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SUMÁRIO<br />
05 28<br />
ENTREVISTA<br />
À Mesa Com rui anjos<br />
20 40<br />
entrevista<br />
lara martinho<br />
Deputada do PS/Açores na Assembleia da República<br />
reportagem<br />
concertação social<br />
entrevista<br />
antónio VIVEIROS<br />
DeputadO na Assembleia LEGISLATIVA REGIONAL DOS AÇORES<br />
22<br />
OPINIÃO<br />
alterações climáticas<br />
42<br />
Reportagem<br />
conselho social e económico<br />
27<br />
crónica<br />
joão castro<br />
46<br />
crónica<br />
antónio ventura<br />
O FUTURO DA<br />
CULTURA <strong>NO</strong>S AÇORES<br />
SITUAÇÃO Da<br />
delta airlines<br />
wine in azores<br />
11 16 34<br />
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EDITORIAL<br />
Poder escrito no feminino<br />
Os meus dois irmãos mais velhos ainda<br />
apanharam na escola primária os espaços<br />
divididos pelos sexos: meninas para um<br />
lado, os rapazes noutro.<br />
Com a revolução dos cravos as salas<br />
passaram a ser mistas, mas, em abono da<br />
verdade e tendo como referência temporal<br />
a “minha época”, as diferenças entre o<br />
masculino/feminino eram mais do que<br />
notórias.Para já, se um rapaz ousasse<br />
partilhar a carteira com uma miúda,<br />
arriscava o título de “mariquinhas” até quase<br />
ir para a tropa.<br />
Eram dois mundos distintos. Brincar aos<br />
polícias/ladrões e jogar à bola eram coisas<br />
só para rapazes, nem se imaginando sequer<br />
a presença à distância daquelas estranhas<br />
“criaturas” com totós e fitinhas no cabelo,<br />
que se entretinham à volta das bonecas.<br />
Nós, do clã masculino, mantínhamos a ideia<br />
de que as meninas não sabiam conversar e<br />
partilhar preferências. Como era possível<br />
não gostar de ver futebol, apanhar moscas e<br />
lagartixas ou tirar macacos do nariz?...<br />
Umas parvas estas raparigas, que davam<br />
mostras claras de não possuírem mais do<br />
que meio neurónio. Enfim, passado pouco<br />
tempo, a malta começa a gostar das moças e<br />
deixa de constituir um bicho-de-sete-cabeças<br />
as nuances comportamentais até no ato de<br />
fazer chichi.<br />
Dançar um slow era um feito para falatório<br />
durante um mês e, se por acaso uma miúda<br />
olhasse para nós na rua (embora aí a<br />
imaginação também tivesse uma palavra a<br />
dizer), éramos até capazes de ver estrelas<br />
num dia com neblinas.<br />
Hoje, sem margem para grande discussão,<br />
os antagonismos estão esbatidos. Até no<br />
vestuário, e outros acessórios como os<br />
brincos, as particularidades deixaram<br />
totalmente de seguir a tradição de que o rosa<br />
era para a menina e o azul destinava-se ao<br />
menino.<br />
Mesmo à conta da aplicação de umas<br />
discutíveis quotas, a igualdade de género<br />
está a ganhar forma de realidade cada vez<br />
mais consistente e, muito obviamente, as<br />
mulheres souberam ocupar o seu espaço<br />
no mundo quotidiano (família/emprego/<br />
sociedade), o qual é, sem tirar nem pôr,<br />
rigorosamente idêntico ao dos homens.<br />
A igualdade de género é matéria que suscita<br />
acalorados debates e promete fazer correr<br />
ainda muita tinta. Ponto consensual: para se<br />
chegar à necessidade da igualdade é porque<br />
havia uma… desigualdade.<br />
Neste domínio, será também abrangente<br />
a opinião de que a posição subalternizada<br />
cabia efetivamente à mulher.<br />
Mesmo sem recuar aos abissais desníveis<br />
sociais de épocas remotas, percebe-se à vista<br />
desarmada o predomínio masculino até aos<br />
tempos mais recentes.<br />
Resta saber se, pelo menos nas sociedades<br />
mais evoluídas, esta diferenciação ainda se<br />
faz sentir, ou pelo contrário, o poder bem se<br />
pode já escrever no feminino.<br />
A obra “A Terceira Mulher”, da autoria de<br />
Gilles Lipovetsky, contextualiza o caminho<br />
evolutivo do papel da mulher. “Depreciada”,<br />
“exaltada” e “indeterminada” são epítetos<br />
atribuídos a conjunturas temporais e sociais<br />
que há muito pertencem a história.<br />
Dizer que a mulher depende do marido,<br />
sobretudo em termos económicos, é<br />
um argumento que entra já no domínio<br />
falacioso.<br />
Na sua globalidade, e descontando as<br />
inevitáveis especificidades, os direitos<br />
da Mulher são iguais aos do Homem,<br />
entroncando nos universalistas Direitos<br />
Humanos.<br />
De resto, os sinais advindos dos tempos<br />
atuais apontam até para uma prevalência do<br />
papel da mulher, que há muito deixou de ser<br />
balizado no lar e no seio restrito da família.<br />
O mundo profissional abre as portas a uma<br />
carreira de sucesso das mulheres, as quais,<br />
por exemplo em Portugal, lideram a longa<br />
distância a frequência no ensino superior.<br />
Este passo à frente terá forçosamente de<br />
ser dado pelas mulheres. Se tirarem o (in)<br />
resulta a postura determinada que se espera<br />
ver no outrora designado “sexo fraco”.<br />
Tal emancipação, contudo, deve se libertar<br />
do regime protetor de quotas do sistema<br />
político português. O mérito é a chave para<br />
chegar ao sucesso e tal atributo é associável<br />
a qualquer um dos géneros. O poder pode<br />
muito bem ser “coisa de mulheres” num<br />
futuro já ao dobrar da esquina…<br />
João Rocha<br />
Jornalista<br />
Ficha Técnica:<br />
ISSN 2183-4768<br />
Proprietário Associação Agenda de Novidades<br />
NIF 510570356<br />
Sede de Redação Rua da Misericórdia, 42, 2º Andar,<br />
9500-093 Ponta Delgada<br />
Sede do Editor Rua da Misericórdia, 42, 2º Andar,<br />
9500-093 Ponta Delgada<br />
Diretor/Editor Rui Manuel Ávila de Simas CP3325A<br />
Subdiretor João Rocha CP 2926<br />
Redação João Rocha CP 2926, Rui Santos TPE-288 A,<br />
Claúdia Carvalho TPE-288 A, diogo costa<br />
Revisão João Rocha CP 2926<br />
Paginação Leonor Manaças<br />
Captação e Edição de Imagem Rodrigo Raposo<br />
Departamento de Marketing e Comunicação CILA<br />
CIMAS, Leonor Manaças<br />
marketing digital raquel amaral<br />
MULTIMÉDIA RODRIGO RAPOSO<br />
informática joão botelho<br />
Relações Públicas Cila Simas<br />
Nº Registo ERC 126 641<br />
Periodicidade Mensal<br />
Colaboradores antónio ventura, João Castro<br />
Contactos comunicacaonorevista@gmail.com<br />
Estatuto Editorial:<br />
A <strong>NO</strong> é uma revista de âmbito regional (não<br />
ficando excluídos os países de língua portuguesa<br />
e comunidades portuguesas espalhadas pelo<br />
mundo).<br />
A <strong>NO</strong> disponibiliza informação independente e<br />
pluralista relacionada com a política, cultura<br />
e sociedade num contexto regional, Nacional e<br />
Internacional.<br />
A <strong>NO</strong> é uma revista autónoma, sem qualquer<br />
dependência de natureza política, ideológica<br />
e económica, orientada por critérios de rigor,<br />
isenção, transparência e honestidade.<br />
A <strong>NO</strong> é produzida por uma equipa que se<br />
compromete a respeitar os direitos e deveres<br />
previstos na Constituição da República<br />
Portuguesa; na Lei de Imprensa e no Código<br />
Deontológico dos Jornalistas.<br />
A <strong>NO</strong> visa combater a iliteracia, incentivar o gosto<br />
pela leitura e pela escrita, mas acima de tudo,<br />
promover a cidadania e o conhecimento.<br />
A <strong>NO</strong> rege-se pelo cumprimento rigoroso das<br />
normas éticas e deontológicas do jornalismo e<br />
pelos princípios de independência e pluralismo.<br />
4 <strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19
ENTREVISTA<br />
à mesa com<br />
rui anjos<br />
presidente da AHRESP (Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal) nos Açores<br />
Cila Simas
ENTREVISTA<br />
Enquanto Presidente da AHRESP,<br />
quais considera que devem ser os<br />
passos a tomar para uma melhor<br />
qualificação do turismo nos<br />
Açores?<br />
Falar de uma melhor qualificação do<br />
turismo nos Açores é fazermos ainda<br />
mais e melhor. É não deslumbrar-nos<br />
com o alcançado. É determinante<br />
que sejamos competentes, corajosos<br />
e principalmente saber interpretar<br />
o que pode ser ainda melhorado e<br />
corrigido.<br />
A qualidade do turismo dos Açores<br />
é indissociável da qualidade da<br />
experiência de quem nos visita. De<br />
grosso modo, e numa abordagem<br />
simplória por parte de quem nos<br />
visita em modo de férias, refiro-me a<br />
comer, dormir, passear e divertir, já<br />
que são os pontos comuns a todos os<br />
destinos de férias. Não é o que todos<br />
procuramos quando somos nós?<br />
A oferta tem sido continuamente<br />
melhorada e diversificada. Não<br />
faltam muitos e bons exemplos de<br />
mais e melhor restauração, mais<br />
e melhor hotelaria tradicional e<br />
alojamento local, mais e melhores<br />
empresas de animação turística,<br />
mais e melhor para ver e visitar. A<br />
própria concorrência entre privados<br />
encarrega-se de habilitar e qualificar<br />
a oferta. A regulação e a salvaguarda<br />
do cumprimento de regras é, e<br />
será sempre, da responsabilidade<br />
dos órgãos de governo e dos seus<br />
serviços inspetivos.<br />
O setor público tem a grande<br />
incumbência de continuar a trabalhar<br />
e a melhorar ainda mais a questão<br />
da acessibilidade, promoção e a<br />
comunicação externa, bem como,<br />
obrigatoriamente, manter os<br />
mercados tradicionais e captar os<br />
novos e emergentes.<br />
Na sua opinião, acha que<br />
os Açores se estão a tornar,<br />
progressivamente, um destino de<br />
qualidade ou um destino de massa?<br />
Claramente um destino de qualidade!<br />
Como se pode falar em destino<br />
de massas quando temos uma<br />
população flutuante de 7000 pessoas<br />
distribuídas de Santa Maria ao<br />
Corvo?<br />
Cabem todos em metade do<br />
estádio de São Miguel. Parece-me<br />
adequado caricaturar e relativizar<br />
isto desta forma. Existem sim<br />
inúmeras situações mais ou menos<br />
preocupantes em locais e zonas<br />
algo sensíveis, mas perfeitamente<br />
ao alcance de serem normalizadas e<br />
facilmente corrigidas.<br />
Ouço de algumas<br />
pessoas, e leio nas<br />
redes sociais, opiniões<br />
no sentido de acharem<br />
que o turismo está<br />
massificado e o que aí<br />
vem será ainda pior.<br />
Estou absolutamente<br />
em desacordo, mas<br />
percebo porque alguns<br />
se manifestam neste<br />
sentido.<br />
A título de exemplo, é<br />
inadmissível (e há que<br />
agir em conformidade)<br />
que em determinados<br />
locais continua a não<br />
haver policiamento<br />
e regularização de<br />
trânsito. Refiro-me a<br />
alguns pontos críticos.<br />
Alguns miradouros<br />
e freguesias muito<br />
visitadas, e sabe-se<br />
que há situações que<br />
geram desconforto a<br />
residentes e moradores.<br />
Continuam a estacionar<br />
em sentido contrário<br />
e a fazerem inversão<br />
de marcha em plena avenida<br />
marginal, aos olhos de todos e sem<br />
que nada lhes aconteça. É injusto o<br />
local sentir que se fosse consigo a<br />
consequência seria diferente e não<br />
podemos nunca alinhar nisto. É<br />
legalmente e moralmente incorreto.<br />
Isto apela a algum sentimento<br />
de revolta de quem cá reside,<br />
pois constatam, frequentemente,<br />
estas e outras situações idênticas.<br />
Há um sentimento de alguma<br />
condescendência em relação<br />
ao turista em determinadas<br />
circunstâncias.<br />
Mas gostaria de aqui salientar que<br />
tenho muito boa opinião acerca do<br />
perfil dos turistas que nos visitam.<br />
Por norma é educado, afável e não<br />
vem para cá para complicar a vida<br />
aos locais. É respeitoso, mas facilita<br />
porque lhe dão aso a isso.<br />
Há uma frase que o nosso presidente<br />
do governo regional, Dr. Vasco<br />
Cordeiro, referiu num encontro e que<br />
me soube a compromisso: O turismo<br />
só é bom se for bom para quem cá<br />
vive! Tão simples e tão verdadeiro<br />
quanto isto.<br />
Qual é a responsabilidade que<br />
sente em inculcar nas pessoas este<br />
sentido de turismo sustentável,<br />
dado o cargo que ocupa<br />
atualmente?<br />
É uma enorme responsabilidade<br />
e cabe a todos nós, na medida de<br />
cada qual, sermos um agente de<br />
mudança. Fui convidado enquanto<br />
6 <strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19
ENTREVISTA<br />
presidente da AHRESP nos Açores<br />
para o Comité Consultivo para<br />
a Sustentabilidade do Destino<br />
Turístico Açores (CCSDTA),<br />
que engloba representantes de<br />
variadíssimas áreas, tais como:<br />
entidades policiais e aduaneiras,<br />
associação de freguesias e de<br />
municípios, entidades marítimas,<br />
proteção civil, universidade UAÇ,<br />
federação agrícola e das pescas,<br />
outras ainda de cariz social, cultural<br />
e ambiental. É uma responsabilidade<br />
transversal a todos nós. Saímos<br />
todos da primeira reunião com um<br />
sentimento de união e compromisso<br />
com a causa. Temos a obrigação<br />
moral de defender o mais possível<br />
a sustentabilidade ambiental e o<br />
legado que os nossos antepassados<br />
nos deixaram e entrega-lo o melhor<br />
possível às gerações vindouras.<br />
A AHRESP contribuirá com o seu<br />
melhor, sendo o amplificador e<br />
o mensageiro de um conjunto de<br />
medidas definidas e de boas práticas<br />
para os seus associados, bem como<br />
para todo o canal HORECA, num<br />
plano de ação <strong>2019</strong>-2027, que está<br />
a ser elaborado e definirá muito<br />
do caminho a percorrer no que diz<br />
respeito à sustentabilidade do destino<br />
turístico dos Açores.<br />
Há em curso um processo de<br />
certificação pela EarthCheck. Trará<br />
para os Açores um enorme prestígio<br />
e reconhecimento a<br />
nível mundial. Só<br />
existem atualmente<br />
9 regiões no mundo<br />
certificadas e nenhuma<br />
delas um arquipélago.<br />
No dia Mundial<br />
do Turismo, o<br />
Vice-Presidente da<br />
Confederação do<br />
Turismo de Portugal<br />
afirmava que “é<br />
necessário abandonar<br />
de uma vez por todas<br />
a ideia que temos<br />
turistas a mais, ou<br />
que os turistas são<br />
sinónimo de ameaça<br />
à sustentabilidade<br />
dos destinos”. Qual é<br />
o seu ponto de vista<br />
desta afirmação com<br />
base no panorama<br />
regional?<br />
Antes de mais, deixeme<br />
que lhe diga<br />
que o Dr. Carlos<br />
Moura é também o<br />
1º Vice-Presidente da<br />
AHRESP a nível nacional. Sendo<br />
apontado por muitos como o natural<br />
sucessor do nosso Presidente,<br />
o Comendador, Mário Pereira<br />
Gonçalves. Estive nesta ocasião,<br />
na Nonagon, na celebração do<br />
dia Mundial do Turismo. Tenho a<br />
mesma convicção e reafirmo o que<br />
atrás desenvolvi. Os turistas e o<br />
turismo na Região Autónoma dos<br />
Açores só serão uma real ameaça à<br />
sustentabilidade do destino Açores<br />
se não formos competentes e<br />
corajosos no desenvolvimento de<br />
medidas que contrariem e mitiguem<br />
eventuais inconvenientes em termos<br />
ambientais, bem como para a<br />
qualidade de vida de quem cá habita.<br />
Sente que a restauração já deu os<br />
passos suficientes para se poder<br />
considerar como devidamente<br />
qualificada?<br />
De forma geral temos sido capazes<br />
de evoluir. Longe vai o tempo em<br />
que as ementas eram todas muito<br />
semelhantes, ou que as alternativas e<br />
a oferta a nichos de mercados eram<br />
escassas ou nulas. Nota-se ainda<br />
muita restauração fora dos centros<br />
mais urbanos a não estarem abertos<br />
no período 15H/18H, o que causa<br />
algum transtorno, mais ainda quando<br />
se sabe que muitos dos que nos<br />
visitam estão neste período longe<br />
dos alojamentos, a passear de carro,<br />
nos trilhos e outas atividades e que<br />
muitas vezes não há espaços abertos<br />
para fazerem a sua refeição ou até<br />
mesmo lanchar. Mas o mercado<br />
está em constante desenvolvimento<br />
e em adaptação à procura. Temos<br />
número, variedade e alternativa em<br />
determinadas zonas. Noutras nem<br />
por isso. De forma geral falta-nos<br />
qualidade no atendimento, que<br />
se reflete na qualidade do serviço<br />
prestado. Não há que esconder. É um<br />
