeiras sesmarias, discutem-se as relações entre a casa e rua, a construção de certo imaginário sobre o Estado e os subúrbios a partir de conjuntos residenciais, as especificidades de Inhaúma e dos subúrbios da Leopoldina, o papel da imprensa suburbana, as interações e hibridismos na configuração da cidade, as resistências e reexistências cotidianas. O que fica como mais relevante neste conjunto de artigos é a certeza absoluta de que não há gente melhor para contar as histórias e geografias dos subúrbios, discutir a elaboração da memória suburbana na fronteira entre lembrança e esquecimento, os saberes, delícias e dores da maior parte da cidade, do que os próprios suburbanos. É disso que se trata: os subúrbios têm voz. Trecho do prefácio de Luiz Antonio Simas
Com o mérito de conciliar reflexões sólidas, estudos sistemáticos e linguagem acessível, este livro desmonta o senso comum sobre subúrbios como lugares degradados, perigosos, tristes, à margem de uma cidade pulsante, praieira, solar, criativa e afável. O Rio de cartão-postal, havaianas no pé e biscoito Globo, não é aquele que norteia este livro.
Os subúrbios que passam por aqui são lugares que engendram sociabilidades, criam redes de proteção social, são disputados e negociados dinamicamente por seus habitantes, apresentam diversidades culturais. Por aqui se aprende que a divisão espacial histórica da cidade remonta à concessão das primeiras sesmarias, discutem-se as relações entre a casa e rua, a construção de certo imaginário sobre o Estado e os subúrbios a partir de conjuntos residenciais, as especificidades de Inhaúma e dos subúrbios da Leopoldina, o papel da imprensa suburbana, as interações e hibridismos na configuração da cidade, as resistências e reexistências cotidianas.
O que fica como mais relevante neste conjunto de artigos é a certeza absoluta de que não há gente melhor para contar as histórias e geografias dos subúrbios, discutir a elaboração da memória suburbana na fronteira entre lembrança e esquecimento, os saberes, delícias e dores da maior parte da cidade, do que os próprios suburbanos. É disso que se trata: os subúrbios têm voz.
Trecho do prefácio de Luiz Antonio Simas
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Diálogos
Suburbanos
Identidades e lugares
na construção da cidade
[ orgs.]
joaquim justino dos santos
rafael mattoso
teresa guilhon (orgs.)
joaquim justino dos santos
rafael mattoso
teresa guilhon
Sempre me ressenti de ver poucas publicações
de estudos sobre o subúrbio.
Neste livro, professores, arquitetos,
geógrafos, historiadores, cientistas,
balburdiando em pesquisa, traçaram
algumas histórias do subúrbio através de
edificações planas, verticais, amorosas,
em elo com suas histórias, seus pertences,
seus gracejos, seus anseios de cultura, de
amanhã de luta, de resistência. Assim
vêm os vestígios de moradias, de histórias,
de lugares, de emoções como Irajá, Vaz
Lobo, Madureira, Inhaúma. Da imprensa
com seus seres intelectuais, esbanjando
seu conhecimento, com sua gíria suburbana,
com seus patrimônios. Salve Penha,
subúrbios da Leopoldina, Bonsucesso,
Ramos, onde foi fincada a Tamarineira do
meu Cacique. Estas histórias nos
conduzem ao cerne do que construímos e
ainda podemos construir para entendermos
nosso sentimento suburbano de
pertencimento. Tenhamos a graça, a
ginga, a fé, mas, acima de tudo, tenhamos
responsabilidade com nossa história.
E este livro nos leva nesta aventura. Uma
delícia de ler para quem é suburbano, para
quem quer entender como se constrói
castelos com todas as portas abertas, sem
saídas, só entradas para uma sociedade
mais justa.
Eu, como Suburbanista, agradeço imensamente
esse olhar ao nosso passado e
suas redondilhas.
Valeu Ana Slade, Antonio Pedral, Celeste
Ferreira, Flávia Nascimento, Flávio Lima
e Luiz Claudio, também a Joaquim Justino,
Leando Climaco, Luiz Paulo, Nilce
Aravecchia, Paula Albernaz, Rafael
Mattoso e Rodrigo Bertame.
dorina santos
patrocínio:
realização:
apoio:
joaquim justino dos santos
rafael mattoso • teresa guilhon
[ orgs. ]
Diálogos
Suburbanos
Identidades e lugares
na construção da cidade
Copyright © Diálogos Suburbanos
Todos os direitos desta edição reservados
à MV Serviços e Editora Ltda.
capa e identidade visual
Carolina Costa
revisão
Carolina Machado
cip-brasil. catalogação na publicação
sindicato nacional dos editores de livros, rj
D527
Diálogos suburbanos : identidades e lugares na construção da
cidade / organização Joaquim Justino dos Santos, Rafael Mattoso,
Teresa Guilhon. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Mórula, 2019.
