Chicos 58 - 22.09.2019
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<strong>Chicos</strong><br />
bebemos ao meio-dia e / pela manhã bebemo-lo<br />
de / noite / bebemos e bebemos /(...) a<br />
morte é um mestre / que veio da Alemanha/<br />
azuis são os seus olhos /(...) os teus cabelos<br />
de oiro Margarete...”<br />
A própria postura de Sadako sinaliza seu<br />
amor à vida. Diversos escritores sobreviventes<br />
da bomba atômica e do Holocausto europeu<br />
se suicidaram, entre eles Celan, aos 50<br />
anos de idade. Até pouco antes de sua morte<br />
natural, aos 92 anos, Sadako se empenhava<br />
em agir a favor da paz, da conscientização<br />
antinuclear, do não esquecimento de Hiroshima,<br />
pois, conforme afirma, “Hiroshima não<br />
é, de modo algum, algo que ocorreu no passado.<br />
(...) Hiroshima é um lugar no futuro<br />
onde podemos ver até onde pode nos levar o<br />
militarismo, a corrida armamentista, sua destinação;<br />
é o maior ponto cego da espécie humana,<br />
que serve como referência para o<br />
mundo”. Vocês verão, muitos outros poetas<br />
tratando com indignação da violência humana.<br />
Pensem nesta poesia como nestes versos<br />
do Drummond: “É feia. Mas é uma flor.<br />
Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio. ”<br />
Eu vi Hiroshima<br />
Nada se vê em Hiroshima.<br />
Hiroshima: cidade de prédios e carros.<br />
Casais de blue jeans cochilam<br />
em bancos situados nos parques<br />
uma criancinha corre atrás dos pombos sobre a relva.<br />
O cogumelo atômico,<br />
o cenotáfio -<br />
São apenas gotas para instantâneos.<br />
Não, isto é o que eu vi.<br />
Pessoas sentadas em grupos como ascetas<br />
sobre o meio-fio defronte ao cenotáfio.<br />
Movendo-se lenta<br />
e silenciosamente,<br />
ligados em testes nucleares subterrâneos<br />
no deserto de longínquos países<br />
e no silencioso ruído das cinzas mortíferas<br />
que explodem no ar,<br />
gente que já viram o inferno atômico.<br />
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