mal que muitos de nós padecem.<br />
Estamos todos a atravessar um<br />
grave problema de mão-de-obra na<br />
restauração e até noutros setores<br />
importantes na economia regional,<br />
como por exemplo na construção<br />
civil e até mesmo na produção e<br />
exploração agrícola.<br />
Este enorme problema é dividido<br />
em dois: números de pessoas<br />
disponíveis manifestamente<br />
insuficientes às necessidades do<br />
mercado e a qualidade ou a falta<br />
dela, no que concerne à formação<br />
profissional. Muitos sinais já foram<br />
dados por inúmeras pessoas e<br />
empresas às entidades competentes<br />
e, teimosamente, parece-me que nada<br />
se tem feito. É preocupante e uma<br />
vez mais… haja coragem para acabar<br />
com o “atirar” de dinheiro para o<br />
<strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19<br />
7
WWW.<strong>NO</strong>REVISTA.PT | <strong>NO</strong><br />
problema. Isto não resolve<br />
nada neste momento e já<br />
todos percebemos que assim<br />
não vamos lá chegar.<br />
Enquanto houver formação<br />
profissional em contexto<br />
de escola secundária não<br />
chegaremos lá. São as pausas<br />
frequentes e indevidas, é<br />
a postura necessária que<br />
não lhes é exigida, é o uso<br />
e o abuso de telemóveis<br />
nas escolas dentro da sala<br />
de formação e depois<br />
espera-se que mudem todos<br />
estes maus hábitos já em<br />
contexto de trabalho? Muitas<br />
vezes as escolas só estão<br />
interessadas na manutenção<br />
de um determinado número<br />
de formandos para que a<br />
comparticipação recebida não<br />
baixe ou até mesmo acabe,<br />
e assim muitos finalizam<br />
os respetivos cursos e são<br />
absorvidos no mercado de<br />
trabalho. Pergunto-me como é<br />
possível que com tanta escola<br />
profissional e há tanto tempo<br />
a formar, onde anda esta<br />
gente com qualidade e com a<br />
atitude necessária?<br />
Bom, isto é só a ponta do iceberg<br />
mas é preciso alguma coragem para<br />
dizer aquilo que todos os meus<br />
colegas empresários, numa qualquer<br />
mesa de café, lhe diriam.<br />
Ainda sobre a sustentabilidade,<br />
qual é a sua opinião no uso de<br />
plásticos no ramo da hotelaria e da<br />
restauração?<br />
Não há ainda outro caminho a seguir.<br />
A AHRESP Açores no passado mês<br />
de Março, e a convite do Grupo<br />
Parlamentar do Partido Socialista dos<br />
Açores, esteve reunida para discutir o<br />
Projeto de Resolução que recomenda<br />
o estabelecimento de medidas com<br />
vista à redução de embalagens e<br />
produtos em plástico na Região<br />
Autónoma dos Açores. Nesta<br />
reunião, foi solicitado à AHRESP<br />
Delegação dos Açores, um parecer<br />
e um levantamento das principais<br />
preocupações associadas<br />
a esta temática. Após<br />
contatar alguns associados,<br />
e alguma reflexão da nossa<br />
parte, foi elaborado um<br />
documento, onde constam<br />
algumas das principais<br />
preocupações e sugestões<br />
para a preservação da<br />
sustentabilidade da região.<br />
A AHRESP Delegação<br />
dos Açores foi também<br />
convidada a ser ouvida na<br />
Assembleia Legislativa<br />
Regional na presença de<br />
todos os partidos. Demos a<br />
nossa validação, sugestão e<br />
o nosso contributo.<br />
A nível mais pessoal e<br />
enquanto empresário, o<br />
Grupo Anjos está preparado<br />
para implementar todas as<br />
medidas de combate ao uso<br />
de plástico já em Janeiro<br />
2020. Sensivelmente 1 ano<br />
antes da entrada em vigor do<br />
diploma.<br />
Quais são as suas<br />
preocupações enquanto<br />
presidente da AHRESP?<br />
Que não perca o meu “eu”. A minha<br />
principal preocupação é continuar<br />
a ser trabalhador e responsável,<br />
defendendo os valores da associação,<br />
que muito carinhosamente me<br />
convidou, e à qual empresto o<br />
meu tempo. Esta função não é<br />
renumerada e isto só aguça o espirito<br />
associativo e de amor à causa. Quero<br />
continuar a ser leal e honesto para os<br />
que represento e defendo.<br />
8 <strong>NO</strong>OUT19
WWW.<strong>NO</strong>REVISTA.PT | <strong>NO</strong> PUB<br />
<strong>NO</strong>OUT19<br />
9
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REPORTAGEM<br />
RUI SANTOS<br />
A Cultura nos Açores:<br />
qual o futuro?<br />
A Fundação Sousa d’Oliveira<br />
deu continuidade à sua iniciativa<br />
do Clube de História, desta<br />
vez com o debate do tema “A<br />
Cultura nos Açores: qual futuro?”,<br />
que realizou-se no dia 23 do<br />
passado mês, no Auditório Filipe<br />
Cordeiro, em Ponta Delgada.<br />
Sob Moderação da jornalista<br />
Teresa Nóbrega, os oradores<br />
Alexandre Pascoal, presidente do<br />
Conselho de Administração do<br />
Teatro Micaelense, Nélia Alves-<br />
Guimarães, vereadora da Câmara<br />
Municipal de Vila Franca do<br />
Campo (CMVFC) com o pelouro<br />
da Cultura, e Pedro Gomes,<br />
advogado, debateram a produção<br />
e circulação da criação artística,<br />
a profissionalização do sector<br />
artístico, as acessibilidades aos<br />
espaços de cultura, a formação de<br />
públicos, a cultura nas autarquias,<br />
entre outros assuntos.<br />
Teresa Nóbrega, jornalista<br />
moderadora do debate, foi quem<br />
abriu a sessão afirmando que “a<br />
cultura é um fator justificativo da<br />
existência da autonomia política”<br />
e que os Açores são exemplo<br />
“de construção de uma entidade<br />
através da cultura”.<br />
A moderadora citou um excerto<br />
da obra de João de Melo, o<br />
Segredo das Ilhas, em que o autor<br />
refere: “não sei se faz sentido<br />
falar dos Açores como de ilhas<br />
perfeitas, mas nelas mora um<br />
povo que descende de toda a<br />
memória portuguesa e cuja a<br />
experiência de insularidade lhe<br />
confere uma identidade anímica<br />
e culturalmente própria. A<br />
cultura, em particular a literatura<br />
teve um papel fundamental na<br />
consolidação do imaginário<br />
comum e que contamina desde<br />
o léxico à própria imagem que<br />
temos de nós”.<br />
A mesma citou, também,<br />
Joel Neto para relembrar que<br />
“cultura não são tradições,<br />
não são efemérides, cultura<br />
não é animação, pode às vezes<br />
até coincidir com elas, mas<br />
é outra coisa. Cultura é sim<br />
informação, educação, massa<br />
crítica. A verdadeira cultura é<br />
transformadora quando alarga<br />
horizontes”.<br />
Defendendo o investimento<br />
neste setor da sociedade, Teresa<br />
Nóbrega relembrou, ainda, a<br />
declaração de Davos no final<br />
do último Fórum Económico<br />
Mundial, onde expressou a<br />
preocupação que “cultura<br />
deve ser um investimento<br />
central em qualquer política de<br />
desenvolvimento”.<br />
Alexandre Pascoal, presidente do<br />
Conselho de Administração do<br />
Teatro Micaelense, começou por<br />
comparar a Região ao continente<br />
em termos de “desigualdades<br />
ou assimetrias dos centros,<br />
no nosso caso, desta cidade<br />
(Ponta Delgada) para as zonas<br />
mais rurais”, sublinhando que<br />
a descontinuidade do território<br />
insular coloca inúmeros desafios,<br />
como por exemplo, a criação<br />
de um museu em cada ilha,<br />
tendo como consequência a<br />
multiplicação que se exige no<br />
investimento público: “é preciso<br />
saber se faz sentido a criação de<br />
determinados equipamentos em<br />
determinados locais”, salientou.<br />
Apesar disso, o orador destacou<br />
os Açores como “uma região<br />
de grandes vultos associados<br />
à cultura”, constatando que “a<br />
produção e atividade cultural é<br />
intensa e toda ela assente numa<br />
raiz eminentemente popular”.<br />
Passando a falar em termos de<br />
investimento na área, Alexandre<br />
Pascoal disse que o mesmo<br />
“é menor em termos públicos,<br />
mas é também menor em<br />
termos privados”, e considerou<br />
“perigoso” os discursos que<br />
surgiram nestes anos de crise em<br />
torno da cultura que proferiram<br />
que esta “teria de ser rentável”,<br />
mas que “há áreas em torno<br />
da cultura que não podem ser<br />
mensuradas dessa forma, esse<br />
é um erro que é recorrente, há<br />
coisas que não são rentáveis,<br />
ponto! Não são rentáveis aqui,<br />
não são rentáveis em Nova<br />
Iorque, nem em lado nenhum”,<br />
salvaguardou.<br />
O presidente do Conselho<br />
de Administração do Tetro<br />
Micaelense mencionou que,<br />
em específico na sua área, o<br />
<strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19 11
WWW.<strong>NO</strong>REVISTA.PT | <strong>NO</strong><br />
público “é muito transversal” e<br />
que o grande desafio do Teatro<br />
Micaelense, como espaço formal,<br />
“é atrair novos públicos”, chegar<br />
aos mais novos, referindo-se<br />
à geração até aos 25 anos, não<br />
entregando a obra já “mastigada”,<br />
porque é possível chegar ao<br />
público mais novo se lhes for<br />
dado “aquilo que eles querem”,<br />
contudo Alexandre Pascoal<br />
alegou que esse trabalho não é<br />
seu, “é um trabalho formativo”<br />
que perde-se “quando olhamos a<br />
cultura como economia”.<br />
Alexandre Pascoal verificou<br />
que por vezes a assistência do<br />
Teatro pode variar de acordo<br />
com certos fenómenos sociais.<br />
Como exemplo, mencionou o<br />
quarteto de cordas de Borodin<br />
que, segundo o mesmo, é<br />
considerado o maior quarteto de<br />
cordas do mundo e foi o único a<br />
encher o Teatro Micaelense, no<br />
entanto “às tantas não foi tanto<br />
pelo conhecimento, mas pelo<br />
fenómeno de arrastamento social,<br />
ou seja, pelo ser visto e aparecer<br />
e ver quem foi, também existe<br />
isso”.<br />
Continuando com o seu exemplo<br />
profissional, Alexandre Pascoal<br />
caracterizou o universo que<br />
vivemos como “um bocado<br />
esquizofrénico”, dado que tem<br />
“um publico cuja exigência<br />
cultural é elevada e acha que<br />
o que nós oferecemos não lhe<br />
serve, um público mais elitista”,<br />
como também “tem o público<br />
que me diz que o que nós<br />
apresentamos é erudito, não é<br />
popular”, salientando que tenta “o<br />
equilíbrio desses ambos mundos”<br />
e que “hoje em dia o público sabe<br />
de antemão aquilo que quer ver”,<br />
concluiu.<br />
Nélia Alves-Guimarães lembrou<br />
que “em alturas de crise a<br />
cultura é quem mais sofre<br />
em termos financeiros e de<br />
investimento, infelizmente”.<br />
Como vereadora da CMVFC<br />
apercebe-se que por vezes<br />
existem outras prioridades como<br />
“pessoas a passarem necessidades<br />
em casa e com a saúde, nós temos<br />
que recorrer a essas pessoas, por<br />
isso nem sempre temos meios<br />
para fazer o que gostaríamos, mas<br />
vai se fazendo”.<br />
A autarca disse que “Vila<br />
Franca é um concelho onde a<br />
cultura popular está enraizada,<br />
é um dos concelhos onde mais<br />
se vive a cultura popular”,<br />
exemplificando com “o São<br />
João, os Santos Populares, o<br />
Espírito Santo”, e com “uma<br />
série de outras atividades que<br />
estão bem presentes no concelho”<br />
decorrentes destas festas.<br />
Para além de tais festividades,<br />
Nélia Alves-Guimarães<br />
mencionou, também, várias<br />
iniciativas da CMVFC como<br />
debates, palestras e saraus,<br />
salientando que, apesar do<br />
concelho ser pequeno e de não<br />
ter pessoas em particular a criar<br />
cultura, é “um concelho aberto e<br />
temos as nossas infraestruturas à<br />
disposição para trazer cultura”.<br />
A vereadora da CMVFC destacou<br />
que o facto de sermos “um povo<br />
que não lê muito” tem de ser<br />
mudado “através da educação das<br />
crianças”. A mesma deu outro<br />
exemplo do que se faz na sua<br />
autarquia para colmatar a falta<br />
de leitura: “este verão levamos<br />
a biblioteca à rua, contruímos as<br />
gaiolas de leitura, e, para grande<br />
espanto nosso, verificamos que<br />
as pessoas até leem mais do que<br />
parece, porque os livros eram<br />
sempre renovados. A ideia era<br />
trazerem um livro levarem outro e<br />
assim sucessivamente e, segundo<br />
os nossos funcionários da<br />
biblioteca, todos os dias haviam<br />
livros novos lá e outros que<br />
tinham saído. Às vezes é preciso<br />
estimular para que isso aconteça”,<br />
constatou.<br />
A oradora disse que o facto<br />
de o Açoriano não procurar<br />
cultura prende-se com a “nossa<br />
educação”, lembrando que os<br />
jovens açorianos que estão<br />
a estudar “cursos de arte no<br />
continente”, vão trazer retorno,<br />
aquando do seu regresso à ilha.<br />
Prosseguindo com o caso<br />
específico da CMVFC, da qual<br />
tutela a cultura, Nélia deu outro<br />
exemplo de estimular para que<br />
aconteça, nesse caso em relação<br />
à educação musical, onde a<br />
CMVFC pagou “a propina para<br />
os alunos frequentarem as aulas<br />
da associação Quadrivuim, e<br />
teve bastantes alunos e fizeram<br />
um bom trabalho”, mas, no ano<br />
posterior a Câmara teve “de olhar<br />
para o agregado familiar e para<br />
o seu orçamento” infringindo<br />
um valor simbólico à inscrição<br />
nas aulas e, a partir daí, não<br />
houve adesão. A vereadora<br />
lamentou por vezes não puder<br />
“dar continuidade (a esse tipo de<br />
iniciativas) porque o orçamento<br />
torna-se mais pesado”.<br />
Já Pedro Gomes iniciou com a<br />
frase: “fazer cultura nos Açores<br />
é defender a nossa identidade<br />
enquanto povo Açoriano.”<br />
O advogado disse que “ser<br />
açoriano hoje não é interpretado<br />
pela minha geração, ou pela<br />
geração dos mais novos ou mais<br />
velhos, do mesmo modo que era<br />
interpretado à 50 ou 100 anos<br />
atrás”, mas que, apesar disso,<br />
há sempre um traço em comum,<br />
citando o professor Machado<br />
Pires, “o traço mais marcante da<br />
nossa açorianiedade é sempre a<br />
geografia”. Contudo considerou<br />
que “até esta tem interpretações<br />
diferentes ao longo da história.<br />
Nós hoje não interpretamos as<br />
limitações que a geografia nos<br />
impõe do mesmo modo que as<br />
12 <strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19
WWW.<strong>NO</strong>REVISTA.PT | <strong>NO</strong><br />
interpretávamos há 50 ou 100<br />
anos atrás”.<br />
Segundo Pedro Gomes, o facto<br />
de a Região estar dividida<br />
em nove ilhas “também tem<br />
permitido preservar um conjunto<br />
de manifestações culturais,<br />
de atividades culturais que<br />
se tornam especificas dos<br />
Açores. A distância também<br />
tem permitido a preservação”,<br />
considerando que o afastamento<br />
também pode ser visto pelo lado<br />
positivo, pois “pode significar<br />
a nível nacional o valor “é de<br />
0,8%”, e a média da Europa dos<br />
28 países “é de 1% do PIB”.<br />
De acordo com o orador, a<br />
afirmação da açorieniedade passa,<br />
por um lado, “por fazermos<br />
com que as manifestações<br />
culturais, nas várias áreas em<br />
que se realizam, passem as<br />
fronteiras dos Açores, passem<br />
as fronteiras de cada ilha”, e<br />
por outro lado, fazer com que<br />
as mesmas “possam chegar ao<br />
público açoriano que não tem<br />
tenham qualidade para isso, e<br />
isso prossupõe duas coisas: uma<br />
vontade política, que até agora<br />
não existiu e afetação de recursos<br />
públicos em primeiro lugar, mas<br />
também privados”, averiguou.<br />
O interveniente afirmou que “não<br />
se pode fazer cultura nos Açores<br />
sem ter o apoio público”, acha<br />
isso “quase impensável”. Criticou<br />
apoio à publicação de livros<br />
porque “uma das exigências é que<br />
a edição tenha 750 exemplares”,<br />
o que considerou “uma edição<br />
uma possibilidade diferente de<br />
preservar o que noutras partes do<br />
território nacional já não existe”.<br />
No entanto, essa divisão do<br />
território faz com que tenhamos<br />
“diferentes graus de cultura”, por<br />
exemplo “as pessoas das Flores<br />
não acedem aos espetáculos<br />
do Teatro Micaelense com a<br />
frequência que as pessoas que<br />
estão em São Miguel acedem”.<br />
Mesmo dentro da ilha de São<br />
Miguel, por vezes, “o que se<br />
produz em Ponta Delgada não<br />
chega aos Ginetes, Bretanha ou<br />
Capelas”.<br />