272 p. ; il. ; 23 cm.
Inclui bibliografia e índice
ISBN 978-85-65679-99-2
1. Urbanismo - Rio de Janeiro (RJ) - História. 2. Subúrbios - Rio
de Janeiro (RJ) - História. I. Santos, Joaquim Justino dos. II. Mattoso,
Rafael. III. Guilhon, Teresa.
19-60358 CDD: 307.14098153
CDU: 911.375.632(815.3)(09)
R. Teotônio Regadas, 26/904 — Lapa — Rio de Janeiro
www.morula.com.br | contato@morula.com.br
Sumário
7 | O subúrbio e sua arquitetura
JEFERSON SALAZAR
09 | prefácio: Vozes dos subúrbios
LUIZ ANTONIO SIMAS
11 | apresentação: Um mapa colaborativo e afetivo
TERESA GUILHON
15 | Lugares de Inhaúma e Irajá na história do lugar e na formação
do subúrbio carioca: séculos XVI ao XX
JOAQUIM JUSTINO MOURA DOS SANTOS
39 | O patrimônio e a paisagem cultural dos subúrbios cariocas
LUIZ PAULO LEAL DE OLIVEIRA
63 | Entre o sagrado e o profano: matriz de Irajá e o Cine Vaz Lobo
LUIZ CLAUDIO MOTTA LIMA • MARIA CELESTE FERREIRA
87 | Olhares para os subúrbios da Leopoldina a partir
de Bonsucesso, Ramos e Olaria
MARIA PAULA ALBERNAZ
115 | O conjunto residencial da Penha: imaginários e representações
do Estado no subúrbio carioca
NILCE ARAVECCHIA-BOTAS • FLÁVIA BRITO DO NASCIMENTO
139 | A casa e a rua: moradia, trabalho e convívio comunitário
no subúrbio carioca
ANA SLADE
163 | Histórias e vivências suburbanas: valorização das experiências
cotidianas na resistência cultural dos subúrbios cariocas
RAFAEL MATTOSO
191 | Imprensa e subúrbios: entre suplemento, noticiário
e instrumento de militância
LEANDRO CLÍMACO MENDONÇA
221 | Subúrbio e periferia: onde a cidade é híbrida
ANTÔNIO JOSÉ PEDRAL SAMPAIO LINS
241 | Subúrbios Cariocas, uma deriva contemporânea sobre o nosso chão
RODRIGO CUNHA BERTAMÉ RIBEIRO • FLAVIO LIMA
269 | sobre os autores
9
O subúrbio e sua arquitetura
A arquitetura começou a ser considerada pelo governo federal como cultura
apenas em 2010. No entanto, a arquitetura é uma das profissões mais antigas
do mundo e as origens das cidades remontam à antiguidade. Durante todo
este tempo, a humanidade se organizou em espaços, construiu relações e
interagiu com e nas cidades, aprimorou técnicas construtivas, criou diversas
formas de morar e de viver. A arquitetura, portanto, requer um resgate dos
patrimônios, materiais e imateriais, dos municípios, das cidades.
Esta é uma das razões que leva o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do
Rio de Janeiro a desenvolver, desde 2013, o programa de Patrocínio Cultural.
Por meio dele, o CAU/RJ incentiva publicações, eventos, filmes e outras
produções que valorizem a arquitetura e urbanismo, seja propondo debates
com a população, seja recuperando a história dos municípios ou a trajetória
e as contribuições de importantes profissionais.
Outro motivo está relacionado à missão do Conselho: promover arquitetura
e urbanismo para todos. Neste sentido, a escolha do projeto Diálogos
Suburbanos é mais do que pertinente. Algumas reações à divulgação das
palestras que precederam esta publicação mostram a importância do diálogo
em um mundo cada vez mais excludente e encapsulado em suas convicções.
Como arquitetos e urbanistas temos o dever de contribuir para a ampliação
do direito às cidades e à habitação e de desconstruir a equivocada noção de
que a arquitetura e urbanismo é para poucos.
