Chicos 58 - 22.09.2019
Chicos é uma publicação de literatura e ideias de Cataguases - MG - Brasil. Fale conosco em cataletras.chicos@gmail.com
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José Antonio<br />
Pereira<br />
<strong>Chicos</strong><br />
Nasceu em Cataguases MG, é coautor de A<br />
casa da Rua Alferes e outras crônicas (2006) e<br />
autor de Fantasias de Meia Pataca (2013).<br />
Ô Glória!<br />
Naquelas trilhas abertas, chão batido<br />
pelo ir e vir dos moradores, via-se o avermelhado<br />
da bauxita. Seguiam em tortuosas<br />
paralelas a estrada de ferro, cruzando aqui e<br />
ali seus trilhos. Caminhos que enveredavam<br />
para além da ferrovia. Subia até a pitangueira<br />
do alto do pasto do Zé de Barros; zanzava<br />
pela margem do fedorento rio Meia Pataca<br />
até a represa da fábrica de papel. Aqueles<br />
moleques conheciam tão bem aqueles estreitos<br />
e variados caminhos que mesmo no breu<br />
da noite e com o mato já na altura do peito<br />
andavam e, correriam se necessário fosse,<br />
com a desenvoltura de quem os percorria várias<br />
vezes ao dia. Os três amigos de estripulias,<br />
Japonês, Pedrão e o moleque Ivo, irmão<br />
de Pedrão, atravessavam o pontilhão sobre o<br />
rio. Ivo é quem interrompe as risadas dos<br />
dois mais velhos sobre o último dos malfeitos.<br />
– A luz da Glorinha está acesa. Pedrão<br />
retruca, – Tem visita! Ao que Japonês emenda.<br />
– Dou a bunda se não for o coroa lá da<br />
praça. – E alguém vai querer esta tua bunda<br />
magra, ô Japa! Retruca Pedrão. Japonês reage,<br />
metem-se numa discussão recheada de<br />
ofensas recíprocas, entremeada de empurrões<br />
e peitadas, parecem dois galinhos ensaiando<br />
uma briga pelo terreiro. Ivo é que os chama<br />
às falas. – Ô panacas! Estão se esfregando<br />
por quê? O que emputecera Japonês, era Pedrão,<br />
de forma chula, o lembra-lo que a mãe<br />
era amante de um goleiro afamado na cidade.<br />
Depois de trocarem desculpas, dão tudo<br />
por esquecido. Seguem em linha reta pelo<br />
meio dos trilhos na direção da estação, passam<br />
pela chave do desvio que faz a curva<br />
para a direita, onde fica a casa de luz acesa.<br />
Param, olham, o Chevrolet preto reluz por<br />
traz das amoreiras, – É, o veio taí. E Ivo rindo<br />
muito. – Então não vai ter que dar a bunda.<br />
Que alívio em Japô. E outro bate-boca<br />
segue pelos trilhos.<br />
– A filha da falecida dona Clementina é linda.<br />
Diziam todos os homens. Seu nome de<br />
pia era Maria da Glória. Mas na vizinhança<br />
só se ouvia, Glorinha é uma sem juízo... Glorinha<br />
é uma pecadora... um péssimo exemplo<br />
para as meninas mais novas. Muitas vezes de<br />
forma rude alguma velha carola e recalcada<br />
soltava o verbo, – A amante do velho endinheirado?<br />
Aquilo é uma puta, vagabunda,<br />
tinha que tá enfiada em alguma zona, não<br />
aqui perto de nós, gente de bem e temente<br />
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