Também preocupado com<br />
a parte financeira, o antigo<br />
deputado mostrou que nos Açores<br />
“investimos em cultura apenas<br />
0,3% do PIB”, enquanto que<br />
possibilidade de ir a Lisboa, de<br />
ir ao Porto, de ir a qualquer parte<br />
do território continental e assistir<br />
a um concerto, a um espetáculo,<br />
ver uma exposição, ir a um<br />
lançamento de um livro”.<br />
Falando de infraestruturas,<br />
em relação ao “Arquipélago”,<br />
centro de artes situado na<br />
Ribeira Grande, Pedro Gomes<br />
disse que “a beleza do edifício<br />
não tem correspondência com<br />
as atividades que nele são<br />
desenvolvidas”, lamentando<br />
porque “se gastaram largos<br />
recursos públicos na<br />
requalificação daquele espaço”,<br />
que deveria “mostrar artes<br />
modernas aos açorianos, aos<br />
turistas que nos procuram (…) e<br />
artes produzidas nos Açores que<br />
enorme para a nossa dimensão”,<br />
lamentado não haver “política<br />
de promoção da literatura<br />
açoriana fora dos Açores”, e,<br />
por essa razão, sugeriu o apoio<br />
aos escritores açorianos para<br />
publicarem em território nacional.<br />
“Investe-se pouco em cultura,<br />
poderíamos investir mais. Do<br />
bolo da despesa publica para<br />
a cultura cinco sextos são para<br />
equipamentos, património,<br />
manutenção de património,<br />
requalificação do património<br />
edificado, fica muito pouco para<br />
as outras atividades”, acrescentou.<br />
Como conclusão para o debate,<br />
a moderadora Teresa Nóbrega,<br />
deixou a questão pertinente para<br />
o fim, como balanço do que foi<br />
<strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19<br />
13
WWW.<strong>NO</strong>REVISTA.PT | <strong>NO</strong><br />
discutido: “Qual é o futuro da<br />
cultura nos Açores?”<br />
Alexandre Pascoal foi o primeiro<br />
a responder à pergunta. O mesmo<br />
marcou o “Arquipélago” como “o<br />
fim de um período, o investimento<br />
em infraestruturas”, salientando<br />
que “o tempo é de, hoje em dia,<br />
olharmos para os conteúdos,<br />
para a dinamização e criação<br />
artística”. Deu destaque, ainda,<br />
a “uma coisa que se alterou”<br />
referindo-se a “pessoas que<br />
saíram, formaram-se e trazem<br />
conhecimento”, exemplificando<br />
com o caso das filarmónicas que<br />
“têm uma escola de música” e<br />
alteraram os seus reportórios no<br />
sentido da evolução, “fruto de<br />
quem as dirige, porque tem mais<br />
formação”.<br />
Nélia Alves-Guimarães respondeu<br />
de acordo com a sua experiência<br />
em termos de Câmara Municipal,<br />
referindo que apesar de ser uma<br />
análise “numa escala menor, é<br />
o que se adivinha em termos<br />
regionais”. A oradora vê o futuro<br />
da cultura nos Açores “com bons<br />
olhos”, sublinhando que “estamos<br />
num bom caminho, tem-se criado<br />
as bases e as infraestruturas”,<br />
tendo, este caminho, que ser<br />
trabalhado em “sinergias”,<br />
destacando o trabalho de parceiros<br />
que tem convidado para os<br />
eventos da CMVFC de modo a<br />
“colmatar a nossa deficiência”.<br />
Para a vereadora a cultura é<br />
“dinâmica” e tem de ir evoluindo<br />
“conforme as sociedades”,<br />
apelando pela atenção para aquilo<br />
que “o nosso público quer” e,<br />
assim, “chegar a eles”.<br />
Por último, Pedro Gomes<br />
repontou com duas perguntas: “o<br />
povo Açoriano tem futuro? Qual<br />
o futuro do povo Açoriano?”,<br />
às quais o próprio respondeu<br />
“claro que tem futuro! Enquanto<br />
existirmos como povo Açoriano é<br />
claro que a cultura tem futuro!”,<br />
explicando que a cultura pode<br />
vir a sofrer com “as troikas do<br />
futuro”, mas que, no entanto,<br />
“vamos descobrir outros públicos<br />
para outras criações culturais,<br />
vamos encontrar novidades<br />
impensáveis nos dias de hoje”,<br />
considerando que “o conceito de<br />
cultura será diferente daqui a 50<br />
anos”.<br />
“Claro que haverá cultura,<br />
porque no dia em que não<br />
houver cultura, nós deixamos<br />
de existir enquanto povo<br />
Açoriano!”, finalizou.<br />
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REPORTAGEM<br />
cláudia carvalho<br />
O abandono da ligação da<br />
Delta Air Lines nos Açores<br />
"Take Off com muita turbulência"<br />
A Delta Air Lines anunciou, no<br />
dia 22 de outubro, o término da<br />
ligação da companhia aérea aos<br />
Açores, fazendo assim com que<br />
se perdesse a ligação direta entre<br />
o aeroporto de Ponta Delgada e<br />
o aeroporto John F. Kennedy, em<br />
Nova Iorque.<br />
A companhia americana tinha<br />
exclusividade neste voo, já que<br />
era a única a realizar a ligação<br />
direta entre Ponta Delgada e Nova<br />
Iorque. Em causa não está apenas<br />
a ilha de São Miguel, está o futuro<br />
do turismo nos Açores. No ano de<br />
2015, de acordo com o Serviço<br />
Regional de Estatística dos Açores<br />
(SREA), o Valor Acrescentado<br />
Bruto gerado pelo Turismo<br />
(VABGT) representava 6,7%<br />
do VAB da economia regional,<br />
estimado em 225,3 milhões de<br />
euros. Acrescenta-se ainda que as<br />
atividades que mais contribuíram<br />
para o VABGT foram “os hotéis<br />
e estabelecimentos similares<br />
(34,7%), seguida dos restaurantes<br />
e similares (21,8%) e dos<br />
transportes aéreos (15,9%)”.<br />
Será que o abandono desta ligação<br />
trará consequências vindouras ao<br />
nível do turismo e da economia<br />
açorianas? Como será o futuro<br />
do turismo nos Açores com uma<br />
perda de 100 mil camas no verão<br />
IATA? Que repercussões terá<br />
esta decisão para os empresários<br />
locais? E para os açorianos? Para<br />
a realização desta reportagem, a<br />
<strong>NO</strong> <strong>Revista</strong>, a fim de perceber<br />
melhor as consequências e<br />
soluções que poderão ser<br />
tomadas, decidiu entrevistar três<br />
entidades – o Governo Regional<br />
(através da Secretaria Regional<br />
da Energia, Ambiente e Turismo),<br />
a Associação de Turismo dos<br />
Açores (ATA) e a companhia<br />
aérea Delta Air Lines.<br />
O destino Açores tem sido cada<br />
vez mais visitado, tendo dados<br />
que se tornam evidentes face<br />
ao número de hóspedes e de<br />
dormidas na Região Autónoma<br />
dos Açores. Segundo o Serviço<br />
Regional de Estatística dos Açores<br />
(SREA), o número de hóspedes na<br />
RAA, em 2016, foi de 625 941.<br />
Já em 2017, o número aumentou<br />
para 767 977 e, no ano posterior,<br />
para 840 523 pessoas. A ilha de<br />
São Miguel aumentou o número<br />
de hóspedes ao longo dos 3 anos,<br />
sendo a ilha onde se registou<br />
um maior aumento a esse nível.<br />
No ano de 2016, registou 371<br />
134 visitas, no ano seguinte 479<br />
026 e, no ano de 2018, 517 721<br />
hóspedes.<br />
Relativamente às dormidas, o<br />
número também tem vindo a<br />
crescer ao longo dos anos. Em<br />
2016, os Açores registaram 1 976<br />
341 dormidas, no ano posterior 2<br />
384 678. O ano de 2018 foi o que<br />
registou o valor mais alto até ao<br />
momento, com um total de 2 563<br />
640 dormidas. A ilha que registou<br />
maior número de dormidas nos 3<br />
anos foi São Miguel. No ano de<br />
2016, tinha registado 1 291 404<br />
dormidas, 1 605 970 em 2017 e 1<br />
697 051 em 2018.<br />
No que respeita aos custos e<br />
proveitos dos estabelecimentos<br />
hoteleiros, no ano de 2016 o<br />
número de proveitos total (inclui<br />
proveitos restauração, aposento,<br />
custos pessoal total, diretos,<br />
indiretos e outros) foi de 70 676<br />
675, aumentando para 87 622<br />
095 no ano de 2017. No ano de<br />
2018, o número de proveitos total<br />
foi de 94 512 917. Desde que se<br />
deu a abertura do espaço aéreo,<br />
o aumento dos proveitos foi uma<br />
realidade cada vez mais presente,<br />
que se manteve ao longo dos 3<br />
anos.<br />
Ora, uma ligação que assegurou<br />
cinco voos semanais num Boeing<br />
757-200ER, perde-se agora como<br />
uma mais-valia para os Açores<br />
e para os açorianos. Qual será o<br />
futuro do destino Açores? Que<br />
repercussões terá esta medida para<br />
os empresários locais, hotéis e<br />
alojamentos locais?<br />
A SREA realizou, no ano<br />
de 2018, um Inquérito dos<br />
Residentes sobre o Turismo nos<br />
Açores (IRT), continuação do<br />
desenvolvimento de um projeto<br />
cuja primeira edição decorreu em<br />
16 <strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19
REPORTAGEM<br />
2005. Segundo o estudo, 97% dos<br />
entrevistados concorda que “o<br />
turismo é bom para os Açores”, e<br />
72,5% quer, no futuro, “mais” ou<br />
mesmo “muito mais” turismo nos<br />
Açores. Sobre o mesmo estudo,<br />
quando questionados se o turismo<br />
beneficia as empresas locais,<br />
72,4% respondeu “Concordo”,<br />
representando assim uma larga<br />
maioria em relação às outras<br />
opções de resposta. Acrescentese,<br />
ainda, que 18% selecionou<br />
a opção “concordo totalmente”<br />
sobre a mesma questão.<br />
Perante estas estatísticas,<br />
parece ser claro que o turismo<br />
desempenha um papel<br />
preponderante, especialmente<br />
numa região que se quer oferecer<br />
cada vez mais como um destino<br />
obrigatório a visitar, como uma<br />
referência na oferta turística. No<br />
entanto, que razões levaram a<br />
Delta Air Lines a abandonar esta<br />
rota? Quais foram os motivos<br />
que originaram esta decisão? A<br />
empresa, em <strong>2019</strong>, assegurava a<br />
ligação para o verão IATA desse<br />
ano, dizendo que “a Delta é a<br />
única companhia aérea a voar<br />
voos diretos entre os Açores<br />
e os Estados Unidos, e<br />
vai oferecer mais de 2700<br />
lugares por semana para<br />
o arquipélago, um destino<br />
cada vez mais popular<br />
para os turistas dos EUA”,<br />
assegurava.<br />
Nesta mesma altura, a<br />
companhia aérea destacava<br />
o impulso turístico que foi<br />
conseguido graças à ligação<br />
com os Estados Unidos.<br />
“No ano passado, registouse<br />
em Portugal um aumento<br />
em 20% no número de<br />
visitantes provenientes da<br />
América do Norte. A Delta<br />
vai oferecer quase 8000 lugares<br />
por semana entre Portugal, os<br />
Açores e os Estados unidos,<br />
ajudando assim a dinamizar a<br />
indústria de turismo da região e a<br />
economia local”.<br />
Perante os números, é importante<br />
(tentar) perceber que motivos<br />
levaram à descontinuação da<br />
rota. Terá sido motivado por<br />
um possível ROI (Return On<br />
Investment) insustentável? Terá<br />
sido a avaria da aeronave da<br />
Delta Air Lines no dia 18 de<br />
agosto? Ou terá sido uma falha<br />
na promoção do destino Açores<br />
por parte do Governo Regional?<br />
Ou será ainda a recente polémica<br />
da Associação de Turismo dos<br />
Açores (ATA) com a mudança<br />
de presidente? Todas estas<br />
questões parecem pertinentes<br />
para se perceber melhor as<br />
motivações de uma companhia<br />
aérea que, no primeiro ano em<br />
que efetuou a ligação PDL-JFK,<br />
assegurou, para o ano posterior,<br />
a continuidade na ligação. Que<br />
razões podem ter originado o<br />
abandono aos Açores?<br />
Marta Guerreiro, Secretária<br />
Regional da Energia, Ambiente e<br />
Turismo, fez declarações públicas<br />
acerca deste anúncio da Delta<br />
Air Lines, embora acrescente,<br />
de antemão, que a empresa tinha<br />
taxas de ocupação “acima dos<br />
80%”. No entanto, apesar dos<br />
valores das taxas de ocupação,<br />
a companhia norte-americana<br />
alegou que a rentabilidade da<br />
operação nos Açores “se encontra<br />
abaixo da rentabilidade das<br />
operações que tem e que exige<br />
das mesmas”. Marta Guerreiro<br />
destaca, ainda, que a Delta Air<br />
Lines se caracteriza “por uma<br />
lógica empresarial muito própria,<br />
muito diferente daquela a que nós<br />
estamos habituados”, podendo ter<br />
sido este, efetivamente, o motivo<br />
da descontinuação da ligação<br />
aérea aos Açores.<br />
A Secretária Regional da<br />
Energia, Ambiente e Turismo<br />
aproveitou para sublinhar que,<br />
por parte do Governo Regional,<br />
a promoção do destino Açores<br />
no mercado norte-americano foi<br />
feita. “É importante ressalvar que<br />
não se tratou de um problema<br />
de falta de investimento em<br />
termos de promoção e de<br />
notoriedade no mercado”,<br />
acrescentando ainda que a<br />
“ATA tem estado presente<br />
nos EUA”, garantindo<br />
assim um aumento de<br />
interesse e de notoriedade<br />
pelo destino. A Secretária<br />
Regional da Energia,<br />
Ambiente e Turismo reage<br />
a esta descontinuação com<br />
a sensação de um sentido<br />
de responsabilidade,<br />
revelando que este é “um<br />
desafio acrescido”. Ainda<br />
assim, confessa que esta<br />
deve ser uma decisão que<br />
deve ser compreendida no<br />
<strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19<br />
17
WWW.<strong>NO</strong>REVISTA.PT | <strong>NO</strong><br />
seu contexto global, respeitando<br />
e compreendendo as políticas da<br />
empresa norte-americana.<br />
Após o anúncio da Delta Air<br />
Lines da descontinuação da<br />
ligação aérea nos Açores, a <strong>NO</strong><br />
<strong>Revista</strong> procurou saber quais<br />
foram os motivos que levaram a<br />
esta tomada de decisão, e se ela<br />
estava relacionada com a avaria<br />
da aeronave no dia 18 agosto,<br />
face aos custos que esta operação<br />
implicou. A companhia aérea, na<br />
representação de Pedro Salazar,<br />
respondeu: “A Delta Air Lines<br />
confirma que vai descontinuar<br />
o serviço de verão entre Ponta<br />
Delgada, Açores, e Nova Iorque.<br />
Os clientes vão poder continuar<br />
a poder voar entre Portugal e os<br />
Estados Unidos através do nosso<br />
serviço ao longo de todo o ano de<br />
Lisboa para Nova Iorque-JFK, ou<br />
do serviço de verão entre Lisboa<br />
e Boston. A Delta pede desculpas<br />
por qualquer inconveniente que<br />
isso possa causar aos nossos<br />
clientes. Para mais informações<br />
sobre a Delta, visite www.delta.<br />
com”.<br />
Sobre a segunda questão, a<br />
companhia aérea argumentou<br />
que “o cancelamento do nosso<br />
serviço Açores-Nova Iorque-JFK<br />
não está de forma alguma ligado<br />
à aeronave danificada à chegada a<br />
Ponta Delgada em agosto passado.<br />
A Delta avalia constantemente<br />
a sua rede em todo o mundo”,<br />
reiterando, assim, as palavras<br />
proferidas pela Secretária<br />
Regional da Energia, Ambiente e<br />
Turismo, quando afirmava que a<br />
decisão foi tomada face à análise e<br />
logística internas da empresa.<br />
Através de um pedido de<br />
esclarecimento ao Governo<br />
Regional através da Senhora<br />
Secretária da Energia, Ambiente<br />
e Turismo, a mesma fez<br />
chegar informação referente<br />
aos acontecimentos passados,<br />
reiterando, desta forma, alguns<br />
pontos de vista que tinha dado a<br />
conhecer no passado dia 23 de<br />
outubro, mas também dando a<br />
conhecer os projetos do Governo<br />
Regional em relação ao futuro do<br />
destino do turismo nos Açores.<br />
Em nota, Marta Guerreiro diz que<br />
uma das razões que levaram à<br />
descontinuação da rota da Delta<br />
Air Lines foi a de “descontinuar<br />
algumas rotas de perfil mais<br />
turístico, como inevitavelmente<br />
a dos Açores, em substituição de<br />
rotas para grandes polos urbanos,<br />
com um perfil de cliente com<br />
maior incidência em viagens<br />
de negócios, alegadamente<br />
disponíveis para tarifas e margens<br />
mais elevadas”.<br />
Marta Guerreiro acrescentou<br />
que, apesar da operação da<br />
Delta no verão IATA, os Açores<br />
têm registado um “crescimento<br />
verdadeiramente impressionante<br />
de 57% das dormidas do mercado<br />
dos EUA nos meses de janeiro<br />
a abril de <strong>2019</strong>, na ilha de São<br />
Miguel, período em que, como<br />
se sabe, a Delta não tinha ainda<br />
iniciado a sua operação”. A<br />
sazonalidade parece, assim, um<br />
problema que, progressivamente,<br />
parece estar a conseguir ser<br />
limado e colmatado.<br />
Para além disso, a Secretária<br />
Regional da Energia, Ambiente e<br />