Arquitetura e urbanismo é cultura, mobilidade, patrimônio, habitação
social. E os subúrbios são territórios férteis para discutir esses assuntos e
buscar novas soluções. Conhecer a história e as dinâmicas dos subúrbios
cariocas nos engrandece não apenas como profissionais, mas como cidadãos.
jeferson salazar
presidente do conselho de arquitetura e urbanismo do rio de janeiro
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prefácio
Vozes dos subúrbios
luiz antonio simas
Lima Barreto gostava de frisar que não existia um subúrbio, e sim “subúrbios”:
plurais, múltiplos, diversos, complexos em meio a semelhanças.
Tomo o escritor carioca como referência porque foi dele que me lembrei ao
ler os ensaios que compõem estes Diálogos Suburbanos — um conjunto de
reflexões interdisciplinares escritas por autores que são, em sua maioria,
moradores dos subúrbios, professores dos ensinos médio e universitário,
geógrafos, historiadores, arquitetos e urbanistas.
Com o mérito de conciliar reflexões sólidas, estudos sistemáticos e linguagem
acessível, o que se lê aqui desmonta o senso comum sobre subúrbios como
lugares degradados, perigosos, tristes, à margem de uma cidade pulsante,
praieira, solar, criativa e afável. O Rio de cartão-postal, havaianas no pé e
biscoito Globo, não é aquele que norteia este livro.
Os subúrbios que passam por aqui são lugares que engendram sociabilidades,
criam redes de proteção social, são disputados e negociados
dinamicamente por seus habitantes, apresentam diversidades culturais.
Por aqui se aprende que a divisão espacial histórica da cidade remonta à
concessão das primeiras sesmarias, discutem-se as relações entre a casa e
rua, a construção de certo imaginário sobre o Estado e os subúrbios a partir
de conjuntos residenciais, as especificidades de Inhaúma e dos subúrbios da
Leopoldina, o papel da imprensa suburbana, as interações e hibridismos na
configuração da cidade, as resistências e reexistências cotidianas.
No meu trabalho como historiador e professor dedicado aos estudos
sobre a cidade, reparo que há um certo reducionismo — que se expressa na
mídia e até mesmo em estudos acadêmicos — que enxerga a cidade a partir
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Diálogos Suburbanos
da dicotomia entre morro e asfalto. É como se as nuances e complexidades
urbanas que deram origem ao processo de formação dos subúrbios, acelerado
na transição entre a Monarquia e a República e concomitante às reformas
higienistas do início do século XX, fossem apenas um apêndice no processo
mais amplo de configuração de uma cidade partida.
Ignora-se que os subúrbios são antíteses da ideia de cidade partida: eles
operam na lógica do cerzimento da cidade, a partir de encontros, afetos,
contradições, violências, batuques, rezas, cheiros, corpos contidos em altares
e corpos funkeados em bailes. Sem romantizar o precário, mas reconhecendo
que a precariedade gera soluções de mundo no decorrer do processo
histórico, este Diálogos Suburbanos desde já se impõe como referência para
entender o Rio de Janeiro.
O que fica como mais relevante neste conjunto de artigos, porém, é a
certeza absoluta de que não há gente melhor para contar as histórias e
geografias dos subúrbios, discutir a elaboração da memória suburbana na
fronteira entre lembrança e esquecimento, os saberes, delícias e dores da
maior parte da cidade, do que os próprios suburbanos. É disso que se trata:
os subúrbios têm voz.
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apresentação
Um mapa colaborativo e afetivo
teresa guilhon
mestre em bens culturais e projetos sociais
presidente d'o instituto
Encontrar o lugar da cidadania no Rio de Janeiro de hoje é um desafio. A
cidade, marcada há muito como espaço de afirmação das diferenças, parece
não parar de produzir enormes desigualdades e, ao mesmo tempo, quase
como uma força oposta, tem potencial para gerar permanentemente uma
série de soluções e visões alternativas. Para juntá-las, precisamos cada vez
mais de espaços de escuta e diálogo, aqueles onde podemos reunir pessoas
de origens, visões e perspectivas diversas para trocar, produzir e amplificar
conhecimentos e saberes, estimulando a criação de formas de atuação
colaborativas inovadoras.
O Instituto Contemporâneo de Projetos e Pesquisa – O INSTITUTO –
se lançou, em 2009, em busca dos rumos possíveis para a construção de
uma cidade mais democrática, mais harmônica e mais humana, através
da criação e gestão de espaços de encontro, presenciais e virtuais, como
o fórum que reuniu não só as ideias dos 13 autores que compõem esta
publicação, como outros novos olhares sobre os subúrbios cariocas.
