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PARQ 63

Casa do Cais Paul B. Preciado Soraia Chaves UAU Project

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Paul B. Preciado
Soraia Chaves
UAU Project

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PEPERAN<br />

( E M A )<br />

Qual foi a pior coisa que já te disseram?<br />

Não me lembro bem da idade que tinha, mas tinha<br />

provavelmente 5 ou 6 anos e lembro-me que estávamos<br />

a jantar.<br />

A tia da minha mãe, que eu sentia que não ia muito<br />

com a minha cara e que já tinha feito uma boa dose<br />

de comentários depreciativos em relação a mim,<br />

porque eu não era aquilo que ela considerava propriamente<br />

normal, disse-me, chateada: "tu nem para<br />

comer serves". Quem estava no jantar riu-se. Achou<br />

piada. Eu não.<br />

Eu ouvi, engoli em seco, e continuei a tentar comer<br />

enquanto me tentava controlar para não chorar. Não<br />

queria que me vissem chorar, porque não queria que<br />

também achassem que eu era fraca.<br />

Sempre senti, desde criança, que as pessoas à minha<br />

volta, incluindo a minha família, me achavam um<br />

pouco estranha, daquela forma em que olhavam meio<br />

de canto para mim e questionavam as brincadeiras<br />

e as coisas que eu dizia.<br />

Aquele comentário tirou-me tudo. Foi a primeira vez<br />

que me lembro de me sentir desapoiada e não compreendida.<br />

Aquele pequeno comentário perseguiu-me<br />

e ainda persegue. Por isso é que tento ter cuidado<br />

com o que digo a outras pessoas. Não quero ser a<br />

pessoa que faz um comentário que assombra a mente<br />

de outra pessoa. Dito<br />

isto, foi um comentário<br />

que me magoou imenso,<br />

mas que também me fez<br />

crescer. Fez com que eu<br />

me enfrentasse a mim<br />

mesma. Fez-me colocar a<br />

questão "afinal, sou digna<br />

ou não?" e a verdade<br />

é que sou. Sou digna.<br />

Somos todos dignos,<br />

independentemente das<br />

nossas estranhezas, peculiaridades,<br />

pontos fortes<br />

e fracos.<br />

Qual foi a melhor coisa<br />

que já te disseram?<br />

Quando a minha mãe me<br />

disse "Só quero que sejas<br />

feliz" depois de ter feito<br />

o meu coming out.<br />

Não sei se esta foi a melhor<br />

coisa que me disseram,<br />

mas foi se calhar<br />

o que me fez sentir<br />

mais apoiada a nível familiar,<br />

depois de anos e<br />

anos de me negar a mim<br />

própria e de me tentar<br />

compreender.<br />

Permitiu-me parar de viver<br />

uma vida dupla com<br />

a minha família. Pude ser<br />

exatamente quem eu era,<br />

sem ter que me esconder.<br />

É um privilégio que algumas<br />

pessoas hétero<br />

tomam por garantido e<br />

não se apercebem de<br />

como retirar esse direito<br />

a pessoas da comunidade<br />

LGBTIQ é basicamente retirarem o direito de<br />

viver destas pessoas. Se não podes amar, o que é<br />

que podes fazer?<br />

É fantástico como o remover de uma barreira permite<br />

que outras pessoas sejam mais felizes e evoluam.<br />

Descreve a 2ª temporada da #CasaDoCais numa palavra…<br />

Só uma?? Assim é difícil.<br />

Mas ok, vou tentar. Acho que a palavra é "diferente".<br />

Diferente em todos os sentidos: nas personagens,<br />

no tipo de história e situações exploradas em ficção<br />

portuguesa, na honestidade dos diálogos, em retratar<br />

personagens com falhas, mas também com lados<br />

muito bonitos, como todos os que nos rodeiam<br />

no mundo real.<br />

33<br />

CULTURA

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