Turismo assegura estar a trabalhar<br />
com outras oportunidades para o<br />
mercado açoriano, “com outras<br />
companhias e operadores dos<br />
18 <strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19
WWW.<strong>NO</strong>REVISTA.PT | <strong>NO</strong><br />
EUA que se encontram a olhar<br />
seriamente para os Açores e<br />
que, agora, veem um espaço<br />
disponível, fruto também do<br />
aturado e permanente trabalho<br />
de contactos com operadores<br />
interessados no nosso destino”.<br />
Para além disso, ressalva a<br />
importância do peso do turismo<br />
nos Açores, dizendo que “se<br />
há setor onde é fundamental<br />
estarmos todos alinhados e<br />
todos colaborarmos na procura<br />
de soluções, sem baixarmos os<br />
“braços”, esse sector é o turismo”.<br />
No entanto, a titular da pasta<br />
do turismo fez conhecer que<br />
lamenta “as atitudes de algumas<br />
pessoas com responsabilidade<br />
que se limitam a fazer projeções<br />
e conjeturas empoladas sem<br />
a necessária atitude proactiva<br />
e positiva da qual a Região<br />
precisa de todas as partes”.<br />
No que respeita à colaboração<br />
da ATA na elaboração deste<br />
artigo, e após várias tentativas, a<br />
mesma decidiu não responder às<br />
questões colocadas. Assim sendo,<br />
a <strong>NO</strong> <strong>Revista</strong> não poderá tirar<br />
quaisquer conclusões face às suas<br />
afirmações.<br />
Num panorama de incertezas<br />
para os empresários locais, o<br />
Governo Regional deve, mais<br />
do que nunca, assumir a palavra<br />
que promete. Segundo palavras<br />
de Marta Guerreiro, já existem<br />
diferentes companhias aéreas<br />
a olhar para o espaço açoriano<br />
como uma oportunidade de<br />
negócio, vendo os Açores como<br />
uma mais valia no seu plano de<br />
voos. Também a Associação de<br />
Turismo deverá desenvolver<br />
uma postura proativa, no sentido<br />
de continuar a desenvolver<br />
o trabalho de promoção e de<br />
conhecimento do destino Açores,<br />
através de um plano de Marketing<br />
que possa criar segurança à<br />
companhia aérea que decida<br />
investir no mercado nos Açores.<br />
A posteriori, sem segurança,<br />
cai-se na incerteza e colocase<br />
em risco a sustentabilidade<br />
económica de muitas empresas<br />
de animação turística, hotelaria<br />
tradicional, restauração… A<br />
incerteza leva ao descalabro. No<br />
entanto, atentando nas palavras<br />
do Governo Regional, os Açores<br />
são cada vez mais um destino<br />
procurado, que cresce a um<br />
ritmo quase imprevisível. Mais<br />
do que nunca, é preciso garantir<br />
estabilidade dos Açores e aos<br />
açorianos, mas também aos que<br />
investem e visitam.<br />
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ENTREVISTA<br />
ENTREVISTA A<br />
lara martinho<br />
Deputada do PS/Açores na Assembleia da República<br />
João Rocha<br />
20 <strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19
ENTREVISTA<br />
Os resultados obtidos pelo PS<br />
nos Açores, nas últimas Legislativas<br />
Nacionais, corresponderam às suas<br />
expetativas e do próprio Partido?<br />
Ao analisarmos os resultados, o que<br />
constatamos é que no passado dia 6 de<br />
outubro, o PS teve uma vitória clara,<br />
forte e inequívoca nos Açores, vencendo<br />
com 40,06% dos votos e elegendo três<br />
deputados à Assembleia da República.<br />
É também importante recordar que o PS<br />
nestas eleições cresceu no número de<br />
ilhas em que venceu, cresceu no número<br />
de concelhos em que venceu, cresceu no<br />
número de freguesias em que venceu, e<br />
portanto, considero que foi uma grande<br />
vitória do Partido Socialista na nossa<br />
Região.<br />
Os números da abstenção no<br />
arquipélago foram “pornográficos”.<br />
Consegue apontar causas e<br />
responsáveis?<br />
A questão da abstenção é uma questão<br />
complexa, que exige uma análise<br />
cuidada. Julgo que primeiro de tudo<br />
importa perceber até que ponto os<br />
cadernos eleitorais estão completamente<br />
atualizados, por exemplo, quantos<br />
eleitores efetivamente residem<br />
no estrangeiro e não na Região,<br />
provavelmente após este apuramento<br />
verificaríamos que a abstenção tem uma<br />
expressão muito diferente.<br />
Há um estudo recente que aponta<br />
como as 3 principais causas para a<br />
abstenção: o Governo, os deputados<br />
e os partidos, não invalidando que há<br />
de facto um trabalho muito importante<br />
de maior envolvimento e aproximação<br />
aos cidadãos que compete aos órgãos<br />
de poder desenvolver, questiono-me<br />
se não raras vezes tentamos encontrar<br />
desculpas nos outros, para uma decisão<br />
que é quase exclusivamente nossa. A<br />
realidade é que estando descontente<br />
com a ação governativa, com os<br />
deputados ou com os partidos podemos<br />
manifestar esse desagrado votando em<br />
branco. Infelizmente, julgo que com a<br />
velocidade 4G, a caminho do 5G em<br />
que vivemos, esquecemos demasiado<br />
depressa o quanto os nossos pais e avós<br />
tiveram de lutar para que, hoje, cada um<br />
de nós, cidadãos portugueses com mais<br />
de 18 anos possamos votar livremente.<br />
Mas julgo que mais do que causas e<br />
responsáveis é importante encontrarmos,<br />
acima de tudo, soluções para combater<br />
este flagelo. O Presidente Vasco<br />
Cordeiro, no dia da Região, lançou<br />
o ímpeto da criação de um “contrato<br />
de cidadania” e na noite das eleições<br />
anunciou que o PS está a trabalhar em<br />
formas alternativas de poder cativar<br />
e suscitar a participação de outros,<br />
para tornar ainda mais forte a nossa<br />
democracia, é este trabalho que temos<br />
de continuar a desenvolver.<br />
O que pensa que pode mudar ao<br />
trabalhar em conjunto com a entrada<br />
de Isabel Almeida Rodrigues em vez<br />
de com Carlos César?<br />
Tenho a certeza que há algo que não<br />
irá mudar, e que é fundamental, a<br />
defesa intransigente dos Açores. Este<br />
é um aspeto muito importante. É certo<br />
que na última legislatura o nosso<br />
líder parlamentar era o Presidente<br />
Carlos César que por natureza estava<br />
completamente sensibilizado para as<br />
questões regionais, mas também é certo<br />
que hoje os deputados socialistas estão<br />
muito mais despertos para as nossas<br />
necessidades e preocupações. Acredito<br />
que a Isabel Almeida, à semelhança do<br />
Presidente Carlos César, com o meu<br />
apoio e o do João Castro, irá continuar<br />
a lutar de forma convicta e persistente<br />
pelos Açores e colocar sempre em<br />
primeiro lugar os Açorianos.<br />
Quais são os pontos-chave a defender<br />
pelo PS/Açores na Assembleia da<br />
República?<br />
O nosso dia-a-dia é sempre preenchido<br />
com um conjunto de questões de<br />
defesa dos Açores e que abrangem<br />
áreas muito diversas. Mas destaco<br />
5 pontos que considero chaves na<br />
nossa ação durante esta legislatura: 1)<br />
garantir a descontaminação integral<br />
das zonas afetadas pela presença<br />
militar norte-americana na ilha Terceira<br />
e o desenvolvimento de projetos<br />
de recuperação e dinamização das<br />
infraestruturas da Base das Lajes; 2)<br />
o Mar, nomeadamente fortalecer os<br />
poderes de intervenção da Região na<br />
gestão e exploração do Mar dos Açores<br />
e julgo estarem reunidas as condições<br />
para concluirmos este processo, dado<br />
que o novo Ministro do Mar conhece<br />
muito bem este dossier; 3) defender<br />
os interesses dos Açores no âmbito da<br />
Agenda 2030, do Plano Nacional de<br />
Investimentos, bem como do reforço<br />
da política de coesão e no âmbito da<br />
política agrícola comum, o reforço do<br />
POSEI; 4) Melhorar as condições de<br />
acessibilidade de pessoas e cargas, de<br />
e para a Região, bem como assegurar<br />
o investimento necessário na rede de<br />
cabos submarinos, que ligam Açores,<br />
Madeira e continente, garantindo assim<br />
boas infraestruturas de comunicação;<br />
e em 5) a criação do Conselho de<br />
Concertação com as Autonomias<br />
Regionais, composto por membros dos<br />
Governos da República e Regionais,<br />
com o objetivo de valorizar o papel<br />
das Regiões Autónomas no exercício<br />
das funções do Estado. Mas, volto a<br />
frisar a nossa ação no nosso dia-a-dia<br />
vai muito para além destes pontos, é<br />
uma ação permanente, através da qual<br />
conseguimos ultrapassar pendências,<br />
resolver conflitos de interesses de<br />
modo favorável e sensibilizar para a<br />
consideração de problemas regionais.<br />
Entende que o parlamento nacional<br />
tem sido sensível às dificuldades<br />
específicas do arquipélago?<br />
Ao longo da última legislatura tivemos<br />
vários exemplos que demonstram uma<br />
maior sensibilidade e que se traduziu na<br />
aprovação de um conjunto de medidas<br />
específicas para os Açores, recordo 3<br />
exemplos: a aprovação logo no início<br />
da legislatura do Programa Especial de<br />
Apoio à ilha Terceira, uma medida que<br />
permitiu uma majoração de um conjunto<br />
de apoios concedidos aos cidadãos<br />
residentes na ilha Terceira; a exclusão<br />
dos subsídios ao investimento como<br />
rendimento relevante e apuramento<br />
da base de incidência contributiva<br />
dos trabalhadores independentes<br />
(produtores agrícolas), uma situação<br />
que penalizava em muito os nossos<br />
agricultores; aprovação de um apoio às<br />
grávidas dos Açores que necessitem de<br />
se deslocar a outra ilha ou ao continente,<br />
de modo a que não sejam penalizadas<br />
na sua licença de maternidade, e a<br />
salvaguarda dos direitos laborais do<br />
acompanhante que passa a ver as suas<br />
faltas justificadas.<br />
Acredita que os deputados do PS e<br />
do PSD, eleitos pelos Açores, saberão<br />
criar consensos quando em causa<br />
estejam os superiores interesses<br />
regionais?<br />
Temos provas dadas neste âmbito, aliás<br />
uma das últimas medidas aprovadas na<br />
Assembleia da República e em tempo<br />
recorde, foi a proposta do Governo<br />
Açoriano para a regularização dos<br />
“chãos de melhoras”, iniciativa esta<br />
aprovada por unanimidade.<br />
<strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19<br />
21
OPINIÃO<br />
DIOGO COSTA<br />
ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS<br />
"Pegada Ecológica: o que a move?"<br />
Vivemos numa era em que<br />
cada vez mais as alterações<br />
climáticas estão na ordem<br />
do dia a nível global.<br />
Manifestações ambientalistas,<br />
marchas, crianças que dão a<br />
cara pela causa ou até líderes<br />
mundiais que consideram<br />
o fenómeno uma “treta”. É<br />
inegável que as alterações<br />
climáticas são cada vez mais<br />
uma “trend”, mas o que<br />
realmente move as pessoas<br />
quando se fala neste assunto?<br />
Para além dos movimentos<br />
cívicos que ganham cada vez<br />
mais força por todo o mundo,<br />
começamos a verificar cada<br />
vez mais instituições de poder<br />
político a incrementar medidas<br />
para a redução deste fenómeno,<br />
bem como a fomentar cada vez<br />
mais uma “responsabilidade<br />
ecológica” nas suas sociedades,<br />
e a verdade é que, consciente<br />
ou inconscientemente, nota-se<br />
um aumento nos “seguidores<br />
desta trend”.<br />
Para contextualizar, segundo<br />
a Sociedade Ponto Verde,<br />
a reciclagem em Portugal<br />
aumentou 11% no primeiro<br />
semestre deste ano, em<br />
comparação com o período<br />
homólogo do último ano.<br />
Estamos a falar em cerca de<br />
175 mil toneladas de resíduos,<br />
algo que equivale ao peso de<br />
22 <strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19
OPINIÃO<br />
450 aviões comerciais segundo<br />
o Observador.<br />
Relativamente aos Açores, e<br />
segundo o relatório de gestão de<br />
resíduos urbanos, apresentado<br />
pela secretária Regional da<br />
Energia, Ambiente e Turismo,<br />
e pelo diretor Regional do<br />
Ambiente, podemos dizer que<br />
somos a região do país que<br />
melhor geriu os seus resíduos<br />
no último ano. Apesar do<br />
aumento de resíduos urbanos<br />
em 3,4%, a região apresenta<br />
uma taxa de valorização de<br />
resíduos de 54,6%, destacandose<br />
o aumento de 16,1% da<br />
valorização material face a<br />
2017 e a taxa de preparação<br />
para a reutilização e reciclagem<br />
de 37,6%, sendo que a meta<br />
estabelecida para 2020 é de<br />
50%. Para além do mais, o facto<br />
de ilhas como o Corvo, Flores,<br />
Faial e Santa Maria não terem<br />
aterro, contribuem e muito para<br />
que a nossa região reduza o<br />
seu impacto nefasto em termos<br />
ambientais, já para não falar da,<br />
cada vez maior, utilização de<br />
energias renováveis por todo o<br />
arquipélago.<br />
Voltando à premissa deste<br />
artigo, o mesmo surge no<br />
seguimento de um texto<br />
fornecido por um colega,<br />
texto este que foi escrito<br />
por uma açoriana, mais<br />
precisamente da ilha Terceira.<br />
Tânia Ferreira, Doutorada<br />
em Gestão Interdisciplinar<br />
da Paisagem, que já tinha<br />
defendido a sua tese de<br />
mestrado na Universidade<br />
dos Açores com o tema<br />
“Ambiente e Recursos: usos e<br />
desperdícios de água e energia<br />
em agregados domésticos<br />
da ilha Terceira”, escreveu<br />
um texto intitulado “Age,<br />
Educa…Protagoniza: O Papel<br />
do Indivíduo nas Alterações<br />
Climáticas”. O referido artigo<br />
fez-me, realmente, refletir sobre<br />
quais as reais motivações da<br />
Humanidade no que toca a<br />
“salvar o planeta azul”.<br />
É um dado mais que adquirido<br />
que as alterações climáticas<br />
são uma realidade e que<br />
estão muito mais para além<br />
da ação individual de um<br />
ser... ou será que não? Será<br />
este o pensamento correto?<br />
Abordando precisamente esta<br />
temática, a passagem deste<br />
texto que mais me fez pensar<br />
foi a seguinte:<br />
as alterações climáticas<br />
<strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19<br />
23
WWW.<strong>NO</strong>REVISTA.PT | <strong>NO</strong><br />
estão incluídas naquilo a que<br />
Crompton, 2010, define como<br />
problemas maiores do que<br />
o indivíduo. Trata-se de um<br />
problema ou risco grande e<br />
difuso, e que mesmo que o<br />
indivíduo possa vir a beneficiar<br />
de resultados positivos ao agir<br />
na mitigação desse problema, é<br />
pouco provável que ele assuma<br />
o seu esforço de mudança<br />
efetiva como sendo um uso<br />
eficiente do seu tempo e<br />
recursos.<br />
Quantos de nós não nos<br />
revemos neste pensamento?<br />
“Que diferença faz eu reciclar,<br />
se o vizinho não recicla?”.<br />
Fazemos algo, neste caso<br />
reciclar, por nós, por querermos<br />
manter o nosso planeta tal como<br />
ele é, ou pelos outros? Fazemos<br />
por medo de algo?<br />
Em conversa com a Doutora<br />
Tânia, ao tentar elucidar-me<br />
melhor relativamente ao seu<br />
artigo, a mesma frisou que<br />
a premissa do texto seria<br />
“vender o céu e não o inferno”,<br />
“promover o sonho”, abordar<br />
a situação com o copo meio<br />
cheio, ou seja, mover-nos<br />
por algo positivo, de modo a<br />
fazer algo ainda mais positivo.<br />
Os últimos parágrafos do<br />
texto abordam a temática da<br />
“comunicação do risco” em que<br />
a autora refere:<br />
A comunicação de risco surge,<br />
assim, como um processo que<br />
inclui estratégias para que a<br />
exposição das informações<br />
sobre o risco seja feita de forma<br />
clara e explicativa, de modo a<br />
que o grupo alvo compreenda<br />
os dados e as suas implicações<br />
de forma a participar ativamente<br />
na tomada de decisões e ações<br />
para a atenuação das situações<br />
de risco (DiGiulio, 2006).<br />
Por outras palavras, nós<br />
sabemos que o risco existe,<br />
temos a plena noção de que as<br />
alterações climáticas podem<br />
alterar por completo o planeta<br />
Terra tal como o conhecemos,<br />
e consequentemente sabemos<br />
que temos que agir perante esta<br />
situação, agora cabe a cada um<br />
de nós abordar isto de forma<br />
positiva ou negativa. Quero<br />