Não por acaso, o coletivo Diálogos Suburbanos deu o título de Olhares
contemporâneos: múltiplas dimensões da suburbanidade ao evento
que encerrou um ciclo de sete debates abertos, realizados no bairro de
Oswaldo Cruz durante o ano de 2019, em encontros mensais* que tive o
prazer de coordenar e produzir.
* Para ver os detalhes da programação que o ciclo Diálogos Suburbanos desenvolveu em 2019,
acesse a página do Diálogos Suburbanos no Facebook <www.facebook.com/dialogossuburbanos>.
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Diálogos Suburbanos
O livro que agora temos nas mãos, o qual esperamos que contribua para
dirimir a carência de publicações multidisciplinares sobre a história e a
dinâmica dos territórios suburbanos, é, ele mesmo, fruto de um processo
colaborativo. A partir da ideia inicial, proposta pelo professor Rafael Mattoso,
vimos nascer um projeto que envolveu rodas de conversa com muita troca
entre pontos de vista diversos e diferentes áreas do conhecimento, sempre
pensando na valorização dos espaços suburbanos e nos questionamentos,
novos e velhos, sobre o papel que representam na metrópole carioca.
O que apresentamos aqui é um mapa dos caminhos traçados entre passado
e presente, na construção das identidades suburbanas, bem como, de certa
forma, a celebração de sua resistência.
O artigo que inicia o desenho desse percurso é “Lugares de Inhaúma e
Irajá na história do lugar e na formação do subúrbio carioca: séculos XVI
ao XX” e vem para realmente nos abrir os caminhos. A metodologia da
“história do lugar”, criada pelo autor para auxiliar o ensino em escolas, é um
instrumento de recuperação da memória e das identidades locais, bem como
de aproximação entre escola e comunidade, estimulando nos alunos maior
interesse pelo estudo da realidade em que estão inseridos. Através da sua
leitura ficamos a par de como funcionavam esses dois centros propulsores
da dinâmica econômica e social da colônia, como eram as suas divisões
político-administrativas (sesmarias, freguesias, engenhos) e como afetavam
a população da cidade em desenvolvimento. Seguimos o caminho pelo artigo
“O patrimônio e a paisagem cultural dos subúrbios cariocas", que nos leva a
olhar para questões que envolvem os subúrbios no contexto do sítio declarado
patrimônio mundial, na categoria paisagem cultural urbana. Ainda aqui,
desfrutamos da análise do autor sobre que marcas são deixadas no ambiente
natural pelas transformações urbanas e as escolhas que as tornam visíveis
ou invisíveis ao longo do tempo. Desse ponto em que nos encontramos, mais
precisamente do alto da Serra dos Pretos Forros, propõe-se um mergulho
mais fundo. Em direção ao legado cultural de duas construções de diferentes
épocas, diferentes espíritos de uma herança material construída por mãos
humanas, cuja história está em “Entre o sagrado e o profano: Matriz de Irajá
e o Cine Vaz Lobo”. De que forma esse patrimônio permanece enraizado na
alma suburbana?
“Olhares para os subúrbios da Leopoldina a partir de Bonsucesso, Ramos e
Olaria” inaugura, no livro, quase uma nova seção, pois começa aí uma estrada
que leva a outras vias de abordagem, dentre os pesquisadores do Diálogos
Suburbanos. Escrito a várias mãos, trata-se um inventário das singularidades
espaciais, econômicas e sociais, que marcaram e ainda hoje impactam os
bairros da chamada região da Leopoldina. Ainda na Grande Leopoldina, a
presença das políticas públicas é o mote para o próximo texto, “O conjunto
residencial da Penha: imaginários e representações do estado no subúrbio
carioca". É através da análise de um projeto de habitação popular no Estado
Novo que as autoras nos revelam os aspectos históricos e sociais relevantes
para entender as dinâmicas do crescimento em direção aos subúrbios, assim
como os atores nelas envolvidos.
Este tema será reforçado no artigo seguinte, que entra nas ruas, becos,
vielas e casas suburbanas para analisar “Moradia, trabalho e convívio comunitário
no subúrbio carioca”. Aqui nos interessam os improvisos, as soluções,
as relações entre o público e o privado intervindo no desenho da arquitetura,
que resulta como característica do subúrbio no Rio de Janeiro e que marca
a paisagem dessa região da cidade.
Depois desse quase flanar pelos bairros suburbanos e suas trajetórias
na evolução urbana da metrópole, dá vontade de conhecer aqueles que ali
fincaram suas raízes e fazem desse espaço sua identidade. Mais uma vez a
“história do lugar” se faz presente em “Histórias e vivências suburbanas:
valorização das experiências cotidianas na resistência cultural dos subúrbios
cariocas”. Perguntas como “existe uma cultura suburbana?”, ou “de que forma
ela se articula e cria sistemas de resistência na cidade?”, servem de ponto de
partida para o artigo, que se delineia quase como uma etnografia dos microespaços,
fazendo, ao longo do texto, uma ponte entre passado e presente. A
realidade que passamos a enxergar, gravitando em torno de vivências do dia
a dia nesses espaços, ganha corpo com a pesquisa minuciosa apresentada
em “Imprensa e subúrbios: entre suplemento, noticiário e instrumento de
militância”, onde se levantam outras vozes – a dos intelectuais, letrados e
comerciantes abastados que atuaram na criação de diversos periódicos,
contexto que iria influenciar um certo “imaginário de subúrbio” no início
do século XX, com implicações em várias áreas da dinâmica social local.
Os dois últimos artigos do livro fecham de forma muito oportuna o
exercício proposto aqui, que se poderia chamar de “diálogo de todos com
todos”. Em “Subúrbio e periferia: onde a cidade é híbrida”, nosso olhar é
puxado novamente para uma perspectiva macro, para o desenho da cidade
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entre o rural e o urbano e os processos que causam a diluição e quase desaparecimento
de fronteiras, estimulando muitas vezes um acirramento da
afirmação das múltiplas identidades culturais. O olhar da arquitetura e do
urbanismo, presentes de forma determinante neste livro, é certamente uma
contribuição de grande relevância para a discussão da origem das relações
de segregação e fragmentação presentes na cidade. O artigo nos convida,
em suma, a um passeio pela complexidade do conceito de território na
vida urbana contemporânea. E com mais alguns passos neste caminho
chegamos a um vasto universo de conceitos multifacetados, um espaço
fluido que permite as mais diversas interpretações, em “Subúrbios Cariocas,
uma deriva contemporânea sobre o nosso chão”. As interpretações aqui são
experimentadas pelos autores, a partir de diversas bases e pontos de vista:
da filosofia, da arquitetura, da cultura, da literatura, da música, da religião.
O que são e o que podem ser, afinal, os subúrbios cariocas?
Um diálogo que não termina...
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Sobre os autores
ana slade é arquiteta e urbanista, professora da Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo da UFRJ, mestra em Artes Visuais pela UFRJ e doutoranda em
Urbanismo no PROURB/FAU-UFRJ.
antonio josé pedral sampaio lins é arquiteto, urbanista e paisagista pela
FAU-UFRJ. Mestre e doutor em urbanismo pelo PROURB/FAU-UFRJ, com projetos
executados no Rio de Janeiro, em Arembepe – BA, Bananal – SP e Vitória – ES.
Trabalhou por 35 anos nas empresas RFFSA, CBTU, Flumitrens, Secretaria Estadual
de Transportes do Estado do Rio, no Ministério Público do Rio de Janeiro, e foi
Subsecretário de Urbanismo de São Gonçalo. É conselheiro do IAB-RJ.
flávia brito do nascimento é historiadora pela UFF, arquiteta e
urbanista pela UFRJ, professora da FAU-USP, e autora de Entre a estética
e o hábito: o Departamento de Habitação Popular (1946-1960) (Biblioteca
Carioca, 2005) e Blocos de memórias: habitação social, arquitetura moderna
e patrimônio cultural (Edusp, 2016).
flávio lima é geógrafo e professor, além de compositor e diretor cultural
da CASARTI - Casa do Artista Independente. Fundador do projeto M.A.I.S
(Movimento dos Artistas Independentes do Subúrbio).
joaquim justino moura dos santos é doutor em História Social pela
USP, professor e pesquisador do Departamento de História da Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Autor de História do lugar: um
método de ensino e pesquisa para as escolas de nível médio e fundamental.
leandro climaco mendonça é doutor em História pela UFF, professor
de História do Ensino Básico e da Especialização em Ensino de História do
Colégio Pedro II. Em 2018, sua tese, intitulada Jornalismo como missão:
militância e imprensa nos subúrbios cariocas, 1900-1920, foi agraciada com
o 1º lugar no Prêmio Eulália Maria Lobo, concedido pela Anpuh-Rio.