salvar o meu arquipélago por<br />
ser uma obra-prima da natureza<br />
ou por ter medo que a minha<br />
ilha fique submersa? Quero<br />
salvar o planeta por esta ser a<br />
nossa casa, ou por temer um<br />
cenário dantesco?<br />
Em suma, e a meu ver, a<br />
24 <strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19
WWW.<strong>NO</strong>REVISTA.PT | <strong>NO</strong><br />
frase que melhor resume esta<br />
temática é mesmo a de que<br />
“as alterações climáticas são<br />
um problema maior que o<br />
indivíduo”, agora cabe às forças<br />
políticas, e mesmo a cada um<br />
de nós enquanto cidadãos,<br />
adotar uma atitude responsável<br />
perante a “nossa casa”, e<br />
perceber realmente aquilo que<br />
nos move, tanto nesta causa,<br />
como em tudo na nossa vida.<br />
Na minha modesta opinião,<br />
se usarmos algo de positivo<br />
como “combustível”, aquilo<br />
com que nos espera na “meta”<br />
será igualmente, ou ainda mais<br />
positivo.<br />
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SAÚDE<br />
DR. SÉRGIO CUNHA<br />
PSICÓLOGO CLÍNICO<br />
FLECK<br />
Muito se tem falado sobre mais um<br />
filme associado ao imaginário de Batman<br />
e do seu vilão – Joker.<br />
O filme desperta o alarme ou a adesão<br />
panfletária daqueles que encontram no<br />
ódio a resposta para problemas sociais.<br />
Mas não é dessa Utopia (nem a miséria<br />
que ela tem criado ao longo da história<br />
moderna) que falamos hoje.<br />
Este filme apresenta-nos a miséria de um<br />
drama íntimo, e é nesse microcosmos que<br />
situamos o foco desta crónica.<br />
Arthur Fleck sente estranheza<br />
relativamente à sociedade que o rodeia.<br />
Manifesta essa estranheza à técnica de<br />
apoio social que o acompanha, no âmbito<br />
de um “distúrbio neurológico” que lhe<br />
está diagnosticado. Ela revê as suas<br />
notas no diário, tentando persuadi-lo a<br />
manifestar pensamentos “positivos”, e<br />
não tanto o fluxo emocional de colorido<br />
mórbido que povoa o seu exercício de<br />
preparação de conteúdos humorísticos.<br />
Arthur Fleck faz do humor o seu ganhapão,<br />
mas essa opção decorre directamente<br />
da forma como sempre foi visto pela sua<br />
frágil mãe: para ela, “Arthur veio [ao<br />
mundo] para trazer alegria”.<br />
O riso inquietante e compulsivo de<br />
Arthur Fleck é assumido por si como<br />
um arbitrário e imprevisível fenómeno<br />
neurológico, cuja base orgânica é<br />
apresentada como uma desculpa, uma<br />
forma de ser aceite, mas tem o efeito<br />
de ofuscar qualquer tentativa de escuta,<br />
entendimento, eco emocional.<br />
Arthur Fleck irrompe num riso<br />
aparentemente irracional em situações<br />
de desamparo: a técnica social, mais<br />
preocupada em domesticar a sua<br />
sensibilidade do que em entender o seu<br />
sofrimento; a mãe da criança sensível,<br />
que interrompe um momento inocente e<br />
criativo, com uma atitude tosca, rude e<br />
ingrata; os jovens arrogantes e violentos<br />
que assediam uma vítima frágil.<br />
Arthur Fleck (“Fleck” = pequena<br />
mancha) transporta uma sombra do seu<br />
passado. Descende de uma situação<br />
de violência e opressão. Não o sabe<br />
inteiramente (ou conscientemente),<br />
mas suspeita-o, e essa suspeita é um<br />
“pensamento à procura de um pensador”<br />
(Bion), que se reconhece nos momentos<br />
mais perturbadores.<br />
No ambiente sombrio da casa de sua<br />
mãe, Arthur vive uma “hilariante<br />
melancolia”, uma tristeza sem nome, sem<br />
lugar, na eterna e irrazoável expectativa<br />
de suporte. Neste ambiente, os elevadores<br />
falham, dizendo-nos que alguns<br />
conteúdos emocionais podem nunca<br />
aceder a níveis elevados de compreensão.<br />
O ar é irrespirável, porque a dor e a raiva<br />
não acedem ás janelas do pensamento!<br />
Falamos de uma história extremamente<br />
mórbida. É um filme que ameaça<br />
violentamente o pára-choques emocional<br />
de todos nós!<br />
Por mais que admire esta obra prima da<br />
sétima arte, não a recomendo a todos.<br />
O que posso recomendar a todos, e a cada<br />
um de vós, é que tenhais o respeito e o<br />
recato necessários ao reconhecimento da<br />
dimensão simbólica do comportamento!<br />
Um comportamento aparentemente<br />
perturbador ou desligado da realidade<br />
terá, se lhe for dada a escuta paciente, um<br />
significado a contar, uma mancha (fleck)<br />
a reconhecer, uma dor a abraçar.<br />
O reconhecimento da dimensão<br />
simbólica (e da carga afectiva) é muitas<br />
vezes confundido com um juízo de valor.<br />
A resposta massificada nega o símbolo,<br />
e coloca uma mordaça de mandalas,<br />
sedutora, pseudo-adaptativa.<br />
Defender a saúde mental, requer uma<br />
atitude firme de rejeição das mordaças<br />
ao pensamento. Não um maníaco<br />
movimento incendiário, mas o paulatino,<br />
sensível, respeitador gesto do arqueólogo<br />
que olha antes de desvendar, e se move<br />
num gesto suave, mas seguro.<br />
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CRÓNICA<br />
JOÃO F. CASTRO<br />
PROFESSOR MESTRADO EM GESTÃO PORTUÁRIA<br />
Mar no programa do XXI Governo<br />
Tomou posse o XXII Governo<br />
de Portugal. Foi tornado público e<br />
apresentado o respetivo programa.<br />
Inclui seis grandes áreas de intervenção/<br />
desafios: I - BOA GOVERNAÇÃO;<br />
II - ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS<br />
- Enfrentar as alterações climáticas<br />
garantindo uma transição justa; III -<br />
DEMOGRAFIA - Por um País com mais<br />
pessoas, melhor qualidade de vida e onde<br />
os cidadãos seniores são tratados com<br />
dignidade; IV - DESIGUALDADES<br />
- Mais e melhores oportunidades<br />
para todos, sem discriminações;<br />
V - SOCIEDADE DIGITAL,<br />
CRIATIVIDADE E I<strong>NO</strong>VAÇÃO - o<br />
futuro agora, construir uma sociedade<br />
digital;<br />
O Mar revela-se uma área transversal,<br />
que se interliga com muito outros setores<br />
da governação, contudo encontramos<br />
referência expressa a objetivos mais<br />
específicos, no subcapítulo II.IV -<br />
Valorizar o território - do mar à floresta,<br />
como:<br />
- Otimizar a governação do mar:<br />
conceção e implementação de uma<br />
Estratégia Nacional para o Mar 2030;<br />
concretização do processo de extensão<br />
da plataforma continental junto da<br />
comissão de limites da ONU; reforço<br />
dos clusters existentes e identificação<br />
de novas oportunidades na economia<br />
azul; linha de financiamento no domínio<br />
do controlo, supervisão e vigilância<br />
marítima; prosseguir a aposta nas<br />
novas energias oceânicas; preparar<br />
resposta para a elevação do nível do<br />
mar; plano plurianual de dragagens e<br />
de monitorização de infraestruturas<br />
marítimas;<br />
- Ordenamento e sustentabilidade dos<br />
recursos marinhos: implementação de<br />
novo plano de situação e ordenamento<br />
do espaço marítimo nacional; rede<br />
nacional de áreas marinhas protegidas;<br />
gestão de informação de apoio à decisão<br />
visando a exploração sustentável dos<br />
recursos marinhos vivos e não vivos;<br />
desenvolvimento de sistemas de alerta<br />
para recursos marinhos em risco;<br />
desenvolvimento de bancos de recursos<br />
genéticos marinhos para valorização<br />
económica; criação de zona piloto de<br />
emissões controladas no mar português<br />
em parceria com a Agência Europeia de<br />
de Segurança Marítima (EMSA);<br />
- Apoiar a pesca e a aquicultura<br />
inovadora e sustentável: reestruturar<br />
e modernizar a frota pesqueira<br />
aumentando a atratividade do setor;<br />
aposta no conhecimento para uma<br />
pesca sustentável; reforço de artes<br />
de pesca seletivas e biodegradáveis;<br />
desenvolvimento de novas concessões<br />
aquícolas; promover a aquicultura em<br />
mar aberto; expandir e diversificar a<br />
atividade aquícola; estender a todo o<br />
pais as lotas 4.0, aproximando-as das<br />
comunidades piscatórias;<br />
- Desenvolver uma economia azul<br />
circular: promovendo modelos<br />
de negócio baseados na recolha e<br />
valorização do lixo marinho; combate<br />
aos agentes poluidores dos oceanos;<br />
promover a biotecnologia azul bem<br />
como o aproveitamento e valorização dos<br />
subprodutos da pesca e aquicultura;<br />
- Descarbonizar o transporte<br />
marítimo: redução de emissões nos<br />
portos e transporte de mercadorias;<br />
dotar os estaleiros portugueses de<br />
competências para embarcações<br />
inteligentes e autónomas; apoio<br />
à indústria nacional de reparação<br />
e construção naval visando as<br />
exportações; promover o uso do Gás<br />
Natural Liquefeito (GNL); dinamizar a<br />
multimodalidade e o transporte marítimo<br />
de curta distância;<br />
- Reforçar a observação e investigação<br />
oceânica: novo programa de atualização<br />
dos meios de investigação; participação<br />
na rede global de observação dos<br />
oceanos; instalar o observatório do<br />
atlântico; aumentar a observação<br />
oceânica visando o apoio e previsão<br />
de perigos; programa de proteção das<br />
espécies marinhas em risco; cartografia<br />
nacional e identificação dos recursos<br />
marinhos vivos e não vivos; banco de<br />
dados da distribuição geográficas das<br />
atividades nos oceanos;<br />
- Simplex do Mar: desmaterialização<br />
de procedimentos nas atividades de<br />
acesso ao Mar, a “embarcação na hora”,<br />
criação do ‘Documento Único’ do<br />
marítimo; novo Documento Único da<br />
Pesca; desmaterialização dos diários<br />
de bordo e ampliação da aplicação dos<br />
diários de pesca eletrónicos; modelo de<br />
aprovação de projetos de construção e<br />
de remodelação de embarcações e novas<br />
estruturas oceânicas,<br />
- Alteração da Lei de Bases da Política<br />
de Ordenamento e Gestão do Espaço<br />
Marítimo Nacional.<br />
Para os Açores, este programa de<br />
governo, assume um interesse particular,<br />
por dois grandes motivos, que não<br />
poderíamos deixar de destacar: Por um<br />
lado, pelo seu conteúdo, que aborda<br />
muitas das questões de interesse para<br />
o Mar dos Açores; Por outro, porque<br />
o principal responsável pela sua<br />
implementação é o Dr. Ricardo Serrão<br />
Santos, que assume a pasta do Ministro<br />
do Mar do XXII Governo de Portugal.<br />
Um profundo conhecedor, com um<br />
vasto currículo cívico, científico e<br />
politico, no contexto regional, nacional e<br />
internacional.<br />
Votos dos maiores sucessos, que o serão<br />
também, para o Mar dos Açores!<br />
<strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19<br />
27
REPORTAGEM<br />
Carlos Coelho,<br />
João Rocha<br />
coleccionador por paixão<br />
Como tudo na vida, as paixões<br />
têm sempre um começo. No caso<br />
de Carlos Coelho, a paixão pelo<br />
coleccionismo foi influenciada<br />
pelo pai e padrinho. O pai, Álvaro<br />
Coelho, ofereceu-lhe a primeira<br />
moeda. O padrinho, de nome<br />
Carlos Rocha, deu-lhe um livro<br />
de selos americanos. Carlos<br />
Coelho, alvo da nossa reportagem<br />
e atualmente com 71 anos de<br />
idade, começava assim, por volta<br />
dos 12 anos, colecções nas áreas<br />
da numismática e filatelia. A estas<br />
juntou-se a das medalhas, que já<br />
ultrapassam as 10<br />
centenas expostas<br />
na moradia de<br />
Carlos Coelho, no<br />
Lameirinho, na<br />
cidade de Angra do<br />
Heroísmo.<br />
O passatempo,<br />
obviamente, custa<br />
dinheiro. Além<br />
do investimento<br />
feito na aquisição<br />
de medalhas,<br />
notas e moedas,<br />
há a contabilizar<br />
os encargos para<br />
que as colecções,<br />
além de visíveis,<br />
possam estar<br />
com as necessárias condições<br />
de conservação. São armários,<br />
capas, expositores e mil cuidados<br />
no arejamento que ocupam,<br />
por inteiro, um quarto onde se<br />
guarda um pedaço sentimental<br />
do coleccionador. Porém, Carlos<br />
Coelho advoga que quem<br />
colecciona por gosto não... crama.<br />
Trata-se apenas de gerir bem<br />
os recursos financeiros e uma<br />
questão de abstinência a outros<br />
vícios que delapidam os bolsos.<br />
Quando não há verba para se<br />
comprar num determinado mês,<br />
espera-se pelo seguinte. No<br />
caso das moedas, cuja colecção<br />
abrange quase todos os países<br />
do mundo, Carlos Coelho<br />
conseguiu há pouco um desejo<br />
antigo. Completou a colecção<br />
ultramarina através da aquisição<br />
de uma moeda de 5 escudos de<br />
1974. O preço da satisfação do<br />
coleccionador cifrou-se nos 300<br />
contos, o qual é justificado por se<br />
tratar de uma moeda rara.<br />
A sua filosofia como<br />
coleccionador é quanto mais<br />
melhor. Aposentado da Função<br />
Pública, Carlos Coelho assume<br />
possuir uma vida estabilizada<br />
em termos financeiros. Por isso,<br />
não anda a coleccionar com<br />
o intuito de ganhar dinheiro.<br />
Mesmo que recebesse uma<br />
proposta mirabolante para<br />
vender uma das suas colecções,<br />
praticamente não existiria<br />
hipótese de receptividade. “Só em<br />
caso de aperto”, admite Carlos<br />
Coelho, claramente apostado<br />
em fazer vingar a tradição do<br />
coleccionismo no seio familiar,<br />
onde, por agora, a<br />
filha dá sinais de<br />
ser a adepta mais<br />
fervorosa.<br />
“Enquanto tiver<br />
vida e saúde”,<br />
a tendência é<br />
aumentar o pecúlio<br />
das colecções.<br />
Até a Internet<br />
escancarou as<br />
portas no contacto<br />
com outros<br />
coleccionadores e<br />
acesso aos leilões.<br />
A informática é<br />
aliada ainda de<br />
Carlos Coelho<br />
nas colecções<br />
de medalhas e numismática. À<br />
distância de um clique, fica a<br />
saber o que tem e não tem, além<br />
das peças repetidas indispensáveis<br />
para a troca com outros<br />
coleccionadores.<br />
28 <strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19
REPORTAGEM<br />
SEGREDOS<br />
ESCONDIDOS...<br />
Carlos Coelho não assume<br />
contornos de rivalidade<br />
no relacionamento entre<br />
coleccionadores. De qualquer<br />
modo, deixa escapar a impressão<br />
de que se trata de um meio muito<br />
fechado, onde o segredo é a alma<br />
do negócio.<br />
Em termos oficiosos, pensa ser<br />
o segundo açoriano detentor do<br />
maior número de medalhas. As<br />
suas mais de 1000 medalhas (têm<br />
mais de uma centena de repetidas)<br />
ficam a uma larga distância dos<br />
cerca de cinco mil exemplares<br />
de Alexandre Medeiros, de São<br />
Miguel.<br />
Sustenta não alimentar vaidade<br />
pelas colecções, as quais gostaria<br />
de ver exibidas em locais<br />
públicos, à semelhança do que<br />
aconteceu há relativamente pouco<br />
tempo numa exposição conjunta<br />
na Câmara Municipal de Angra do<br />
Heroísmo.<br />
De resto, a partilha de<br />
experiências e mesmo de artigos<br />
de colecção pode ser desenvolvida<br />
na ilha Terceira em feiras cridas<br />
para o efeito.<br />
Carlos Coelho não se queixa<br />
da falta de tempo. Enquadra a<br />
sua existência temporal a ver<br />
jogos de futebol, ir ao cinema<br />
ou à sociedade. E voltemos às<br />
colecções. Possui postais com<br />
todas as visitas papais de João<br />
Paulo II, com selos e subscritos<br />
do primeiro dia. Reserva<br />
espaço, embora sem carácter de<br />
coleccionador, para porta-chaves e<br />
esferográficas e tem encadernada<br />
toda a colecção da revista do<br />
INATEL “Tempo Livre” e várias<br />
edições do jornal do Sporting<br />
Clube de Portugal. Tudo o que<br />
aparece...<br />
O CENTAVO DO DESEJO<br />
Podia ser um Jaguar ou uma volta<br />
ao mundo, mas não é. O “desejo<br />
proibido” de Carlos Coelho<br />
também diz respeito ao mundo<br />
das colecções. É um centavo...<br />
de 1922, que por ser tão velhinho<br />
custa uns valentes milhares de<br />
contos.<br />
Há um na Casa da Moeda e só<br />
restam mais um ou dois. Moedas<br />
falsas serão mais e, é bom que<br />
se refira, não deixam de ter o seu<br />
valor.<br />
A autenticidade das moedas está,<br />
em muitos casos, salvaguardada<br />
com a emissão de um certificado.<br />
Por falar em dinheiro, diga-se<br />
que entre os coleccionadores<br />
já se notam os tempos de crise.<br />
Carlos Coelho especifica com<br />
os constantes leilões na Net que<br />
fecham a zero.<br />
E, no que concerne aos jovens,<br />
não obstante os inúmeros<br />
chamamentos de outras<br />
actividades sociais e ocupação<br />
de tempos livres, a falta de<br />
interesse pelas colecções pode<br />
estar relacionada com a escassez<br />
dos cifrões. Carlos Coelho,<br />
da experiência que tem em<br />
participação de feiras, apercebese<br />
da recusa dos progenitores em<br />
adquirir artigos pretendidos pelos<br />
filhos. Quem não tem dinheiro,<br />
não tem vícios, poderá, muito<br />
bem, ser o argumento utilizado<br />
em nome da economia familiar.<br />
<strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19<br />
29
REPORTAGEM<br />
CONCERTAÇÃO SOCIAL<br />
RUI SANTOS<br />
"os parceiros sociais do Governo Regional<br />
na orientação do Plano e Orçamento"<br />
Todos os anos o Governo<br />
Regional executa o Plano e<br />
Orçamento relativamente ao ano<br />
posterior. Para aferir com precisão<br />
os dados que necessita para Plano<br />
e Orçamento, e por vezes em<br />
circunstâncias extraordinárias,<br />
o Governo Regional consulta<br />
as mais influentes entidades da<br />
região, naquilo que é denominado<br />
por Concertação Social.<br />
Segundo o regulamento interno<br />
da Comissão Permanente de<br />
Concertação Social (CPCS)<br />
as atribuições da CPCS<br />
são“promover o diálogo e a<br />
concertação tripartida entre o<br />
Governo e os parceiros sociais, e<br />
contribuir para a regulamentação<br />
das relações de trabalho e<br />
para definição das políticas<br />
de rendimentos e preços, de<br />
emprego, formação profissional e<br />
proteção social”.<br />
A nível nacional, a CPCS é<br />
composta por quatro membros<br />
do Governo, designados<br />
pelo primeiro-ministro; dois<br />
representantes, a nível de<br />
direção, da Confederação<br />
Geral dos Trabalhadores<br />
Portugueses-Intersindical<br />
Nacional (CGTP-IN), um dos<br />
quais o seu Secretário-Geral;<br />
dois representantes, a nível<br />
de direção, da União Geral de<br />
Trabalhadores (UGT), um dos<br />
quais o seu Secretário-Geral;<br />
o presidente da Confederação<br />
dos Agricultores Portugueses; o<br />
presidente da Confederação do<br />
Comércio e Serviços de Portugal;<br />
o presidente da Confederação da<br />
Indústria Portuguesa; o presidente<br />
da Confederação do Turismo<br />
Português e é presidida pelo<br />
primeiro-ministro ou por um<br />
ministro que ele delegar. Todos<br />
estes terão suplentes designados.<br />
Ainda de acordo com o<br />
regulamento interno da CPCS, o<br />
Plenário da mesma “reunirá em<br />
sessão ordinária, pelo menos, de<br />
dois em dois meses”.<br />
No caso particular dos Açores,e<br />
segundo o Artigo 9.º do<br />
Decreto Legislativo Regional<br />
n.º 8/2018/A de 05-07- 2018, a<br />
CPCS é presidida pelo Presidente<br />
do Governo Regional, ou por<br />
um membro do Governo que<br />
ele delegar, e é composta por:<br />
quatro membros do Governo<br />
Regional; dois representantes da<br />
União Geral dos Trabalhadores<br />
dos Açores (UGT/A);dois<br />
representantes da Confederação<br />
Geral dos Trabalhadores<br />
Portugueses - Intersindical<br />
Nacional dos Açores (CGTP-<br />
IN/Açores); dois representantes<br />
da Câmara do Comércio e<br />
Indústria dos Açores (CCIA) e<br />
dois representantes da Federação<br />
Agrícola dos Açores (FAA).<br />
O Decreto indica, ainda, que<br />
“em matéria de concertação<br />
social, as deliberações tomadas<br />
pela comissão permanente de<br />
concertação social não carecem<br />
de aprovação pelo plenário”.Em<br />
relação às votações, “o número<br />
de votos atribuído a cada uma das<br />
entidades que compõem a CPCS<br />
corresponde ao somatório dos<br />
votos dos seus representantes,<br />
independentemente do número de<br />
membros presentes”, e que, “no<br />
âmbito das competências que lhe<br />
são cometidas, a CPCS goza do<br />
direito de iniciativa”.<br />
Apesar de não constar da<br />
composição da CPCS no<br />
Decreto Legislativo Regional,<br />
a Federação das Pescas dos<br />
Açores (FPA) é outro órgão social<br />
de importância que o Governo<br />
Regional consulta para execução<br />
do Plano e Orçamento, dado que<br />
o setor da pesca é um setor com<br />
grande peso na Região. Segundo a<br />
Lotaçor, o setor teve um uma fatia<br />
de 3,8% do PIB regional em 2017.<br />
A FPA, fundada em 2005, é uma<br />
organização sem fins lucrativos<br />
que, segundo a mesma, surgiu<br />
“por vontade do movimento<br />
associativo do sector da pesca<br />
nos Açores”. É uma conjunção<br />
de associações de pesca das nove<br />
ilhas dos Açores, a qual mantem<br />
contactos, permanentes, com<br />
todas as suas associadas,através<br />
de reuniões locais, de ilha ou<br />
do arquipélago, “auscultando os<br />
problemas e as necessidades da<br />
pesca e encaminhando os mesmos<br />
para análises técnicas ou estudos<br />
especializados, tendo em vista as<br />
30 <strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19
REPORTAGEM<br />
estratégias a adotar”.<br />
A FPA define como objetivo<br />
“defender os interesses da<br />
pesca nos Açores, em Portugal<br />
Continental e no estrangeiro,<br />
salvaguardando sempre a<br />
componente social, ambiental<br />
e económica da atividade”,<br />
colaborando para “a defesa de<br />
uma vida digna e de qualidade<br />
para todos os pescadores<br />
que desejam continuar a sua<br />
atividade”.<br />
Já a FAA foi constituída em<br />
1992 e, à semelhança da FPA,<br />
agrega as associações agrícolas<br />
de toda a Região Autónoma<br />
dos Açores. Dos seus objetivos<br />
e competências constam “a<br />
promoção e desenvolvimento dos<br />
interesses das associadas suas<br />
filiadas”, como também a “sua<br />
representação nos mais diversos<br />
organismos oficiais e outros,<br />
assim como em confederações,<br />
no sentido da convergência das<br />
políticas que melhor apoiem o<br />
sector agropecuário dos Açores”.<br />
Quanto à CCIA, agrega a Câmara<br />
de Comércio e Indústria da Horta<br />
(CCIH) e a Câmara de Comércio<br />
e Indústria de Ponta Delgada<br />
(CCIPD).<br />
Por sua vez, a CCIPD é uma<br />
Associação (de direito privado e<br />
sem fins lucrativos) Empresarial<br />
das Ilhas de São Miguel e<br />
Santa Maria. Aassocia pessoas<br />
singulares e coletivas que<br />
“exercem atividades ligadas ao<br />
comércio, à indústria, ao turismo e<br />
aos serviços e que têm domicílio,<br />
sede ou representação permanente<br />
nas ilhas de São Miguel e<br />
Santa Maria”. A CCIH é uma<br />
Associação dos Comerciantes,<br />
Industriais, Importadores e<br />
Exportadores das Ilhas do Faial,<br />
Pico, Flores e Corvo.<br />
A CGTP-IN é composta pelas<br />
mais variadas associações<br />
sindicais nacionais, como os<br />
sindicatos, as federações e<br />
as uniões, e define-se como<br />
“organização sindical de<br />
classe, unitária, democrática,<br />
independente e de massas, tem<br />
as suas raízes e assenta os seus<br />
princípios nas gloriosas tradições<br />
de organização e de luta da classe<br />
operária e dos trabalhadores<br />
portugueses”.<br />
Nos Açores, fazem parte<br />
da CGTP-IN os seguintes<br />
sindicatos: dos Professores; dos<br />
Trabalhadores de Alimentação,<br />
Bebidas e Similares, Comércio,<br />
Escritório e Serviços; Construção<br />
Civil da Horta;Empregados de<br />
Escritório, Comércio e Serviços<br />
da Horta; Profissionais dos<br />
Transportes, Turismo e outros<br />
Serviços da Horta; Sindicato<br />
Livre dos Pescadores Marítimos e<br />
Profissionais Afins; das Indústrias<br />
Transformadoras das Ilhas de<br />
São Miguel e Santa Maria e o<br />
Sindicato dos Profissionais dos<br />
Transportes, Turismo e Outros<br />
Serviços de São Miguel e Santa<br />
Maria.<br />
Por último, a UGT definese<br />
como uma “confederação<br />
constituída pelas associações<br />
sindicais democráticas que,<br />
aceitando os presentes estatutos<br />
e a declaração de princípios,<br />
nela se filiem voluntariamente”.<br />
Uma organização “autónoma e<br />
independente do patronato, do<br />
Estado, das confissões religiosas<br />
e dos partidos ou de outras<br />
associações de natureza política”.<br />
Na Região, a UGT inclui o<br />
Sindicato dos Trabalhadores<br />
Agroalimentares, o Sindicato<br />
dos Profissionais de Escritório,<br />
Comércio, Indústria, Turismo,<br />
Serviços e Correlativos da Região,<br />
o Sindicato dos Trabalhadores<br />
de Escritório e Comércio de<br />
Angra do Heroísmo e o Sindicato<br />
Democrático dos Professores dos<br />
Açores.<br />
<strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19<br />
31
PUB
WWW.<strong>NO</strong>REVISTA.PT | <strong>NO</strong><br />
“<br />
“Temos desafios na Terceira, como temos em toda a nossa<br />
Região, mas a tendência dos últimos anos é, claramente, de<br />
fortalecimento do setor turístico”.<br />
Vasco Cordeiro,<br />
Presidente do PS/Açores<br />
“Houve mais de 30 ofícios, com diversas questões<br />
colocadas ao Governo de António Costa sobre a Região, que<br />
ficaram sem resposta”.<br />
António Ventura,<br />
deputado do PSD/Açores na Assembleia da República<br />
“<br />
“<br />
“Com uma taxa de ocupação anual de 75%, Santa Maria precisa<br />
que sejam revistos os horários e a frequência de voos durante<br />
o Inverno IATA, de modo a permitir um maior e melhor fluxo de<br />
passageiros de e para a ilha”.<br />
Elisa Sousa,<br />
deputada do PSD/Açores<br />
“Vimos que há nitidamente uma aliança entre os Açores e as<br />
Canárias, desde logo em relação à postura que as Ultraperiféricas<br />
devem ter em relação ao próximo Quadro Financeiro de Apoio”<br />
Rui Bettencourt, Secretário Regional Adjunto<br />
da Presidência para as Relações Externas<br />
“<br />
<strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19<br />
33
REPORTAGEM<br />
WINE in AZORES<br />
cláudia carvalho<br />
a feira que combina “negócio e prazer”<br />
e onde "há sempre novidades a acontecer"<br />
“Ímpar, único e diferenciador”<br />
são palavras que parecem resumir<br />
um evento que reúne cada vez<br />
mais visitantes e que se torna<br />
progressivamente mais atrativo<br />
enquanto veículo de promoção do<br />
destino Açores. Estes foram os adjetivos<br />
utilizados por Filipe Jorge, vereador<br />
da Cultura da Câmara Municipal da<br />
Ribeira Grande (CMRG) na conferência<br />
de imprensa de apresentação da XI<br />
edição do Wine in Azores (WIA).<br />
O Wine in Azores decorreu nos passados<br />
dias 18, 19 e 20 de outubro, no Parque<br />
de Exposições da Associação Agrícola<br />
da Ilha de São Miguel, em Santana, na<br />
Ribeira, tendo superado, durante os três<br />
dias do festival, os 20 mil visitantes.<br />
Este começa a ser um evento cada vez<br />
mais procurado e visitado pelos turistas,<br />
que têm aumentado significativamente<br />
a sua representação e participação ao<br />
longo dos anos neste evento. O WIA já<br />
conseguiu estabelecer o seu espaço a<br />
nível regional, e, apesar de, na I edição,<br />
terem existido algumas “dificuldades”,<br />
hoje é um evento que se mostra<br />
devidamente estabelecido e consolidado,<br />
ainda que, de acordo com o responsável<br />
do WIA, o balanço deste evento só se<br />
descortine no fim.<br />
O evento contou com 13 parceiros-chave<br />
que ajudam a contribuir, anualmente,<br />
para o sucesso e crescimento do evento,<br />
que hoje se consegue projetar a nível<br />
nacional. Entre os parceiros, estão o<br />
Governo Regional dos Açores, Câmara<br />
Municipal da Ribeira Grande (CMRG),<br />
Associação Agrícola de São Miguel,<br />
Jomare, Kenwood, Candy, Hotel Ponta<br />
Delgada, Bentrans, Amorim & Irmãos,<br />
Lotaçor, Remax, Paixão pelo Vinho e<br />
Gazeta Rural.<br />
Joaquim Coutinho Costa, responsável<br />
pela GorgeousAzores, é a cara deste<br />
evento, e é também quem faz a<br />
promoção e divulgação do Wine in<br />
Azores durante todo o ano. Joaquim<br />
admite, em conferência de imprensa,<br />
que a equipa, para a realização do Wine<br />
in Azores, tem “um trabalho incessante<br />
ao longo do ano todo”, confessando<br />
que se trata de um esforço “árduo e<br />
34 <strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19
REPORTAGEM<br />
contínuo”.<br />
Joaquim Costa acrescenta que é uma<br />
“máquina que não pára”, que trabalha<br />
a próxima edição ainda antes da atual<br />
se ter iniciado. O responsável pela<br />
GorgeousAzores reconhece confiança no<br />
evento que produz e que atrai milhares<br />
de pessoas, confessando que, apesar<br />
de “existir muito mais investimento<br />
noutros eventos, este é, sem sombra de<br />
dúvidas, o maior veículo de promoção<br />
dos Açores”.<br />
Contando cada vez mais com novos<br />
produtores, mas também com<br />
produtores que acompanham Joaquim<br />
Costa desde o início do seu evento no<br />
Teatro Micaelense, os números têm-se<br />
vindo a alterar de forma muito rápida e<br />
exponencial. Numa conversa informal<br />
com o responsável do evento, a <strong>NO</strong><br />
<strong>Revista</strong> obteve a informação de que<br />
o WIA surgiu no Teatro Micaelense,<br />
no ano de 2009, com um total de 120<br />
visitantes e 20 expositores.<br />
Olhando 10 anos depois o mesmo<br />
evento, que agora se realiza no Parque<br />
de Exposições da Associação Agrícola<br />
da Ilha de São Miguel, em Santana, na<br />
Ribeira Grande, recebeu, na passada<br />
semana, mais de 20 milvisitantes,<br />
com 200 expositores. Estes números<br />
parecem crescer anualmente, já que, no<br />
ano de 2018, o número de visitantes foi<br />
de 17 mil. Em relação às outras ilhas<br />
dos Açores, o WIA realizou, na Ilha<br />
Terceira, a I Edição do Wine in Azores<br />
Terceira em 2018, com mais de 10 mil<br />
visitantes e mais de 200 expositores.<br />
Na conferência de imprensa de<br />
apresentação do evento, Ricardo<br />
Medeiros, Diretor Regional de Apoio<br />
ao Investimento à Competitividade<br />
(DRAIC),sublinhou que este é uma<br />
iniciativa “que o Governo Regional tem<br />
acarinhado eapoiado ao longo destes<br />
anos”, assegurando, ainda um contínuo<br />
apoioao festival de vinhos por parte do<br />
governo. Ricardo Medeirostransmitiu<br />
o grande esforço e trabalho que tem<br />
sido feito, nomeadamente o “esforço<br />
gigantesco por parte do Senhor<br />
Joaquim Coutinho”, dos produtores,<br />
e das entidades públicas, para o bom<br />
funcionamento da feira, e para que ela<br />
continue ano após ano.<br />
O evento tem como orientação o duplo<br />
objetivo que faz formar o slogan, ou<br />
a frase-chave do evento, se assim o<br />
quisermos chamar – BUSINESS &<br />
PLEASURE. Ao combinar estas duas<br />
vertentes, é possível perceber que o<br />
Wine in Azores se alarga, mais do que a<br />
uma vertente comercial (“business”) e<br />
de divulgação do evento, no bem estar<br />
dos participantes, bem como daqueles<br />
que os visitam (“pleasure”). Na página<br />
do evento, pode ler-se: “o conceito<br />
BUSINESS & PLEASURE demonstra<br />
a grande preocupação com a parte<br />
comercial/promocional dos produtos<br />
presentes na feira, bem como com o<br />
bem-estar dos visitantes, primando pelo<br />
bem receber e pelo requinte único e<br />
inimitável”.<br />
A <strong>NO</strong> <strong>Revista</strong>, para melhor perceber<br />
o ambiente e a forma de como é feito<br />
o WIA, foi ao primeiro dia do evento,<br />
dia 18 de outubro, e conseguiu abordar<br />
diversos expositores e pessoas acerca<br />
da sua experiência até ao momento,<br />
ou mesmo em anos anteriores. Assim<br />
sendo, a <strong>NO</strong> entrevistou Creatividad na<br />
Cozinha, Monin, Internacional Vinhos,<br />
Adega “A Buraca”, Abelhinha e ainda<br />
turistas que marcaram presença nesta<br />
feira.<br />
O responsável pelo primeiro expositor<br />
que abordámos, Creatividad na<br />
Cozinha, afirmou que esta era a<br />
primeira vez que estavam presentes no<br />
WIA, e quando questionado acerca do<br />
feedback das pessoas até ao momento,<br />
respondeu “Eu acho que os dias mais<br />
<strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19<br />
35
WWW.<strong>NO</strong>REVISTA.PT | <strong>NO</strong><br />
36 <strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19
WWW.<strong>NO</strong>REVISTA.PT | <strong>NO</strong><br />
fortes serão o sábado e o domingo,<br />
mas as pessoas que nos visitaram até<br />
agora ficaram muito interessadas, e<br />
isso motivou-nos bastante”. Para ele,<br />
a valorização deste evento consiste no<br />
facto de se tratar de “um evento tão<br />
especializado em vinho”, que ajuda<br />
a ter “um leque de clientes muito<br />
interessante”. O representante da marca<br />
Creatividad na Cozinha confessou,<br />
ainda, ter já vontade de regressar para a<br />
próxima edição.<br />
Em conversa com o expositor Monin,<br />
representado pela Garrafeira Soares,<br />
o entrevistado aproveitou para falar um<br />
pouco acerca da marca Monin, e como<br />
ela se tem estabelecido nos Açores, com<br />
especial destaque na Ilha de São Miguel.<br />
Monin é uma marca que está presente no<br />
mercado nacional há cerca de 10 anos,<br />
que se faz constituir por uma panóplia<br />
de produtos, tais como cocktails, licores,<br />
frappés, toppings, fator este que permite<br />
a realização de cocktails e bebidas não<br />
alcoólicas, tais como smoothies ou<br />
batidos. A marca Monin não se estreou<br />
nesta edição, já que marca presença há<br />
quatro anos.<br />
Participando durante estes quatro anos,<br />
o entrevistado confessou que começou<br />
o seu percurso em São Miguel com<br />
um distribuidor (Paulo Teixeira). Este<br />
distribuidor “sempre esteve mais ligado<br />
aos vinhos, mas que, graças ao trabalho<br />
desenvolvido, teve uma facilidade<br />
em introduzir esta marca nos clientes<br />
aqui nos Açores”. Feliz pelo trabalho<br />
desenvolvido, confessa ainda que a<br />
marca Monin já “conta” com milhares<br />
de garrafas vendidas nos Açores, com<br />
uma “boa presença” em São Miguel.<br />
Desta forma, “esta feira faz cada vez<br />
mais sentido”, na medida é que há<br />
oportunidades de negócio e de clientes,<br />
acrescentou. Quando questionado se<br />
regressariam para o ano, o representante<br />
da marca respondeu prontamente que<br />
esperava regressar na próxima edição do<br />
WIA.<br />
A <strong>NO</strong> <strong>Revista</strong> também entrevistou o<br />
expositor da Internacional Vinhos, um<br />
“projeto recente”, revela o entrevistado.<br />
É a segunda vez que se apresentam neste<br />
evento empresarial, e a Internacional<br />
Vinhos caracteriza-se por ser “uma<br />
empresa distribuidora de vinhos em<br />
Lisboa”, que, por estar estabelecida<br />
no mercado nacional e de exportação,<br />
consegue ter várias “marcas de Norte<br />
a Sul do país”. Para o representante<br />
da Internacional Vinhos no Wine<br />
in Azores, a experiência “tem sido<br />
agradável”, e as pessoas “mostram-se<br />
interessadas, gostam do produto que nós<br />
apresentamos”.<br />
Não obstante ao interesse das pessoas,<br />
o entrevistado confessa ser difícil<br />
“entrar” no mercado dos Açores, graças<br />
à sua dimensão e a pequenas restrições,<br />
confessa. Para a Internacional Vinhos,<br />
será importante regressar para uma<br />
próxima edição, já que o objetivo passa<br />
por “ter uma maior solidez a nível dos<br />
Açores”, em especial São Miguel, e<br />
foi com esse propósito que a empresa<br />
decidiu regressar pela segunda vez<br />
consecutiva. Para os participantes,<br />
sente-se cada vez mais a presença do<br />
turista, daí que também tenha de existir<br />
“a preocupação da nossa parte em ter<br />
alguém a representar o produto que<br />
domine bem as línguas estrangeiras”,<br />
sublinha o entrevistado.<br />
Na verdade, esta é uma realidade<br />
cada vez mais visível – a presença do<br />
turista. Apesar de Joaquim Coutinho<br />
Costa ter admitido, em conferência de<br />
imprensa, que os recursos para fazer a<br />
promoção no exterior são insuficientes,<br />
é um facto que este evento empresarial<br />
já conseguiu reconhecimento junto<br />
do visitante, do turista, que toma<br />
conhecimento do WIA e garante a sua<br />
<strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19<br />
37
WWW.<strong>NO</strong>REVISTA.PT | <strong>NO</strong><br />
presença. Ao entrevistarmos um casal de<br />
turistas do Canadá, estes confessaram<br />
que achameste evento maravilhoso,<br />
aplaudindo o facto de existir uma<br />
mistura de todos estes diferentes<br />
produtores e revendedores reunidos<br />
neste evento.<br />
O casal adiantou, ainda, que “seria<br />
ótimo se tivéssemos um evento destes<br />
em casa”. Quando questionados sobre<br />
como conheceram e ouviram falar<br />
do Wine in Azores, os entrevistados<br />
disseram ter tido conhecimento pelo<br />
Restaurante da Associação Agrícola da<br />
Ilha de São Miguel, localizado ao lado<br />
do WIA. Os turistas disseram, ainda,<br />
que iriam recomendar este evento a<br />
todos os seus amigos. É este o peso<br />
do turista de hoje em dia – o passa a<br />
palavra. O Wine in Azores, mais do que<br />
nunca, “é um veículo promocional dos<br />
Açores”, é aquilo que mostra a produção<br />
vinícola e a gastronomia açoriana e<br />
nacional.<br />
De facto, de acordo com Ricardo<br />
Medeiros, Diretor Regional de Apoio<br />
ao Investimento à Competitividade,<br />
este evento “é muito importante para<br />
a mostra dos nossos produtos, quer<br />
na área da gastronomia, quer na área<br />
dos vinhos”, fator contribuinte para “o<br />
desenvolvimento da nossa economia,<br />
para o desenvolvimento do concelho da<br />
Ribeira Grande, da Ilha de São Miguel e<br />
para os Açores, em geral”.<br />
Ao falarmos com o responsável pelo<br />
expositor da Adega “A Buraca”,<br />
oriunda da ilha do Pico, o entrevistado<br />
revelou que a Adega já está presente<br />
desde a primeira edição, embora seja a<br />
sua primeira vez a representar a empresa<br />
no Wine in Azores. O representante<br />
destaca a importância da participação<br />
neste evento, dizendo que “é muito<br />
importante que as pessoas apreciem”<br />
este tipo de eventos, mas também<br />
se torna benéfico para a empresa, já<br />
que tentam escoar a sua produção. A<br />
empresa, que se caracteriza por ser<br />
familiar, e por ter começado como uma<br />
adega-museu, tem aumentado as suas<br />
vendas, “especialmente em São Miguel,<br />
que de antes era um mercado difícil<br />
de as empresas se estabelecerem”. O<br />
representante afirmou, ainda, que tem<br />
grandes expectativas para este evento,<br />
de “fazer mais alguns contactos” e criar<br />
novas conexões graças a este evento.<br />
A Adega “A Buraca” data de 2007,<br />
altura em que era feita sob moldes muito<br />
“honestos”, com “algumas aguardentes<br />
e onde os vinhos eram vendidos ao<br />
garrafão”, ao contrário do que se verifica<br />
hoje em dia, com os vinhos certificados<br />
que a Adega possui, demonstrando<br />
assim uma primazia com a qualidade<br />
do produto que produzem e vendem.<br />
Muitos destes produtos vinícolas já são<br />
reconhecidos pelo público, que muitas<br />
vezes reconhecem mais “facilmente” o<br />
vinho do que a Adega.<br />
Para o proprietário da empresa, o<br />
que acontece muitas vezes é que<br />
“geralmente, uma pessoa quando vê<br />
o vinho, nunca vai ver o produtor”,<br />
parecendo esta a falha necessária a<br />
colmatar na Adega “A Buraca”. Quando<br />
questionado se já está a pensar em<br />
regressar numa próxima edição, o<br />
entrevistado respondeu prontamente<br />
“enquanto pudermos, vamos sempre vir;<br />
essa é uma das nossas divisas”.<br />
Ao entrevistar o expositor dos licores<br />
Abelhinha, o dono disse ser esta a<br />
primeira edição em que a empresa de<br />
licores estava presente. O grande intuito<br />
de garantir a presença no evento foi<br />
“para dar a conhecer melhor o produto”,<br />
apesar de já ter notoriedade perante o<br />
público-alvo. Quando questionado sobre<br />
38 <strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19
WWW.<strong>NO</strong>REVISTA.PT | <strong>NO</strong><br />
a inserção do seu produto no mercado,<br />
Leonel respondeu “o mercado é difícil<br />
para tudo, e quando um produto é<br />
muito igual ao outro, dificulta”. Assim,<br />
justifica o sucesso do seu produto graças<br />
a um fator – à diferenciação. “Estes<br />
licores são feitos com produtos nobres e<br />
naturais”, explica.<br />
Abelhinha “só há uma, é esta”, defende.<br />
Apesar de o dono dos licores Abelhinha<br />
saber que “os licores são o produto<br />
mais malfadado do mercado”, mostra<br />
confiança no seu produto, dizendo que<br />
“a Abelhinha é um produto para todos<br />
os momentos – é uma bebida para<br />
antes, durante e depois”. O entrevistado<br />
sublinhou que o Winein Azores foi<br />
um evento recomendado, e por isso<br />
confessou estar com a “expectativa de<br />
dar a provar a muita gente que ainda<br />
não provou”. No entanto, aponta que “o<br />
que este produto tem de negativo são<br />
os outros produtos sem qualidade”. Ao<br />
estar presente no WIA, o expositor da<br />
Abelhinha diz que o grande objetivo<br />
no evento “é alertar as pessoas para um<br />
produto de qualidade nobre, que delicia<br />
qualquer pessoa que tem na mente que<br />
não gosta sequer de produtos doces”.<br />
“Ímpar”, “o maior evento empresarial<br />
dos Açores”, “um veículo de promoção<br />
dos Açores”… São opiniões e elogios<br />
feitos ao Wine in Azores, que tem vindo<br />
em crescer em pessoas, em produtores,<br />
revendedores, em patrocinadores… O<br />
Wine in Azores parece ser, de acordo<br />
com os entrevistados, o meio para um<br />
fim – um meio para maiores contactos,<br />
maiores vendas, maior crescimento<br />
da empresa, ao mesmo tempo que<br />
se conhecem novas pessoas, novas<br />
histórias, e que se vai provando a<br />
gastronomia regional, os produtos<br />
vinícolas… Com esta experiência, assim<br />
se passam 3 dias de negócio e prazer,<br />
combinados num só local, numa só<br />
ocasião.<br />
PUB<br />
<strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19<br />
35
ENTREVISTA<br />
ENTREVISTA A<br />
antónio viveiros<br />
DeputadO na Assembleia LEGISLATIVA REGIONAL DOS AÇORES<br />
cláudia carvalho<br />
40 <strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19
ENTREVISTA<br />
Em que momento da sua vida é<br />
que se começou a interessar pela vida<br />
política?<br />
Desde muito novo que acompanhei a<br />
vida política, ainda que inicialmente<br />
sem qualquer participação direta. As<br />
minhas primeiras recordações são<br />
ainda anteriores ao 25 de abril de 1974,<br />
porquanto acompanhava o meu pai<br />
que regularmente ouvia a BBC, na sua<br />
emissão em português, com notícias que<br />
não circulavam a nível nacional.<br />
Tive conhecimento (por mera<br />
coincidência) da revolução do 25<br />
de abril de 1974 ainda antes da 1ª<br />
aula no período da manhã no então<br />
Liceu Nacional de Ponta Delgada,<br />
transmitindo aos meus colegas da turma<br />
do 3º ano a novidade, na disciplina de<br />
História, da qual era Professor Luciano<br />
Mota Vieira.<br />
Acompanhei interessadamente os<br />
primeiros anos após o 25 de abril,<br />
tendo como muitos colegas do Liceu<br />
participado na manifestação do 6 de<br />
junho.<br />
Em 1983, como independente, fiz parte<br />
da lista à Câmara Municipal da Lagoa<br />
do CDS, lista esta encabeçada pelo<br />
professor Jorge Amaral.<br />
Em 1993, também como independente,<br />
fiz parte da candidatura do PSD<br />
à mesma autarquia e em 1996 fui<br />
candidato a deputado na ALRA pelo<br />
PSD então liderado pelo Dr. Álvaro<br />
Dâmaso, não tendo sido eleito.<br />
Quando é que assumiu funções<br />
enquanto deputado pelo PSD/Açores<br />
na ALRAA?<br />
Assumi as funções de deputado na atual<br />
legislatura, em novembro de 2016.<br />
Antes de assumir funções enquanto<br />
deputado na ALRAA, que funções<br />
desempenhava até então?<br />
Iniciei a minha atividade profissional<br />
em 1986 na Secretaria Regional do<br />
Trabalho, ingressando no Tribunal de<br />
Contas ainda no mesmo ano, passando<br />
depois por diversas Instituições<br />
Públicas, como os Serviços Sociais<br />
da Universidade dos Açores, Centro<br />
de Saúde de Ponta Delgada em 1993<br />
e desde 1994 no Hospital de Ponta<br />
Delgada, do qual faço parte do seu<br />
quadro de pessoal.<br />
De que Comissões faz parte?<br />
Faço parte da Comissão de Economia,<br />
tendo feito parte da Comissão<br />
Eventual de Inquérito ao Setor Público<br />
Empresarial em 2018/19.<br />
Para além de deputado pelo PSD/<br />
Açores, desempenha alguma outra<br />
função ou cargo dentro do partido?<br />
Sou Presidente da Comissão Política<br />
Concelhia do PSD da Lagoa e<br />
Presidente da Mesa da Assembleia de<br />
Ilha de São Miguel.<br />
Qual é a sua opinião acerca da<br />
decisão do Governo da República<br />
ao auxiliar em 85% os estragos<br />
provocados pela intempérie Lorenzo?<br />
Numa Região tão exposta a catástrofes<br />
naturais e com recursos muito escassos,<br />
é fundamental ter a solidariedade<br />
nacional.<br />
Por consequência, concordo<br />
em absoluto com a decisão do<br />
Governo da República em assumir a<br />
comparticipação de 85% dos custos.<br />
Entendemos, contundo, que deveremos<br />
afastar qualquer demagogia e<br />
aproveitamento político nesta matéria,<br />
sendo fundamental, por exemplo,<br />
quantificar com rigor os prejuízos,<br />
afastando qualquer dúvida de<br />
aproveitamento da situação.<br />
Só assim este Governo ou qualquer<br />
outro, poderão ter credibilidade perante<br />
a República para situações futuras que<br />
infelizmente, mais cedo ou mais tarde<br />
acontecerão.<br />
Durante o seu percurso e até ao<br />
presente, qual momento destacaria<br />
enquanto deputado pelo PSD/<br />
Açores na ALRAA?<br />
A atividade de um deputado de<br />
qualquer partido da oposição é uma<br />
tarefa complexa, quer na vertente<br />
da fiscalização política da atividade<br />
governamental, quer em matéria<br />
de propositura, porquanto existe<br />
claramente uma forte assimetria entre<br />
a informação de que dispomos e a que<br />
dispõe o governo e os deputados do<br />
partido que o suporta.<br />
Por outro lado, existe muita<br />
atividade que o público em geral não<br />
acompanha, como são os trabalhos em<br />
sede de comissões.<br />
Ainda assim destacaria, ao longo<br />
deste mandato, a participação na<br />
Comissão Eventual de Inquérito<br />
ao Setor Público Empresarial, pela<br />
informação que permitiu obter dada a<br />
natureza jurídica destas comissões<br />
Quais são os seus projetos no futuro<br />
no que diz respeito ao partido socialdemocrata?<br />
Espero que o PSD se possa posicionar<br />
como alternativa ao Partido Socialista<br />
em 2020, cujo governo se encontra<br />
esgotado na procura de soluções para os<br />
açorianos.<br />
Quais considera as temáticas que<br />
devem ser debatidas de momento na<br />
nossa região?<br />
No estado em que se encontra a Região,<br />
para além da excelente propaganda<br />
governamental com os avultados meios<br />
que se conhecem, importa encontrar um<br />
modelo de desenvolvimento, que nos<br />
retire da cauda do país e da europa.<br />
Os nossos indicadores económicos<br />
e sociais são maus e reconhecer os<br />
problemas é o primeiro passo.<br />
É fundamental debater o futuro dos<br />
setores básicos da nossa economia como<br />
a agricultura o turismo, as pescas e a<br />
economia associada ao mar em geral.<br />
É essencial debater a melhoria contínua<br />
das acessibilidades, condição básica<br />
para resolver problemas estruturais da<br />
nossa economia, fomentando o mercado<br />
interno que poderá ser essencial para as<br />
ilhas de menor dimensão.<br />
Ao fim de 40 anos, importa debater sem<br />
paixões e sem qualquer responsabilidade<br />
passada ou presente, o nosso modelo de<br />
governação. Esse balanço de 40 anos da<br />
autonomia é essencial.<br />
<strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19<br />
41
INFORMAÇÃO<br />
DIOGO COSTA<br />
CONSELHO ECONÓMICO e social<br />
Freixos de luz sobre o Conselho<br />
Económico e Social dos Açores<br />
Com a aprovação recente do<br />
Conselho Económico e Social<br />
dos Açores (CESA), urge obter<br />
algumas respostas e conhecer<br />
melhor este organismo, a<br />
sua composição e as devidas<br />
competências de modo a perceber,<br />
no fundo, que papel assumirá nas<br />
tomadas de decisão referentes à<br />
Região Autónoma dos Açores.<br />
Assim sendo, em termos<br />
nacionais, o Conselho Económico<br />
e Social (aprovado em sessão<br />
do Plenário de 21.5.93 e<br />
publicado no D.R., II Série,<br />
nº162, de 13.7.93) funciona<br />
como organismo mediador<br />
e independente, de caráter<br />
consultivo, cujo principal objetivo<br />
passa por fomentar o diálogo e o<br />
equilíbrio entre o poder politico e<br />
a sociedade civil. Este órgão foi<br />
aprovado em sessão do plenário<br />
a 21 de maio de 1993, e está<br />
encarregue de matérias de caráter<br />
económico, laboral, social e<br />
ambiental.<br />
Por outras palavras, podemos<br />
dizer que o CES é o elo de<br />
ligação entre o Governo e os<br />
agentes económicos e sociais<br />
mais representativos da nossa<br />
sociedade, promovendo a sua<br />
participação através de pareceres,<br />
em decisões que podem alterar<br />
o “destino” de um país ou<br />
sociedade.<br />
No caso da Região Autónoma<br />
dos Açores, o CESA foi criado<br />
ao abrigo do Estatuto Políticoadministrativo<br />
(EPA) da Região<br />
Autónoma dos Açores, que data<br />
de 1980, mas só em <strong>2019</strong> é que<br />
dá os seus primeiros passos,<br />
sendo que foi apenas aprovado na<br />
Assembleia Legislativa Regional<br />
em junho de 2018, substituindo<br />
o antigo Conselho Regional<br />
de Concertação Estratégica. À<br />
semelhança do exemplo nacional,<br />
este Conselho tem um caráter<br />
consultivo e acompanhará junto<br />
dos órgãos do Governo Regional<br />
as mais variadas matérias<br />
inerentes à governação de uma<br />
região.<br />
Segundo Vasco Cordeiro,<br />
Presidente do Governo Regional<br />
dos Açores, o CESA “resulta<br />
de uma decisão da Assembleia<br />
Legislativa, fruto de uma proposta<br />
do Governo dos Açores, após<br />
um trabalho de diálogo e de<br />
concertação com parceiros<br />
sociais, nomeadamente a<br />
Federação Agrícola dos Açores, a<br />
Câmara de Comércio e Indústria<br />
dos Açores e a UGT-Açores”.<br />
De acordo com o 2º Artigo do<br />
Decreto Legislativo Regional nº<br />
8/2018/A estas são algumas das<br />
competências do Conselho:<br />
• Pronunciar-se sobre o plano<br />
regional e o orçamento, “bem<br />
como os relatórios e a respetiva<br />
execução”;<br />
• “Pronunciar-se sobre as<br />
42 <strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19
políticas económica, laboral, social<br />
e ambiental, bem como sobre a<br />
execução das mesmas”;<br />
• “Apreciar as posições da Região<br />
Autónoma dos Açores junto das<br />
instâncias nacionais e da União<br />
Europeia (…) e pronunciar-se<br />
sobre a aplicação regional dos<br />
fundos comunitários, estruturais e<br />
específicos”;<br />
• “Promover o diálogo e a<br />
concertação entre os parceiros<br />
sociais”;<br />
• Acompanhar a evolução económica,<br />
social e laboral dos Açores;<br />
Relativamente à sua composição,<br />
o CESA é presidido por Gualter<br />
Furtado, presidente da comissão<br />
executiva do Novo Banco dos<br />
Açores, eleito pela Assembleia<br />
Legislativa Regional dos Açores por<br />
maioria de 2/3. O mesmo conduziu<br />
a primeira reunião regional do<br />
Conselho a 3 de setembro onde<br />
foram eleitos os vice-presidentes que<br />
estarão encarregues de diferentes<br />
pastas:<br />
Sérgio Ávila, vice-presidente do<br />
executivo açoriano, em representação<br />
do Governo Regional; Mário Fortuna,<br />
presidente da Câmara do Comércio<br />
e Indústria de Ponta Delgada, em<br />
representação dos empregadores e<br />
organizações empresariais, incluindo<br />
a Federação Agrícola e a AICOPA;<br />
João Decq Mota, sindicalista, em<br />
representação dos Trabalhadores;<br />
Sandra Fernandes Correia, em<br />
representação de todas as outras<br />
organizações do Poder Local,<br />
IPSS, Misericórdias, Defesa do<br />
Consumidor, Defesa do Ambiente,<br />
Setor Cooperativo, Universidade<br />
dos Açores, Juventude Açoriana,<br />
Igualdade de Género e Pessoas<br />
portadoras de Deficiência.<br />
Com vista a perceber melhor a<br />
composição e os órgãos pertencentes<br />
ao Conselho Económico e Social dos<br />
Açores, a nossa redação elaborou a<br />
lista que se apresenta à direita.<br />
REPRESENTANTES DOS TRABALHADORES (8 MEMBROS)<br />
Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses - Intersindical Nacional;<br />
União Geral dos Trabalhadores;<br />
Organizações sindicais não filiadas nas centrais;<br />
Organizações sindicais das pescas na Região Autónoma dos Açores.<br />
REPRESENTANTES DAS ORGANIZAÇÕES<br />
EMPRESARIAIS DOS EMPREGADORES (8 MEMBROS)<br />
Câmara de Comércio e Indústria dos Açores;<br />
Federação Agrícola dos Açores;<br />
Associação dos Industriais de Construção e Obras Públicas;<br />
Organizações patronais da pesca.<br />
REPRESENTANTES DAS AUTARQUIAS LOCAIS (3 MEMBROS)<br />
Associação de Municípios da Região Autónoma dos Açores:<br />
Associação Nacional de Freguesias.<br />
REPRESENTANTES DAS INSTITUIÇÕES PARTICULARES<br />
DE SOLIDARIEDADE SOCIAL (2 MEMBROS)<br />
Misericórdias dos Açores;<br />
Instituições Particulares de Solidariedade Social.<br />
REPRESENTANTE DAS ASSOCIAÇÕES DE DEFESA<br />
DO CONSUMIDOR (1 MEMBRO)<br />
Associações de âmbito regional ligadas à temática<br />
REPRESENTANTE DAS ASSOCIAÇÕES DE DEFESA<br />
DO AMBIENTE (1 MEMBRO)<br />
Associações de âmbito regional ligadas à temática<br />
REPRESENTANTE DAS ASSOCIAÇÕES DE PESSOAS<br />
PORTADORES DE DEFICIÊNCIA (1 MEMBRO)<br />
Associações de âmbito regional ligadas à temática<br />
REPRESENTANTES DO SETOR COOPERATIVO (2 MEMBROS)<br />
Cooperativas com sede na Região Autónoma dos Açores<br />
PERSONALIDADES DE RECONHECIDO MÉRITO NAS<br />
ÁREAS DE COMPETÊNCIA DO CONSELHO (3 MEMBROS)<br />
Designadas pelo próprio Conselho, sob proposta do Presidente<br />
REPRESENTANTE DA JUVENTUDE AÇORIANA (1 MEMBRO)<br />
Conselho de Juventude dos Açores<br />
REPRESENTANTE DA UNIVERSIDADE<br />
DOS AÇORES (1 MEMBRO)<br />
REPRESENTANTE DAS ASSOCIAÇÕES DA ÁREA<br />
DE IGUALDADE DE GÉNERO (1 MEMBRO)<br />
REPRESENTANTES DA REGIÃO AUTÓ<strong>NO</strong>MA DOS<br />
AÇORES <strong>NO</strong> CONSELHO ECONÓMICO E SOCIAL
WWW.<strong>NO</strong>REVISTA.PT | <strong>NO</strong><br />
Com base nestes dados,<br />
poder-se-á confirmar<br />
aquela que é a base<br />
do CES, ou seja, uma<br />
pluralidade de “vozes”<br />
representativas dos mais<br />
variados quadrantes<br />
da sociedade, que<br />
irão funcionar como<br />
“conselheiros” do<br />
Governo Regional na<br />
tomada de decisão de<br />
diferentes matérias.<br />
Através de toda<br />
informação disponível<br />
até ao momento, ou<br />
falta dela, relativamente<br />
ao Conselho Económico<br />
e Social dos Açores,<br />
podemos concluir<br />
que este é um órgão<br />
que ainda não é muito<br />
“claro” e elucidativo<br />
perante a sociedade civil<br />
açoriana. Questões que<br />
se prendem quanto ao<br />
seu grau de eficiência<br />
ou o porquê de só<br />
ter surgido em <strong>2019</strong>,<br />
apesar de estar patente<br />
no EPA desde 1980,<br />
necessitam de um<br />
maior esclarecimento<br />
por parte de quem é<br />
devido, e leva-nos a<br />
concluir que o CESA<br />
ainda se encontra um<br />
pouco resguardado na<br />
penumbra daquilo que<br />
é a vida politica e social<br />
da região.<br />
O CESA “RESULTA DE UMA<br />
DECISÃO DA ASSEMBLEIA<br />
LEGISLATIVA, FRUTO DE<br />
UMA PROPOSTA DO<br />
GOVER<strong>NO</strong> DOS AÇORES, APÓS<br />
UM TRABALHO DE DIÁLOGO<br />
E DE CONCERTAÇÃO COM<br />
PARCEIROS SOCIAIS,<br />
<strong>NO</strong>MEADAMENTE A<br />
FEDERAÇÃO AGRÍCOLA<br />
DOS AÇORES, A CÂMARA DE<br />
COMÉRCIO E INDÚSTRIA DOS<br />
AÇORES E A UGT-AÇORES”.<br />
VASCO CORDEIRO<br />
PUB<br />
44 <strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19
CRÓNICA<br />
ANTÓNIO VENTURA<br />
DEPUTADO PELO PSD/A NA<br />
ASSEMBLEIA DA RÉPUBLICA<br />
Programa do Governo<br />
Vago e sem compromissos<br />
Esteve em debate, na Assembleia<br />
da República, o Programa do<br />
XXII Governo Constitucional.<br />
Analisando o documento,<br />
verificamos que o mesmo se<br />
apresenta como vago e sem<br />
compromissos de futuro, por falta<br />
de objetividade e clarividência.<br />
Este facto demonstra a insegurança<br />
e a incerteza de quem vai governar.<br />
Tudo é possível, mas também o<br />
seu contrário é possível. Vamos<br />
ter um governo a governar ao dia,<br />
sem planeamento estratégico.<br />
Um Executivo que não vai pensar<br />
nas próximas gerações, mas sim<br />
na manutenção de poder. Vamos,<br />
infelizmente, ter instabilidade e<br />
atropelo na responsabilidade que<br />
se exige a um governo. Basta para<br />
isso, verificar que temos o maior<br />
e mais caro governo da história de<br />
Portugal. Irá custar mais impostos<br />
aos Portugueses, pois é constituído<br />
por setenta membros.<br />
Relativamente aos Açores, existe<br />
um capítulo que refere a Autonomia<br />
das Regiões Autónomas e a criação<br />
de um Conselho de Concertação.<br />
Mas para que serve? É este “sentar”<br />
numa mesa e com duas cadeiras<br />
que impediu cumprimento das<br />
promessas destes últimos quatro<br />
anos.<br />
Já se percebeu que este Conselho<br />
se assume como uma manobra<br />
de expetativas. Uma ilusão de<br />
que agora é que se vai fazer e dar<br />
importância às Regiões Autónomas.<br />
Este Governo deu provas, na<br />
Legislatura cessante, que os Açores<br />
são uma “terra” muito distante de<br />
Lisboa.<br />
Senão repare-se, onde estão os<br />
dois radares meteorológicos, a<br />
construção da Cadeia de Ponta<br />
Delgada, os novos usos para a<br />
Base das Lajes, a descontaminação<br />
total dos solos e aquíferos<br />
da Praia da Vitória, o apoio<br />
específico à Universidade dos<br />
Açores como Academia de<br />
uma Região Ultraperiférica, o<br />
investimento no Porto da Praia da<br />
Vitória, a execução do Plano de<br />
Revitalização Económico da Ilha<br />
Terceira (PREIT), a manutenção<br />
e recuperação do património do<br />
Estado na Região, o reforço dos<br />
meios de segurança, a resolução da<br />
problemática da ADSE, a melhoria<br />
dos transportes aéreos e marítimos,<br />
o Centro de Investigação para o<br />
Mar, entre outros.<br />
Este programa do Governo não fala<br />
e muito menos materializa nenhuma<br />
destas necessidades, pelo contrário<br />
permite “deslisar” a sua realização<br />
nos próximos quatro anos. Sem<br />
data, na baliza da Legislatura. Aliás,<br />
como aconteceu na Legislatura que<br />
terminou.<br />
Importa, também afirmar, que<br />
estes incumprimentos mereceram<br />
um silêncio e uma cumplicidade<br />
do Governo Regional. O Governo<br />
dos Açores, estando calado e<br />
sem reivindicar, está a colocar os<br />
interesses do Partido Socialista<br />
acima dos interesses dos Açorianos.<br />
Esperamos, agora, pelos<br />
Orçamentos de Estado, sendo<br />
mais uma oportunidade para que<br />
o Governo da República possa ser<br />
direto e não descritivo com a nossa<br />
Região. Ser quantitativo e não<br />
qualitativo.<br />
Existe, claramente, uma ausência<br />
de atenção política para com os<br />
Açorianos. Será uma governação<br />
“à vista” e de acordo com as<br />
circunstâncias de “publicidade<br />
política”. Sim, porque em outubro<br />
de 2020, realizam-se as Eleições<br />
Regionais.<br />
Finalmente, queria expressar<br />
novamente o meu compromisso<br />
com os Açorianos de exigir<br />
ao Governo da República que<br />
não esqueça os Açores, pelo<br />
acompanhamento e fiscalização da<br />
atividade deste Governo.<br />
<strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19<br />
45
www.iroa.pt<br />
facebook.com/iroaazores<br />
A Importância dos Serviços Administrativos no<br />
funcionamento da IROA S.A.<br />
A IROA S.A. é uma empresa<br />
que possui a sua sede no concelho<br />
da Ribeira Grande (São Miguel)<br />
e uma delegação no concelho de<br />
Angra do Heroísmo (Terceira).<br />
Os profissionais do Serviço<br />
Administrativo e de receção da<br />
IROA S.A. são na sua maioria<br />
mulheres (4 mulheres na sede e<br />
uma na delegação da Terceira),<br />
com um amplo conhecimento<br />
sobre a organização,<br />
funcionalidades específicas<br />
da IROA S.A.- Perímetros de<br />
Ordenamento Agrário e técnicos<br />
responsáveis, Coordenação<br />
técnica diversa como a<br />
Eletrificação Agrícola, P.D.M.-<br />
Planos Diretores Municipais,<br />
Reserva Agrícola Regional,<br />
Fracionamento de terrenos,<br />
RICTA - Regime de Incentivos<br />
à Compra de Terras Agrícolas,<br />
46 <strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19<br />
Recursos Humanos, Reforma<br />
Antecipada, Contabilidade, Água<br />
agrícola, etc.-.<br />
Somos o primeiro contacto, o<br />
cartão de visita da empresa e<br />
tentámos prestar um atendimento<br />
diferenciado, rápido e eficaz,<br />
sendo uma das nossas<br />
características a pró atividade,<br />
cordialidade, entre outras<br />
atribuições do serviço como o<br />
atendimento telefónico, receção<br />
de correspondência, prestação<br />
de informações, atendimento aos<br />
agricultores, fornecedores e todo<br />
o público interessado nos nossos<br />
serviços.<br />
Para além do cuidado que temos<br />
com o nosso público, existe uma<br />
boa relação entre todos nós e cada<br />
um sabe que há tarefas específicas<br />
que não devem ser descuidadas.<br />
Rececionamos a correspondência<br />
e dámos entrada dos documentos<br />
no SGC, reencaminhando<br />
eletronicamente para os Técnicos,<br />
elaboramos os ofícios de saída,<br />
etc. Somos responsáveis pela<br />
publicação dos concursos públicos<br />
e todo o processo administrativo<br />
nesta área, cuidámos do arquivo<br />
inativo e do ativo. Começamos<br />
um trabalho que tem como<br />
objetivo melhorar as condições<br />
de acesso e consulta ao arquivo<br />
inativo, o que facilita a consulta<br />
de informação.<br />
Igualmente, a nossa empresa<br />
proporciona-nos um bom<br />
ambiente e valoriza o nosso<br />
trabalho, encontrámos aqui a<br />
nossa segunda casa, há sempre<br />
um trabalho de equipa e de apoio<br />
mútuo. A harmonia e a afinidade<br />
entre ambos não só se reproduz a<br />
níveis profissionais como também<br />
em momentos pessoais.<br />
Todos os dias encaramos este
WWW.<strong>NO</strong>REVISTA.PT | <strong>NO</strong><br />
trabalho com alegria, com vontade<br />
de melhorar o nosso dia e levar a<br />
empresa ao sucesso. Em equipa<br />
pretendemos prestar um serviço<br />
de qualidade e pretendemos<br />
ajudar nas dificuldades dos nossos<br />
agricultores e público em geral.<br />
O feedback que temos com a<br />
nossa população alvo é muito<br />
positivo e possibilita uma melhor<br />
forma de resposta aos seus<br />
problemas.<br />
Para além, do atendimento<br />
prestado nos serviços da<br />
Ribeira Grande e Angra do<br />
Heroísmo, a IROA S.A. dá<br />
apoio administrativo através<br />
do seu email iroa.sa@azores.<br />
gov.pt e do seu sitio www.iroa.<br />
pt (aqui tem acesso às nossas<br />
publicações, legislação atualizada<br />
sobre as áreas competentes,<br />
requerimentos…) etc.<br />
Os serviços administrativos são<br />
uma das peças fundamentais da<br />
empresa, pois tudo se inicia nesta<br />
secção e é reencaminhado para os<br />
vários departamentos. Estamos<br />
sempre disponíveis para todos<br />
na certeza que o nosso trabalho<br />
torne a IROA, S.A. mais forte ao<br />
serviço de uma agricultura mais<br />
desenvolvida nos Açores.<br />
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<strong>NO</strong>AGO19<br />
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<strong>NO</strong><strong>NO</strong>V19<br />
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