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luiz claudio motta lima é morador, professor e geógrafo suburbano,
mestre em Geografia pelo Departamento de Geografia da UERJ (2006) e um
dos organizadores do cineclube Subúrbio em transe. Desde 2002 ministra
oficinas de audiovisual para alunos da rede municipal de ensino do Rio de
Janeiro. É um dos diretores e orientador do Documentário Alma Suburbana.
Também participa de realizações audiovisuais independentes suburbanas.
luiz paulo leal de oliveira é arquiteto e urbanista, mestre em
Urbanismo pelo PROURB-UFRJ e arquiteto do Instituto Rio Patrimônio da
Humanidade. Doutorando do Programa de Pós-Graduação da Escola de
Arquitetura e Urbanismo da UFF (PPGAU-UFF), recebeu em 2017 o Prêmio
Mauricio Abreu de melhor dissertação concedido pelo Instituto Pereira Passos.
maria celeste ferreira é mestranda em História pela UERJ. Possui
Lato Sensu em História, Patrimônio e Cidade pela UNICAM/Iuperj (2015),
e é professora nas redes municipal e estadual do Rio de Janeiro. Participa
do coletivo IHGBI — Instituto Histórico e Geográfico da Baixada de Irajá.
maria paula albernaz é arquiteta, doutora em Geografia pelo Programa
de Pós-Graduação em Geografia da UFRJ (PPGG-UFRJ), professora da Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ (FAU-UFRJ) e docente permanente do
Programa de Pós-Graduação em Urbanismo da UFRJ (PROURB-UFRJ).
nilce aravecchia-botas é arquiteta e urbanista, professora da FAU-USP
e autora do livro Estado, arquitetura e desenvolvimento: a ação habitacional
do IAPI (Ed. Fap-UNIFESP, 2016).
rafael mattoso é morador e pesquisador suburbano, doutorando em
História da Cidade pelo PROURB-UFRJ, mestre em História Comparada pelo
PPGHC-UFRJ e professor das redes pública e privada do Rio de Janeiro. Um
dos idealizadores do projeto Diálogos Suburbanos.
rodrigo cunha bertamé ribeiro é mestre em Urbanismo pela UFRJ
e arquiteto em Biomanguinhos — Fiocruz. Participa do coletivo Suburbagem,
além de ser membro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de
Janeiro (CAU-RJ). Assumiu a presidência do sindicato dos arquitetos no
período 2018-2021.
1ª edição outubro 2019
impressão meta
papel miolo pólen soft 80g/m 2
papel capa cartão supremo 300g/m 2
tipografia tisa
A década de 2010 foi quando, principalmente
através das mídias sociais, se deu
o clímax da exposição de um território
cuja história sempre foi deixada em
outros planos, longe até dos primeiros
lugares no pódio. Falar dos subúrbios
cariocas é ter a coragem de virar as costas
para a orla de Copacabana e entender o
porquê de o Cristo Redentor não nos
encarar. É seguir os rastros, vestígios e
colar os cacos de pequenas histórias
locais, espalhadas sobre o chão como
uma louça que acabou de se quebrar. Para
estar ciente deste fato, é preciso enxergar
que as potencialidades aqui estão desconexas
por projetos políticos que nos
levaram a comprar uma identidade que
não é a nossa; a Cidade Maravilhosa, de
Passos a Paes, não incluiu suburbanos e
suburbanas, nossos bairros e quarteirões.
Dos “bota à baixo” aos megaeventos
sabemos muito. Mas e sobre os cafezais e
laranjais de Campo Grande, as romarias
da Penha, as areias de Sepetiba, os
antigos engenhos e fazendas de
Jacarepaguá, a paróquia de Irajá? Ouço
daqui os gritos ecoando no silêncio dos
documentos históricos, prontos para
serem revelados. E quem se atreveu os
ouvir antes? A ousadia aqui presente
aponta o dedo para uma história dominante,
assistencialista, e mostra que os
subúrbios e seus habitantes têm história:
a alma do carioca.
vitor almeida
ISBN 978856567999-2
9 788565 679992
O mais relevante neste conjunto de artigos é a certeza
absoluta de que não há gente melhor para contar as
histórias e geografias dos subúrbios, discutir a
elaboração da memória suburbana na fronteira entre
lembrança e esquecimento, os saberes, delícias e dores
da maior parte da cidade, do que os próprios
suburbanos. É disso que se trata: os subúrbios têm voz.
luiz antonio simas
patrocínio:
realização:
apoio: