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Gestão Hospitalar N.º 17 2019

Responsabilização e profissionalização A evolução dos hospitais portugueses Hospitais públicos, níveis intermédios de gestão e administradores hospitalares As políticas e práticas de formação dos hospitais do SNS O papel da Inspeção Geral das Atividades em saúde nas organizações de saúde Responsabilidade penal médica por negligência Teresa Sustelo de Freitas: É imperioso fazer uma reforma profunda no modelo de prestação de cuidados de saúde Registos clínicos, codificação, financiamento: que triângulo queremos ter? Hospitalização domiciliária, uma boa alternativa ao internamento hospitalar para um grupo específico de pacientes APAH discute modelos de gestão da qualidade e melhoria continua em saúde Entrevista a Marcia Makdisse: Alocar valor aos pacientes Desempenho hospitalar como determinante na criação de valor em saúde Barómetro da adoção da telessaúde e inteligência artificial no sistema de saúde - Resultados da 1ª edição Análise aos resultados do Barómetro da adoção da telessaúde e inteligência artificial Telemonitorização de doentes com insuficiência cardíaca crónica: Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar Universitário Cova da Beira, E.P. Evocação do professor Coriolano Ferreira Prémio Coriolano Ferreira Vivências e testemunhos de 50 anos de história Homenagem aos sócios de honra e mérito da APAH Cerimónia comemorativa dos 50 anos da Administração Hospitalar em Portugal

Responsabilização e profissionalização
A evolução dos hospitais portugueses
Hospitais públicos, níveis intermédios de gestão e administradores hospitalares
As políticas e práticas de formação dos hospitais do SNS
O papel da Inspeção Geral das Atividades em saúde nas organizações de saúde
Responsabilidade penal médica por negligência
Teresa Sustelo de Freitas: É imperioso fazer uma reforma profunda no modelo de prestação de cuidados de saúde
Registos clínicos, codificação, financiamento: que triângulo queremos ter?
Hospitalização domiciliária, uma boa alternativa ao internamento hospitalar para um grupo específico de pacientes
APAH discute modelos de gestão da qualidade e melhoria continua em saúde
Entrevista a Marcia Makdisse: Alocar valor aos pacientes
Desempenho hospitalar como determinante na criação de valor em saúde
Barómetro da adoção da telessaúde e inteligência artificial no sistema de saúde - Resultados da 1ª edição
Análise aos resultados do Barómetro da adoção da telessaúde e inteligência artificial
Telemonitorização de doentes com insuficiência cardíaca crónica: Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar Universitário Cova da Beira, E.P.
Evocação do professor Coriolano Ferreira
Prémio Coriolano Ferreira
Vivências e testemunhos de 50 anos de história
Homenagem aos sócios de honra e mérito da APAH
Cerimónia comemorativa dos 50 anos da Administração Hospitalar em Portugal

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ABRIL MAIO JUNHO <strong>2019</strong><br />

Edição Trimestral<br />

N<strong>º</strong> <strong>17</strong><br />

GESTÃO<br />

HOSPITALAR<br />

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA aSSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE ADMINISTRADORES HOSPITALARES<br />

HISTÓRIA<br />

Evolução<br />

dos hospitais<br />

portugueses<br />

FORMAÇÃO<br />

Políticas<br />

e práticas<br />

de formação<br />

ESTRATÉGIA<br />

Hospitalização<br />

domiciliária<br />

COMEMORAÇÃO<br />

50 anos de história<br />

da AH<br />

ENTREVISTA<br />

teresa<br />

sustelo<br />

de freitas


GH SUMÁRIO<br />

abril maio junho <strong>2019</strong><br />

GESTÃO<br />

HOSPITALAR<br />

PROPRIEDADE<br />

APAH − Associação Portuguesa<br />

de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

Parque de Saúde de Lisboa Edíficio, 11 - 1.<strong>º</strong> Andar<br />

Av. do Brasil 53<br />

<strong>17</strong>49-002 Lisboa<br />

secretariado@apah.pt<br />

www.apah.pt<br />

DIRETOR<br />

Alexandre Lourenço<br />

DIRETORA-ADJUNTA<br />

Bárbara Sofia de Carvalho<br />

COORDENADORES<br />

Catarina Baptista, Miguel Lopes<br />

EDIÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO<br />

Bleed - Sociedade Editorial e Organização<br />

de Eventos, Ltda.<br />

Av. das Forças Armadas 4 - 8B<br />

1600 - 082 Lisboa<br />

Tel.: 2<strong>17</strong> 957 045<br />

info@bleed.pt<br />

www.bleed.pt<br />

PROJETO GRÁFICO<br />

Sara Henriques<br />

DISTRIBUIÇÃO<br />

Gratuita<br />

PERIODICIDADE<br />

Trimestral<br />

DEPÓSITO LEGAL N.<strong>º</strong><br />

16288/97<br />

ISSN N.<strong>º</strong><br />

0871–0767<br />

TIRAGEM<br />

2.000 exemplares<br />

IMPRESSÃO<br />

Grafisol, lda<br />

Rua das Maçarocas<br />

Abrunheira Business Center N<strong>º</strong>3<br />

2710-056 Sintra<br />

Esta revista foi escrita segundo as novas regras<br />

do Acordo Ortográfico<br />

Estatuto Editorial disponível em www.apah.pt<br />

4<br />

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72<br />

Editorial<br />

Responsabilização e profissionalização<br />

Alexandre Lourenço<br />

Evolução <strong>Hospitalar</strong><br />

A evolução dos hospitais portugueses<br />

José António Meneses Correia<br />

Evolução <strong>Hospitalar</strong><br />

Hospitais públicos, níveis intermédios de gestão e administradores hospitalares<br />

Júlio Pereira dos Reis<br />

<strong>Gestão</strong> da Formação<br />

As políticas e práticas de formação dos hospitais do SNS<br />

Tiago André Gomes de Oliveira<br />

Inspeção Geral<br />

O papel da Inspeção Geral das Atividades em saúde nas organizações de saúde<br />

Paulo Jorge Mantas Parreira<br />

Reflexões de Direito Biomédico<br />

Responsabilidade penal médica por negligência<br />

Sónia Mariza Florêncio Fidalgo<br />

Entrevista<br />

Teresa Sustelo de Freitas: É imperioso fazer uma reforma profunda no modelo<br />

de prestação de cuidados de saúde<br />

Registos Clínicos<br />

Registos clínicos, codificação, financiamento: que triângulo queremos ter?<br />

Maria José Costeira<br />

Hospitalização Domiciliária<br />

Hospitalização domiciliária, uma boa alternativa ao internamento hospitalar<br />

para um grupo específico de pacientes<br />

Ana Marques da Silva<br />

Iniciativa APAH | Conferência de valor<br />

APAH discute modelos de gestão da qualidade e melhoria continua em saúde<br />

Iniciativa APAH | Conferência de valor | Testemunho<br />

Marcia Makdisse: Alocar valor aos pacientes<br />

Iniciativa APAH | Conferência de valor<br />

Desempenho hospitalar como determinante na criação de valor em saúde<br />

Dora Melo, Tânia Portugal Henriques<br />

Iniciativa APAH | Barómetro<br />

Barómetro da adoção da telessaúde e inteligência artificial no sistema de saúde:<br />

Resultados da 1ª edição<br />

Teresa Magalhães<br />

Iniciativa APAH | Barómetro<br />

Análise aos resultados do Barómetro da adoção da telessaúde e inteligência artificial<br />

Eduardo Castela, Fernando Mota<br />

Prémio Healthcare Excellence | 2ª Menção Honrosa<br />

Telemonitorização de doentes com insuficiência cardíaca crónica: Serviço de Cardiologia<br />

do Centro <strong>Hospitalar</strong> Universitário Cova da Beira, E.P.<br />

João Pedro Reis Serra Garra, Luís Vítor Clemente Oliveira, Maria Gabriela Ramalhinho<br />

50 anos Administração <strong>Hospitalar</strong><br />

Evocação do professor Coriolano Ferreira<br />

José Nogueira da Rocha<br />

50 anos Administração <strong>Hospitalar</strong><br />

Prémio Coriolano Ferreira<br />

Mavilde Vitorino<br />

50 anos Administração <strong>Hospitalar</strong> | Livro 50 Anos em 20 olhares<br />

Vivências e testemunhos de 50 anos de história<br />

Carla Pedro<br />

Cerimónia Comemorativa<br />

Homenagem aos sócios de honra e mérito da APAH<br />

50 anos Administração <strong>Hospitalar</strong><br />

Cerimónia comemorativa dos 50 anos da Administração <strong>Hospitalar</strong> em Portugal<br />

APAH marca a agenda<br />

3


GH editorial<br />

Alexandre Lourenço<br />

Presidente da APAH<br />

Medalha de Ouro<br />

atribuída à APAH<br />

pelo Ministério da Saúde<br />

Responsabilização<br />

e profissionalização<br />

No passado mês de junho decorreram<br />

as eleições para a Associação Portuguesa<br />

de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

(APAH), tendo sido eleitos os<br />

novos corpos sociais para o período<br />

<strong>2019</strong>-2022. Uma equipa renovada tem agora como<br />

compromisso liderar a gestão de serviços de saúde<br />

através da responsabilização e profissionalização desta<br />

atividade.<br />

A linha editorial da Revista <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> suporta<br />

esta agenda e, como podem testemunhar, esta edição<br />

mantém a sua excelência de conteúdos. Começamos<br />

com a clarividência de dois sócios de mérito da<br />

APAH. José António Menezes Correia contextualiza o<br />

momento atual dos hospitais portugueses numa perspetiva<br />

histórica, destacando os sequenciais equívocos<br />

ao nível da sua governação, nomeadamente os atuais<br />

limites à descentralização dos hospitais públicos. Falanos,<br />

ainda, da empresarialização do Hospital Privado e<br />

o seu impacto num Hospital Público sem os mesmos<br />

instrumentos. Na mesma linha, Júlio Pereira dos Reis<br />

pronuncia-se sobre a nunca obtida autonomia de gestão<br />

intermédia do Hospital Público para alcançar não<br />

só a eficiência (do ponto de vista do prestador), mas<br />

também a satisfação do consumidor (doente/utente).<br />

É, também, neste alinhamento de recentramento no<br />

doente que Márcia Makdisse (oradora nas últimas<br />

Conferência de Valor em Peniche - comunicação disponível<br />

no Canal Youtube da APAH) considera que<br />

o passo mais importante para a agenda de valor é o<br />

compromisso da administração hospitalar.<br />

Assim, não é por acaso que nas páginas centrais, a<br />

administradora hospitalar Teresa Sustelo de Freitas<br />

crítica o modelo de prestação dos cuidados de saúde<br />

e defende um novo enfoque que promova um maior<br />

nível de exigência, de rigor e competitividade positiva<br />

no Sistema de Saúde.<br />

Para o presente, Ana Marques da Silva fala-nos da hospitalização<br />

domiciliária, Tiago de Oliveira de formação<br />

no SNS e Maria José Costeira de registos clínicos e<br />

financiamento. Ao nível das parcerias institucionais, do<br />

Centro de Direito Biomédico, Sónia Fidalgo aborda a<br />

responsabilidade penal médica por negligência e, da<br />

Inspeção-Geral das Atividades em Saúde, Paulo Parreira<br />

fala-nos do papel desta entidade nas organizações<br />

de saúde.<br />

A pensar no futuro, a APAH e a Glintt apresentaram<br />

os resultados da primeira edição do “Barómetro da<br />

adoção da telessaúde e inteligência artificial no sistema<br />

de saúde”. Teresa Magalhães explica a iniciativa e<br />

descreve os resultados obtidos e a Associação Portuguesa<br />

de Telemedicina faz uma apreciação da mesma.<br />

Demonstração da vitalidade da telessaúde é o artigo<br />

da equipa do Centro <strong>Hospitalar</strong> e Universitário da<br />

Cova da Beira, a qual apresenta o projeto de telemonitorização<br />

de doentes com insuficiência cardíaca<br />

(segunda menção honrosa do Prémio Healthcare Excellence<br />

2018).<br />

É nesta GH que damos, ainda, nota da cerimónia comemorativa<br />

da administração hospitalar em Portugal,<br />

onde tivemos a oportunidade de homenagear figuras<br />

incontornáveis da gestão em saúde deste último meio<br />

século. Nesta edição, José Nogueira da Rocha evoca a<br />

figura maior: Coriolano Ferreira.<br />

A sabedoria que só o passado nos dá, o pragmatismo<br />

do presente e a esperança regeneradora na construção<br />

de serviços de saúde melhores para todos. É esta<br />

a vossa GH. Ã<br />

4


GH evolução hospitalar<br />

A EVOLUÇÃO DOS<br />

HOSPITAIS PORTUGUESES<br />

José António Meneses Correia<br />

Sócio de Mérito da APAH<br />

A<br />

evolução do hospital português foi<br />

idêntica à dos restantes países europeus.<br />

O que sucede na Europa<br />

acaba, mais tarde ou mais cedo,<br />

por acontecer em Portugal. Normalmente,<br />

muito mais tarde. Ainda que a legislação<br />

acolha, precocemente, novas ideias, passa muita água<br />

debaixo das pontes, antes de serem operacionalizadas.<br />

No passado, como no presente, a realidade, no<br />

nosso país, fica muito longe da norma jurídica.<br />

A lei 2011, publicada em 1946, é disso um bom<br />

exemplo. Muito antes de outros países o terem feito<br />

definia-se, em Portugal, um sistema hospitalar regionalizado,<br />

baseado em princípios de hierarquia técnica,<br />

complementaridade de valências e coordenação<br />

de atividades.<br />

Contra a corrente da doutrina assistencial então em<br />

vigor, estipulava a Lei 2011 que os encargos da assistência<br />

competiriam ao Estado, nos seus estabelecimentos<br />

próprios, e seriam custeados, em regime<br />

de cooperação, nos pertencentes a outras entidades.<br />

A Lei 2011 nunca foi regulamentada. Dezassete anos<br />

depois era aprovado o Estatuto da Saúde e Assistência<br />

(Lei 2120) que reservava ao Estado uma ação<br />

meramente supletiva em relação às iniciativas e instituições<br />

particulares, que deveria favorecer, sempre<br />

que oferecessem “as condições morais, financeiras e<br />

técnicas mínimas para a prossecução dos seus fins”.<br />

A responsabilidade pelo pagamento de serviços de<br />

saúde e assistência, para quem não fosse beneficiário<br />

da Previdência Social, cabia aos próprios assistidos e<br />

às suas famílias ou às câmaras municipais, no caso da<br />

“<br />

A CRIAÇÃO DOS HOSPITAIS SA<br />

PRETENDIA CONFIGURAR<br />

UM MODELO DE<br />

DESCENTRALIZAÇÃO<br />

ADMINISTRATIVA.<br />

assistência prestada aos pobres indigentes que tivessem<br />

o domicílio de socorro no respetivo concelho.<br />

À Santa Casa da Misericórdia da sede do concelho<br />

competia “o primeiro lugar nas atividades hospitalar<br />

e assistencial, por ação dos seus serviços próprios<br />

ou como centro coordenador daquelas atividades”.<br />

O direito à saúde só viria a ser plasmado em lei em<br />

1971, na Reforma de Gonçalves Ferreira. Ou seja,<br />

até à sua fase final, o regime anterior foi profundamente<br />

assistencialista e valeu-se das Misericórdias<br />

para assistir os mais desprotegidos.<br />

“O processo paulatino de secularização da sociedade<br />

portuguesa, de modernização do aparelho de<br />

Estado e de construção duma economia capitalista<br />

não impediu um aparente renascimento das Misericórdias,<br />

no final do Séc. XIX e sobretudo durante o<br />

Estado Novo.” 1<br />

A construção, remodelação ou ampliação de hospitais<br />

é largamente comparticipada pelo Estado e outros<br />

fundos (receitas do Totobola e Fundação Gulbenkian).<br />

É também a época “da mobilização popular, através<br />

dessa típica instituição do Estado Novo que se chamava<br />

cortejo de oferendas”. 2<br />

O Hospital da Misericórdia era ainda, nesse tempo, o<br />

hospital dos pobres. Como reconhecia, em 1998, o<br />

Conselho de Reflexão para a Saúde, os “membros da<br />

classe média alta do setor produtivo” e os “detentores<br />

de altos rendimentos” usavam “o setor privado de<br />

prestação de cuidados, consultórios e Casas de Saúde,<br />

de maior ou menor dimensão, de gestão privada, com<br />

ou sem fins lucrativos e pagavam do seu bolso”.<br />

Com a revolução de Abril os hospitais da Misericórdia<br />

foram nacionalizados. Se bem que a oficialização<br />

dos hospitais mais não tenha feito “do que reconhecer<br />

um caráter quase público preexistente, dada a<br />

finalidade não lucrativa e o facto de já serem financiados<br />

a 95% pelo Estado” 3 , ainda hoje há setores da<br />

sociedade portuguesa que consideram essa decisão<br />

um grave prejuízo para o País. Numa entrevista à Voz<br />

das Misericórdias afirmava, em 2004, o Provedor de<br />

uma delas:<br />

“Os 350 hospitais que foram retirados às Santas Casas<br />

em 1975 constituem, para mim, um golpe na saúde<br />

e do qual até hoje o País está ainda a ressentir-<br />

-se. Foi realmente um mau ato de gestão e um erro<br />

histórico na área da saúde. Os governantes de então<br />

não sabiam o que eram os hospitais das Misericórdias.<br />

Com exceção dos hospitais escolares e civis,<br />

eram as Misericórdias que faziam a saúde em todo o<br />

País. Era garantido o apoio às populações, e a rede<br />

funcionava bem.”<br />

O Estado Novo já tinha reconhecido que estávamos<br />

longe da visão idílica do senhor Provedor. Por isso,<br />

lançara um vasto programa de construção de novos<br />

hospitais. Antes de 1974 foram inaugurados e começaram<br />

a funcionar os Hospitais de Beja, Bragança,<br />

Portalegre e Funchal. Todos construídos pelo Estado.<br />

Todos hospitais oficiais.<br />

Se é verdade que as Misericórdias não tinham recursos,<br />

nem capacidade de gestão, para garantir o funcionamento<br />

dos novos hospitais distritais, situação<br />

diferente acontecia com os pequenos hospitais concelhios.<br />

O Prof. Correia de Campos, ao comentar<br />

as obras neles realizadas, com dinheiros do Estado,<br />

escrevia em 1983:<br />

“Se durante os anos sessenta se chegou a considerar<br />

desperdício tanta construção nova nas sedes dos<br />

pequenos concelhos, sobretudo do interior, e hoje<br />

ainda desesperamos de delas extrair o rendimento<br />

digno para o volume do investimento, amanhã<br />

rejubilaremos quando muitos deles puderem ser<br />

transformados em hospitais para crónicos e convalescentes.<br />

Nessa altura veremos talvez transformado<br />

em obra válida o fruto dum investimento onde<br />

a demagogia da politiquice local desempenhou papel<br />

importante”. 4<br />

Alguns dos hospitais concelhios foram promovidos<br />

a distritais e desenvolveram-se por impulsos políticos<br />

(partidários) sem nenhuma perspetiva de rede, fugindo<br />

a normas de planeamento do próprio Ministério<br />

e contrariando as mudanças demográficas e tecnológicas,<br />

entretanto ocorridas.<br />

A Oficialização dos Hospitais das Misericórdias ocorreu<br />

em plena crise energética, num tempo em que,<br />

nos países mais avançados, o Estado Social começava<br />

a dar sinais de dificuldades. Daí o subfinanciamento<br />

crónico, que teve como reflexo uma tecno estrutura<br />

praticamente inexistente, com consequências na<br />

qualidade da gestão.<br />

Persistindo nos hospitais um problema de gestão,<br />

entendeu-se, em 1988, que ele residiria nos administradores<br />

da carreira hospitalar e abriu-se a possibilidade<br />

legal de recrutar para o cargo de administrador<br />

delegado “gestores de reconhecido mérito, vinculados<br />

ou não à função pública e com currículo adequa-<br />

”<br />

do às funções a exercer” (n<strong>º</strong>1 Art.<strong>º</strong> 9.<strong>º</strong> do Decreto<br />

Regulamentar n.<strong>º</strong> 3/88).<br />

Bastaria ter lido Drucker para saber que as coisas<br />

não são assim tão simples. “As forças que impedem<br />

o espírito empresarial e a inovação numa instituição<br />

de serviços públicos são-lhe inerentes, fazem parte<br />

dela e são dela inseparáveis.” 5<br />

No mesmo diploma, o legislador também introduziu<br />

alterações na estrutura, ao prever a criação de Centros<br />

de Responsabilidade, que se não vieram a concretizar<br />

porque entre o modelo burocrático e a descentralização<br />

administrativa há uma contradição insanável.<br />

Em 1996 foi nomeado um Grupo de Trabalho, coordenado<br />

pelo Prof. Vasco Reis, com o objetivo de<br />

identificar as situações comprometedoras da eficiência<br />

dos hospitais e de equacionar um modelo, ou<br />

modelos estruturais, apropriados à superação dos<br />

problemas identificados.<br />

As conclusões desse trabalho abriram caminho a experiências<br />

inovadoras de gestão: primeiro hospital e<br />

primeira Unidade Local de Saúde com o estatuto<br />

de estabelecimento público de natureza empresarial.<br />

Sem que estas experiências tivessem sido avaliadas,<br />

foram transformados 31 hospitais em sociedades<br />

anónimas de capital público (Hospital SA). A uma<br />

abordagem gradual e experimentalista preferiu-se<br />

uma solução top-down sem preparação adequada.<br />

A criação dos Hospitais SA pretendia, naturalmente,<br />

configurar um modelo de descentralização administrativa,<br />

com delegação de poderes nos conselhos de<br />

administração. Para acompanhar essa descentralização<br />

foi criada uma Unidade de Missão que construiu }<br />

6 7


GH evolução hospitalar<br />

“<br />

AS INEFICIÊNCIAS<br />

DO SETOR PÚBLICO<br />

FORAM DETERMINANTES<br />

NO CRESCIMENTO<br />

DO SETOR PRIVADO.<br />

”<br />

o “Tableau de Bord dos Hospitais SA”. A informação<br />

de gestão tornou-se mais ampla e rigorosa, mas quase<br />

exclusivamente focada em objetivos financeiros e<br />

de eficiência.<br />

A monitorização da atividade dos hospitais passou<br />

assim a ser feita por várias entidades (IGIF, ARS e<br />

UMHSA), com base em critérios nem sempre coincidentes<br />

e sem os melhores resultados.<br />

Apesar das múltiplas tutelas, considerou o relatório<br />

da Comissão de Avaliação dos Hospitais SA (2006)<br />

(CAHSA) que “o sistema funciona de uma forma bastante<br />

autónoma, sobretudo nos SA, e não só pouco<br />

articulada como pouco controlada”.<br />

O controlo insuficiente ficou a dever-se a um dos<br />

equívocos do processo de empresarialização: “Havia<br />

um contrato-programa nas mãos das agências<br />

de contratualização (ARS), instrumento de aquisição<br />

de serviços ao hospital e da regulação da procura<br />

e oferta de cuidados na região (função compra e distribuição<br />

de recursos do SNS). Porém, o contrato<br />

necessário era da função acionista (Ministério das<br />

Finanças e da Saúde) com a gestão, um contrato de<br />

gestão. Assim, nunca existiu verdadeira prestação de<br />

contas da gestão dos Hospitais SA.” 6<br />

Não foi, também, previamente negociado um Acordo<br />

Coletivo de Trabalho (ACT), capaz de acomodar<br />

a regulamentação das carreiras e fixar retribuições<br />

fixas e variáveis. Pior do que isso, foram prometidos<br />

incentivos que nunca se concretizaram, com reflexos<br />

evidentes na motivação dos funcionários.<br />

A disponibilidade de capital social, a inexistência do<br />

ACT e a falta do contrato de gestão permitiram uma<br />

prática perversa de remunerações e o desenvolvimento<br />

de projetos ao arrepio das mais elementares<br />

normas de planeamento.<br />

A manutenção do regime de funcionário público<br />

promoveu a extensão aos médicos das políticas de<br />

aposentação na AP, fazendo-os desertar para um<br />

setor privado progressivamente inflacionado, pela<br />

incapacidade do MS de planear e regular a oferta<br />

de cuidados.<br />

Apesar de tudo, os resultados mostraram que, na<br />

generalidade das áreas, os Hospitais SA apresentaram<br />

alguns ganhos de eficiência. Natural, por isso,<br />

a transformação em Hospitais EPE, com o objetivo<br />

de impedir a sua putativa privatização.<br />

A comparação dos indicadores de saúde, em 1970<br />

e nos nossos dias, mostra-nos o extraordinário progresso<br />

registado em Portugal, que nos aproximou<br />

dos países desenvolvidos.<br />

A melhoria da saúde dos portugueses não tem apenas<br />

a ver com a melhoria das condições de vida e das<br />

infraestruturas sanitárias, mas também com a criação<br />

do SNS que, nos termos da Constituição, obriga<br />

o Estado a assegurar o direito à proteção da saúde.<br />

Apesar da grande melhoria da qualidade dos hospitais<br />

públicos, na tripla vertente da estrutura, do<br />

processo e dos resultados, a eficiência do setor não<br />

acompanhou o aumento da procura.<br />

As ineficiências do setor público foram determinantes<br />

no crescimento do setor privado. Até final do<br />

século passado, o tipo de oferta em hospitalização<br />

privada pouco se alterou, continuando a assentar na<br />

Casa de Saúde. Propriedade de confrarias, ordens<br />

religiosas, ou de privados, as Casas de Saúde são, essencialmente,<br />

plataformas logísticas, cujo cliente primário<br />

é o médico. O médico da Casa de Saúde é<br />

também o médico que trabalha no setor público,<br />

o que, desde sempre, deu origem a uma relação<br />

equívoca entre os dois setores.<br />

“A promiscuidade entre os setores privado e público<br />

é, claramente, a principal causa da falta de produtividade<br />

nos serviços hospitalares.” 7<br />

A procura de cuidados privados de saúde alterou-se<br />

muito nas últimas décadas, com o desenvolvimento<br />

dos seguros de saúde.<br />

Os seguros e os subsistemas de saúde, principalmente<br />

a ADSE, proporcionaram o aparecimento de<br />

um novo tipo de oferta - O Hospital Privado - com<br />

características diversas das da Casa de Saúde. Propriedade<br />

de grandes grupos económicos, apoia-se<br />

em sistemas de gestão evoluídos, dispõe de quadros<br />

técnicos próprios e equipamento sofisticado. A procura<br />

deixa de ser fundamentalmente determinada<br />

pelo médico, na sua faceta de médico liberal, estando<br />

agora mais dependente da “marca” institucional.<br />

Trata-se, afinal, do processo de empresarialização<br />

da hospitalização privada.<br />

Numa perspetiva holística, a empresarialização dos<br />

hospitais, públicos e privados até podia ser um facto<br />

positivo, caso se tratasse de uma oferta substitutiva<br />

das Casas de Saúde. Afinal, tem sido mais aditiva que<br />

substitutiva, sendo que a uma oferta não planeada, se<br />

acrescenta ainda à dos renovados hospitais das Misericórdias,<br />

não já com as características caritativas, mas<br />

em concorrência privilegiada com o setor privado.<br />

Ultimamente tem havido migração de equipas de<br />

médicos altamente qualificados, do setor público<br />

para os hospitais privados. Sendo esses médicos<br />

contratados em regime de exclusividade, este pode<br />

ser o começo da clarificação entre os dois setores.<br />

Será agora necessário que o Estado crie, mesmo que<br />

num cenário de médio prazo, condições para a dedicação<br />

exclusiva nos serviços oficiais, assegurando<br />

a progressão na carreira e a atribuição de incentivos<br />

em função dos resultados.<br />

A situação atual não parece, contudo, muito favorável<br />

a que tal aconteça. Sob o pretexto de controlar<br />

a despesa, “o Ministério das Finanças tem uma estratégia<br />

assente na suborçamentação e na tentativa<br />

administrativa de adiamento da despesa", afirmou<br />

Alexandre Lourenço, presidente da APAH numa entrevista<br />

ao Negócios/Antena 1.<br />

É verdade que no SNS “não existe, como se verifica<br />

no NHS, um conjunto de metas nacionais para<br />

os hospitais EPE em áreas que assegurem equidade<br />

e qualidade mínimas. Também não existe uma função<br />

estruturada de apoio à gestão dos hospitais e<br />

o acompanhamento apresenta problemas, quer na<br />

contratualização quer na função acionista. As auditorias<br />

realizadas por IGAS, IGF e Tribunal de Contas<br />

são positivas, embora com limitações quanto à<br />

frequência e âmbito. As previstas para a ACSS na<br />

área económico-financeira não acontecem. Dadas<br />

as debilidades de controlo externo e avaliação da<br />

gestão ganha ainda maior importância, diria mesmo<br />

imprescindibilidade”. 8<br />

Por deliberação do C. Ministros, de 8 de maio de<br />

2018, foi criada a Estrutura de Missão para a Sustentabilidade<br />

do Programa Orçamental da Saúde, “tendo<br />

como missão o acompanhamento do desempenho<br />

financeiro global das entidades do Serviço<br />

Nacional de Saúde (SNS) e do Ministério da Saúde<br />

(MS) e a proposição de medidas que contribuam para<br />

a sustentabilidade do SNS”.<br />

O seu coordenador Julian Perelman, nomeado por<br />

Despacho conjunto do Ministério das Finanças e do<br />

Ministério da Saúde, reconheceu, em reunião parlamentar<br />

de 9 de janeiro deste ano, as consequências<br />

da suborçamentação e anunciou um projeto de autonomia<br />

e financiamento dos hospitais em <strong>2019</strong>.<br />

"A ideia deste projeto é que tem de haver um reforço<br />

orçamental para os hospitais para aproximar<br />

os orçamentos às suas necessidades", mas, "é preciso<br />

haver uma segurança clara de que o dinheiro vai ser<br />

bem alocado".<br />

A melhor forma de conseguir esses dois objetivos,<br />

como o Presidente da APAH tem inúmeras vezes<br />

referido e foi reconhecido pelo Ministro das Finanças,<br />

em entrevista de 2 de abril ao jornal Público, é<br />

restituir a autonomia aos Hospitais EPE e monitorizar<br />

permanentemente a sua performance.<br />

A empresarialização dos hospitais públicos resultou<br />

da necessidade de adotar um modelo descentralizado<br />

capaz de eliminar as disfunções burocráticas.<br />

A descentralização pressupõe a delegação de poderes,<br />

enquadrada por dois princípios:<br />

• O princípio da integração: cada responsável orgânico<br />

deve ter poder de decisão sobre o conjunto dos<br />

aspetos funcionais que condicionam o resultado da<br />

sua atividade;<br />

• O princípio da coerência na ação: devem ser definidos<br />

rigorosamente os limites dentro dos quais se<br />

exerce a autonomia dos responsáveis orgânicos.<br />

Acredito firmemente nas vantagens da descentralização<br />

e na motivação que ela traz aos profissionais.<br />

Como dizia Alfred Sloan, o lendário CEO da General<br />

Motors: “É impossível saber a medida do que um<br />

indivíduo pode conseguir, a não ser que lhe seja dada<br />

responsabilidade.” Ã<br />

1. Graça, Luís - htpps/www.ensp.unl.pt/luis.graça/textos70.html.<br />

2. Graça, Luís - htpps/www.ensp.unl.pt/luis.graça/textos70.html.<br />

3. Campos, A.C. e Simões, Jorge - 40 anos de abril na Saúde.<br />

4. Campos, A. C. - Saúde, o custo dum valor sem preço.<br />

5. Drucker, Peter - Inovação e <strong>Gestão</strong>.<br />

6. Alves, A. Dias - Responsabilidade e governação na Moderna <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong><br />

- Tese de Doutoramento.<br />

7. Antunes, Manuel - A doença da saúde.<br />

8. Alves, A. Dias - Responsabilidade e governação na Moderna <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>.<br />

8 9


GH evolução hospitalar<br />

HOSPITAIS PÚBLICOS, NÍVEIS<br />

INTERMÉDIOS DE GESTÃO<br />

E ADMINISTRADORES<br />

HOSPITALARES<br />

Júlio Pereira dos Reis<br />

Sócio de Mérito da APAH<br />

Com o aproximar do momento previsto<br />

para a entrada em funcionamento do<br />

NHCC (HUC), em meados dos anos<br />

80, colocou-se à equipa encarregada de<br />

cumprir essa tarefa, a qual integrava, a<br />

necessidade de encontrar resposta para uma questão<br />

complexa, que era a de saber como organizar a nova<br />

unidade por forma a potenciar uma gestão capaz de<br />

criar a eficiência exigida pelo vultuoso investimento feito<br />

em instalações, equipamentos e recursos humanos<br />

(como teoricamente aprendíamos com Peter Druker,<br />

Frederick Taylor, Henry Ford, Henri Fayol, etc.).<br />

Em simultâneo, foi necessário atender a outro desafio,<br />

nomeadamente a grande dimensão da estrutura em<br />

causa (mais de 1.600 camas, dispersas em 3 polos: central,<br />

celas e maternidade).<br />

Fechada esta deriva teórico/filosófica, tínhamos, também,<br />

a convicção de que os tradicionais serviços fragmentavam<br />

o desempenho assistencial, com dificuldade<br />

de integração e, por isso, não facilitariam práticas<br />

de gestão desconcentrada e participada, bem como<br />

a utilização comum de recursos técnicos e humanos.<br />

Além disso, tínhamos a preocupação de ligar os administradores<br />

hospitalares à gestão dos serviços de prestação<br />

direta, responsabilizá-los mesmo, na medida do<br />

possível, pelos resultados dessa gestão, não limitando,<br />

assim, a sua ação a meros responsáveis pelos setores<br />

tradicionais de apoio, também chamados, na altura, de<br />

serviços adjetivos.<br />

Hoje, provavelmente, perante as mesmas circunstâncias,<br />

estaríamos igualmente preocupados, a par da eficiência,<br />

com a criação de mais valor social no contexto da eficácia<br />

da prestação, face a um mais moderno conceito de<br />

gestão, bem explicado e fundamentado pela professora<br />

e investigadora Joan Magretta, no seu livro intitulado “O<br />

que é a gestão”. Ensina ela que a criação de valor se<br />

faz de fora para dentro, donde “a questão, ao mesmo<br />

tempo subtil e óbvia, é que o valor é definido não pelo<br />

que uma organização faz, mas pelos clientes que compram<br />

os seus bens ou serviços”, ou também “uma organização<br />

só pode ter um bom desempenho se for ao<br />

encontro das necessidades dos consumidores, que, por<br />

sua vez, são definidas pelos próprios consumidores”.<br />

Em saúde, nomeadamente na área da prestação pública,<br />

cumprirá então aos gestores, na ótica do que fica dito,<br />

aquilatar do grau de satisfação do consumidor (doente/<br />

/utente), face ao que lhes é prestado. É que não basta<br />

a prestação ser eficiente e eficaz (do ponto de vista do<br />

prestador) para que o dito consumidor sinta que a sua<br />

necessidade foi bem satisfeita. Poderá haver sempre, na<br />

sua perspetiva, a noção de que o desempenho do dito<br />

prestador pecou por falhas, carências, especialmente<br />

de informação, incumprimentos de datas e horas, incompreensões,<br />

desconforto, indiferença, etc. Identificar<br />

estes aspetos e procurar resolvê-los será certamente<br />

uma preciosa maneira de criar valor e, talvez mesmo,<br />

descortinar algumas razões para o facto de atualmente<br />

se registar um gradual e significativo aumento das despesas<br />

das famílias na aquisição de serviços em saúde de<br />

prestação privada.<br />

A decisão foi então a de criar, para o novo complexo<br />

hospitalar, um nível intermédio de gestão, a que<br />

chamámos, à falta de melhor, áreas de administração,<br />

constituídas pelo agrupamento de serviços do hospital<br />

segundo o critério de homogeneidade da atividade dos<br />

mesmos, na medida do possível, e onde seriam colocados<br />

administradores hospitalares, com os poderes/deveres<br />

de administração que foi possível estabelecer, no<br />

contexto da organização legal interna das instituições<br />

hospitalares públicas na altura.<br />

Por este motivo, mas não só, a margem de manobra<br />

de gestão dos administradores foi sempre algo limitada,<br />

não lhes permitindo, contra o que seria desejável, uma<br />

intervenção direta no planeamento, orçamentação,<br />

gestão de recursos humanos e materiais, controlo de<br />

custos, análise crítica de resultados, ou seja, verdadeiros<br />

gestores, essencialmente dos serviços de ação médica<br />

e de MCDT da sua responsabilidade, facto que emerge,<br />

com muita evidência, da leitura das tarefas algo modestas<br />

que se lhes foram confiadas.<br />

Embora o decreto-lei 16/87 e decreto regulamentar<br />

3/87 previssem a criação de centros de responsabilidade<br />

e de custos, mais numa ótica contabilística, afigura-se-me,<br />

o pioneirismo da nossa estratégia de ação,<br />

veio a ter algum acolhimento legal no decreto-lei 19/88,<br />

de 21 de janeiro, e no decreto regulamentar 3/88, de<br />

22 de janeiro, que no seu artigo 32<strong>º</strong> confere apenas<br />

(sublinho) a coordenação das atividades das Áreas de<br />

Administração a um profissional da carreira hospitalar.<br />

Na verdade, estes diplomas nada resolveram relativamente<br />

aos constrangimentos legais e comportamentais<br />

(derivados de conflitos de interesses socio-corporativos,<br />

essencialmente) implicados na experiência levada<br />

a efeito e, por isso, não ajudaram os administradores a<br />

ter um papel mais relevante, em termos de real gestão,<br />

nas suas áreas de atuação. Da minha vivência, enquanto<br />

profissional ativo em ambiente hospitalar, pude constatar,<br />

com alguma pena, resultados algo aquém do que<br />

era esperado e desejado, quer por alguma relutância<br />

de adesão de diretores dos serviços, receosos de quebra<br />

de poder e/ou controlo das suas atividades, quer<br />

também por alguma resistência em desconcentrar poderes<br />

por parte do órgão central interno de comando,<br />

quer por, num ou noutro caso, alguma descrença do<br />

administrador na sua capacidade de ultrapassar as contrariedades,<br />

e daí algum parco empenho em atuar. Mas<br />

é bom dizer, em abono da verdade, que muito do relativo<br />

insucesso da gestão intermédia residiu fortemente<br />

nos constrangimentos legais já referidos.<br />

Entretanto, o decreto-lei 374/99 vem criar os centros<br />

de responsabilidade integrados, dirigidos por médicos,<br />

que deverão integrar, para ações de gestão especificadas,<br />

administradores hospitalares de carreira, de preferência,<br />

e depois o disposto no decreto-lei 188/2003, de<br />

20 de agosto, que fala em centros de responsabilidade<br />

e de custos, de gestão descentralizada, com entrega de<br />

tarefas de assessoria a profissionais com o perfil adequado<br />

(administradores hospitalares?).<br />

No CHUC são criadas as chamadas UGI, Unidades<br />

de <strong>Gestão</strong> Intermédia, enquanto segundo nível intermédio<br />

de gestão, dirigidas por médicos, aparecendo o<br />

administrador como um dos elementos da equipa de<br />

gestão, não se especificando o conteúdo da respetiva<br />

função no conjunto. Entretanto, prevê-se que as UGI<br />

possam integrar outra unidade de gestão intermédia<br />

(um terceiro nível de gestão intermédia, a par dos tradicionais<br />

serviços de ação médica, que se podem transformar<br />

em unidades de gestão operacional, UGO), ou<br />

seja, o CRI (Centro de Responsabilidade Integrada) a<br />

funcionar com poderes delegados, cujo diretor será um<br />

profissional com experiência reconhecida em administração<br />

hospitalar (administrador hospitalar de carreira?).<br />

O decreto-lei 233/2005, no seu n.<strong>º</strong> 2 do artigo 9.<strong>º</strong>, que<br />

cria mais hospitais EPE, volta a determinar uma organização<br />

orgânica baseada em centros de responsabilidade,<br />

referindo, a propósito, palavras-chaves de gestão<br />

como contratualização, autonomia, responsabilidade,<br />

modelo que é retomado o decreto-lei n<strong>º</strong> 18/20<strong>17</strong>, de<br />

10 de fevereiro, que agora cria os CRI como forma<br />

de se conseguir mais acessibilidade aos cuidados, mais<br />

eficiência e eficácia, e onde o administrador hospitalar<br />

aparece integrado numa equipa de profissionais, responsáveis<br />

pela gestão deste patamar de gestão e respetivos<br />

resultados.<br />

Do que fica exposto, conclui-se que não será por falta<br />

de legislação que não existam eventualmente nos hospitais<br />

públicos, quer tenham o estatuto de EPE ou de<br />

SPA, níveis intermédios de gestão devidamente estruturados,<br />

não meramente em termos formais, mas em<br />

concreto funcionamento, para assim dar cumprimento<br />

aos objetivos, sempre preconizados, de mais eficiência,<br />

mais eficácia e qualidade da prestação, mais produtividade,<br />

maior proximidade com os utentes, etc. Naturalmente,<br />

tudo no pressuposto de atribuição de mais<br />

autonomia de gestão com a correspondente responsabilização,<br />

contratualização adequada na base de objetivos<br />

devidamente ponderados, etc.<br />

Efetivamente afastado, há muito tempo, das lides profissionais,<br />

desconheço, nesta matéria, a realidade nos<br />

nossos hospitais públicos, embora tenha a convicção,<br />

pelos ecos que me vão chegando, que, em boa verdade,<br />

persiste genericamente, na prática, uma gestão<br />

centrada na estrutura orgânica instituída, em 1968, pelo<br />

saudoso Mestre Coriolano Ferreira, ou seja, o "velho"<br />

serviço de ação médica. Pode ser que os CRI, ora legalmente<br />

criados, venham alterar a situação, embora isso<br />

me pareça algo difícil, dadas as condicionantes impostas.<br />

A ver vamos. Ã<br />

10 11


GH <strong>Gestão</strong> da Formação<br />

AS POLÍTICAS<br />

E PRÁTICAS DE FORMAÇÃO<br />

DOS HOSPITAIS DO SNS<br />

Tiago André Gomes de Oliveira<br />

Técnico Superior no Centro Académico e de Formação<br />

do Hospital da Senhora da Oliveira, Guimarães<br />

A<br />

humanização, modernização e evolução<br />

qualitativa na prestação de<br />

cuidados de saúde das instituições<br />

de saúde exige que a qualificação<br />

dos seus recursos humanos seja<br />

atingida através de processos de educação/formação<br />

ao longo da vida, contextualizados em programas de<br />

formação adequados às necessidades dos recursos<br />

humanos, das populações, das instituições, da evolução<br />

científica e da política global de saúde. A conceção<br />

dos referidos processos de formação carece de<br />

uma identidade definida.<br />

Em qualquer organização, área de trabalho e/ou serviço<br />

é relevante a identificação da política e prática de<br />

gestão de recursos humanos adotada na administração,<br />

por forma a delinear o seu caminho, os objetivos<br />

a alcançar.<br />

Neste sentido, compreender, refletir e interpretar o<br />

modo de atuação dos atores/unidades responsáveis<br />

pela formação dos profissionais do setor da saúde tornou-se<br />

essencial, pelo que através de um estudo multicasos,<br />

nomeadamente de cinco unidades hospitalares<br />

portuguesas da zona Norte, no âmbito de uma investigação<br />

realizada num projeto de estágio de mestrado<br />

por Oliveira (20<strong>17</strong>), procurou-se satisfazer essa necessidade,<br />

identificando as políticas e práticas de formação<br />

adotadas pelas referidas unidades hospitalares.<br />

A formação profissional dos profissionais de saúde<br />

A formação dos profissionais da saúde é essencial no<br />

suporte de um processo de mudança, pois “novos paradigmas<br />

de formação induziram reformulações profundas<br />

nos conteúdos e nas metodologias de ensino-<br />

-aprendizagem e de avaliação que urge assimilar”, no<br />

entanto, não é suficiente a transmissão de conhecimentos,<br />

sendo imperioso o desenvolvimento das capacidades<br />

(Grupo Técnico para a Reforma da Organização<br />

Interna dos Hospitais, 2010, pp.3-4).<br />

As posturas, comportamentos e profissionalismo são<br />

qualidades fulcrais no exercício das atividades da saúde,<br />

que devem ter peso curricular e ser objeto de treino e<br />

avaliação constante (idem).<br />

Baganha, Ribeiro, & Pires (2002, p.16), complementam,<br />

referindo que “a formação constitui, aliás, uma outra<br />

vertente decisiva na determinação das necessidades de<br />

profissionais numa área com níveis de qualificação cada<br />

vez mais exigentes, como é o caso da saúde. Com<br />

efeito, só a partir de um conhecimento aprofundado<br />

das necessidades de formação é possível vislumbrar,<br />

ao longo prazo, a capacidade de renovação interna do<br />

próprio sistema”.<br />

Especificamente no campo hospitalar, Feuerwerker<br />

& Cecílio (2007, p.966) acentuam a necessidade da<br />

formação dos profissionais de saúde, citando que “o<br />

hospital está nas duas pontas da questão da formação:<br />

como qualquer outro equipamento de saúde, necessita<br />

de trabalhadores formados adequadamente - para<br />

a gestão e para a atenção - e, ao mesmo tempo, cumpre<br />

um papel fundamental na conformação do perfil<br />

dos trabalhadores da área da saúde, como espaço privilegiado<br />

de aprendizagem durante a formação - técnica,<br />

de graduação e de pós-graduação. Mas o hospital<br />

não é qualquer equipamento de saúde. É uma organização<br />

complexa - atravessada por múltiplos interesses,<br />

que ocupa lugar crítico na prestação de serviços de<br />

saúde, lugar de construção de identidades profissionais,<br />

com grande reconhecimento social”.<br />

O Grupo Técnico para a Reforma da Organização Interna<br />

dos Hospitais (2010), vem realçar que a forma<br />

de concretização da formação nos hospitais não<br />

poderá continuar a ser realizada com base em modelos<br />

estáticos e clássicos, como aconteceu na segunda<br />

metade do século passado, fundamentados apenas<br />

pela divulgação dos conhecimentos técnicos e científicos<br />

e respetiva atualização, desadequados às<br />

realidades e necessidades formativas, suscetíveis de<br />

produzirem modificações nas práticas, quer ao nível<br />

individual, quer ao nível organizacional.<br />

O referido Grupo Técnico releva que “o estímulo ao<br />

conhecimento científico tem que ser enquadrado numa<br />

cultura de gestão, cujo paradigma deverá ser a<br />

transferência do brio profissional individual para o Serviço<br />

Público, a preocupação constante com a qualidade<br />

e continuidade da prestação de cuidados, a resposta<br />

efetiva às necessidades de saúde da população e com<br />

a correta utilização de recursos” (idem, pp.33-34).<br />

Importa explorar a questão da política da gestão da<br />

formação, na vertente contínua, definida também por<br />

política de educação permanente em saúde, sendo que<br />

na opinião de Sarreta (2009, p.14-15), “esta política foi<br />

arquitetada como estratégia para a formação e o desenvolvimento<br />

dos trabalhadores do setor”.<br />

A exploração da referida temática “levou a questionar<br />

se é possível modificar a ação dos trabalhadores na saúde,<br />

fazendo com que a formação profissional provoque<br />

o desenvolvimento da crítica e autocrítica e a reflexão<br />

do mundo do trabalho, o qual reproduz a dominação<br />

nas relações sociais. Do mesmo modo, poder-se-ia observar<br />

se a educação, como instrumento de transformação,<br />

nesse processo, pode ampliar o conhecimento<br />

e os saberes existentes e desenvolver uma postura<br />

ativa que transforme a ação desses sujeitos. Portanto,<br />

essa formação deve ser permanente, uma vez que<br />

os sujeitos estão, permanentemente, reinterpretando,<br />

redefinindo novos sentidos e modificando comportamentos”.<br />

(idem, p.15)<br />

Sarreta (2009, p.25) acrescenta ainda que a política de<br />

formação em saúde “aponta o fortalecimento da gestão<br />

participativa e da responsabilidade compartilhada,<br />

com dispositivos que ampliem os espaços para o exercício<br />

do diálogo, integração, participação, troca de experiências<br />

e de conhecimentos e a busca de respostas<br />

e soluções coletivas para problemas que impedem a<br />

atenção integral e de qualidade”, para além de “ao mesmo<br />

tempo, estimula a formação e o desenvolvimento<br />

de profissionais que atendam às necessidades dos serviços<br />

públicos, a partir de interesses e prioridades identificados<br />

pelos próprios sujeitos envolvidos na saúde”.<br />

Refere-se ainda que, atualmente, dependendo dos interesses<br />

e das conceções de saúde e de cuidado, as<br />

“<br />

NÃO SE PODE DEIXAR DE OBSERVAR<br />

QUE A FORMAÇÃO E/OU EDUCAÇÃO<br />

PERMANENTE, “ESTIMULA A REFLEXÃO<br />

NO MUNDO DO TRABALHO E PODE<br />

CONTRIBUIR PARA MELHORAR<br />

A QUALIDADE DA ASSISTÊNCIA,<br />

INCORPORANDO NAS AÇÕES<br />

DE SAÚDE OS PRINCÍPIOS E VALORES<br />

”<br />

expectativas em relação aos hospitais vão-se alterando<br />

a dois níveis, sendo que o primeiro diz respeito em<br />

“relação às práticas de saúde e à gestão hospitalar”<br />

e o segundo em relação ao processo interno de “formação<br />

dos profissionais para o cuidado em saúde”,<br />

sendo que existem intensas disputas, muitos desafios e<br />

poucas respostas prontas, tornando-se pertinente abrir<br />

este debate, “enfrentando todas as suas complexidades,<br />

ampliando referenciais” e procurando “envolver<br />

todos os atores interessados na construção de novos<br />

arranjos, que possibilitem a superação dos impasses<br />

atuais (Feuerwerker & Cecílio, 2007, p.970).<br />

Não se pode deixar de observar que a formação e/<br />

/ou educação permanente, na opinião de Sarreta (2009,<br />

p.26), “estimula a reflexão no mundo do trabalho e pode<br />

contribuir para melhorar a qualidade da assistência,<br />

incorporando nas ações de saúde os princípios e valores<br />

(…) da integralidade da atenção, da humanização<br />

do cuidado e do reconhecimento da autonomia e dos<br />

direitos dos usuários dos serviços de saúde. A construção<br />

desse aprendizado é necessária para um novo<br />

modo de fazer saúde”.<br />

Por fim, importa aludir sobre motivações dos profissionais<br />

no que diz respeito à procura da formação, aferindo<br />

evidentemente que essas motivações são muito variadas,<br />

sendo que “as mais profícuas são as que partem<br />

da resposta à insegurança relativa ao domínio dum }<br />

12 13


GH <strong>Gestão</strong> da Formação<br />

saber necessário para o desempenho duma atividade”,<br />

pelo que as organizações não podem, obviamente, ficar<br />

alheias a esse apelo, a essa necessidade (Rodrigues et al,<br />

2002, p.224).<br />

Investigação: enquadramento metodológico<br />

Tendo em consideração o contexto, o público-alvo<br />

e o objeto de estudo, a nossa intervenção entroncou<br />

no paradigma qualitativo/interpretativo.<br />

No que diz respeito ao método, o mais adequado ao<br />

objeto da investigação foi o “estudo de caso”, tendo o<br />

mesmo recaído sobre um conjunto de cinco centros<br />

de formação de hospitais portugueses da zona Norte<br />

- estudo multicasos.<br />

As técnicas de recolha de dados aplicadas na investigação<br />

realizada foram a entrevista semi-estruturada<br />

e a análise documental, seguida da análise de conteúdo.<br />

As entrevistas foram realizadas, entre fevereiro<br />

e março de 20<strong>17</strong>, aos responsáveis dos centros de<br />

formação de cinco hospitais do SNS da zona Norte<br />

de Portugal.<br />

Investigação: resultados<br />

O Sistema de Saúde Português, representado pelo<br />

Serviço Nacional de Saúde, é composto por diversas<br />

unidades de saúde, das quais se destacam os hospitais<br />

pela prestação de serviços de saúde de forma permanente,<br />

como resposta a uma necessidade comum<br />

a toda a sociedade civil. Para melhor resposta a essa<br />

necessidade, os hospitais necessitam de ter quadros<br />

de pessoal devidamente qualificados e permanentemente<br />

atualizados, pelo que surgem aqui os centros<br />

de formação como responsáveis pela manutenção<br />

dos portefólios de competências de todos os profissionais.<br />

Para que essa garantia seja assegurada, torna-<br />

-se necessário que os próprios quadros de pessoal dos<br />

centros de formação sejam devidamente qualificados<br />

e compostos por um número de recursos humanos<br />

suficiente para a execução dos processos de gestão<br />

da formação de forma integral.<br />

A questão das políticas e práticas de gestão da formação<br />

profissional é muito subjetiva. Não há uma política<br />

totalmente definida para o processo de gestão da formação<br />

dos profissionais de saúde. Todos os centros<br />

de formação são acreditados pela mesma entidade<br />

(ACSS), que é responsável pela verificação dos pressupostos<br />

exigidos nos processos de formação a todas<br />

as entidades formadoras acreditadas. No entanto, parece<br />

ausente a atuação da ACSS neste campo. Temos<br />

a questão da falta de autonomia, reconhecida integralmente<br />

por todos os centros de formação sobre<br />

a área financeira, causando alguma instabilidade no<br />

desempenho destes e dos próprios ciclos formativos,<br />

pela turbulência oriunda das políticas adotadas pelos<br />

diversos governos estatais nos seus orçamentos de<br />

Estado, pela dependência permanente dos programas<br />

de financiamento da União Europeia, pelas diferentes<br />

estratégias dos conselhos de administração de cada<br />

hospital e pela importância, atribuída por estes, ao<br />

campo formativo dos seus quadros de pessoal. Neste<br />

domínio, manifestou-se também a falta de poder de<br />

decisão e o grau de dependência hierárquica. Cada<br />

centro de formação atua de forma diferente e de<br />

acordo com os recursos que dispõe. Todos têm um<br />

documento (norma, procedimento, regulamento) da<br />

atividade formativa. Embora todos apresentam anualmente<br />

um plano de formação, cada um tem o seu<br />

“modelo” de gestão da formação.<br />

Subjacente à questão anterior temos o processo de<br />

análise de necessidades, elaboração do plano de formação<br />

e avaliação da formação. No que diz respeito<br />

à análise de necessidades, verifica-se ausência de mecanismos<br />

definidos para esta etapa, nomeadamente<br />

instrumentos metodológicos, assim como o envolvimento<br />

dos profissionais no diagnóstico do processo.<br />

São tidos em conta outros instrumentos, tais como a<br />

avaliação de desempenho, as reclamações dos utentes<br />

e os relatórios das comissões e órgãos de apoio aos<br />

conselhos de administração dos hospitais. Pelo facto<br />

de não se envolver os profissionais na identificação<br />

das necessidades formativas, manifesta-se aqui um<br />

comportamento altruísta, numa perspetiva positivista,<br />

por parte das organizações. Este processo deveria ser<br />

partilhado, permitindo a negociação de interesses, desejos<br />

e racionalidades, possibilitando articular objetivos<br />

individuais e organizacionais. Quanto à elaboração do<br />

plano de formação, identifica-se um mero tecnicismo<br />

ideológico virado para o inventário de carências<br />

e produção de competências técnicas/instrumentais,<br />

uma vez as ações planeadas, por todos os centros de<br />

formação, são sobretudo de cariz técnico. O cariz relacional<br />

tem uma presença muito reduzida. No que<br />

concerne à avaliação da formação, produzem-se diversas<br />

dificuldades na sua produção. São aplicados em<br />

algumas ações instrumentos de avaliação dirigidos aos<br />

formandos para aferição das aprendizagens. É atribuído<br />

e reconhecido o valor da avaliação da formação,<br />

propriamente dita, no entanto apresentam carência<br />

de recursos na avaliação do impacto. A legitimidade<br />

e a objetividade da formação parece ináquia. Emerge<br />

a aposta no desenvolvimento da função da avaliação<br />

por todos os centros de formação, pela essência que<br />

apresenta na valorização dos processos formativos,<br />

pela adequação à realidade que deve assistir.<br />

Conclusões<br />

Os modelos de gestão da formação, de gestão das<br />

atividades dos centros de formação, estão muito<br />

centrados na execução, olvidando a monitorização<br />

e a produção de efeitos dessa mesma gestão. Há a<br />

necessidade de se instituir a gestão por objetivos e<br />

a responsabilização pelos resultados. Para o efeito,<br />

os hospitais têm de olhar para a formação como um<br />

custo orçamentado à semelhança de todos os outros<br />

custos.<br />

É necessário instituírem na sua política e cultura organizacional<br />

mecanismos condutores a uma prática<br />

formativa eficiente, capaz de reconhecer o custo-benefício<br />

que um processo formativo pode trazer para<br />

o desenvolvimento dos seus recursos humanos e da<br />

própria organização. Para isso, é também fundamental<br />

que os trabalhadores sejam reconhecidos como<br />

elementos essenciais do seio organizacional, sejam<br />

ouvidos e envolvidos nos processos formativos e que<br />

as organizações proporcionem a igualdade de acesso<br />

à formação. Ã<br />

Baganha, M. I., Ribeiro, J. R., & Pires, S. (2002). O sector da saúde em Portugal:<br />

funcionamento do sistema e caracterização sócio-profissional. Coimbra:<br />

Oficina do CES.<br />

Feuerwerker, L. C., & Cecílio, L. C. (2007). “O Hospital e a formação em<br />

saúde: desafios atuais”. Ciência & Saúde Coletiva, 12(4), pp.965-971.<br />

Grupo Técnico para a Reforma da Organização Interna dos Hospitais<br />

(2010). A Organização Interna e a Governação dos Hospitais. Matriz organizacional<br />

para os hospitais do SNS. Lisboa.<br />

Oliveira, T. A. G. (20<strong>17</strong>). Políticas e práticas de formação das unidades de<br />

saúde hospitalares: um estudo multicasos dos centros de formação dos<br />

hospitais. Braga: Relatório de estágio de mestrado, Instituto de Educação<br />

da Universidade de Minho.<br />

Rodrigues, L. A. C., Ginó, A., Sena, C. & Dahlin, K. (2002). Compreender os<br />

Recursos Humanos do Serviço Nacional de Saúde. Lisboa: Edições Colibri.<br />

Sarreta, F. O. (2009). Educação permanente em saúde para os trabalhadores<br />

do SUS. São Paulo: Cultura Académica.<br />

14


GH Inspeção geral<br />

O PAPEL DA INSPEÇÃO GERAL<br />

DAS ATIVIDADES EM SAÚDE<br />

NAS ORGANIZAÇÕES<br />

DE SAÚDE<br />

Paulo Jorge Mantas Parreira<br />

Inspetor da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde<br />

A<br />

Inspeção-Geral das Atividades em<br />

Saúde (IGAS), que integra o Sistema<br />

de Controlo interno da Administração<br />

Financeira do Estado,<br />

preside ao Grupo Coordenador<br />

do Controlo Interno do Ministério da Saúde (GCCI)<br />

e faz parte da Rede Europeia de Luta Contra a Fraude<br />

e Corrupção na Saúde (EHFCN), tem por missão<br />

auditar, inspecionar, fiscalizar e desenvolver a ação<br />

disciplinar no setor da saúde, com vista a assegurar<br />

o cumprimento da lei e elevados níveis técnicos de<br />

atuação em todos os domínios da atividade e da<br />

prestação dos cuidados de saúde desenvolvidos.<br />

E, enquanto serviço central da administração direta<br />

do Estado, dotado de autonomia administrativa,<br />

assume compromissos estratégicos assentes num<br />

conjunto de pressupostos (missão, visão, valores,<br />

objetivos estratégicos, entre outros), que visam a sua<br />

consolidação como instância de controlo em todos<br />

os domínios da prestação dos cuidados de saúde,<br />

quer pelas instituições, serviços e organismos do Ministério<br />

da Saúde, ou por este tutelados, quer ainda<br />

pelas entidades privadas, pessoas singulares ou coletivas,<br />

com ou sem fins lucrativos.<br />

A atividade levada a cabo pelos inspetores da IGAS<br />

rege-se por princípios éticos e regras de atuação<br />

bem definidas, credíveis e sustentadas em referências<br />

idóneas para este tipo de atividade. Para que se<br />

concretize a diversidade das ações, os âmbitos de<br />

intervenção e a sua tradução ao nível das competências<br />

e funções, impõe-se a previsão de mecanismos<br />

de adequabilidade que permitam um leque aberto,<br />

mas comum de opções e que seja assegurado o estado<br />

permanente de atualização do gesto profissional<br />

inspetivo, ou apenas, e tão só, do gesto inspetivo.<br />

O quadro imperativo a considerar em toda a atividade<br />

inspetiva, do seu início ao seu termo, decorre das<br />

diversas leis que regem as competências, as formas,<br />

os procedimentos e os conteúdos da atividade inspetiva,<br />

sendo de destacar a sua base legal e enquadramento<br />

regulamentar, ou seja, a atividade inspetiva<br />

é desenvolvida ao abrigo dos seguintes diplomas<br />

fundamentais: Decreto-Lei n.<strong>º</strong> 33/2012, de 13 de fevereiro<br />

(Lei Orgânica da IGAS - LOIGAS), Decreto-<br />

-Lei n.<strong>º</strong> 276/2007, de 31 de julho (Regime Jurídico da<br />

Atividade de Inspeção), Decreto-Lei n.<strong>º</strong> <strong>17</strong>0/2009, de<br />

3 de agosto (Regime da Carreira Especial de Inspeção),<br />

Despacho n.<strong>º</strong> 10715-B/2015, de 22 de setembro<br />

(Regulamento da Atividade Inspetiva).<br />

Neste particular, a LOIGAS enquadra, entre outras,<br />

as ações de natureza contraordenacional e disciplinar,<br />

assim como as ações inspetivas que podem assumir<br />

diversas modalidades, consoante a natureza da<br />

função exercida assume um caráter preventivo, pedagógico<br />

e repressivo. A ação contraordenacional é<br />

aquela que se concretiza na instrução dos processos<br />

relativos a ilícitos de mera ordenação social, cuja<br />

competência seja determinada à IGAS.<br />

A ação disciplinar, que se concretiza no exercício do<br />

poder disciplinar, é regulado pelas disposições dos<br />

artigos <strong>17</strong>6.<strong>º</strong> a 240.<strong>º</strong>, da Lei do Trabalho em Funções<br />

Públicas (LTFP), encontra-se sujeito aos princípios<br />

gerais da atividade administrativa - artigo 2.<strong>º</strong>, n.<strong>º</strong> 3 e 5,<br />

do Código do Procedimento Administrativo (CPA) e,<br />

subsidiariamente, às normas de direito penal e de direito<br />

processual penal - artigos 18.<strong>º</strong>, 29.<strong>º</strong>, n.<strong>º</strong>s 4 e 5,<br />

32.<strong>º</strong>, 266.<strong>º</strong>, 269.<strong>º</strong>, n.<strong>º</strong> 3, todos da Constituição da República<br />

Portuguesa (CRP), permitindo, enquanto instrumento<br />

jurídico de garantia da relação jurídica de<br />

emprego público, assegurar o normal funcionamento<br />

dos serviços da Administração Pública.<br />

O ato inspetivo pode ainda revestir-se de diversas<br />

formas e procedimentos consoante o tipo de processo<br />

que concretiza. A ação de auditoria é a ação inspetiva<br />

que visa a análise e a conformidade de procedimentos,<br />

regras, normas, princípios, ou objetivos de<br />

execução ou de funcionamento de determinadas entidades,<br />

serviços ou atividades, consistindo num exame<br />

sistemático e objetivo, utilizando técnicas específicas<br />

de auditoria como, por exemplo, a amostragem,<br />

com vista à emissão de uma avaliação devidamente<br />

sustentada, que pode conter uma apreciação de natureza<br />

qualitativa.<br />

A ação de inspeção é a ação inspetiva dirigida ao<br />

controlo da legalidade através do apuramento e da<br />

correção de irregularidades, visando a conformidade<br />

legal e procedimental de determinada atividade, e<br />

que pode ser: (i) inspeção stricto sensu - a ação dirigida<br />

ao apuramento de uma realidade fundada em<br />

facto ou factos participados à IGAS ou determinada<br />

por esta; ou (ii) fiscalização - a ação dirigida à verificação<br />

da regularidade de procedimentos ou normativos<br />

implementados de acordo com quadro sancionatório<br />

próprio.<br />

Por cada um dos instrumentos processuais referidos,<br />

reconhecendo o importante contributo individual<br />

que cada um pode oferecer, uma Inspeção-Geral<br />

materializa o seu core essencialmente pela realização<br />

de inspeções. Com efeito, a inspeção stricto sensu é<br />

um tipo processual com uma práxis muito própria }<br />

16 <strong>17</strong>


GH Inspeção geral<br />

“<br />

EM TERMOS JURÍDICOS,<br />

INSPECIONAR TRADUZ<br />

UM PROCEDIMENTO<br />

ADMINISTRATIVO DIRECIONADO<br />

À VERIFICAÇÃO DO CUMPRIMENTO<br />

DE CERTAS REGRAS LEGAIS<br />

E PROCEDIMENTAIS PELA<br />

ENTIDADE INSPECIONADA.<br />

”<br />

que se desenrola num quadro que se pauta, sobretudo,<br />

pela dinâmica da ação, pela rapidez operacional,<br />

pela flexibilidade de execução e pela agilidade<br />

de procedimentos. Por outras palavras, esta opção<br />

processual amplia uma vasta panóplia de potencialidades,<br />

porquanto: (i) facilita a proatividade; (ii) gera<br />

ganhos em prevenção; (iii) cria conhecimento; (iv)<br />

promove a pedagogia; (v) permite o estudo, consoante<br />

as necessidades do momento; e é, em si mesma,<br />

(vi) garantia de resultado.<br />

Igualmente, é neste espírito que se pode afirmar que,<br />

também, na vertente endógena do próprio inspetor,<br />

é o tipo processual que mais ensina, forma e melhor<br />

ajuda a consolidar a construção de cada um em si<br />

mesmo no conhecimento da realidade apreendida<br />

e a apreender. A IGAS ao colocar em prática um<br />

conjunto de ações desta natureza, previamente planeadas<br />

e devidamente preparadas, dando-lhes execução<br />

pelo país, acaba por transformar este tipo de<br />

intervenção inspetiva, numa verdadeira ferramenta<br />

de mudança.<br />

Em termos jurídicos, inspecionar traduz um procedimento<br />

administrativo direcionado à verificação do<br />

cumprimento de certas regras legais e procedimentais<br />

pela entidade inspecionada que implica três tipos<br />

de análise: (i) diagnóstica, da factualidade identificada,<br />

podendo implicar o exame da organização, de serviços<br />

ou dos procedimentos; (ii) descritiva, da conformidade<br />

ou desconformidade normativa dos factos<br />

apurados; e (iii) prescritiva, com a enunciação das<br />

medidas corretivas e recomendações.<br />

Em termos práticos, inspecionar implica saber interpretar<br />

de forma pragmática os factos descritos no<br />

objeto do processo inspetivo, devidamente balizado<br />

no plano de atividades e na ordem de serviço e<br />

adotar o conjunto de atos processuais adequados<br />

à respetiva prossecução e materialização dos objetivos<br />

traçados, entre os quais, a identificação de medidas<br />

corretivas e a formulação de recomendações.<br />

Por isso, este trabalho, enquanto sistematização de saberes<br />

e condutas, pode contribuir decisivamente para<br />

simplificar, facilitar, uniformizar, harmonizar e sistematizar<br />

procedimentos relativos à organização e funcionamento<br />

das organizações de saúde, permitindo, ao<br />

mesmo tempo, um maior apetrechamento de todos<br />

os intervenientes no desempenho das suas tarefas,<br />

uma melhoria nas metodologias adotadas, a promoção<br />

generalizada de atitudes proativas, um maior respeito<br />

pelo quadro legal vigente, a melhoria contínua<br />

dos padrões de qualidade, eficácia e eficiência, pelos<br />

quais se devem pautar e até, em determinadas situações,<br />

o reforço da capacidade dos conselhos de administração<br />

no exercício dos poderes decorrentes das<br />

prerrogativas em que se encontram investidos.<br />

Porém, não pode ignorar-se que, sem embargo da<br />

criação de figuras organizacionais e até da implementação<br />

de dispositivos legais abrangentes e inovadores,<br />

a verdadeira mudança só pode ocorrer por via<br />

da ação dos seus intérpretes e dos quais depende<br />

e dependerá sempre, em grande medida, o sucesso<br />

das mesmas.<br />

Se, em abstrato, todos os modelos são bons, os problemas<br />

surgem quando são aplicados na prática, isto<br />

é, quando testados e postos verdadeiramente à prova,<br />

sendo que, as condutas, os processos e os procedimentos<br />

das organizações, dos seus profissionais e<br />

de todos aqueles que as utilizam, não mudam de um<br />

dia para o outro. Levam o seu tempo e por vezes,<br />

ainda assim, mudam pouco ou muito simplesmente<br />

não mudam.<br />

Há um trabalho de grande persistência e continuidade<br />

a desenvolver junto das organizações de saúde<br />

por forma a impedir eventuais retrocessos sistémicos<br />

e, simultaneamente, garantir os necessários avanços.<br />

Por isso, talvez pelo conhecimento global que o ato<br />

inspetivo potencia, e fruto da vivência próxima que<br />

se vai desenvolvendo, o país visto pelos inspetores<br />

tem muitas cores. Ã<br />

18


GH Reflexões de direito biomédico<br />

RESPONSABILIDADE PENAL<br />

MÉDICA POR NEGLIGÊNCIA<br />

Sónia Mariza Florêncio Fidalgo<br />

Professora da Faculdade de Direito<br />

da Universidade de Coimbra<br />

Investigadora do Centro de Direito Biomédico<br />

Introdução<br />

O Direito Penal é o conjunto de normas<br />

1.<br />

jurídicas que definem as condutas que são<br />

crimes e as consequências jurídicas que<br />

lhes correspondem. Quem pratica um<br />

comportamento previsto na lei como crime pode<br />

ser sancionado com uma pena ou com uma medida<br />

de segurança.<br />

A função do Direito Penal é a de proteção de bens<br />

jurídicos. Bem jurídico é “a expressão de um interesse,<br />

da pessoa ou da comunidade, na manutenção ou<br />

integridade de um certo estado, objeto ou bem em<br />

si mesmo socialmente relevante e por isso juridicamente<br />

reconhecido como valioso” 1 . São exemplos<br />

de bens jurídicos a vida, a integridade física, a liberdade,<br />

a honra, etc.<br />

O Direito Penal não protege todos os bens jurídicos;<br />

protege apenas certos bens jurídicos e somente contra<br />

determinadas formas de agressão. O Direito Penal<br />

é um ramo do direito de intervenção subsidiária,<br />

de ultima ratio - só intervém quando os bens em causa<br />

não puderem ser suficientemente tutelados por<br />

outro ramo do direito (v.g. o Direito Civil), que tenha<br />

consequências menos gravosas para o agressor.<br />

O Direito Penal descreve claramente os bens juridicos<br />

que quer proteger e os comportamentos que<br />

quer punir - nisto se traduz o princípio da legalidade<br />

(não há crime nem pena sem lei). Para que um sujeito<br />

seja responsabilizado criminalmente tem de praticar<br />

um comportamento previsto na lei como crime,<br />

correntes da violação das regras normais de atuação<br />

poderão fundamentar a responsabilidade do médico<br />

a título de negligência 4 . Por outro lado, nem todos<br />

os comportamentos que violam as regras normais<br />

de atuação e que causam uma ofensa ao paciente<br />

serão punidos - pode atuar, no caso concreto, por<br />

exemplo, uma causa de exclusão da ilicitude ou uma<br />

causa de exclusão da culpa.<br />

II. O paradigma da compreensão jurídico-penal dos<br />

atos médicos<br />

O legislador português reconhece a relevante função<br />

social exercida pela classe médica - o nosso Código<br />

Penal (CP) dedica um tratamento diferenciado<br />

e privilegiado à atividade médica, através do regime<br />

específico das intervenções e tratamentos médico-<br />

-cirúrgicos (artigo 150.<strong>º</strong>). Nos termos do artigo 150.<strong>º</strong><br />

do CP, a intervenção médico-cirúrgica medicamente<br />

indicada, realizada por um médico, com finalidade<br />

terapêutica e segundo as leges artis não preenche<br />

o tipo legal de crime de ofensa à integridade física. E<br />

a intervenção será atípica mesmo nos casos em que<br />

falhe nos seus objetivos, isto é, mesmo que agrave a<br />

lesão ou a doença ou provoque a morte do paciente.<br />

A produção de resultados indesejáveis só relevará,<br />

entre nós, como ofensa corporal típica quando representar<br />

a consequência da violação das leges artis 5 .<br />

Por outro lado, a intervenção médico-cirúrgica não<br />

preencherá o tipo de crime de ofensa à integridade<br />

física, independentemente de o paciente ter dado<br />

ou não o seu consentimento. A inexistência de consentimento<br />

do paciente pode conduzir à punição do<br />

médico pelo crime de intervenções e tratamentos<br />

médico-cirúrgicos arbitrários (artigo 156.<strong>º</strong> do CP),<br />

que consubstancia um crime contra a liberdade pessoal<br />

e não um crime contra a integridade física 6 .<br />

Porém, se o médico atuar negligentemente e se dessa<br />

atuação advier uma lesão para o corpo ou para<br />

saúde ou mesmo a morte do paciente, o médico<br />

pode vir a ser punido por ofensa à integridade física<br />

por negligência (artigo 148.<strong>º</strong> do CP) ou por homicídio<br />

por negligência (artigo 137.<strong>º</strong> do CP).<br />

III. O tipo de ilícito negligente: a violação do dever<br />

de cuidado<br />

1. Nos crimes negligentes, diferentemente do que<br />

sucede nos crimes dolosos, a vontade do agente não<br />

se dirige ao resultado. O tipo de ilícito negligente<br />

consubstancia-se na violação, por parte do agente,<br />

de um dever objetivo de cuidado que sobre ele impende<br />

e que conduz à produção de um resultado<br />

típico que seria previsível e evitável pelo homem<br />

“<br />

O LEGISLADOR PORTUGUÊS<br />

RECONHECE A RELEVANTE<br />

FUNÇÃO SOCIAL EXERCIDA<br />

PELA CLASSE MÉDICA.<br />

O CÓDIGO PENAL DEDICA<br />

UM TRATAMENTO DIFERENCIADO<br />

À ATIVIDADE MÉDICA.<br />

atuando com dolo ou com negligência, preenchendo<br />

o tipo de ilícito e o tipo de culpa respetivos - tipo de<br />

ilícito, tipo de culpa e punibilidade são as categorias<br />

dogmáticas do conceito de facto punível 2 .<br />

2. A atividade médica é uma atividade que se desenvolve<br />

num contexto de risco. Atendendo à natureza<br />

dos bens jurídicos que podem ser afetados no decurso<br />

de uma intervenção médica - a vida, a integridade<br />

física e a liberdade do paciente, o direito penal não<br />

poderá deixar de intervir. Se o médico, no exercício<br />

da sua profissão, levar a cabo um comportamento<br />

que viole as regras normais de atuação e, consequentemente,<br />

não melhorar ou prejudicar a saúde do<br />

paciente, ou descurar o seu consentimento para a<br />

intervenção em causa, ofende (por ação ou omissão)<br />

bens jurídicos penalmente protegidos e, como tal,<br />

poderá vir a ser penalmente responsabilizado.<br />

São, no entanto, infundados os receios dos médicos<br />

“que veem o Direito como uma máquina rígida e<br />

implacável, pronta para reprimir o menor desvio no<br />

exercício da sua atividade” 3 . O paciente não tem o<br />

direito à cura. Tendo em conta os conhecimentos<br />

da medicina e as circunstâncias de tempo e de lugar,<br />

pode apenas exigir-se ao médico que faça tudo o<br />

que estiver ao seu alcance para melhorar o estado<br />

de saúde do paciente. Mesmo quando o médico comete<br />

um erro que provoca uma ofensa ao doente,<br />

tal não significa que o médico venha a ser criminalmente<br />

responsabilizado - erro médico não é sinónimo<br />

de negligência médica. Só os erros médicos de-<br />

”<br />

médio, pertencente à categoria intelectual e social<br />

e ao círculo de vida do agente (artigo 15<strong>º</strong> do CP) 7 .<br />

Para que se possa imputar a um profissional de saúde<br />

um crime de ofensa à integridade física por negligência<br />

ou de homicídio por negligência, este agente<br />

tem de ter violado o dever de cuidado que sobre<br />

ele impendia e o resultado que se verificou (lesão<br />

do corpo ou da saúde, ou morte do doente) tem<br />

de ser imputada, precisamente, àquela violação do<br />

dever. Consequentemente, é necessário saber com<br />

exatidão quando se dá a violação do dever objetivo<br />

de cuidado.<br />

2. Quais são as fontes concretizadoras do dever objetivo<br />

de cuidado no exercício da medicina? 8<br />

Na aferição do preenchimento do tipo de ilícito negligente<br />

tem de averiguar-se se o agente violou o dever<br />

objetivo de cuidado no caso concreto - o legislador,<br />

no artigo 15.<strong>º</strong> do CP, utiliza a expressão “segundo<br />

as circunstâncias”.<br />

Há, desde logo, que ter em consideração um conjunto<br />

de regras jurídicas de comportamento que regulam<br />

a atividade médica. Pense-se, por exemplo, no<br />

Estatuto da Ordem dos Médicos 9 e na legislação que<br />

regula a colheita e transplante de órgãos e tecidos de<br />

origem humana 10 , a investigação clínica 11 e a procriação<br />

medicamente assistida 12 .<br />

No entanto, tendo conta, por um lado, a permanente<br />

evolução da medicina e, por outro, a multiplicidade<br />

e complexidade das diversas especialidades, seria<br />

impossível o legislador criar normas jurídicas concretizadoras<br />

do dever de cuidado em cada caso. Nos }<br />

20 21


GH Reflexões de direito biomédico<br />

domínios como o da medicina, o dever objetivo de cuidado<br />

há-de ser determinado atendendo também a um<br />

conjunto de regras fixadas pelo próprio círculo profissional<br />

- as leges artis medicinae. Entre nós, a expressão<br />

mais acabada desta autorregulação dos profissionais<br />

de medicina é o Código Deontológico da Ordem dos<br />

Médicos (CDOM) 13 . Para além do CDOM, há a considerar<br />

ainda, por exemplo, as declarações de princípios<br />

formuladas por organizações nacionais e internacionais<br />

de médicos, as guidelines resultantes de protocolos de<br />

atuação e de reuniões de consenso e os pareceres das<br />

Comissões de Ética.<br />

Nem todas as leges artis medicinae assumem a forma de<br />

regras escritas - na sua grande parte, as regras da arte<br />

médica são regras não escritas. Frequentemente, para<br />

se concretizar o dever de cuidado no caso concreto<br />

é necessário, assim, fazer-se apelo aos costumes profissionais<br />

comuns ao profissional prudente 14 .<br />

Tratando-se da atuação de uma equipa médica, a determinação<br />

do dever de cuidado de cada um dos profissionais<br />

há-de ser feita também a partir do designado<br />

princípio da confiança. Segundo o princípio da confiança,<br />

“quem se comporta no tráfico de acordo com a<br />

norma de cuidado deve poder confiar que o mesmo<br />

sucederá com os outros; salvo se tiver razão concretamente<br />

fundada para pensar ou dever pensar de outro<br />

modo” 15 . O princípio da confiança deve ser visto como<br />

um princípio delimitador dos deveres de cuidado em<br />

caso de pluralidade de agentes: quem atua ao abrigo<br />

do princípio da confiança não viola o dever objetivo de<br />

cuidado, logo, não preenche com o seu comportamento<br />

o tipo de ilícito negligente 16 .<br />

IV. O tipo de culpa negligente: a atitude de leviandade<br />

ou descuido por parte do médico<br />

Para que um agente seja punido por homicídio por negligência<br />

ou por ofensa à integridade física por negligência<br />

não é suficiente que viole o cuidado objetivamente<br />

imposto - é necessário ainda que não afaste o perigo<br />

ou evite o resultado, “apesar de aquele se apresentar<br />

como pessoalmente cognoscível e este como pessoalmente<br />

evitável” <strong>17</strong> . Este é o problema do tipo de culpa<br />

negligente (artigo 15<strong>º</strong> do CP). O que está em causa<br />

agora é aferir se o médico, segundo os seus conhecimentos<br />

e as suas capacidades pessoais, se encontrava<br />

em condições de cumprir o dever de cuidado que integra<br />

o tipo negligente. Só respondendo afirmativamente<br />

a esta questão poderá afirmar-se que o médico documentou<br />

no facto qualidades pessoais de descuido ou<br />

leviandade perante o direito e as suas normas, pelas<br />

quais tem de responder - por outras palavras, só assim<br />

poderá dizer-se que o médico atuou com culpa negligente.<br />

Diferentemente do que vimos suceder em sede<br />

de tipo de ilícito, no âmbito do tipo de culpa negligente<br />

não se vai ter em consideração o “homem médio”, mas<br />

sim o “tipo de homem da espécie e com as qualidades<br />

e capacidades do agente” 18 .<br />

V. A valoração jurídico-penal da conduta do médico<br />

em caso de agravação do estado de doença ou de<br />

morte do doente<br />

1. Para que se possa responsabilizar um médico por<br />

ofensa à integridade física ou por homicídio por negligência,<br />

é necessário que ele tenha violado o dever objetivo<br />

de cuidado que sobre ele impendia, criando, deste<br />

modo, um perigo não permitido que se concretizou no<br />

resultado (tipo de ilícito negligente); e é necessário, ainda,<br />

que o médico revele, na sua conduta, uma atitude<br />

de leviandade ou descuido perante o direito (tipo de<br />

culpa negligente). A valoração jurídico-penal da conduta<br />

do médico é, naturalmente, da competência do juiz.<br />

2. A doutrina tem entendido que a violação das normas<br />

jurídicas de comportamento ou das leges artis constituirá<br />

um indício de contrariedade ao cuidado objetivamente<br />

devido, mas “não pode em caso algum fundamentá-la<br />

definitivamente” 19 . Na esclarecedora expressão de Roxin,<br />

“o que in abstracto é perigoso, pode deixar de o ser<br />

no caso concreto” 20 .<br />

Na sua decisão acerca da violação do dever objetivo<br />

de cuidado, o juiz há-de ter em atenção a situação<br />

considerada na sua globalidade. O juiz tem de atender,<br />

desde logo, às condições de lugar e de tempo em que<br />

se realizou a intervenção. As exigências de cuidado (derivadas<br />

das leges artis) que se dirigem a um médico que<br />

trabalha num grande hospital universitário não serão<br />

as mesmas que se dirigem, por exemplo, a um outro<br />

profissional que desempenhe a sua atividade numa pequena<br />

instituição de saúde.<br />

3. Para proceder à valoração do comportamento do<br />

médico no caso concreto, o juiz terá de determinar previamente<br />

o modelo ao qual deve referir essa valoração.<br />

Não tendo o juiz (em princípio) formação médica, não<br />

lhe será fácil aceder ao conhecimento das regras técnicas<br />

da medicina. Tarefa dificultada também pela escassa<br />

regulamentação da atividade médica - grande parte das<br />

leges artis medicinae são regras não escritas. Na generalidade<br />

dos casos, para aceder ao conhecimento do estádio<br />

da ciência médica e da atuação adequada no caso<br />

concreto, o juiz terá de solicitar pareceres e relatórios<br />

à própria comunidade médica.<br />

VI. Conclusão<br />

O legislador penal português reconhece a relevante<br />

função social da atividade médica, dedicando um re-<br />

gime diferenciado e privilegiado às intervenções e tratamentos<br />

médico-cirúrgicos. Todavia, o direito penal<br />

não poderá deixar de intervir se o médico, violando<br />

o seu dever objetivo de cuidado, de modo leviano ou<br />

descuidado, agravar o estado de saúde do paciente ou<br />

provocar a morte deste.<br />

Afirmando-se, porém, o direito penal como um direito<br />

de ultima ratio e tendo em conta todas as características<br />

da valoração jurídico-penal da atuação médica, serão<br />

infundados quaisquer receios dos médicos no que diz<br />

respeito à responsabilidade penal: só haverá lugar à intervenção<br />

do direito penal nos casos de clara violação<br />

das regas da boa prática médica. Ã<br />

1. Dias, Jorge de Figueiredo, Direito Penal. Parte Geral I, 2.ª ed., Coimbra:<br />

Coimbra Editora, 2007, 6.<strong>º</strong> Cap., § 16.<br />

2. Idem, 10.<strong>º</strong> Cap., § 24 e ss.<br />

3. Romeo Casabona, Carlos María, El médico y el derecho penal, I. La actividad<br />

curativa (Licitud y responsabilidad penal), Barcelona: Bosch, Casa<br />

Editorial, S.A., 1981, p. 8.<br />

4. Fidalgo, Sónia, Responsabilidade Penal por Negligência no Exercício da<br />

Medicina em Equipa, Coimbra: Coimbra Editora, 2008, p. 13 e ss. e 31 e ss.<br />

5. Andrade, Manuel da Costa, in: Comentário Conimbricense do Código<br />

Penal, Parte Especial, dirigido por Jorge de Figueiredo Dias, t. I, 2ª ed., Coimbra:<br />

Coimbra Editora, 2012, artigo 150.<strong>º</strong>, § 9.<br />

6. Andrade, Manuel da Costa, in: Comentário Conimbricense do Código<br />

Penal, Parte Especial, dirigido por Jorge de Figueiredo Dias, t. I, 2ª ed., Coimbra:<br />

Coimbra Editora, 2012, artigo 156.<strong>º</strong>, § 1 e ss.<br />

7. Dias, Jorge de Figueiredo, Direito Penal…, cit., 34.<strong>º</strong> Cap., § 9, e 35.<strong>º</strong> Cap., § 4.<br />

8. Cf. Faria, Paula Ribeiro de, in: Comentário Conimbricense do Código Penal,<br />

Parte Especial, dirigido por Jorge de Figueiredo Dias, t. I, 2ª ed., Coimbra:<br />

Coimbra Editora, 2012, artigo 148<strong>º</strong>, § 20; e Fidalgo, Sónia, Responsabilidade<br />

penal por negligência…, cit., p. 69-70.<br />

9. Lei n.<strong>º</strong> 1<strong>17</strong>/2015, de 31 de agosto.<br />

10. Lei n.<strong>º</strong> 12/93, de 22 de abril (com sucessivas alterações).<br />

11. Lei n.<strong>º</strong> 21/2014, de 16 de abril (com sucessivas alterações).<br />

12. Lei n.<strong>º</strong> 32/2006, de 26 de julho (com sucessivas alterações).<br />

13. Regulamento n.<strong>º</strong> 707/2016, de 21 de julho.<br />

14. Dias, Jorge de Figueiredo, Direito Penal…, cit., 35.<strong>º</strong> Cap., § 19 e 23.<br />

15. Idem, 35.<strong>º</strong> Cap., § 28 (itálico do autor).<br />

16. Fidalgo, Sónia, Responsabilidade penal por negligência…, cit., p. 107 e ss.;<br />

e, da mesma autora, Princípio da Confiança e Crimes Negligentes, Coimbra:<br />

Almedina, 2018, p. 319 e ss.<br />

<strong>17</strong>. Dias, Jorge de Figueiredo, Direito Penal…, cit., 36.<strong>º</strong> Cap., § 5.<br />

18. Idem, 36.<strong>º</strong> Cap., § 7.<br />

19. Idem, 35.<strong>º</strong> Cap., § 21.<br />

20. Roxin, Claus, Strafrecht. Allgemainer Teil. Band I. Grundlagen. Aufbau der<br />

Verbrechenslehre, 4. Auf., München: Verlag C. H. Beck, 2006, § 24, n.<strong>º</strong> 16.<br />

22


GH entrevista<br />

TERESA SUSTELO<br />

DE FREITAS<br />

PRESIDENTE DO CONSELHO DIRETIVO DO CENTRO HOSPITALAR PSIQUIÁTRICO DE LISBOA<br />

É IMPERIOSO FAZER<br />

UMA REFORMA PROFUNDA<br />

NO MODELO DE PRESTAÇÃO<br />

DE CUIDADOS DE SAÚDE<br />

Atualmente Teresa Sustelo de Freitas é presidente do Conselho Diretivo do Centro<br />

<strong>Hospitalar</strong> Psiquiátrico de Lisboa e exerce funções na Administração <strong>Hospitalar</strong> desde 1985.<br />

Crítica do modelo de prestação dos cuidados de saúde, defende um novo enfoque que<br />

promova um maior nível de exigência, de rigor e competitividade positiva no Sistema de Saúde.<br />

Licenciada em direito pela Universidade<br />

Clássica de Lisboa, foi em 1985 que<br />

deu início à sua carreira na Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong>, concretamente nos<br />

Hospitais Civis de Lisboa, como Administradora<br />

<strong>Hospitalar</strong> de 3.ª classe. O seu percurso<br />

profissional tem sido marcado por desempenhar funções<br />

de gestão de topo em vários hospitais, no Instituto<br />

Nacional de Sangue e inclusive na Direcção-Geral<br />

dos Hospitais. Dada a vasta experiência comprovada,<br />

como pode descrever a importância da Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong> na gestão destas estruturas reconhecidamente<br />

complexas? Quais os principais desafios com<br />

que se tem deparado na gestão de instituições hospitalares,<br />

tendo em consideração as diversas mudanças<br />

estruturais no modelo de gestão e financiamento?<br />

É indiscutível que a profissionalização é atualmente<br />

imprescindível para o bom desempenho. Essa constatação<br />

foi surpreendentemente feita, na área da gestão<br />

hospitalar e de serviços de saúde, muito cedo, por alguém<br />

que eu considero um visionário, pela forma lúcida<br />

e inteligente como defendeu e promoveu a criação de<br />

um curso de especialização nesta área. Estou a falar,<br />

como é óbvio, do Prof. Coriolano Ferreira. Percebeu<br />

cedo que a complexidade da gestão em saúde implicava<br />

uma série de conhecimentos que ultrapassava em<br />

muito as áreas clássicas da gestão e o conhecimento<br />

exclusivamente académico, implicando uma proximidade<br />

do terreno muito grande, capaz de dotar os<br />

profissionais de competências muito específicas ligadas<br />

à prática clínica e à atividade assistencial. Durante um<br />

grande período da minha vida profissional, o modelo<br />

de gestão e financiamento não sofreu alterações significativas.<br />

Vigoravam regras do setor público administrativo<br />

e o financiamento baseava-se nos indicadores<br />

mais tradicionais e rudimentares, como sejam a demora<br />

média, a percentagem de ocupação e o número de<br />

doentes saídos. Só a partir da transposição dos Grupos<br />

de Diagnóstico Homogéneos dos EUA, que se deve<br />

ao fantástico e entusiástico trabalho de alguns colegas<br />

nossos, como os saudosos João Urbano e Margarida<br />

Bentes, se alterou o sistema de financiamento. Mais<br />

tarde, em 2002, a criação dos Hospitais SA, veio revolucionar<br />

a gestão hospitalar em Portugal. A ideia de<br />

que se tornava indispensável dar a estas instituições<br />

níveis significativos de autonomia e responsabilidade<br />

e, simultaneamente, a agilidade necessária para adaptações<br />

permanentes que as tornassem competitivas, perante<br />

um ambiente de instalação crescente de unidades<br />

privadas na área da saúde, foi determinante para uma<br />

mudança radical nos processos gestionários. Esta foi,<br />

a meu ver, a época mais rica, interessante e altamente<br />

motivadora para os profissionais, já que foi possível<br />

relacionar a remuneração com níveis de desempenho<br />

e resultados, foi possível introduzir sistemas de acreditação<br />

para garantia da qualidade e realizar investimentos<br />

sempre que se considerassem prioritários por gerarem<br />

ganhos em saúde. A transformação da natureza jurídica<br />

destas instituições em entidades públicas empresariais<br />

(EPE) não teve alterações significativas numa primeira<br />

fase mas, paulatinamente, foram-se perdendo as principais<br />

características da gestão empresarial, nomeadamente<br />

através da perda da autonomia e da capacidade<br />

de manter o nível de motivação dos profissionais dada<br />

a impossibilidade de relacionar o desempenho com a remuneração<br />

e a produtividade e os resultados com o orçamento.<br />

Nessa altura deu-se um movimento de concentração<br />

com a criação de inúmeros Centros <strong>Hospitalar</strong>es<br />

visando gerar uma economia de meios e uma melhor<br />

rentabilização das estruturas. Lamentavelmente<br />

nenhum destes modelos foi avaliado tanto na sua vertente<br />

económica como na vertente assistencial. Ao longo<br />

dos tempos manteve-se a matriz hospitalocêntrica<br />

do nosso modelo de prestação de cuidados. Este modelo<br />

não favorece os cuidados de proximidade contribuindo<br />

para o crescimento da despesa, sem que os ganhos<br />

em saúde ocorram na mesma proporção. É imperioso<br />

fazer uma reforma profunda no modelo de prestação<br />

de cuidados de saúde que tenha em conta as características<br />

socio-demográficas da população e a uti- }<br />

24 25


GH entrevista<br />

lização racional e adequada dos recursos existentes.<br />

Porque não concentrar competências e diferenciação<br />

tecnológica e profissional num número mais reduzido<br />

de hospitais, convertendo os restantes em unidades de<br />

cuidados de proximidade com uma diferente panóplia<br />

de serviços partilhados por cuidados primários e hospitalares?<br />

Porque não construir uma cultura de meritocracia<br />

premiando níveis de desempenho associados aos<br />

resultados? Na minha opinião tem de ser alterada a visão<br />

administrativista e espartilhada por regras obsoletas<br />

que, como temos visto e sentido, em nada fomentam<br />

uma visão empresarial, o empreendedorismo e a motivação<br />

dos atores. Com este novo enfoque promovese,<br />

naturalmente, um maior nível de exigência, de rigor<br />

e competitividade positiva no Sistema de Saúde.<br />

Os hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) prosseguem<br />

com fortes restrições à sua autonomia que<br />

limitam a capacidade gestionária dos seus Conselhos<br />

de Administração. Contudo, os Secretários de Estado<br />

do Tesouro e Adjunto e da Saúde assinaram, a 21<br />

de junho, o despacho conjunto que enquadra o processo<br />

de reforço da autonomia de gestão das entidades<br />

públicas empresariais do SNS. Como Administradora<br />

<strong>Hospitalar</strong>, no seu entender qual o impacto deste<br />

despacho no dia-a-dia dos gestores de serviços de<br />

saúde, com funções de gestão de topo e intermédia,<br />

das instituições que por ele são abrangidas?<br />

Não creio que este despacho conjunto, assinado em 21<br />

de junho pelas Finanças e Saúde, possa produzir efeitos<br />

na gestão dos hospitais EPE a curto prazo. Constitui<br />

seguramente uma intenção louvável e um passo importante<br />

embora pudesse ter ido mais longe, pois, não prevê<br />

a possibilidade de negociar níveis de remuneração<br />

dos profissionais relacionados com a produtividade e os<br />

resultados. O SNS fica com poucos instrumentos para<br />

reter talentos que são absolutamente indispensáveis,<br />

não só para fomentar o “espírito de pertença”, mas<br />

também garantir um ambiente sereno e de menor incerteza<br />

neste setor e um melhor desempenho no cumprimento<br />

da necessidade de elevar os níveis de acesso<br />

aos cidadãos e oferecer atempadamente os cuidados<br />

que os nossos utentes precisam. Acredito que seja<br />

o passo seguinte.<br />

Ainda a este respeito, considera que a autonomia para<br />

a contratação e substituição de recursos humanos,<br />

bem como para a realização de investimentos aprovados,<br />

poderá refletir-se, per si, necessariamente em<br />

resultados positivos?<br />

Considero que a concretização da autonomia prevista<br />

neste diploma fica dependente do tempo e do modo<br />

como decorrerá todo este processo. A aprovação<br />

do PAO, do Contrato Programa e do Contrato de<br />

<strong>Gestão</strong> dos membros dos CA não pode ser demasiado<br />

longo nem implicar uma burocracia demasiado<br />

pesada. Por um lado, fico com dúvidas relativamente<br />

às questões emergentes e muitas vezes imprevisíveis<br />

que acontecem no quotidiano destas Instituições. Depreendo<br />

que só o previsto e aprovado é que fazem<br />

parte da recuperação da autonomia! É preciso libertar<br />

a gestão hospitalar de dificuldades desnecessárias. A agilização<br />

inteligente de todo este processo vai determinar<br />

o maior ou menor grau de sucesso e o impacto na<br />

<strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>. Por outro lado, importa sublinhar<br />

que é minha convicção que a competência e o empenho<br />

dos órgãos de gestão é, ela também, a grande força<br />

transformadora que permitirá um melhor desempenho<br />

e influenciar decisiva e positivamente o poder político.<br />

Sobretudo numa era em que a saúde mental é reconhecidamente<br />

uma prioridade, quer ao nível de programas<br />

de saúde nacional, regionais e locais, quer ao nível<br />

dos diversos parceiros da comunidade, qual a estratégia<br />

que se definiu para que o Centro <strong>Hospitalar</strong><br />

Psiquiátrico de Lisboa continue a ser uma referência<br />

na resposta aos desafios desta área da saúde pública?<br />

A Saúde Mental é sim reconhecidamente uma área<br />

com um impacto muito relevante na saúde das pessoas<br />

e consequentemente nas relações na comunidade<br />

e na sociedade. No entanto, continua a ser o “parente<br />

pobre” do SNS, pois não tem sido tratada nem como<br />

importante, nem como prioritária em termos de<br />

investimento, tanto ao nível das infraestruturas como<br />

ao nível dos recursos humanos e materiais. Acredito<br />

que o caminho tem de ser construído com uma discriminação<br />

positiva alocando verbas específicas para<br />

concretizar os Planos Nacional, Regionais e Locais de<br />

Saúde Mental. A concretização destes Planos implica<br />

também a construção e aplicação de indicadores de<br />

desempenho desta área, com unidades de medida concretas,<br />

que permitam comparar, monitorizar e avaliar<br />

os Serviços de Saúde Mental. Só assim podemos ser<br />

rigorosos na sua implementação e desenvolvimento,<br />

traçando objetivos concretos, nomeadamente de eficiência<br />

e eficácia, permitindo realizar uma adequada avaliação<br />

de resultados. O CHPL desenvolve a sua atividade<br />

assistencial tratando os doentes agudos e os residentes<br />

e apostando fortemente no tratamento em ambulatório,<br />

que se consubstancia, para além do seguimento<br />

em consultas, hospital de dia, centro de dia, também no<br />

apoio domiciliário e apoio comunitário. O CHPL definiu<br />

quatro eixos prioritários de atuação: A reabilitação<br />

psicossocial, os cuidados na comunidade, a psiquiatria<br />

geriátrica e a Alcoologia e novas Dependências. Importa<br />

realçar a área da reabilitação psicossocial que é uma<br />

atividade que seguramente nos diferencia das demais<br />

instituições. Nesta área destacamos a Unidade de Terapia<br />

Ocupacional, com vários ateliers tais como Carpintaria,<br />

Artes Plásticas, Cerâmica, Fotografia, Papel, Lavandaria,<br />

Culinária, Costura, Cabeleireiro e Jardinagem.<br />

Existe ainda o Grupo de Teatro Terapêutico, a Dançaterapia,<br />

a Unidade de Formação Profissional e de Emprego<br />

Protegido e a Rádio Aurora. Todos estes ateliers<br />

têm em vista a reabilitação dos doentes de forma a proporcionar-lhes<br />

o máximo de autonomia nas suas atividades<br />

de vida diária e na participação social, de forma a<br />

tornar possível a sua reinserção no mundo do trabalho<br />

“<br />

O CHPL DESENVOLVE A SUA<br />

ATIVIDADE ASSISTENCIAL<br />

TRATANDO OS DOENTES AGUDOS<br />

E OS RESIDENTES E APOSTANDO<br />

FORTEMENTE NO TRATAMENTO<br />

EM AMBULATÓRIO.<br />

”<br />

e na comunidade. Para isso também existem várias residências<br />

com níveis diferentes e progressivos de apoio<br />

ao treino de vida autónoma. Para além das residências<br />

dentro do Centro <strong>Hospitalar</strong>, existem três na comunidade<br />

nas freguesias de Alvalade e Marvila. Os resultados<br />

têm sido animadores, muito embora nos deparemos<br />

frequentemente com a dificuldade de conseguir<br />

casas com rendas acessíveis onde colocar estes doentes<br />

em fase posterior, quando capazes de se inserirem de<br />

novo na comunidade. Estamos a tentar desenvolver<br />

um programa concreto que dê resposta a esta questão,<br />

com a Junta de Freguesia de Alvalade, com a Paróquia<br />

do Campo Grande, com a Câmara Municipal de<br />

Lisboa e com outros parceiros que apoiam este programa.<br />

Quanto aos cuidados na comunidade temos<br />

sete Núcleos de Intervenção Comunitária que prestam<br />

cuidados de proximidade e desenvolvem atividades de<br />

apoio, reabilitação e ocupação de tempos livres. Pretende-se<br />

com isto acompanhar o mais de perto possível os<br />

utentes na transição para a comunidade garantindo respostas<br />

integradas e especializadas no contexto sóciocultural<br />

dos utentes, assegurando também a integração<br />

da Psiquiatria e Saúde Mental nas estruturas locais de<br />

saúde. O terceiro eixo prioritário é a Psiquiatria Geriátrica<br />

que assume um papel cada vez mais necessário face<br />

ao aumento da esperança de vida e ao consequente<br />

envelhecimento da população, com uma percentagem<br />

de população idosa sempre crescente. É vocacionada<br />

para o tratamento das demências e patologia psiquiátrica<br />

do idoso. Nesta população verifica-se um aumento<br />

dramático da incidência de doenças neurodegenerativas.<br />

Este serviço é dotado de uma equipa multidisciplinar<br />

que proporciona o suporte no internamento }<br />

26 27


GH entrevista<br />

e desenvolve uma intensa atividade ao nível dos cuidados<br />

ambulatórios. O quarto eixo prioritário é a Alcoologia<br />

e novas dependências nomeadamente o tratamento<br />

de doentes com co-morbilidades psiquiátricas<br />

associadas. O aumento das taxas de prevalência de consumo<br />

de álcool e o crescimento do número de doentes<br />

com novas dependências como o uso problemático<br />

da internet e de videojogos justificam esta prioridade.<br />

Relativamente à integração de cuidados, como descreve<br />

a articulação dos cuidados especializados de saúde<br />

mental com os cuidados de saúde primários e/ou<br />

outros setores conexos? Pode-nos dizer em que medida<br />

tem o Centro <strong>Hospitalar</strong> Psiquiátrico de Lisboa<br />

sido um dinamizador desta integração, para a qual se<br />

pressupõe a criação de valor para as instituições de<br />

saúde e para o doente? Poderá, se possível, dar um<br />

exemplo que considere passível de replicação noutras<br />

instituições hospitalares?<br />

O CHPL está sempre aberto ao desenvolvimento<br />

de parcerias onde se partilham recursos, diminuindo<br />

a despesa com ganhos para os doentes e que sejam<br />

enriquecedoras para os profissionais. Sem ser minimamente<br />

exaustiva e a título meramente exemplificativo<br />

refiro que temos protocolos com a Câmara de Mafra<br />

e com o Centro de Saúde onde se partilham efetivamente<br />

os recursos. O espaço é cedido pela Câmara<br />

e os recursos são partilhados com o Centro de Saúde.<br />

Em Sacavém estamos a abrir um núcleo com o mesmo<br />

modelo. Em Sintra temos também protocolos idênticos.<br />

Estes protocolos facilitam e agilizam o tratamento<br />

e encaminhamento do doente atempadamente, quer<br />

para os cuidados de Medicina Geral e Familiar, quer<br />

para os Cuidados Psiquiátricos. Temos ainda desenvolvido<br />

um programa único com a Câmara Municipal<br />

de Lisboa e a SCML e ISS, IP., ARS e muitos outros<br />

parceiros sociais, denominado NPISA (Núcleo de Planeamento<br />

e Intervenção Sem-Abrigo) que visa intervir<br />

junto dos sem abrigo da cidade detetando problemas<br />

psiquiátricos ou ao nível das dependências que se verifiquem<br />

nesse grupo. O CHPL disponibiliza uma equipa<br />

que se desloca pela cidade e funciona como retaguarda<br />

para o follow up através de uma consulta aberta ou<br />

internamento dos casos que dele necessitem. Temos<br />

ainda uma Unidade Partilhada com o Centro <strong>Hospitalar</strong><br />

e Universitário de Lisboa Central para adolescentes<br />

e jovens adultos (pedopsiquiatria e psiquiatria) cujo funcionamento<br />

é assegurado nas instalações do CHPL com<br />

equipas das duas instituições. Pretende-se criar um contínuo<br />

de cuidados que assegure, numa eventual crise<br />

que muitas vezes ocorre na transição para a idade adulta,<br />

a proteção e o tratamento do doente o mais cedo possível,<br />

prevenindo que a doença se instale e se torne crónica.<br />

Este projeto é extremamente desafiante na medida<br />

em que tira os profissionais da sua zona de conforto<br />

e os faz partilhar e desenvolver em conjunto as suas<br />

competências. Citei apenas alguns dos imensos exemplos<br />

que fazem do CHPL uma instituição aberta, parceira<br />

de tantos e tão variados protagonistas da comunidade<br />

com o objetivo sempre presente de melhorar o<br />

acesso e facilitar a vida daqueles que necessitam de nós.<br />

Na sua opinião, o que tem falhado na implementação<br />

de respostas efetivas aos principais problemas de saúde<br />

mental da população, que favoreça uma abordagem<br />

de intervenção transversal e o envolvimento de<br />

todos os intervenientes, desde os prestadores de cuidados<br />

de saúde formais e informais, ao envolvimento<br />

de toda a sociedade?<br />

O principal obstáculo, que subsiste, é o estigma e preconceito<br />

social que infelizmente ainda existe relativamente<br />

à doença mental. Foi ele que esteve na base<br />

do relativo abandono a que foram votadas, ao longo<br />

de décadas, as instituições de Saúde Mental. Os doentes<br />

mentais foram durante muito tempo “escondidos”<br />

e esquecidos e talvez por isso não se criou uma rede de<br />

cuidados que suportasse as várias fases do tratamento<br />

e da reabilitação, bem como a reinserção na sociedade.<br />

Ainda hoje temos doentes institucionalizados há muitos<br />

anos, embora atualmente em muito menor número.<br />

Muito recentemente foi criada a Rede de Cuidados<br />

Continuados para a Saúde Mental que infelizmente<br />

é ainda muito incipiente. Era fundamental encontrar<br />

respostas na Comunidade que pudessem rentabilizar<br />

o investimento feito pelos hospitais no tratamento,<br />

através da disponibilização de alojamentos que permitissem<br />

a reinserção social sempre que estejam criadas as<br />

condições necessárias para uma vida autónoma, já que,<br />

na sua maioria, estes doentes dificilmente têm apoio<br />

familiar. De facto, as famílias estão muitas vezes desestruturadas<br />

e incapazes de lidar com a situação, para a<br />

qual não têm nem recursos, nem apoios, nem os instrumentos<br />

que permitam reintegrar o doente no meio<br />

familiar. É importante perceber que a Rede de Cuidados<br />

a desenvolver para esta área tem características<br />

que a diferencia significativamente das tradicionais redes<br />

de cuidados continuados. Com efeito esta rede pressupõe<br />

a existência de alojamentos, a disponibilização de<br />

emprego protegido, e uma capilaridade que permita<br />

que os doentes não tenham de ser desinseridos do<br />

seu meio ambiente. Importa referir que esta questão<br />

extravasa o âmbito do Ministério da Saúde, havendo<br />

um papel determinante a ser cumprido pelo Ministério<br />

do Trabalho e Segurança Social. Existem, é justo referir,<br />

parcerias com outras entidades, nomeadamente do setor<br />

social, que podem e devem ser aprofundadas.<br />

Tendo em consideração a sua coordenação do grupo<br />

de trabalho criado pelo Despacho n.<strong>º</strong> 13585-A/2016,<br />

de 10 de novembro, que veio proceder à análise, revisão<br />

e implementação da carreira de administração<br />

hospitalar, como explica a atual ausência de regulamentação<br />

no acesso à profissão de Administrador<br />

<strong>Hospitalar</strong> e, por inerência, à carreira? O que tem faltado<br />

para que este desígnio se torne uma realidade?<br />

Temos de reconhecer que todas as carreiras da área da<br />

saúde foram secundarizadas com as alterações do estatuto<br />

dos hospitais. A criação dos Hospitais SA e a subsequente<br />

transformação em EPE, bem como o regime<br />

de contrato individual de trabalho que passou a vigorar,<br />

levou a que, durante muitos anos, as carreiras permanecessem<br />

sem dinâmica. A carreira de Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong> não foi exceção. Face ao desenvolvimento<br />

recente que as carreiras têm tido, acredito que também<br />

a carreira de Administração <strong>Hospitalar</strong> seja rapidamente<br />

revista. O anterior ministro da saúde solicitou ao<br />

grupo de trabalho a que presidi uma proposta de revisão<br />

da carreira que tivesse em conta a nova realidade.<br />

O trabalho foi produzido e entregue mas infelizmente<br />

ainda não foi discutido. Não creio que seja por falta de<br />

vontade política mas sim de oportunidade. O reconhecimento<br />

da competência dos profissionais de AH não<br />

está em causa, já que têm um papel cada vez mais relevante<br />

na administração de serviços de saúde. É bom recordar<br />

que em regra os Conselhos de Administração/<br />

Conselhos Diretivos integram estes profissionais na sua<br />

composição por nomeação da tutela. Se olharmos para<br />

“<br />

ESTA É UMA PROFISSÃO<br />

VERDADEIRAMENTE APAIXONANTE,<br />

QUE EXIGE GRANDE DEDICAÇÃO,<br />

ENORME SENSIBILIDADE,<br />

FORMAÇÃO CONTÍNUA<br />

E PROFUNDO RIGOR.<br />

”<br />

o setor privado da área da saúde vemos exatamente<br />

o mesmo: administradores hospitalares com funções de<br />

topo e intermédias nessas estruturas, um sinal claro de<br />

que são reconhecidamente competentes para a gestão<br />

de serviços de saúde quer no setor público, quer no<br />

setor privado. Importa pois sensibilizar os governantes<br />

para a necessidade de rapidamente se concretizar a revisão<br />

e aprovação da carreira.<br />

Por último, que conselho daria a um Administrador<br />

<strong>Hospitalar</strong> em início de carreira, que hoje ingressasse<br />

numa instituição hospitalar?<br />

Esta é uma profissão verdadeiramente apaixonante, que<br />

exige grande dedicação, enorme sensibilidade, formação<br />

contínua e profundo rigor. Por isso diria que quem<br />

nela ingresse tem necessariamente de ter um espírito<br />

empreendedor, ter a noção de que o curso é apenas<br />

um meio e não um fim em si mesmo, apostar na permanente<br />

atualização de conhecimentos, não permanecer<br />

numa zona de conforto e estar permanentemente<br />

atento às mudanças e à inovação. Aconselharia que<br />

desenvolvesse a sua capacidade negocial, que conhecesse<br />

muito bem o terreno, não permanecendo fechado<br />

nos gabinetes e que fosse criativo e exigente, desenvolvendo<br />

a inteligência emocional. A sua gestão deve basear-se<br />

em conhecimentos técnicos bem alicerçados,<br />

fundamentando solidamente as suas decisões, divulgando<br />

e discutindo permanentemente os objetivos, focando-se<br />

com ambição e inteligência nos resultados e na<br />

qualidade dos mesmos e desenvolvendo a investigação.<br />

Nunca me arrependi, nem por um minuto que fosse, de<br />

nela ter ingressado. Ã<br />

28 29


GH registos clínicos<br />

REGISTOS CLÍNICOS,<br />

CODIFICAÇÃO,<br />

FINANCIAMENTO: QUE<br />

TRIÂNGULO QUEREMOS TER?<br />

Maria José Costeira<br />

Médica, Consultora de Neonatologia<br />

Espera-se do Serviço Nacional de Saúde<br />

(e dos hospitais do SNS) que satisfaça<br />

as necessidades em saúde da<br />

população, de uma forma integrada,<br />

equitativa e tendencialmente gratuita<br />

(Lei 48/90 de 24 de agosto, base XII). Contudo, um<br />

sistema de saúde para subsistir e evoluir tem de ter<br />

sustentabilidade financeira e, a nível mundial, a despesa<br />

em saúde tem vindo a aumentar significativamente,<br />

o que condiciona a viabilidade dos sistemas e conduz<br />

a imperiosas mudanças na gestão, financiamento e<br />

contratualização das instituições.<br />

Em Portugal, nos últimos anos, passou-se de um modelo<br />

de financiamento com base nos custos históricos<br />

para um pagamento que financia a atividade realizada/<br />

/contratualizada, sendo feito o pagamento por ato/episódio<br />

em várias linhas de produção, medida em “unidades”<br />

de Grupos de Diagnósticos Homogéneos (GDH);<br />

associado a este pagamento pelo montante de atividade<br />

produzida foram introduzidos, sobretudo desde 2012,<br />

indicadores do âmbito da qualidade e segurança dos<br />

doentes, mas também estes em estreita relação com a<br />

classificação dos doentes nos GDH. A tutela (Ministério<br />

da Saúde/ACSS) utiliza a informação dos GDH para o<br />

planeamento, alocação e organização dos recursos, sendo<br />

os hospitais financiados e o seu desempenho medi-<br />

do, comparado e monitorizado mediante, uma vez mais,<br />

a classificação da atividade nos GDH, feita com base<br />

na codificação que, por sua vez, recolhe a informação<br />

nos registos clínicos efetuados pelos médicos na prestação<br />

de cuidados aos doentes.<br />

Assim, poder-se-á dizer que a sustentabilidade financeira<br />

de qualquer hospital assenta em dois pilares: registos<br />

clínicos, que traduzam com rigor a qualidade dos cuidados<br />

prestados e os recursos consumidos; e a codificação<br />

clínica dos diagnósticos e procedimentos efetuados,<br />

realizada de forma fiel e exaustiva, devendo estas áreas<br />

ser objeto de particular atenção e intervenção pelos<br />

órgãos de gestão.<br />

Evolução dos sistemas de classificação de doentes<br />

em Portugal<br />

Existem vários sistemas de classificação e agrupamento<br />

dos doentes internados em hospitais de agudos, sendo<br />

os GDH um dos mais utilizados. Este sistema remonta<br />

às décadas de 60/70 nos EUA, em que o objetivo era<br />

classificar doentes em grupos relativamente homogéneos<br />

do ponto de vista das características clínicas e dos<br />

recursos alocados, identificando variáveis com maior<br />

efeito no consumo de recursos, permitindo assim comparar<br />

os hospitais. A cada grupo é associado um peso<br />

relativo, ie, um coeficiente de ponderação que reflete<br />

o custo esperado com o tratamento de um doente típico<br />

agrupado nesse GDH, expresso em termos relativos,<br />

face ao custo médio do doente típico a nível nacional.<br />

O Índice de Case Mix de um hospital resulta assim<br />

do rácio entre o número de doentes equivalentes<br />

ponderados pelos pesos relativos dos respetivos GDH<br />

e o número total de doentes equivalentes.<br />

Os GDH foram introduzidos em Portugal, em 1989,<br />

utilizando posteriormente a Classificação Internacional<br />

das Doenças, 9ª Revisão, Modificação Clínica (ICD-9-<br />

CM). Tendo como pressuposto a aproximação da clas-<br />

sificação dos doentes à perspetiva clínica (características<br />

clínicas comuns, similitude nos consumos, alocação<br />

de recursos com variação mínima) a ICD-9-CM evoluiu<br />

para a versão 10 (criada pela OMS) e adaptada pelos<br />

EUA para a versão ICD-10-CM/PCS. Em Portugal, foi<br />

decidida a sua implementação a partir de 01/01/16 1 ,<br />

sendo criada uma equipa de projeto, com competências,<br />

responsabilidades e cronograma definidos; contudo,<br />

a sua introdução foi protelada para 01/01/<strong>17</strong> 2, 3<br />

e as atividades planeadas para a transição não se encontram<br />

ainda terminadas. Esta necessidade de mudança<br />

foi determinada pelo facto da ICD-10-CM/PCS<br />

caracterizar melhor a morbilidade hospitalar, permitindo<br />

modelos de financiamento mais equitativos,<br />

devendo Portugal também acompanhar as tendências<br />

internacionais (utilização da ICD-10-CM/PCS) de forma<br />

a que a morbilidade, indicadores e financiamento<br />

pudessem ser comparáveis.<br />

Depois da recolha dos elementos clínicos e posterior<br />

classificação em linguagem de codificação clínica, os códigos<br />

são introduzidos num “agrupador informático”<br />

(aplicação informática que contém os algoritmos necessários<br />

para agrupar os registos codificados), bem como<br />

um conjunto de variáveis “administrativas”, como<br />

o sexo, idade, peso de nascimento (no caso de recém-<br />

-nascidos) e destino após a alta, sendo os resultados<br />

expressos em Grupos de Diagnósticos Homogéneos,<br />

os quais se repartem em 26 grandes categorias diagnósticas.<br />

Em Portugal, utilizaram-se vários agrupadores<br />

ao longo dos anos, sendo que desde 01/10/2013 estava<br />

em uso o agrupador AP-DRG 27, tendo sido alterado<br />

para o APR-DRG em 01/01/15 4 .<br />

A mudança do agrupador AP27 para APR-DRG (atualmente<br />

na versão 31), implicou a revisão e redefinição<br />

dos doentes equivalentes, demora hospitalar, pesos relativos<br />

para cada GDH, tabela de preços, sendo que a<br />

maior parte dos hospitais sofreu variação (diminuição)<br />

do seu ICM global e, por mudança do conceito de pequena<br />

cirurgia, um aumento do ICM de ambulatório<br />

cirúrgico 5 . Este agrupador apresenta maior rigor e<br />

poder discriminativo da morbilidade hospitalar, subdividindo<br />

cada GDH em quatro níveis de severidade, em<br />

vez dos três níveis prévios do AP-DRG 27, bem como<br />

em quatro níveis de risco de mortalidade. A severidade<br />

correlaciona-se com os diagnósticos adicionais, para<br />

além do diagnóstico principal, e com o consumo de recursos<br />

usados para tratamento dos doentes, sendo que<br />

a mortalidade reflete a probabilidade de ocorrência de<br />

óbito. Esta mudança de agrupador foi orientada, apoiada<br />

e monitorizada pela ACSS, sendo referido que a<br />

SPMS procederia posteriormente à adaptação dos sistemas<br />

de informação 3, 6 , situação essa ainda em curso. }<br />

30 31


GH registos clínicos<br />

Por seu turno, a introdução da ICD-10 (ICD-10-CM/<br />

/PCS) funcionou como uma revolução e um desafio<br />

à atividade de codificação, dado o enorme rigor, especificidade<br />

e discriminação da mesma; o número de<br />

códigos aumentou drasticamente (90000 versus os<br />

14000 da ICD-9-CM), bem como o número de procedimentos,<br />

tendo existido inclusivamente uma reformulação<br />

da sua metodologia de codificação (72000<br />

versus os 4000 existentes na ICD-9-CM), melhorando<br />

significativamente a caracterização da morbilidade<br />

hospitalar - este aumento do rigor e discriminação<br />

necessários à correta classificação só são possíveis, naturalmente,<br />

se a informação clínica estiver presente de<br />

forma clara, precisa e detalhada... A ACSS orientou,<br />

em parceria com a Escola Nacional de Saúde Pública,<br />

a formação dos médicos codificadores, tendo sido<br />

feito um investimento considerável na formação de<br />

novos elementos e atualização dos médicos que já<br />

exerciam essa atividade previamente.<br />

Refira-se ainda que, em 2013, foi introduzido um indicador<br />

que permite monitorizar a qualidade dos cuidados<br />

prestados: o indicador PNA - Presente Na Admissão 7 .<br />

Este indicador permite identificar e discriminar quais as<br />

condições que o doente apresenta no momento da<br />

admissão e adquiridas na comunidade, das desenvolvidas<br />

ao longo do internamento, sejam como complicações,<br />

iatrogenia, efeitos secundários e eventos adversos,<br />

sendo exemplos as infeções associadas aos cuidados<br />

de saúde, úlceras de decúbito ou fraturas pós admissão<br />

hospitalar.<br />

Uniformização e consensualização da codificação<br />

clínica<br />

Apesar da codificação clínica proporcionar a uniformização<br />

da informação clínica é, em si mesma, uma atividade<br />

pouco estandardizada, subjetiva, propensa ao<br />

erro e com fraca consistência, havendo estudos que<br />

apontam variações entre 42-73% 8-10 ; por esses motivos<br />

a própria ICD-10-CM/PCS tem com um conjunto de<br />

orientações gerais e específicas para cada capítulo (“IC-<br />

D-10-CM Official Guidelines for Coding and Reporting“),<br />

que apoiam a codificação e, periodicamente, são feitas<br />

atualizações e esclarecimentos (“guidelines”). Na formação,<br />

desenvolvimento e esclarecimento da ICD-10-CM/<br />

PCS intervêm instituições como a American Hospital<br />

Association (responsável pela publicação do “Coding<br />

Clinic” e “ICD-10-CM and ICD-10-PCS Coding Handbook”),<br />

a American Health Information Management<br />

Association (a principal associação americana nesta<br />

área, com publicação de jornais, newsletters e cursos online),<br />

a Centers for Medicare & Medical Services e National<br />

Center for Health Statistics.<br />

Apesar destas normalizações propostas e impostas pela<br />

ICD-10-CM/PCS, a maior parte dos países reconhece<br />

a necessidade de criar consensos nacionais e de estabelecer<br />

uma política de codificação clínica, com o objetivo<br />

de promover a boa prática de codificação e a<br />

consistência dos resultados. Em Portugal, os recursos<br />

disponibilizados aos médicos codificadores e a normalização<br />

da atividade de codificação são mais limitados,<br />

sendo de destacar, entre outros: o Portal da Codificação<br />

Clínica e dos GDH (ativo entre 2009 e 2014, em<br />

versão ICD-9-CM pelo que atualmente inacessível, não<br />

existindo ainda o equivalente em ICD-10-CM/PCS); as<br />

atividades desenvolvidas pela Associação dos Médicos<br />

Auditores e Codificadores Clínicos (nomeadamente<br />

realização de congressos anuais dedicados à codificação<br />

clínica e estabelecimento de consensos, bem como<br />

ações formativas em codificação clínica, com o patrocínio<br />

da Ordem dos Médicos); os seminários de codificação<br />

clínica mensais realizados pelo Departamento<br />

de Medicina da Comunidade Informação e Decisão e<br />

Saúde (MEDCIDS) da FMUP e o Fórum Codificação<br />

Global. As orientações e normalização da codificação<br />

clínica na versão ICD-10-CM/PCS, política de codificação,<br />

auditorias à qualidade dos registos e formação de<br />

médicos auditores de codificação clínica, atividades da<br />

inteira responsabilidade da ACSS têm sido algo ténues.<br />

O recentemente criado “Grupo de Trabalho de<br />

Apoio à Codificação Clínica” da ACSS 11 terá um papel<br />

crucial no estabelecimento de orientações e na vinculação<br />

a consensos. Igualmente importante será o seu<br />

papel na uniformização dos procedimentos, evitando<br />

a variação de atitudes entre os hospitais e entre os<br />

próprios médicos codificadores. A título exemplificativo,<br />

refiro dois aspetos que merecerão normalização,<br />

dada a possibilidade de grande variação na sua codificação:<br />

as guidelines da ICD-10-CM/PCS preveem<br />

que num procedimento realizado com apoio de ecografia,<br />

a mesma possa ser codificada de acordo com<br />

“a política da instituição”; a oxigenoterapia é referida<br />

pelo Coding Handbook como um “procedimento de<br />

caráter não obrigatório” ("Hospitals can choose to code<br />

the administration of oxygen. However, it is not necessary<br />

to report this procedure, and many hospitals may opt not<br />

to code it.”), pelo que cabe a cada instituição definir se<br />

deve ser valorizada, sendo que, para todos os efeitos,<br />

o oxigénio é um medicamento...<br />

Morbilidade hospitalar e avaliação do desempenho<br />

das instituições<br />

A informação relativa aos GDH de todos os hospitais<br />

do SNS é recolhida de forma a integrar a base de dados<br />

da morbilidade hospitalar (Sistema de Informação da<br />

“<br />

A ATIVIDADE DE CONTROLO<br />

DAS INSTITUIÇÕES E DA ACSS<br />

PASSA, OBRIGATORIAMENTE,<br />

PELA REALIZAÇÃO<br />

DE AUDITORIAS À QUALIDADE<br />

DA CODIFICAÇÃO CLÍNICA.<br />

”<br />

Morbilidade <strong>Hospitalar</strong> - SIMH). O SIMH foi desenvolvido<br />

no sentido de responder a uma série de requisitos:<br />

possibilidade de integração de dados administrativos<br />

de vários sistemas, que a codificação do episódio fosse<br />

feita diretamente na aplicação, o envio automático dos<br />

dados para o sistema de faturação, bem como dispor<br />

de um módulo de apoio à codificação clínica, sistema<br />

de pesquisa de códigos de diagnóstico por índice e de<br />

procedimentos por construção em cascata; contudo, o<br />

seu funcionamento a pleno pressupõe: a inclusão de<br />

alertas de não-conformidades (ainda em reduzido número,<br />

face aos <strong>17</strong>7 alertas do programa Auditor, ferramenta<br />

prévia descontinuada em 2013), a não-interrupção<br />

da sua atividade (esteve inoperacional cerca de dois<br />

meses no início de <strong>2019</strong>, impedindo o agrupamento<br />

dos episódios codificados), a ligação a outras aplicações<br />

informáticas hospitalares como o SONHO, SIGLIC e<br />

SClínico (somente neste momento em vias de implementação<br />

em vários hospitais), tendo de haver substituição<br />

da ICD-9-CM pela ICD-10-CM/PCS nestas aplicações,<br />

com a consequente formação aos utilizadores,<br />

situação ainda não acautelada em muitas instituições -<br />

procedimentos estes todos previstos no Ofício Circular<br />

da ACSS em 20<strong>17</strong> 12 e ainda não finalizados.<br />

A atividade de monitorização e benchmarking das instituições<br />

é concretizada pelo BIMH (Business Intelligence<br />

da Morbilidade <strong>Hospitalar</strong>), o qual permite que cada<br />

instituição tenha acesso aos seus dados codificados,<br />

bem como aos das outras instituições. Os dados clínicos<br />

codificados são relevantes para a classificação<br />

dos doentes, avaliação do desempenho dos hospitais,<br />

definição de metodologias de custeio e modelos de<br />

financiamento, estudos epidemiológicos, avaliação da<br />

qualidade e segurança dos cuidados prestados, entre<br />

outros objetivos. No caso concreto, a informação do<br />

BIMH permite a avaliação do desempenho (e da qualidade)<br />

das instituições e o benchmarking das mesmas,<br />

ajustando sempre os resultados ao risco, destacando,<br />

uma vez mais, o papel crucial da ACSS na monitorização<br />

dos indicadores a nível nacional (e internacional).<br />

Dada a necessidade de acompanhamento dos resultados<br />

e do desempenho das instituições, alguns hospitais<br />

portugueses têm ainda optado por soluções privadas<br />

como a IASIST, em que a monitorização dos indicadores<br />

e benchmarking são feitos entre os hospitais aderentes<br />

nacionais e espanhóis.<br />

A atividade de controlo das instituições e da ACSS<br />

passa, obrigatoriamente, pela realização de auditorias<br />

à qualidade da codificação clínica, dado que o agrupamento<br />

incorreto (por excesso ou por defeito) dos<br />

diagnósticos e procedimentos realizados pode ter consequências<br />

no Índice de Case Mix e no montante de financiamento<br />

recebido. Nos hospitais, a monitorização<br />

e controlo da atividade desenvolvida é da responsabilidade<br />

dos conselhos de administração, os quais têm<br />

a responsabilidade da gestão corporativa (“corporate<br />

governance”), assegurando o cumprimento da lei, políticas,<br />

regulamentações e prestações de contas, a par<br />

da gestão clínica (“clinical governance”), cujo foco primordial<br />

é assegurar a prestação de cuidados com qualidade<br />

e segurança, pelo que, uma vez mais, se destaca<br />

a importância da codificação clínica como instrumento<br />

de avaliação da produção, qualidade e financiamento<br />

dos hospitais 13 .<br />

Responsabilidades dos médicos (clínicos) e codificadores<br />

A classificação dos doentes pela ICD-10-CM/PCS implica<br />

um rigor e complexidade, que não estarão a ter<br />

a devida atenção por todos os intervenientes no processo<br />

(ACSS, conselhos de administração, médicos codificadores/auditores<br />

e médicos prestadores de cuidados<br />

e responsáveis pela elaboração da informação clínica),<br />

embora a questão seja reiteradamente alertada<br />

e discutida, inclusivamente neste espaço 5 .<br />

Em relação aos médicos responsáveis pela prestação de<br />

cuidados há, historicamente, uma grande resistência (ou<br />

indiferença) pela elaboração de registos adequados e<br />

fidedignos, que transmitam com rigor e exatidão o nível<br />

de cuidados prestados, bem como insuficiente alocação<br />

de tempo para esta tarefa, não compreensão e subva- }<br />

32 33


GH registos clínicos<br />

lorização do papel crítico desempenhado pelos registos<br />

médicos, apesar da sua obrigatoriedade estar prevista<br />

no Art 100 do Código Deontológico Médico 14 .<br />

As mudanças e desafios dos últimos anos, sobretudo<br />

via processo clínico eletrónico (com o recurso excessivo<br />

ao copy and paste, escrita sintética e abreviaturas),<br />

também não têm propiciado que os médicos colaborem<br />

muito, sendo que as aplicações informáticas são<br />

pouco amigáveis, nem parecendo ser construídas com<br />

o intuito de servir os utilizadores 5, 15 .<br />

Por outro lado, a formação feita aos médicos sobre<br />

os dados relevantes (e obrigatórios) a constar do processo<br />

clínico continua a ser insuficiente. Para além do<br />

diagnóstico principal (aquele que, depois do estudo do<br />

doente, é considerado responsável pela sua admissão<br />

no hospital para tratamento/investigação, podendo ser,<br />

ou não, o mais grave), é também necessário referir todas<br />

as situações que tenham tido impacto no nível de<br />

cuidados (diagnósticos adicionais). A título de exemplo,<br />

se um doente é internado num Serviço de Ortopedia<br />

por uma fratura do colo do fémur, motivada por uma<br />

queda, é importante que os médicos refiram, para além<br />

do local e da lateralidade da fratura, a existência de situações<br />

predisponentes (por exemplo, osteoporose),<br />

todas as patologias e condições associadas (nomeadamente<br />

infeções), medicação prévia e concomitante, o<br />

local onde se deu a queda, se foi fora da instituição ou já<br />

internado, se houve intenção, a atividade que o doente<br />

se encontrava a realizar, a valorização dos resultados<br />

dos exames (e não somente a transcrição dos mesmos),<br />

bem como todos os procedimentos realizados<br />

e devices implantados. É fundamental que os médicos<br />

prestadores de cuidados saibam que tudo aquilo que<br />

lhes suscitar preocupação no doente, tudo o que seja<br />

considerado situação patológica a requerer investigação<br />

ou tratamento, tudo aquilo que seja responsável pelo<br />

aumento da demora ou consumo de recursos, deve<br />

estar vertido nos registos clínicos (registos completos e<br />

precisos) e, obrigatoriamente, deve ser recolhido e codificado<br />

pelos médicos codificadores em ICD-10-CM/<br />

PCS (diagnóstico principal, diagnósticos adicionais e<br />

procedimentos), sob pena dos GDH não refletirem<br />

adequadamente a produção realizada, nem a complexidade<br />

dos cuidados prestados, pelo que o financiamento<br />

será desadequado.<br />

Por seu turno, os codificadores clínicos assumem que,<br />

durante a atividade de codificação, não são médicos<br />

(apesar de sermos um dos poucos países em que a atividade<br />

de codificação clínica é realizada exclusivamente<br />

por médicos) e que a sua função é codificar somente<br />

o que está (e da forma em que está) registado, destacando-se<br />

completamente da atividade assistencial e<br />

não codificando segundo critérios clínicos, dado que as<br />

linguagens são diferentes 16 . Também relevante é a fonte<br />

da informação clínica: estão definidos pela ACSS os<br />

locais de análise e consulta de registos clínicos para a<br />

codificação - nota de alta (documento principal do episódio,<br />

embora não o exclusivo, para ser consultado no<br />

decurso da atividade de codificação), diários clínicos,<br />

relato operatório, resultados de anatomia patológica e<br />

outros meios complementares de diagnóstico <strong>17</strong> ; contudo,<br />

o rigor e a profundidade de recolha da informação<br />

clínica pelos médicos codificadores têm obrigatoriamente<br />

de ser monitorizados, assegurando que não<br />

existe leveza na recolha da informação clínica. Naturalmente<br />

que os médicos codificadores têm ética profissional<br />

mas, considerando que todo o processo assenta<br />

na sua atividade, teriam de existir mecanismos de controlo<br />

que confirmassem a devolução dos processos<br />

clínicos com informação insuficiente, a exatidão, rigor e<br />

uniformidade da sua recolha de informação, assegurando<br />

que não se envereda pela corrente minimalista de<br />

codificação de um número reduzido de diagnósticos/<br />

/procedimentos, se os mesmos constarem do processo<br />

clínico, bem como minimizando/eliminando a ocorrência<br />

de fenómenos como o upcoding (codificar o que<br />

não está registado), undercoding (não codificar o que<br />

não está registado) ou unbending (utilizar códigos múltiplos<br />

quando existem entradas de códigos agregados).<br />

A velha questão se os médicos codificadores devem<br />

codificar os processos das suas especialidades continua<br />

por resolver: embora o conhecimento da área possa<br />

aumentar o risco de upcoding 9 , permite igualmente<br />

maior acuidade da codificação clínica, sobretudo com<br />

o rigor e discriminação dos procedimentos exigidos pela<br />

ICD-10.<br />

Os codificadores clínicos integram-se num gabinete<br />

de codificação e auditoria clínica com competências<br />

específicas definidas pela ACSS 18 ; para além das funções<br />

inerentes de codificação e auditoria, está previsto<br />

que exista um trabalho desenvolvido com os serviços<br />

clínicos e com os médicos, no sentido de clarificação<br />

da informação clínica e promoção da melhoria da qualidade<br />

dos registos, bem como articulação estreita com<br />

a direção clínica/conselho de administração visando a<br />

melhoria do conteúdo e da qualidade da informação<br />

e a análise de situações irregulares (internamentos de<br />

curta duração, óbitos de doentes com nível de severidade<br />

baixo, internamentos acima do limiar máximo,<br />

para exemplificar).<br />

De uma forma sucinta, para que todo este circuito seja<br />

eficiente, é absolutamente crítico que os médicos traduzam<br />

os cuidados prestados aos doentes em registos<br />

clínicos e, por seu lado, que os codificadores traduzam<br />

o mais fielmente possível os registos clínicos em códigos<br />

ICD, tentando compatibilizar as duas linguagens (clínica<br />

e de codificação), trabalhando os dois em parceria... Infelizmente,<br />

na prática, continua a verificar-se um grande<br />

destacamento e distância entre estas duas atividades.<br />

Sugestões de melhoria<br />

Sendo os hospitais medidos (e financiados) pelos dados<br />

reportados, dever-se-ia tentar uma aproximação<br />

das três vertentes (registos clínicos, codificação, financiamento),<br />

transformando o clássico triângulo de ferro<br />

da saúde num triângulo de ouro!<br />

De uma forma pragmática, algumas medidas, mais ou<br />

menos inovadoras, poderiam ser estratégicas:<br />

1. Em relação aos médicos prestadores de cuidados:<br />

• Motivação, envolvimento e formação: envolvimento<br />

dos médicos de forma a que se possa garantir que a<br />

informação constante nos processos clínicos seja clara<br />

e completa; esclarecimento que, muito mais do que o<br />

diagnóstico principal, é também necessário referir todas<br />

as situações que tenham tido impacto no nível de cuidados;<br />

formação (individualizada a cada especialidade<br />

médica, nas reuniões de serviço) de quais os elementos<br />

(e em que forma) são determinantes registar no processo<br />

clínico; formação na linguagem da ICD-10 para os<br />

médicos utilizadores das aplicações SIGLIC e SClínico,<br />

dado que a inscrição na lista de espera cirúrgica ou o<br />

diagnóstico de alta do Serviço de Urgência para o internamento<br />

serão feitos nessa linguagem; formação dos<br />

novos médicos inserida no processo de integração dos<br />

mesmos nas instituições, particularmente porque serão<br />

os internos e médicos mais novos que ficarão responsáveis<br />

pelas atividades de registos clínicos;<br />

• Revisão das notas de alta e dos processos clínicos,<br />

particularmente dos que corresponderam a situações<br />

de maior complexidade (e óbitos), por médicos dos<br />

serviços com formação em codificação e com tempo<br />

atribuído a essa tarefa, cuja função seria assegurar<br />

que toda a informação clínica relevante constasse do<br />

processo clínico, e em formato adequado para ser valorizado<br />

pelos codificadores, antes deste seguir para<br />

a codificação;<br />

• Utilização de instrumentos de normalização dos registos<br />

(metodologia SOAP ou critérios sugeridos pelos<br />

diferentes referenciais de acreditação e qualidade hospitalar)<br />

e do uso de siglas e abreviaturas;<br />

• Realização de auditorias clínicas e avaliação da qualidade<br />

e eficiência dos cuidados prestados;<br />

• Utilização da qualidade dos registos na avaliação do<br />

desempenho médico e na atribuição de incentivos;<br />

• Integração da formação da qualidade e rigor nos registos<br />

clínicos no currículo da formação médica pré-graduada.<br />

“<br />

DESTACA-SE A IMPORTÂNCIA<br />

DA CODIFICAÇÃO CLÍNICA<br />

COMO INSTRUMENTO<br />

DE AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO,<br />

QUALIDADE E FINANCIAMENTO<br />

DOS HOSPITAIS.<br />

”<br />

2. Em relação aos médicos codificadores e auditores:<br />

• Formação obrigatória e recorrente dos codificadores;<br />

• Obrigação de devolução dos processos clínicos com informação<br />

contraditória ou insuficiente para codificação;<br />

• Auditorias à qualidade da codificação que garantam<br />

a fiabilidade e a uniformidade dos critérios utilizados;<br />

• Disponibilização de recursos aos médicos codificadores<br />

de forma a que possam realizar a sua atividade de<br />

forma adequada (por exemplo: livros, computadores,<br />

acesso VPN às aplicações informáticas hospitalares);<br />

• Revisão do modo de pagamento dos codificadores,<br />

dado o incremento de complexidade e morosidade de<br />

codificação em ICD-10-CM/PCS, com atribuição de incentivos<br />

e penalizações de acordo com a qualidade da<br />

sua codificação;<br />

• Aproximação dos gabinetes de codificação das instituições<br />

aos serviços clínicos, com análise dos fatores<br />

mais impactantes na variação dos níveis de severidade<br />

para cada GDH e reuniões periódicas para discussão<br />

dos resultados obtidos;<br />

• Integração, valorização e reconhecimento dos gabinetes<br />

de codificação e auditoria clínica como um serviço<br />

hospitalar, estreitamente alinhados com as orientações<br />

dos conselhos de administração e da tutela.<br />

3. Em relação às aplicações informáticas:<br />

• Estruturação e facilitação do Sclínico, tornando-se um<br />

sistema informático amigável do utilizador, permitindo a<br />

importação de diagnósticos e procedimentos de outros<br />

episódios do mesmo doente (nas situações patológicas<br />

crónicas), bem como de informação registada por ou- }<br />

34 35


GH registos clínicos<br />

tros profissionais de saúde (nutricionistas, enfermeiros,<br />

assistentes sociais...), necessitando somente de ser validados<br />

pelo médico responsável pelo doente;<br />

• Utilização de textos pré-formatados, por exemplo<br />

nos relatos cirúrgicos;<br />

• Aplicações informáticas que facilitem os registos, não<br />

obrigando os médicos com tarefas assistenciais a duplicar<br />

registos ou a escrever os diagnósticos de acordo<br />

com a nomenclatura ICD (9 ou 10), particularmente<br />

quando não foi feita formação nem proporcionado<br />

tempo acrescido para esse efeito;<br />

• Interoperabilidade das aplicações e importação automática<br />

da informação relevante.<br />

4. Em relação à ACSS e conselhos de administração:<br />

• Elaboração de consensos, esclarecimentos e orientações<br />

com obrigatoriedade de cumprimento das<br />

mesmas;<br />

• Tradução do manual da ICD-10-CM/PCS para<br />

português;<br />

• Discussão e benchmarking interno e externo (com<br />

publicação dos dados) da atividade realizada, respetivos<br />

níveis de severidade e mortalidade, bem como análise<br />

da demora média, internamentos acima do limiar máximo,<br />

óbitos em doentes com baixo risco de mortalidade,<br />

complicações, readmissões no bloco operatório,<br />

readmissões na instituição, infeções nosocomiais, casos<br />

sociais, n<strong>º</strong> de diagnósticos e procedimentos na alta, entre<br />

outros aspetos;<br />

• Reinício do hábito de realização de auditorias efetivas<br />

e frequentes à codificação realizada em cada hospital,<br />

promovendo a boa prática de codificação, bem como<br />

a consistência dos resultados;<br />

• Valorização da avaliação dos doentes feita por outros<br />

profissionais de saúde, mediante validação simples<br />

(rápida) da mesma pelos médicos (exemplo: inclusão<br />

facilitada da informação relativa ao rastreio da desnutrição<br />

ou da avaliação social, dado serem dois fatores<br />

responsáveis pelo aumento da morbilidade e de complexidades<br />

dos GDH e habitualmente negligenciados<br />

em termos de registos e de codificação);<br />

• Delineamento de estratégias que, duma forma correta<br />

e efetiva, aumentem o Índice de Case Mix da instituição<br />

(exemplo: investimento prioritário nos serviços<br />

com maior repercussão institucional, nos serviços<br />

com maior potencial de melhoria ou nos GDH com<br />

maior peso);<br />

• Monitorização dos gabinetes de codificação e auditoria<br />

clínica dos hospitais considerando que, com<br />

alguma frequência, são organismos externos às organizações<br />

funcionando “em circuito fechado” e com<br />

(ainda) pouca concorrência de mercado.<br />

Conclusão<br />

Sendo a produção e o ressarcimento das despesas dos<br />

hospitais feitos com base nos GDH, secundariamente<br />

à correta codificação da informação clínica constante<br />

dos processos clínicos, há um enorme potencial de<br />

melhoria em todos os estádios intermédios do macro<br />

processo registos clínicos-codificação-financiamento.<br />

Enquanto tal facto não for encarado por todos os intervenientes<br />

como uma verdadeira prioridade, temos um<br />

enorme potencial de desperdício!<br />

Por outro lado, os médicos ainda não tomaram consciência<br />

de que são eles (nós), mediante os seus registos<br />

clínicos corretamente codificados, que condicionam/permitem<br />

o financiamento e a sustentabilidade<br />

dos hospitais. Ã<br />

1. Despacho n<strong>º</strong> 10537/2013, de 13/08/2013, criou a equipa de projeto para<br />

a implementação em Portugal da ICD-10-CM/PCS.<br />

2. Despacho n<strong>º</strong> 9090/2015, de 13/08/2015, determinou a utilização da<br />

ICD-l0-CMlPCS, em substituição da ICD-9-CM, a partir de 1 de janeiro<br />

de 20<strong>17</strong>.<br />

3. Circular Informativa n<strong>º</strong> 24/2016/DPS/ACSS, 05/07/2016, “Implementação<br />

do sistema de codificação clínica ICD-10-CM/PCS em Portugal, em<br />

substituição da atual ICD-9-CM”.<br />

4. Circular Normativa ACSS n<strong>º</strong>22/2014/DPS/ACSS, 20/08/2014, “Agrupador<br />

de GDH All Patient Refined DRG”.<br />

5. Lopes Fernando, março 2015 “A importância da codificação clínica como<br />

ferramenta de apoio à gestão hospitalar e os desafios que se colocam à sua<br />

evolução no contexto do SNS”, <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>, pag 8-13.<br />

6. Circular normativa n<strong>º</strong>31/2014, 22/12/2014, “Agrupador de GDH All<br />

Patient Refined”.<br />

7. Circular Normativa n<strong>º</strong> 8/2013/DPS, 04/03/2013, 04/03/2013, “Atribuição<br />

do indicador PNA”.<br />

8. Aliaos N et al, 2010, “Financial and clinical governance implications of<br />

clinical coding accuracy in neurosurgery: a multidisciplinar audit”. British<br />

Journal of Neurosurgery, vol 24, issue 2, pag 191-195.<br />

9. Roberts Luke et al, 2018 “Clinical coding - an insight into healthcare data”,<br />

The British Student Doctor; 2(2): 36-43.<br />

10. Andrew Tatham, 2008 “The increasing importance of clinical coding”,<br />

British Journal of Hospital Medicine, vol 69, n<strong>º</strong>7.<br />

11. Ofício Circular n<strong>º</strong> 5137/<strong>2019</strong>/DPS/ACSS, “Grupo de Trabalho de<br />

Apoio à Codificação Clínica”.<br />

12. Ofício Circular n<strong>º</strong> 8052/20<strong>17</strong>/DPS/ACSS, “Processo de implementação<br />

da ICD10CM/PCS nos sistemas de informação SONHO, SClínico, SIGLIC<br />

e sistemas de informação alternativos”.<br />

13. Santana Rui, Lopes Sílvia, “Codificação clínica e gestão hospitalar: uma<br />

relação biunívoca?”, Revista <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>, vol 1, pág 56-57.<br />

14. Regulamento n<strong>º</strong> 14/2009 da Ordem dos Médicos, 13/1/2009.<br />

15. Oliveira, Paulo Jorge Moreira Gil, 2015, “A importância da qualidade dos<br />

registos médicos para os hospitais”. Dissertação de Mestrado em <strong>Gestão</strong><br />

de Serviços de Saúde, ISCTE.<br />

16. Pires, Vera Lúcia Alonso, 2018, “A codificação clínica e os problemas associados<br />

à qualidade dos dados: perspetiva dos codificadores”. Dissertação<br />

de Mestrado em Informática Médica, FMUP.<br />

<strong>17</strong>. Circular normativa da ACSS n<strong>º</strong>23/2014/DPS, 27/08/2014: Codificação<br />

clínica: documentos ou registos médicos que devem estar presentes no<br />

momento da codificação clínica do episódio e de auditoria (interna e externa).<br />

18. Circular Informativa n<strong>º</strong> 19/2010/UOFC, de 22/11/2010, “Regulamento<br />

do Gabinete de Codificação e Auditoria Clínica”.<br />

36 37


GH Hospitalização domiciliária<br />

HOSPITALIZAÇÃO<br />

DOMICILIÁRIA,<br />

UMA BOA ALTERNATIVA<br />

AO INTERNAMENTO<br />

HOSPITALAR PARA UM GRUPO<br />

ESPECÍFICO DE PACIENTES<br />

Ana Marques da Silva<br />

Healthcare Strategic Consultant da Lean Health Portugal<br />

Decorreu no passado dia 5 e 6 de abril,<br />

em Madrid, o primeiro Hospital at Home<br />

World Congress (#HAHWC19).<br />

O evento reuniu na capital espanhola<br />

cerca de 500 congressistas, todos<br />

com o propósito de saber mais, aprender e partilhar<br />

experiências sobre um tema que está na agenda política<br />

como nunca.<br />

Portugal esteve presente com a 3ª delegação mais numerosa,<br />

em 37 países registados.<br />

A proposta de valor (melhorar os cuidados, aumentar<br />

a satisfação dos pacientes e diminuir custos) é suficientemente<br />

cativante para que a evolução dos cuidados<br />

hospitalares no domicílio se torne uma realidade. Importa<br />

ser efetivo na definição do que é valor acrescentado,<br />

pelo impacto que tem nos modelos operacionais<br />

e no financiamento.<br />

Acontece, porém, que os modelos apresentados, durante<br />

o congresso, traduzem realidades diferentes, onde<br />

se realçam as dissemelhanças dos sistemas de saúde<br />

de país para país. Tornar a hospitalização domiciliária<br />

uma prioridade poderá fazer toda a diferença.<br />

Durante o congresso, foi visível a vontade da organização<br />

em promover uma visão transversal do tema, não<br />

só do ponto de vista organizacional, como também<br />

operacional, partilhando uma abordagem de benefício<br />

inequívoco para os doentes e para os sistemas que se<br />

salda pela:<br />

• Diminuição de infeções hospitalares;<br />

• Redução da taxa de reinternamentos;<br />

• Redução e efeitos adversos (em particular de quedas);<br />

• Redução de risco de desenvolvimento de delirium;<br />

• Aumento da mobilidade funcional (permitindo ao<br />

doente retomar a sua vida normal mais rapidamente);<br />

• Reabilitação funcional a iniciar no ambiente do doente.<br />

Encontrando-se reunidas as condições, aliadas ao desejo<br />

de fazer mais pelo doente, reduzindo custos assistenciais,<br />

conclui-se estar disponível a base para o avanço<br />

da hospitalização domiciliária em qualquer país.<br />

A hospitalização domiciliária pode ser considerada<br />

como uma boa alternativa ao internamento hospitalar<br />

para um grupo específico de doentes. Medir o impacto,<br />

nomeadamente através da demora média de<br />

internamento, custos evitáveis/poupanças geradas e<br />

reinternamentos, possibilitará ter uma noção da evolução<br />

desta aposta.<br />

A forma como cada um vai decidir a sua implementação,<br />

isso sim, diferirá de país para país, dos meios disponíveis<br />

(técnicos e humanos) e do nível de prioridade/<br />

/oportunidade que cada sistema governativo atribuir<br />

a este, relativamente recente, modelo de cuidados.<br />

O caminho, apesar de promissor, é desafiante. A questão<br />

organizacional é pedra basilar, desde logo na definição<br />

destes doentes (Quem são?/Quem pode ser<br />

considerado?) e de onde vêm - a rede de referenciação.<br />

Definir bem este percurso é essencial e é aqui<br />

que identificamos diversas realidades assentes em diferentes<br />

modelos. A comunidade de Valência, em Espanha,<br />

apresentou uma segmentação de doentes muito<br />

bem estruturada, em que a definição de critérios para<br />

o doente poder ser tratado em casa é muito clara,<br />

permitindo, pela análise da informação, estimar custos<br />

destes novos modelos, evidenciando o custo, mas<br />

também a poupança.<br />

Parece, no entanto, ser condição sine qua non haver infraestruturas<br />

de apoio, compostas por recursos humanos<br />

competentes e adequados, meios que permitam<br />

a mobilidade das equipas e tecnologia que permita dar<br />

um suporte à distância fiável e seguro. A monitorização<br />

remota e o apoio telefónico são apenas dois exemplos.<br />

Espanha, França, Holanda, Itália, Brasil, Estados Unidos,<br />

Canadá, Israel e Taiwan foram alguns dos casos partilhados,<br />

pondo em evidência o percurso feito e os desafios<br />

que têm pela frente. Destaca-se Espanha, ou até França,<br />

com modelos mais próximos de Portugal, no entanto<br />

com um percurso mais longo e mais sustentado.<br />

A experiência nacional impele-nos a olhar para o caminho<br />

percorrido pelas unidades de hospitalização domiciliária<br />

pioneiras, tais como as dos Hospital Garcia de<br />

Orta, EPE e Centro <strong>Hospitalar</strong> Vila Nova de Gaia/Espinho,<br />

EPE e que muito têm contribuído para a constituição<br />

das novas equipas. A título de exemplo, a Unidade<br />

de Hospitalização Domiciliária (UHD) do Hospital Garcia<br />

de Orta, EPE exibiu três trabalhos neste congresso<br />

cujos temas, Implementation of a Home Hospitalization<br />

Unit - an innovative experience in the portuguese healthcare<br />

system, Hospital at Home a pioneering Reality in<br />

Portugal e Hospital’s at Home pulmonary rehabilitation - in<br />

patients with acute pulmonary disease, refletem a aposta<br />

e nos deixam claras pistas para o futuro. }<br />

38 39


GH Hospitalização domiciliária<br />

GH Iniciativa APAH | Conferência de valor<br />

FINANCIAMENTO<br />

EQUIPAS<br />

HOSPITALIZAÇÃO<br />

DOMICILIÁRIA<br />

(HD)<br />

PRESTADOR<br />

APAH DISCUTE MODELOS<br />

DE GESTÃO DA QUALIDADE<br />

E MELHORIA CONTINUA<br />

EM SAÚDE<br />

Figura1: Hospitalização Domiciliária (HD), variáveis.<br />

Os desafios<br />

Envolver stakeholders, constituir equipas, dotar de meios<br />

e avançar.<br />

O relevo dado aos stakeholders é significativo, não sendo<br />

claro para todos os benefícios destes modelos. Ministério<br />

da Saúde, administradores hospitalares, famílias,<br />

pagadores, decisores, equipas de hospitalização domiciliária,<br />

outros profissionais e, claro, doentes, fazem parte<br />

desta rede que é necessário ativar por forma a serem<br />

criadas as condições que facilitem a expansão consolidada<br />

deste novo paradigma de assistência.<br />

Relativamente às equipas, enfermeiros, médicos, assistentes<br />

sociais, assistentes operacionais, farmacêuticos,<br />

são parte integrante desta equação, num equilíbrio de<br />

recursos que deverá ir crescendo com o alargamento<br />

da assistência. Cativar todos para esta nova realidade,<br />

estimulando a iniciativa e as boas práticas, deverá ser<br />

uma aposta forte.<br />

Depois os meios, que, a todos os níveis, confiram a<br />

mobilidade necessária mas a segurança também. Assegurar<br />

a tranquilidade à distância, com o doente em<br />

sua casa, permanentemente monitorizado, permitindo<br />

à UHD conhecer a condição de saúde do doente<br />

a qualquer momento, é só um passo. Só assim se<br />

asseguram ganhos de eficiência que permitam escalar<br />

e que, do ponto de vista da gestão, ajudará na rentabilização<br />

dos recursos alocados e na atuação em tem-<br />

NOVO PARADIGMA<br />

DE CUIDADOS<br />

po real, sendo uma aspiração cada vez mais próxima.<br />

Finalmente o financiamento. A viabilização de toda esta<br />

dinâmica apenas será possível com uma aposta clara<br />

por parte da tutela, mas também, em Portugal, parece<br />

haver boas notícias nesta matéria.<br />

Se conseguirmos estabelecer KPI que nos ajudem a estabelecer<br />

a baseline da despesa e os custos evitáveis,<br />

estaremos a aferir do sucesso deste modelo, e, por outro<br />

lado, os ganhos em saúde que poderá potenciar,<br />

estamos perante uma importante contribuição para o<br />

alargamento da rede e a expansão dos cuidados.<br />

A terminar, focar o mote inspirador que Ron Sabar i nos<br />

deixou na sua intervenção Professional Guest - the art of<br />

caring for patients at home, relatando-nos um algoritmo<br />

de intervenção em que observar e absorver são apenas<br />

dois exemplos de como fazer, alertando para o novo<br />

paradigma “ir visitar”, sendo preciso estar preparado<br />

para ser surpreendido e para improvisar, mas com a<br />

certeza de que quando se visitam os doentes em suas<br />

casas passam a ser pessoas que bem conhecem, com<br />

quem criam uma relação e que têm um nome que lhes<br />

ficará na memória. Ã<br />

i Sabar Health Home Hospital, Israel<br />

Os desafios e oportunidades associados<br />

aos “Modelos de gestão de qualidade<br />

e melhoria contínua” foram o tema<br />

central da 6ª Conferência de Valor<br />

APAH, que decorreu em Peniche a 5<br />

e 6 de abril de <strong>2019</strong>. O evento promovido pela APAH<br />

reuniu responsáveis de inúmeras entidades e instituições<br />

nacionais, assim como um vasto painel de oradores nacionais<br />

e internacionais e parceiros do setor da saúde.<br />

A 6.ª Conferência de Valor APAH foi presidida por Jorge<br />

Varanda, administrador hospitalar, sócio de Mérito<br />

e Presidente da APAH (1988-1992). Contextualizando<br />

o problema o Presidente da Conferência analisou a<br />

evolução do sistema de saúde português, para atingir o<br />

objetivo estratégico de assegurar a segurança e qualidade<br />

dos cuidados prestados, e dos ciclos de governação,<br />

nos últimos 40 anos, dos seus sucessos e fracassos e<br />

dos ensinamentos recolhidos. Deu especial destaque<br />

ao papel dos gestores na liderança para uma cultura<br />

de melhoria continua da qualidade visando a excelência<br />

dos serviços prestados e a criação de valor para o<br />

cidadão e para a sociedade. Lançando o desafio aos<br />

participantes da Conferência, Jorge Varanda reforçou a<br />

necessidade de serem encontradas respostas inovadoras<br />

em articulação com todos os atores para transformação<br />

do setor da saúde.<br />

O programa da 6.ª Conferência de Valor APAH teve<br />

inicio com a palestra “APAH talksˮ dedicada ao “Roteiro<br />

estratégico para uma cultura de melhoria contínua<br />

de cuidados” que nos foi apresentada por Márcia Makdisse,<br />

Medical Manager no Value Management Office<br />

do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE) em São<br />

Paulo (Brasil). Na sua palestra, Márcia apresentou o que<br />

gosta de chamar como “A jornada de Valor do Einstein”<br />

referindo-se às várias dimensões da gestão que<br />

conduziram o HIAE a ser considerado o melhor hospital<br />

da América Latina, com inúmeras distinções internacionais.<br />

Reforçando a importância da alta liderança e do<br />

alinhamento estratégico como promotor das dinâmicas<br />

de mudança organizacional partilhou os 3 pilares em<br />

que assentam o roteiro de criação de valor:<br />

• Eficiência operacional: assente numa cultura de melhoria<br />

continua suportada em metodologias Lean transversais<br />

a toda a instituição e profissionais que funciona em<br />

matriz e estimula a apresentação e desenvolvimento de<br />

soluções em todos os níveis operacionais e assistenciais;<br />

• <strong>Gestão</strong> e engajamento do corpo clínico: assente<br />

num modelo de gestão do corpo clínico com recurso<br />

a uma avaliação anual de desempenho, agrupamento<br />

de profissionais por níveis de evolução e atribuição de<br />

incentivos através de programa de reconhecimento de<br />

privilégios e benefícios. Em paralelo detalhou a estrutura<br />

criada para envolver estes médicos na padronização da<br />

prática clínica e na estandartização de cuidados;<br />

• Assistência baseada em valor: em alinhamento com a<br />

gestão de topo, que promove uma prática clínica que<br />

monitoriza, com recurso à incorporação das tecnologias<br />

de informação e análise de dados, os resultados<br />

clínicos em relação aos recursos utilizados.<br />

No sábado, Alexandre Lourenço, Presidente da APAH,<br />

abriu o segundo dia da Conferência com a apresentação<br />

dos resultados finais do 3.<strong>º</strong> Barómetro de Internamentos<br />

Sociais (BIS). Esta iniciativa anual da APAH<br />

conta com o apoio institucional da Sociedade Portuguesa<br />

de Medicina Interna (SPMI) e o suporte técnico<br />

da EY, tem por objetivo monitorizar periodicamente o<br />

fenómeno dos internamentos inapropriados, permitindo<br />

a sua quantificação e o desenvolvimento de ações<br />

conjuntas para minimização do seu impacto.<br />

A 3ª edição do BIS contou com a representatividade de<br />

79% do número total de camas de Internamento do<br />

Serviço Nacional de Saúde (SNS), representadas por<br />

33 unidades hospitalares de Norte a Sul do país (69%<br />

do SNS). A 18 de fevereiro de <strong>2019</strong>, data da recolha }<br />

40 41


GH Iniciativa APAH | Conferência de valor<br />

de dados desta edição do BIS, 829 camas, o equivalente<br />

a 4,7% do total de camas disponível, estava ocupado<br />

com internamentos inapropriados, predominantemente<br />

justificados pela falta de resposta na Rede Nacional<br />

de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI). No entanto,<br />

relativamente ao número de dias de internamentos<br />

inapropriados, a principal razão prende-se com a<br />

incapacidade de resposta do familiar/cuidador. Mais de<br />

metade destes casos concentram-se em duas regiões:<br />

região Norte (37%) e Lisboa e Vale do Tejo (41%).<br />

A nível geral, os hospitais participantes apresentam uma<br />

média de internamento inapropriado de 98,4 dias (aumento<br />

de 46% face à edição de 2018), correspondendo<br />

a uma despesa estimada de 31,5 milhões de euros.<br />

A extrapolação deste valor para um ano de internamentos<br />

inapropriados evidencia um impacto estimado<br />

superior a 83,7 milhões de euros para o Estado. A<br />

3ª edição do BIS revelou ainda que os episódios de<br />

internamento inapropriados são, maioritariamente, de<br />

origem médica (77%). O género feminino predomina,<br />

com uma percentagem de 58%. Quanto às idades, 36%<br />

referem-se ao intervalo entre os 65 e os 80 anos e 44%<br />

dizem respeito a internamentos de utentes com mais<br />

de 80 anos.<br />

O painel de comentadores aos resultados finais do 3.<strong>º</strong><br />

BIS contou com a participação de Ana Gomes, (Diretora<br />

da Unidade de <strong>Gestão</strong> e Apoio à Rede Nacional<br />

de Cuidados Continuados do Instituto da Segurança<br />

Social), João Araújo Correia (Presidente da SPMI), José<br />

Ribeiro (Presidente da Associação de Diretores de<br />

Enfermagem), Luís Pisco, (Presidente da Administração<br />

Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo) e Teresa<br />

Anjinho (Provedora-Adjunta, Provedoria de Justiça).<br />

De seguida, iniciou-se a Sessão I, com o tema “Dinâmicas<br />

inovadoras de melhoria contínua da qualidade” que<br />

contou com uma palestra a cargo de Danny Havenith,<br />

Diretor da Belgian Association of Healthcare Managers<br />

(Bélgica). Na sua intervenção, Danny Havenith trouxe-nos<br />

uma visão de como evoluíram no seu país os<br />

modelos de governança estratégia e organizacional associadas<br />

à gestão da qualidade em saúde e deu especial<br />

destaque ao papel fundamental dos gestores em saúde<br />

na liderança desta mudança por forma a assegurar a sua<br />

implementação efetiva, que no seu entender, devem<br />

estar sedimentada numa cultura de melhoria contínua<br />

que promova respostas eficientes aos desafios atuais e<br />

futuros associados às dinâmicas da inovação tecnológica<br />

e das expetativas dos cidadãos.<br />

A moderação desta Sessão esteve a cargo de Elsa Baião,<br />

Presidente do Centro <strong>Hospitalar</strong> do Oeste, e contou,<br />

também, com a participação de um painel de distintos<br />

comentadores entre os quais se incluiram José Laranja<br />

Pontes (Presidente do Instituto Português de Oncologia<br />

do Porto), Luís Campos (Diretor do Serviço Medicina<br />

Interna no Centro <strong>Hospitalar</strong> Lisboa Ocidental), Luís<br />

Rocha (Diretor de Market Access e Public Affairs da<br />

Novartis Portugal), Margarida Filipe (Enfermeira Diretora<br />

da Unidade Local de Saúde de Matosinhos) e Rita<br />

Sousa Kadic (Diretora de Qualidade e Segurança do<br />

Doente do Hospital de Cascais). Todos partilharam as<br />

suas visões e experiências profissionais na implementação<br />

de modelos de prestação de cuidados suportados<br />

numa dinâmica de melhoria continua da qualidade de<br />

cuidados que promova a integração da oferta de serviços<br />

e a sua costumização às necessidades dos cidadãos.<br />

A Sessão II foi dedicada ao “Caminho para a excelência<br />

no serviço ao cliente” e teve como moderadora Rosa<br />

Matos, Presidente do Conselho de Administração do<br />

Centro <strong>Hospitalar</strong> Lisboa Central. Esta Sessão contou<br />

com a palestra de Teresa Rodrigues, Senior Project Officer<br />

na Deco Proteste que na ocasião partilhou com os<br />

presentes os resultados do estudo que avaliou a satisfação<br />

e experiência dos utentes em 42 hospitais nacionais<br />

(37 hospitais públicos e 5 privados; representativos do<br />

território nacional).<br />

O estudo que teve inicio em 2013 com a definição dos<br />

aspetos-chave a avaliar e a abordagem metodológica,<br />

comtemplou uma revisão da literatura, a realização de<br />

entrevistas estruturadas, de grupos focais e de painéis<br />

de delphi que incluíram profissionais de saúde, doentes,<br />

cuidadores, decisores e académicos. No âmbito deste<br />

estudo procedeu-se à identificação das dimensões e<br />

dos indicadores da experiência do utente tendo-se definido<br />

as seguintes dimensões de avaliação: i) Acessibilidade<br />

(circulação na instituição e tempo de espera, etc.),<br />

ii) Condições do hospital (por exemplo: higiene, ruido,<br />

alimentação, etc.) e Contacto com os profissionais de<br />

saúde (apoio, respeito, privacidade, suporte emocional,<br />

simpatia e empatia, etc.). Na segunda fase do estudo<br />

que decorreu de maio a dezembro de 20<strong>17</strong>, foram realizadas<br />

<strong>17</strong>23 entrevistas completas, onde se procedeu<br />

à aplicação do questionário de forma aleatória e em<br />

horários alargados abrangendo utentes que utilizaram<br />

os serviços de urgência e/ou consultas externas e/ou<br />

internamento há menos de 6 meses.<br />

Os resultados obtidos tiveram em consideração uma<br />

análise global dos hospitais e uma análise por contexto<br />

de utilização dos serviços. A pontuação global das experiências<br />

dos utentes variou entre Bom e Muito Bom<br />

com todos os hospitais a obter resultados de satisfação<br />

acima de 74%, registando 3 hospitais resultados acima<br />

de 95% (2 públicos e 1 privado). Já ao nível das dimensões<br />

em análise no estudo a que obteve melhor classificação<br />

por parte dos utentes foi a associada ao “Contacto<br />

com os profissionais de saúde”, seguida das “Condições<br />

do hospital” e por último da “Acessibilidade”.<br />

Os resultados obtidos permitiram também identificar<br />

por contexto de utilização qual a matriz de valores que<br />

fazem da sua experiência e quais os indicadores que<br />

os utentes consideram mais relevantes na sua avaliação.<br />

O painel de comentadores desta sessão contou ainda<br />

com os contributos de Alexandre Guedes da Silva<br />

(Presidente da Sociedade Portuguesa de Esclerose<br />

Múltipla), Alexandre Valentim Lourenço (Presidente da<br />

Secção Regional Sul da Ordem dos Médicos), Guilherme<br />

Victorino (Vogal da Comissão Executiva do SAMS<br />

e Professor na NOVA IMS), Rosário Reis, (Vogal Executiva<br />

do Instituto Português de Oncologia de Coimbra)<br />

e Sofia André (Diretora de Market Access e Public<br />

Affairs da Bayer Portugal).<br />

A última Sessão do dia foi moderada por Ana Infante<br />

(Presidente do Hospital de Santarém) teve como<br />

tema as “Novas parcerias para melhoria contínua de<br />

cuidados”e contou como convidada principal e proveniente<br />

de Espanha, Eva Aurín, Diretora de Inovação<br />

e e-Health do Hospital Universitari Vall d’Hebron em<br />

Barcelona. A gestora partilhou com os presentes as<br />

modalidades de parcerias para a inovação atualmente<br />

existentes e quais as suas caraterísticas, especificidades<br />

e dinâmicas de contratação [PTP (Public Purchase of<br />

Inovation Techonology) e PCP (Pre-Comercial Public<br />

Purchase)] assim como o seu enquadramento no âmbito<br />

do financiamento europeu e a experiência da Catalunha<br />

nesta matéria.<br />

A sessão contou ainda com os contributos de Artur<br />

Mimoso (Vogal Executivo dos Serviços Partilhados do<br />

Ministério da Saúde), Paulo Sintra (Diretor Clínico do<br />

Hospital de Santarém), Luís Ferreira (Coordenador da<br />

Unidade de Valorização de Políticas, Agência Nacional<br />

de Inovação), Maria Celeste Silva (Vogal Executiva do<br />

Centro <strong>Hospitalar</strong> e Lisboa Ocidental e membro si<br />

Grupo de Trabalho para a Contratação Pública e Eliminação<br />

do Desperdício da APAH) e Pedro Lomba<br />

(Consultor PLMJ – Sociedade de Advogados, RL),<br />

que foram unanimes na necessidade de aprofundar em<br />

Portugal o conhecimento e a necessidade de dinamizar<br />

estas novas modalidades de contratação.<br />

A 6.ª Conferência de Valor APAH <strong>2019</strong> contou com<br />

o apoio anual dos seguintes parceiros: Abbvie, Bayer,<br />

Gilead Sciences, Novartis e Vifor Pharma. Pode ver a<br />

reportagem fotográfica da Conferência em https://just-<br />

news.pt/galeria/album/6a-conferencia-de-valor-apah-<br />

-peniche<br />

A 7.ª Conferência de Valor APAH decorrerá em Braga<br />

nos próximos dias 18 e 19 de outubro, sendo dedicada<br />

ao tema "Modelos de gestão centrados no cidadão e na<br />

comunidade”, marque já na sua agenda - a APAH conta<br />

com a Sua participação! Ã<br />

42 43


GH Iniciativa APAH | Conferência de valor | testemunho<br />

Concorda com aqueles que apontam o<br />

Value-based Health Care como a "estratégia<br />

que irá consertar a saúde"? Pode<br />

especificar em que termos?<br />

Acho que é um dos caminhos para a<br />

transformação do sistema de saúde. E é claro que há<br />

várias iniciativas para o melhorar, como a medicina<br />

baseada no valor, através da eficiência do processo,<br />

garantindo qualidade para o mesmo.<br />

Mas para o transformar é preciso mudar a forma de<br />

remuneração pelo serviço de saúde. Acredito que enquanto<br />

não houver uma transição do fee-for-service,<br />

do custo de uma taxa pelo serviço, para o pagamento<br />

baseado em resultados, o fee-for-value, não vai haver<br />

as mudanças que são necessárias de forma a gerar<br />

valor para o paciente. A fórmula para conseguir isso,<br />

passa também por remunerar melhor o médico ou<br />

o hospital, tornando-se um incentivo para transformar<br />

o sistema.<br />

Na sua opinião, de que forma é que o Value Management<br />

Office (VMO) contribuiu para acelerar a disseminação<br />

e adoção de uma agenda de valor no<br />

hospital? Tendo isso em consideração, pode-nos<br />

MARCIA MAKDISSE<br />

COFUNDADORA E CHIEF VALUE OFFICER DA CARECYCLE<br />

VALUE BASED HEALTHCARE<br />

ALOCAR VALOR<br />

AOS PACIENTES<br />

Marcia Makdisse foi responsável pela implementação do VMO (Value Management Office)<br />

no Hospital Israelita Albert Einstein, na cidade brasileira de São Paulo.<br />

Ao longo desta entrevista, explica que o Value-Based HealthCare propõe a criação<br />

de valor para os pacientes, através de um sistema que prevê o pagamento do serviço<br />

baseado nos resultados obtidos.<br />

identificar os principais passos que já tomaram nesse<br />

sentido?<br />

Esta proposta foi uma provocação de Robert Kaplan,<br />

em 2015, no sentido de que os hospitais precisavam<br />

de ter um escritório, com uma equipa dedicada, que<br />

conseguisse disseminar os conceitos de valor, mas que<br />

tem uma interpretação incorreta do que é o valor.<br />

O valor não é reduzir custos, mas sim melhorar o resultado<br />

do paciente a um determinado custo. As duas<br />

grandes missões são disseminar esse conhecimento<br />

e, ao mesmo tempo, implementar uma agenda de<br />

valor, mas ela não é a mesma em todos os hospitais.<br />

O grande objetivo do escritório de valor é trazer um<br />

modelo para o contexto de cada hospital, de forma<br />

a que isso se torne possível de implementar. No fundo,<br />

é tornar palpável o valor da instituição.<br />

É preciso garantir que o paciente correto, no tempo<br />

certo, vá fazer o procedimento adequado. Daí ser necessária<br />

uma avaliação rigorosa, de forma a preparar<br />

o paciente para o procedimento, dando ainda as garantias<br />

de eventuais complicações que possam suceder<br />

ao longo de um episódio, que pode ser de 60<br />

ou 90 dias, medindo a qualidade do atendimento ao<br />

longo desse período.<br />

Esta é uma forma completamente diferente de pensar<br />

em relação ao que se cobra hoje no fee-for-service,<br />

no qual existe um valor para uma determinada cirurgia<br />

e, caso o paciente tenha complicações pós-operatórias<br />

e volte a ser internado, é novamente cobrado<br />

um valor mais o médico mais.<br />

No bundle que propomos, existe apenas um valor que<br />

é cobrado, seja por um episódio ou um ciclo completo<br />

de atendimento, incluindo a avaliação inicial, o internamento<br />

para a realização da cirurgia e uma garantia<br />

após a alta em caso de complicações.<br />

Um outro ponto muito importante é a padronização<br />

dos resultados clínicos. O modelo é composto por nove<br />

condições, que são medidas item por item, nos cerca<br />

de quatro mil pacientes. Isto implica padronizar desfechos,<br />

medir resultados e, muito importante, criar um<br />

sistema de business intelligence, que incorpora no mesmo<br />

ambiente os dados financeiros e clínicos e um prontuário<br />

eletrónico.<br />

No Value Management Office do Hospital que integra,<br />

também atuam ao nível da previsão do risco<br />

clínico? Antecipando, por exemplo, com base na informação<br />

existente, probabilidades de determinado<br />

evento adverso ocorrer e, assim, gerir melhor o fluxo<br />

de doentes e, consequentemente, a instituição?<br />

Sim, mas não só, já que trabalhamos ainda na definição<br />

do risco a ocorrer no modelo de remuneração, escolhendo<br />

para isso um médico que ofereça um risco<br />

menor. Acreditamos que os bundles são uma boa opção,<br />

porque se traçarmos uma matriz de risco financeiro,<br />

versus a necessidade de coordenação do cuidado,<br />

temos, por um lado, o risco assegurado por quem paga<br />

a conta e, por outro, o risco de quem presta o serviço.<br />

E o bundle está exatamente no meio, é preciso<br />

coordenar o cuidado e partilhar o risco.<br />

Face às mudanças inerentes à implementação de<br />

um modelo de cuidados de saúde baseados em valor,<br />

tiveram também de adequar os vossos sistemas<br />

de informação? O que precisaram de fazer e<br />

como implementaram?<br />

O primeiro investimento aconteceu em 2015, com<br />

a adoção do sistema DRG (Grupos de Diagnósticos<br />

Homogéneos), para dois anos depois implementarmos<br />

o Cerner Millenium, o nosso prontuário eletrónico.<br />

E o terceiro investimento surgiu no ano passado,<br />

quando conseguimos pôr em funcionamento<br />

o sistema de business intelligence, começando a integrar<br />

todas estas informações.<br />

Há muito ainda por fazer, mas estes são três grandes<br />

passos, os chamados potenciadores da mudança,<br />

sem eles é impossível fazer o resto. Através de<br />

uma plataforma eletrónica, que analisa os dados de<br />

desfecho e do custo, o risco é avaliado. É então<br />

proposto o modelo e criada uma equipa, comprometendo-se<br />

com os resultados ao longo de todo o<br />

tempo dedicado.<br />

Por último, quais as medidas que considera estruturantes<br />

para a valorização dos cuidados de saúde<br />

baseados em valor no setor da Saúde? Qual o papel<br />

do Administrador <strong>Hospitalar</strong>/Gestor de Serviços<br />

de Saúde nesse âmbito?<br />

Acho que o passo mais importante é que haja um compromisso<br />

da administração hospitalar com a agenda de<br />

valor. Não basta implementar um VMO e esperar que<br />

ele traga uma mudança, se não houver uma mudança<br />

também ao nível da alta liderança hospitalar.<br />

O nosso modelo de VMO inclui um comité de VBHC<br />

(Value-Based Health Care), liderado pelo presidente,<br />

no qual participam o CEO e vários diretores e é por<br />

aí que a estratégia é definida.<br />

O segundo ponto, que não depende única e exclusivamente<br />

das organizações, é a capacidade de criamos<br />

uma plataforma a nível nacional de benchmarking,<br />

porque para as instituições demonstrarem que integram<br />

valor, têm de ser comparadas. Para isso, é preciso<br />

não só a medir os resultados de desfecho, mas<br />

também um sistema de ajuste de riscos, que permita<br />

a comparação. E que, de alguma maneira, essa informação<br />

seja auditada, para que possa ser utilizada em<br />

modelos de remuneração.<br />

O terceiro ponto estruturante, passa por selecionar<br />

os médicos. Se não formos capazes de trazer os médicos<br />

para essa discussão, nada acontece, porque o valor<br />

é gerado na relação médico/paciente. É a equipe<br />

médica que entrega valor.<br />

A visão de valor diz: faça o que você faz, bem feito.<br />

E é essa redistribuição que precisa de acontecer de<br />

alguma maneira nas instituições hospitalares. O paciente<br />

não se vai fidelizar a uma organização para qualquer<br />

tipo de tratamento, mas sim aquela que for especializada,<br />

que seja uma referência.<br />

O valor é gerado nessa interação e também numa<br />

condição clínica, porque só posso demonstrar valor,<br />

se conhecer o histórico, saber qual o resultado esperado<br />

e a que custo.<br />

De cada vez que desenhamos um novo modelo no<br />

VMO, o médico está sempre presente, seja qual for<br />

a sua especialidade ou cargo que tenha, e ajuda a elaborar<br />

o modelo, o guia do cuidado. Depois, é que entra<br />

em ação o departamento comercial para colocar<br />

um custo e preço. Ã<br />

44 45


GH Iniciativa APAH | Conferência de valor<br />

DESEMPENHO HOSPITALAR<br />

COMO DETERMINANTE<br />

NA CRIAÇÃO DE VALOR<br />

EM SAÚDE<br />

Dora Melo<br />

Aluna do XLVI Curso de Especialização<br />

em Administração <strong>Hospitalar</strong><br />

Tânia Portugal Henriques<br />

Aluna do XLVI Curso de Especialização<br />

em Administração <strong>Hospitalar</strong><br />

O<br />

envelhecimento da população, a alteração<br />

dos ciclos de vida e das próprias<br />

patologias e a necessidade de<br />

mudanças sistemáticas pelos avanços<br />

da medicina e da tecnologia,<br />

propiciam a procura e o consumo de cuidados e impõem<br />

novos desafios aos sistemas de saúde. Este novo<br />

paradigma, conduz a necessárias revisões aos modelos<br />

de gestão das organizações de saúde e obriga<br />

os decisores a repensar novas medidas de melhoria<br />

contínua dos cuidados prestados em Portugal.<br />

Com este desígnio de encontrar soluções para ultrapassar<br />

as barreiras que são impostas pelas novas<br />

necessidades e novas tecnologias, a Associação Portuguesa<br />

de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH)<br />

tem vindo a organizar desde 20<strong>17</strong> as Conferências<br />

de Valor APAH, proporcionando o debate entre os<br />

diferentes stakeholders na saúde, criando sinergias e<br />

potenciando respostas para a melhoria dos resultados<br />

em saúde.<br />

Foi neste âmbito que se realizou nos dias 5 e 6 de<br />

abril de <strong>2019</strong>, em Peniche, a 6ª Edição destas conferências,<br />

subordinada ao tema “Modelos de <strong>Gestão</strong> da<br />

Qualidade e Melhoria Contínua”.<br />

Da relação de colaboração que existe entre a APAH<br />

e a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP-NO-<br />

VA), foram criadas condições especiais para a participação<br />

de estudantes nesta conferência e disponibilizados<br />

convites a dois alunos do Curso de Especialização<br />

em Administração <strong>Hospitalar</strong> (CEAH) da<br />

ENSP-NOVA. Fomos as contempladas destes dois<br />

convites, os quais desde já agradecemos, pela possibilidade<br />

de formação em real time, junto de quem faz<br />

acontecer a mudança em saúde, quer seja ela política,<br />

de gestão ou operacional.<br />

As conferências foram presididas por Jorge Varanda,<br />

Administrador <strong>Hospitalar</strong> e sócio de mérito da<br />

APAH, e coordenadas por Alexandre Lourenço, Presidente<br />

da APAH, contando com a participação de<br />

vários intervenientes na área da saúde, entre os quais<br />

gestores e administradores hospitalares, representantes<br />

do Ministério da Saúde, da Segurança Social<br />

e da Justiça, associações de doentes e do consumidor<br />

e elementos da indústria farmacêutica, permitindo a<br />

integração de ideias e o debate de novas articulações<br />

de cuidados em prol de um bem comum: a saúde.<br />

Durante as palestras, foram apresentadas algumas estratégias<br />

de melhoria dos resultados em saúde e do<br />

desempenho hospitalar a nível nacional e internacional.<br />

Pela voz e experiência da preletora Marcia Mak-<br />

disse, médica e gestora do Escritório de <strong>Gestão</strong> de<br />

Valor do Hospital Israelita Albert Einstein, em São<br />

Paulo, Brasil, foi apresentado o roteiro estratégico<br />

desta instituição para uma cultura de melhoria contínua<br />

dos cuidados de saúde, baseados em valor, no<br />

qual as principais áreas de atuação para a transformação<br />

do sistema de saúde são os sistemas de business<br />

intelligence, os novos modelos de remuneração e de<br />

performance clínica, a padronização de resultados<br />

e a inovação, geração e difusão do conhecimento.<br />

Dos exemplos dos hospitais portugueses, foi realçada<br />

a necessidade da cooperação e do trabalho de<br />

equipa e da definição das funções de cada um dentro<br />

dessa equipa. Tal como referido por um dos preletores,<br />

as equipas de cuidados de saúde podem ser<br />

comparadas a uma orquestra - se cada um tocar para<br />

seu lado, sem uma coordenação e liderança, o<br />

resultado não será o mais agradável. É assim necessária<br />

esta integração e melhoria da comunicação entre<br />

diferentes áreas para criação de valor em saúde.<br />

É também imperativo um adequado planeamento<br />

de cuidados, através do plano individual do doente<br />

e do planeamento da sua alta. Nos dias de hoje, os<br />

exames de diagnóstico realizados e as terapêuticas<br />

prescritas prolongam os dias de internamentos aos<br />

nossos doentes, sendo que estes, ao longo do seu<br />

percurso de hospitalização, vão ficando mais dependentes.<br />

Já como referia António Lobo Antunes,<br />

mencionado por um dos preletores: “Estamos mais<br />

velhos, mais doentes e mais caros”. Muitos destes<br />

internamentos, de acordo com os dados do 3<strong>º</strong> Barómetro<br />

de Internamentos Sociais (BIS), são considerados<br />

como inapropriados, essencialmente por<br />

falta de resposta social. Atualmente, estes internamentos<br />

correspondem a 829 camas do SNS (4,7%<br />

do total de internamentos), a uma demora média<br />

de 98,4 dias e a um impacto financeiro de 84,8 milhões<br />

de euros.<br />

É assim importante repensar os modelos de gestão<br />

existentes e vencer as barreiras das profissões - é um<br />

dos desafios culturais que se coloca, uma vez que as<br />

organizações de saúde estão estruturadas em função<br />

dos seus profissionais e não estão centradas no<br />

doente. Só a própria existência do termo “internamento<br />

social”, denuncia o problema existente nos<br />

hospitais portugueses, os quais pretendem garantir<br />

a estes doentes a manutenção de direitos básicos,<br />

como a saúde, a alimentação e a higiene. É necessário<br />

pensar em estratégias conjuntas, centradas na<br />

pessoa, no doente, com uma visão holística das suas<br />

necessidades, criando parcerias sociais, de saúde e<br />

políticas, aumentando a sustentabilidade do Serviço<br />

“IF NOT WE, WHO THEN?”,<br />

“IF NOT NOW, THEN WHEN? ”<br />

”<br />

Danny Havenith,<br />

Diretor da Belgian Association of Healthcare<br />

Managers, Bélgica<br />

Nacional de Saúde (SNS) e promovendo a equidade<br />

e a eficiência dos cuidados prestados.<br />

Por último, e não menos importante, é preciso que<br />

seja desenvolvida uma cultura de avaliação, assente<br />

num adequado sistema de informação, com vista à<br />

digitalização e simplificação dos processos, para que<br />

se possam desenhar estratégias de mudança efetivas<br />

e avaliar o desempenho dos profissionais de saúde,<br />

das organizações e da satisfação, não só dos doentes,<br />

mas de todos os parceiros que permitem o aumento<br />

do valor em saúde no SNS.<br />

O local escolhido para esta edição foi o MH Peniche<br />

Hotel, o qual envolveu todos os participantes<br />

num ambiente muito acolhedor, integrado numa<br />

paisagem deslumbrante sobre o mar…, a lembrar<br />

os nossos descobrimentos e a vontade de conquista<br />

de novos desafios. Muitos foram os que pararam um<br />

pouco a olhar para a paisagem, tirando fotografias,<br />

nos intervalos das conferências e entre conversas<br />

animadas. Foi este o ambiente que se viveu durante<br />

os dois dias de trabalho, de grande cumplicidade<br />

e vontade de fazer sempre, a cada dia, um pouco<br />

melhor para a saúde em Portugal.<br />

Esta conferência deixou-nos com uma vontade de<br />

mudar comportamentos e com novas ferramentas<br />

para o pensar e o agir em prol da melhoria dos cuidados<br />

de saúde.<br />

Um bem haja à APAH e a todos os que trabalham<br />

diariamente para uma melhor prestação de cuidados<br />

e resultados em saúde, e um agradecimento especial<br />

à APAH pela oportunidade que foi dada aos alunos<br />

do CEAH da ENSP-NOVA de fazerem parte desta<br />

excelente iniciativa. Ã<br />

46 47


GH Iniciativa APAH | barómetro<br />

BARÓMETRO DA ADOÇÃO<br />

DA TELESSAÚDE<br />

E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL<br />

NO SISTEMA DE SAÚDE<br />

RESULTADOS DA 1 a EDIÇÃO<br />

Teresa Magalhães<br />

Professora Auxiliar convidada da ENSP<br />

e Coordenadora do Grupo Trabalho para<br />

a <strong>Gestão</strong> da Informação em Saúde da APAH<br />

O<br />

“Barómetro da adoção da telessaúde<br />

e inteligência artificial no sistema<br />

de saúde” é uma iniciativa da Associação<br />

Portuguesa de Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es (APAH) e da Glintt<br />

- Global Intelligent Technologies, S.A que conta com<br />

a parceria científica da Escola Nacional de Saúde<br />

Pública (ENSP) e o apoio institucional dos Serviços<br />

Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) tendo os<br />

resultados da 1.ª edição do “Barómetro” sido apresentados<br />

no passado dia 4 de junho na sede da Associação<br />

Nacional de Farmácias, em Lisboa.<br />

1. Enquadramento<br />

A Telessaúde é atualmente uma ferramenta que permite<br />

a prestação de cuidados de saúde à distância,<br />

a organização de serviços e a formação de profissionais<br />

e utentes. Trata-se de uma área cujas vantagens<br />

se encontram amplamente discutidas na literatura<br />

científica. A este respeito a Organização Mundial de<br />

Saúde (OMS) considera que um dos principais benefícios<br />

da Telessaúde é melhorar o acesso e também<br />

promover a equidade nesse acesso. Independentemente<br />

de onde estão localizados geograficamente os<br />

doentes, todos têm a mesma possibilidade de acesso<br />

a cuidados de saúde, para além de uniformizar processos<br />

e práticas clínicas (OMS 2016). A Telessaúde<br />

é vista como uma ferramenta chave para providenciar<br />

cobertura de saúde universal e para uma melhor<br />

integração de cuidados, em especial em condições<br />

de doenças crónicas (OMS, 2016; Stroetmann, et al,<br />

2010), com resultados evidentes na efetividade e na<br />

eficiência (Totten, et al, 2016).<br />

É ainda reconhecida na literatura como um exemplo<br />

de inovação disruptiva que afeta a forma como<br />

os profissionais de saúde e o próprio sistema de saúde<br />

interage com os doentes (Fatehi, et al , 20<strong>17</strong>).<br />

A seguir à inteligência artificial, a Telessaúde é considerada<br />

a segunda tecnologia com maior potencial de<br />

inovação disruptiva nos próximos cinco anos, em particular<br />

a monitorização remota (Research 2 Guidance,<br />

20<strong>17</strong>). De referir que a Telessaúde é considerada na<br />

Estratégia Nacional para o Ecossistema de Informação<br />

de Saúde 2022 (ENESIS 2022) como um programa<br />

estratégico e tem uma linha de financiamento próprio<br />

nos Contratos-Programa dos Hospitais do SNS, em<br />

particular Teleconsultas e Telemonitorização.<br />

Por sua vez, a Inteligência Artificial (IA) tem um contributo<br />

relevante a dar no apoio à decisão clínica,<br />

na otimização de recursos e capacidade instalada,<br />

na melhoria da jornada do cidadão e seu contacto<br />

com as instituições, bem como na antecipação de<br />

estados de saúde quer do indivíduo, quer na saúde<br />

pública (OMS, 2015). O conceito de IA abordado<br />

neste Barómetro diz respeito à vertente de Advanced<br />

Analytics que compreende as soluções ou sistemas<br />

que utilizam técnicas de exploração de dados, de modelação,<br />

de simulação, de otimização e de aprendizagem<br />

automática com o objetivo de descrever, prever<br />

e compreender um conjunto de fenómenos de interesse<br />

para os decisores (Boobier, 2018; Gandomi<br />

e Haider, 2015).<br />

2. Objetivos<br />

O presente estudo é um estudo exploratório e servirá<br />

de base para a construção de escalas de adoção<br />

da Telessaúde e da Inteligência Artificial em Portugal<br />

tendo como objetivos gerais: i) Compreender o nível<br />

de adoção da Telessaúde e da Inteligência Artificial<br />

nas Instituições do Sistema de Saúde Português; ii)<br />

Identificar áreas de potencial utilização no Sistema de<br />

Saúde Português; e, iii) Clarificar os pontos críticos (facilitadores<br />

e barreiras) para a sua adoção e utilização.<br />

Como objetivos específicos para a componente de<br />

Telessaúde foram definidos: i) Identificar o nível de<br />

adoção de Telessaúde no Sistema de Saúde Português<br />

e em que áreas; ii) Identificar os facilitadores<br />

e barreiras na adoção da Telessaúde; iii) Relacionar<br />

o nível de adoção com as atitudes face à Telessaúde.<br />

Já para Inteligência Artificial foram definidos os seguintes<br />

objetivos específicos: i) Identificar o nível de adoção<br />

da Inteligência Artificial no Sistema de Saúde Português<br />

e em que áreas; ii) Identificar os facilitadores<br />

e barreiras na adoção da Inteligência Artificial; iii) Identificar<br />

o nível de maturidade auto percecionada pelas<br />

instituições de saúde e relacionar o com o nível de<br />

adoção da Inteligência Artificial.<br />

3. Metodologia<br />

O “Barómetro” teve como destinatários todos os profissionais<br />

em exercício de funções de gestão de topo<br />

nos diversos agentes do Sistema de Saúde Português<br />

(entidades centrais, prestadores públicos e privados<br />

de cuidados de saúde, setor social e seguradoras,<br />

etc.) e foi materializado através da construção de um<br />

questionário utilizando como suporte de recolha de<br />

respostas a ferramenta Microsoft Forms que foi disponibilizado<br />

online através de weblink de 15 de abril a 6<br />

de maio de <strong>2019</strong>.<br />

Foram recolhidas 77 respostas correspondentes a 57<br />

instituições diferentes. Das 77 respostas obtidas ex- }<br />

48 49


GH Iniciativa APAH | barómetro<br />

cluíram-se aquelas em que não foi possível identificar<br />

a instituição (n=2). A partir das 75 instituições conhecidas,<br />

foram consideradas as respostas provenientes<br />

de membros do Conselho de Administração (n=24)<br />

e apenas os casos onde as respostas dos membros<br />

do mesmo Conselho de Administração não foram<br />

incoerentes (n=15), tendo-se obtido 36 respostas<br />

válidas consideradas para análise.<br />

Considerou-se para a análise das atitudes de telessaúde<br />

as 75 respostas.<br />

Paralelamente realizou-se uma análise apenas dos<br />

hospitais pertencentes ao Serviço Nacional de Saúde<br />

(SNS) (n=24) – Centros <strong>Hospitalar</strong>es (CH) e Hospitais<br />

EPE (HH) e Parcerias Público Privadas (PPP),<br />

Unidades Locais de Saúde (ULS) e hospitais geridos<br />

pelas misericórdias. Caracterizaram-se os respondentes,<br />

através das variáveis: anos no Conselho de Administração,<br />

tipologia da instituição onde exercem o<br />

cargo e género.<br />

Para análise estatística consideraram-se três grupos:<br />

Agrupamentos de Centros de Saúde (n=2); CH/HH/<br />

ULS (n=27) onde estão incluídos centros hospitalares<br />

ou hospitais públicos até 500 camas (n =13) ou<br />

mais de 500 camas (n=3), os hospitais em parceria<br />

publico privada (n=3), as unidades de saúde do setor<br />

social (n=2), as unidades de saúde privadas (n=1)<br />

e as ULS (n=5); e Outras entidades (n=7), onde se<br />

incluíram seguradoras (n=1), unidades do setor social<br />

fora do contexto dos cuidados hospitalares (n=1),<br />

unidade de saúde privada fora do âmbito dos cuidados<br />

hospitalares (n=2) e outras tipologias que não<br />

se enquadram nas categorias anteriormente referidas<br />

(n=3). Para a amostra dos hospitais pertencentes ao<br />

SNS (n=24), foi também realizada uma análise por<br />

região de saúde: Norte, Lisboa e Vale do Tejo, Centro,<br />

Alentejo e Algarve.<br />

Ressalva-se que o questionário elaborado é um estudo<br />

exploratório e servirá de base para a construção<br />

de escalas de adoção da telessaúde e da inteligência<br />

artificial. Tendo esta restrição como base, os resultados<br />

apresentados são apenas indicativos e devem ser<br />

lidos com cautela.<br />

3.1. Metodologia utilizada na Telessaúde<br />

Tanto para a amostra das respostas válidas (n=36),<br />

como para a amostra do universo de hospitais pertencentes<br />

ao SNS, foi analisado o número de áreas diferentes<br />

de Telessaúde implementado por tipologia de<br />

instituição, onde 0 corresponde a nenhuma área de<br />

serviços prestados, 1 significa que presta cuidados apenas<br />

numa área de Telessaúde, e assim sucessivamente<br />

até ao 8 que corresponde à prestação de serviços em<br />

todas as áreas de Telessaúde identificadas. As áreas<br />

de Telessaúde consideradas para análise foram Teleconsulta<br />

síncrona, Teleconsulta assíncrona, Telediagnóstico,<br />

Telereabilitação, Telerastreio, Teletriagem, Telemonitorização<br />

e outras.<br />

Excecionalmente na análise das atitudes face à Telessaúde<br />

foi utilizada a amostra integral (n=75). Para tal,<br />

foi utilizada uma escala de 5 pontos, onde 0 refere-se<br />

à resposta Discordo totalmente, 1 refere-se a Discordo,<br />

2 a Indiferente/Neutro, 3 a Concordo e, finalmente<br />

4 Concordo Totalmente.<br />

De forma a identificarem-se facilitadores e barreiras<br />

na adoção da Telessaúde realizou-se uma pesquisa<br />

bibliográfica (literatura científica, literatura cinzenta<br />

e consulta a peritos na área), tendo-se apurado um<br />

conjunto de 8 facilitadores e 8 barreiras. Realizouse<br />

uma análise de forma a identificar os facilitadores<br />

e barreiras na adoção da Telessaúde mais frequentes<br />

para a amostra total das respostas válidas (n=36)<br />

e para a amostra dos hospitais pertencentes ao SNS<br />

(n=24).<br />

3.2. Metodologia utilizada na IA<br />

O apuramento do nível de adoção de IA, foi realizado<br />

identificando um conjunto relevante de áreas de<br />

aplicação da IA. Estas áreas de aplicação resultaram<br />

de pesquisas bibliográficas que incluem a literatura<br />

científica, relatórios de consultoras e experiências<br />

semelhantes (por exemplo, no NHS inglês), e a consulta<br />

a peritos.<br />

Foram identificadas 12 áreas de aplicação agrupadas<br />

em 4 grandes grupos:<br />

• Apoio à decisão clínica: i) Avaliação/estratificação<br />

do risco (reinternamento, patologia, mortalidade,<br />

sépsis, interações entre fármacos, etc.); ii) Interpretação<br />

de imagem; iii) Interpretação e extração de informação<br />

clínica;<br />

• <strong>Gestão</strong> da Saúde / Saúde Pública: i) Deteção precoce<br />

de surtos ou de eventos com impacto na Saúde<br />

Pública de uma determinada população; ii) Estratificação<br />

do risco ao nível da população, região/local<br />

ou período temporal; iii) <strong>Gestão</strong> do doente crónico<br />

(telemonitorização);<br />

• Otimização do desempenho e eficiência operacional:<br />

i) Agendamento de atividades clínicas (consultas,<br />

sessões de HD, cirurgias, MCDT, etc.); ii) Transcrição<br />

de voz; iii) Faturação (deteção de fraude, pré-faturação,<br />

etc.); iv) <strong>Gestão</strong> de Stocks; v) <strong>Gestão</strong> de rotas<br />

e de transportes;<br />

• Novos canais de atendimento: i) Atendimento automático<br />

(Chatbot).<br />

Para medir o nível de adoção de cada uma das áreas<br />

acima foi utilizada a seguinte escala de 5 itens: 1) Não<br />

espera vir a ter nos próximos dois anos; 2) Espera<br />

vir a ter durante os próximos dois anos; 3) Em fase<br />

de conceção/ arranque; 4) Piloto implementado; 5)<br />

Projeto com implementação à escala da instituição<br />

e sustentado. Foi ainda incluído o campo “outros”,<br />

para que os respondentes possam colocar áreas de<br />

aplicação não incluídas nas identificadas acima.<br />

Para cada uma das instituições inquiridas, foi calculada<br />

a percentagem de áreas de aplicação cuja resposta<br />

foi “Não espera vir a ter nos próximos dois anos”,<br />

a percentagem de respostas “Espera vir a ter durante<br />

os próximos dois anos” e a percentagem total das<br />

respostas “Em fase de conceção/ arranque”, “Piloto<br />

implementado” e “Projeto com implementação à escala<br />

da instituição e sustentado”. A última percentagem<br />

foi considerada como proxy do nível de adoção.<br />

Para a identificação dos facilitadores e das barreiras<br />

à adoção de IA, foram realizadas pesquisas bibliográficas<br />

que incluem a literatura científica, relatórios de<br />

consultoras e experiências semelhantes (por exemplo,<br />

no NHS inglês), e a consulta a peritos.<br />

Foram apuradas 13 facilitadores e 13 barreiras e avaliadas<br />

as suas frequências absolutas quer para o total<br />

de respostas válidas (n=36), quer para as respostas<br />

relativas aos hospitais pertencentes ao SNS (n=24).<br />

Para o apuramento do nível de maturidade auto-percecionada,<br />

foi utilizada a escala desenvolvida por João<br />

Vidal de Carvalho e Álvaro Rocha (Carvalho, Rocha<br />

e Vasconcelos, <strong>2019</strong>).<br />

Resultados<br />

Os resultados obtidos na dimensão da Telessaúde<br />

demostram que 75% das instituições participantes<br />

têm pelo menos um projeto implementado na área<br />

sendo que no universo dos hospitais do SNS, que<br />

responderam ao barómetro (n=24; 48% dos hospitais<br />

do SNS), esse valor é de 87%. As ULS são as<br />

Instituições que têm implementadas mais áreas de<br />

Telessaúde por instituição (3,6/ULS), seguidas dos<br />

HH Públicos (>500 camas) (2,3/HH).<br />

O Telerastreio é a área de Telessaúde mais utilizada<br />

(44%), seguida da Teleconsulta síncrona (36%) e do<br />

Telediagnóstico (36%). Já nos hospitais do SNS esses<br />

valores são superiores e correspondem a 58% no telerastreio<br />

e 54% na Teleconsulta síncrona.<br />

Em relação à Telemonitorização remota de doentes<br />

96% dos participantes considera que a Telessaúde<br />

desempenha um papel muito importante na monitorização<br />

remota de doentes crónicos mas apenas<br />

25% dos hospitais SNS disponibilizam cuidados com<br />

recurso a estas tecnologias sendo as áreas de maior<br />

“<br />

O “BARÓMETRO” TEVE COMO<br />

DESTINATÁRIOS TODOS<br />

OS PROFISSIONAIS EM EXERCÍCIO<br />

DE FUNÇÕES DE GESTÃO<br />

DE TOPO NOS DIVERSOS<br />

AGENTES DO SISTEMA<br />

DE SAÚDE PORTUGUÊS.<br />

”<br />

implementação a telemonitorização na Insuficiência<br />

Cardíaca Crónica (13%) e na Diabetes Mellitus (13%).<br />

Quando analisadas as atitudes face à Telessaúde, 53%<br />

dos inquiridos considera que a Telessaúde é uma<br />

prioridade da sua instituição, 47% considera que<br />

a Telessaúde promove a relação Utente - Profissional<br />

de Saúde e 87% que a partilha de dados clínicos por<br />

telemedicina promove a adequada orientação e adesão<br />

à terapêutica dos utentes por ultimo 75% considera<br />

que a Telessaúde permite uma redução das<br />

readmissões hospitalares.<br />

Relativamente ao TOP3 das componentes facilitadoras<br />

e barreiras à adoção da Telessaúde, 61% das<br />

instituições aponta como principal barreira ao desenvolvimento<br />

da telessaúde a infraestrutura tecnológica<br />

(42% aponta a cobertura de banda larga e acesso<br />

à internet reduzido), já 53% das instituições considera<br />

como principal barreira a baixa literacia em Telessaúde<br />

e 44% aponta a baixa motivação na adoção de<br />

Telessaúde por parte dos profissionais de saúde.<br />

Os resultados relativos à adoção da Inteligência Artificial<br />

revelam que 47% das instituições participantes<br />

afirmam ter projetos implementados ou em fase piloto.<br />

25% dos inquiridos já realiza a transcrição de voz, }<br />

50 51


GH Iniciativa APAH | barómetro<br />

“<br />

OS RESULTADOS OBTIDOS<br />

NA DIMENSÃO DA TELESSAÚDE<br />

DEMOSTRAM QUE 75%<br />

DAS INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES<br />

TÊM PELO MENOS UM PROJETO<br />

IMPLEMENTADO NA ÁREA.<br />

”<br />

cimento do potencial de IA por parte dos profissionais<br />

de saúde (oportunidade para formação) e 33%<br />

indicam a disponibilidade e a qualidade dos dados<br />

existentes. Em contraponto, as Barreiras principais à<br />

adoção da IA identificadas destaca-se a ausência de<br />

“Cientistas de Dados” e de “Infraestrutura Tecnológica”<br />

para 44% dos inquiridos e a ausência de recursos<br />

financeiros para 33% das instituições.<br />

Conclusões<br />

Deste primeiro barómetro há a destacar diversos<br />

pontos que se poderão estruturar da seguinte forma:<br />

• A participação das diversas instituições<br />

• Os resultados da telessaúde<br />

• Os resultados da IA<br />

• Os desenvolvimentos futuros<br />

Quanto à participação das Instituições destaca-se<br />

a resposta de 48% das Instituições <strong>Hospitalar</strong>es do<br />

SNS, representando um bom princípio para os futuros<br />

barómetros. No entanto, a área de telessaúde<br />

tendo como princípio a integração de cuidados<br />

e uma maior participação do utente exige-se uma<br />

maior adesão na resposta ao inquérito por parte dos<br />

cuidados de saúde primários. São muitos os projetos<br />

implementados que há que dar voz e conhecimento<br />

dos mesmos.<br />

Este barómetro assume-se como um espaço de observador<br />

destas áreas, pretendendo ser a alavanca<br />

para ultrapassar barreiras e disseminar conhecimento<br />

nesta área tanto para profissionais de saúde, como<br />

para doentes, academia e população em geral.<br />

Nos resultados de telessaúde há que destacar que<br />

apesar de ser um consenso que a telessaúde desempenha<br />

um papel muito importante na monitorização<br />

remota de doentes crónicos, apenas 25% dos hospitais<br />

do universo do SNS têm projetos implementados,<br />

apesar do incentivo para estes programas no<br />

financiamento dos contratos-programa. Destacam-se<br />

nestes programas a maior percentagem de telemonitorização<br />

da insuficiência cardíaca crónica e a diabetes<br />

mellitus, com 13% cada.<br />

De referir também que a seguir à infraestrutura tecnológica<br />

é apresentada como principal barreira para<br />

a implementação de programas de telessaúde a baxa<br />

literacia tanto de profissionais como de utentes.<br />

Poderá ser esta uma das justificações para a baixa<br />

implementação dos programas de telemonitorização<br />

que exigem a forte participação do doente e dos profissionais<br />

de saúde e, principalmente, como colocar<br />

um programa destes em marcha porque exige que<br />

estejam alinhadas uma série de condições que nem<br />

sempre são do conhecimento de todos. E por isso,<br />

14% fazem o agendamento de atividades clínicas e<br />

11% a interpretação e extração de informação clínica.<br />

Já quanto à maturidade auto-percepcionada, 33%<br />

das Instituições revêm-se no nível de maturidade mais<br />

baixo e 14% das Instituições revêm-se no nível de<br />

maturidade mais elevado.<br />

Na análise ao potencial de implementação da IA a 2<br />

anos são as áreas de apoio à decisão clínica as que<br />

apresentam mais potencial de realização: No TOP3<br />

das áreas de implementação de IA surge com 69%<br />

a avaliação/estratificação do risco, com 67% a interpretação<br />

e extração de informação clínica e com 64%<br />

o agendamento de atividades clínicas e a gestão do<br />

doente crónico (telemonitorização).<br />

Os participantes no estudo identificaram igualmente<br />

outras aplicações da IA por exemplo na pré-autorização<br />

de financiamento, na identificação e combate<br />

à fraude e abuso; no Processo Clínico de Enfermagem,<br />

na utilização de cateteres vesicais (objetivo para<br />

a diminuição de infeções associadas à sua utilização)<br />

e na robotização de processos administrativos (agendamento,<br />

reagendamento, faturação, emissão de faturação,<br />

relatórios automáticos).<br />

Relativamente ao TOP3 das componentes facilitadoras<br />

à adoção da IA, 58% consideraram importante<br />

a inclusão da sua utilização no Plano Estratégico da<br />

Instituição, 50% colocam a necessidade de reconhea<br />

necessidade de informar tanto profissionais como<br />

associações de doentes, podendo aqui a APAH ter<br />

um importante papel na sua formação e divulgação.<br />

Quanto aos resultados da IA é um tema que deverá<br />

ser melhor trabalhado em futuros inquéritos porque<br />

nos parece que 47% das Instituições respondentes<br />

terem projetos implementados ou em fase piloto de<br />

inteligência artificial é um valor elevado e que não<br />

conseguimos cientificamente comprovar este valor<br />

com o resultado da maturidade. É preciso mais respostas<br />

e mais evidência.<br />

Apesar desta nota é de evidenciar que as áreas com<br />

mais potencial e que geram mais interesse pelo seu<br />

retorno são o apoio à decisão clínica.<br />

Como desenvolvimentos futuros há que ressalvar a<br />

necessidade de validação científica desta ferramenta<br />

que poderá ser assim um importante instrumento<br />

não só para barómetro como para investigação.<br />

Como já se referiu será necessário fazer um trabalho<br />

de proximidade de divulgação da importância da resposta<br />

a este inquérito não só por parte dos hospitais<br />

mas também dos cuidados de saúde primários. Ã<br />

• Boobier T. Advanced analytics and AI: impact, implementation, and the<br />

future of work. 1st ed. John Wiley & Sons, Inc.; 2018. 286 p.<br />

• Carvalho JV, Rocha Á, Vasconcelos J, Abreu A. A health data analytics<br />

maturity model for hospitals information systems. Int J Inf Manage (Internet).<br />

<strong>2019</strong>;46 (July): 278-85. Available from: https://doi.org/10.1016/j.ijinfomgt.2018.07.00.<br />

• Fatehi F, Smith AC, Maeder A, Wade V, Gray LC. How to formulate<br />

research questions and design studies for telehealth assessment<br />

and evaluation. J Telemed Telecare. 20<strong>17</strong>; 23(9): 759-63. https://doi.or-<br />

g/10.1<strong>17</strong>7/1357633X16673274-<br />

• Gandomi A, Haider M. Beyond the hype: Big data concepts, methods,<br />

and analytics. Int J Inf Manage (Internet). 2015 (cited <strong>2019</strong>, Jan 13); 35:137-44.<br />

Available from: http://dx.doi.org/10.1016/j.ijinfomgt.2014.10.007.<br />

• OMS. Global diffusion of eHealth : making universal health coverage<br />

achievable. Report of the third global survey on eHealth. (Internet). Geneva:<br />

World Health Organization. 2016. Available from: http://www.wipo.int/<br />

amc/en/mediation/rules%0A. Report of the third global survey on eHealth<br />

Global Observatory for eHealth.<br />

• OMS. No Title (Internet). (cited <strong>2019</strong>, Jan 15). Available from: https://<br />

www.who.int/ethics/topics/big-data-artificial-intelligence/en/.<br />

• Stroetmann KA, Kubitschke L, Robinson S, Stroetmann V, Cullen K, Mc-<br />

Daid D. How can telehealth help in the provision of integrated care? World<br />

Health Organization (Internet). 2010; 39. Available from: http://www.euro.<br />

who.int/__data/assets/pdf_file/0011/120998/E94265.pdf.<br />

• Totten A, Womack D, Eden K, McDonagh M, Griffin J, Grusing S, et al.<br />

Telehealth: Mapping the Evidence for Patient Outcomes From Systematic<br />

Reviews. (Internet). Rockville; 2016. Available from: www.effectivehealthcare.ahrq.gov/reports/final.cfm.<br />

52 53


GH Iniciativa APAH | barómetro<br />

ANÁLISE AOS RESULTADOS<br />

DO BARÓMETRO DA ADOÇÃO<br />

DA TELESSAÚDE<br />

E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL<br />

Eduardo Castela<br />

Presidente da Associação<br />

Portuguesa de Telemedicina<br />

Fernando Mota<br />

Vice-Presidente da Associação<br />

Portuguesa de Telemedicina<br />

A<br />

oportunidade do lançamento da iniciativa<br />

para criar um Barómetro da<br />

Adopção da Telessaúde e da Inteligência<br />

Artificial é por demais evidente,<br />

num cenário em que se reconhece<br />

a aposta do Governo em apoiar estas técnicas e<br />

em que se anuncia um Plano Estratégico para a área.<br />

Neste contexto, a Associação Portuguesa de Telemedicina<br />

(APT) saúda a iniciativa, não apenas pela qualidade<br />

dos promotores - a Associação Portuguesa de Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es (APAH), a Glintt, e o parceiro<br />

científico, a Escola Nacional de Saúde Pública, mas também<br />

pelos objetivos estabelecidos:<br />

• A compreensão dos níveis de adopção da telessaúde<br />

(e da Inteligência Artificial) nas instituições do Sistema<br />

de Saúde - ainda que nos preocupe prioritariamente o<br />

universo do Serviço Nacional de Saúde;<br />

• A identificação dos pontos críticos - facilitadores e inibidores,<br />

da adopção da presente técnica da telemedicina/telessaúde.<br />

Assinale-se ainda, e saúde-se, o apoio institucional da<br />

SPMS, na expectativa de uma transformação colaborativa<br />

e dialogante com os diferentes atores que intervêm<br />

nos processos técnicos e tecnológicos da prestação<br />

de cuidados de saúde, no caso vertente, no uso das<br />

ferramentas de suporte da telessaúde/telemedicina.<br />

Como atrás referido, a oportunidade do Barómetro é,<br />

por demais, evidente: as diretivas para a adoção da telemedicina/telessaúde<br />

são um facto, pelo que se torna necessário<br />

proceder à avaliação independente dos resultados<br />

obtidos perante métricas claras, suportadas cientificamente<br />

e adaptadas à realidade assistencial do País.<br />

Embora o questionário que a equipa do Barómetro<br />

elaborou seja um estudo exploratório, de que decorre<br />

que os resultados obtidos sejam apenas indicativos, não<br />

desmerece o trabalho apresentado - trata-se de uma<br />

etapa obrigatória para o conhecimento e para a construção<br />

de escalas de adoção da telessaúde e da inteligência<br />

artificial.<br />

Da metodologia e da amostra<br />

Será oportuno debruçarmo-nos inicialmente sobre alguns<br />

aspetos exploratórios relativos ao capítulo da metodologia<br />

e da representatividade da amostra.<br />

Releva, contudo, antes de mais, reafirmar que é incontestável<br />

a valia e o esforço feito nesse sentido, das bases<br />

científicas do estudo. Contudo, a APT, gostaria de<br />

propor algumas reflexões em torno dos aspetos a seguir<br />

discriminados.<br />

1. A equipa de trabalho<br />

A equipa de trabalho que elaborou o estudo é composta<br />

por um elemento da APAH, dois elementos da }<br />

54 55


GH Iniciativa APAH | barómetro<br />

“<br />

A INFRAESTRUTURA<br />

TECNOLÓGICA INCLUI<br />

NÃO APENAS A REDE<br />

DE COMUNICAÇÕES, MAS<br />

TAMBÉM A(S) APLICAÇÃO(ÕES)<br />

INFORMÁTICA(S).<br />

”<br />

Glintt e três elementos da ENSP, um dos quais coordenou<br />

o grupo.<br />

Será de repensar a equipa de modo a integrar:<br />

a) Profissionais de saúde com actividade reconhecida<br />

no âmbito da prática da telessaúde/telemedicina (um<br />

médico e/ou um enfermeiro);<br />

b) Gestores de unidades de saúde, igualmente reconhecidamente<br />

empenhados e com resultados na utilização<br />

da telessaúde/telemedicina (administrador de hospital,<br />

director executivo de ACeS, coordenador de uma<br />

Unidade de Saúde Familiar (USF));<br />

c) Cidadãos, utentes do SNS.<br />

2. A amostra<br />

Não nos ateremos em considerandos sobre a validade<br />

da amostra: a metodologia utilizada e os questionários<br />

elaborados encontram-se devidamente tipificados e caracterizados<br />

no estudo.<br />

Para a APT a prática da telessaúde/telemedicina envolve<br />

um conjunto de atores que integra não apenas profissionais<br />

de saúde e utentes, mas também, entre outros,<br />

corpos técnicos diversos, desde o que garante a<br />

operacionalidade da infraestrutura tecnológica, passando<br />

pelo administrativo que operacionaliza a formalização<br />

da contratualização dos serviços prestados, até aos<br />

membros do conselho de administração com intervenção<br />

no esforço inicial de lançamento das iniciativas de<br />

telessaúde/telemedicina e na continuidade da respe-<br />

tiva prática.<br />

Entende a APT que este é o público alvo de questionários<br />

futuros que aproximam o estudo da adoção da telessaúde/telemedicina<br />

ao terreno operacional em que<br />

esta prática se desenvolve e acontece.<br />

Os membros dos conselhos de administração são um<br />

grupo essencial na realização de qualquer inquérito/<br />

estudo sobre a presente problemática. Porém, tal como<br />

os demais grupos profissionais do ecossistema da<br />

telessaúde/telemedicina, estão sujeitos aos constrangimentos<br />

próprios da sua intervenção no processo. A título<br />

de exemplo, como reflexão, 96% dos inquiridos<br />

considera que “a telessaúde promove a relação utente-profissional<br />

de saúde”. Será que os profissionais de<br />

saúde subscrevem esta afirmação?<br />

Neste contexto apenas a inquirição dos diversos atores<br />

poderá dar uma imagem mais aproximada do que realmente<br />

se passa no terreno.<br />

3. O questionário<br />

Acredita a APT que a identificação e monitorização da<br />

adoção da telemedicina/telessaúde beneficiaria com<br />

a recolha de algumas informações adicionais:<br />

a) Qual o papel da legislação no impulsionar da telemedicina/telessaúde?<br />

Se o telerastreio é a área com maior utilização<br />

(44%) e sabendo que existe um despacho que<br />

obriga à sua utilização e que foi impedida a referenciação<br />

dos Cuidados de Saúde Primários (CSP) para a consulta<br />

de dermatologia presencial, será legítimo pensar que<br />

mais medidas como esta devam ser adotadas? Isto é, que<br />

o “empurrãozinho” legislativo ajuda ou é necessário?<br />

b) Qual é o número de atos de prestação de cuidados<br />

de saúde que foram efetuados recorrendo ao uso da telessaúde/telemedicina<br />

e qual é o número total dos<br />

mesmos atos na instituição (na região, no País)? Qual<br />

a relação entre estes dois dados? Qual a percentagem<br />

de atos efetuados no âmbito da telesaúde (que expressão<br />

têm)?<br />

Se:<br />

• 96% dos inquiridos considera que “a telessaúde promove<br />

a relação utente-profissional de saúde”;<br />

• 96% dos inquiridos considera que “a telessaúde ajuda<br />

a colmatar a falta de resposta das instituições de saúde”;<br />

• 96% dos inquiridos considera que “a telessaúde promove<br />

uma melhor autogestão da doença”;<br />

• 87% dos inquiridos considera que “a partilha de dados<br />

clínicos por telemedicina promove adequada ori-<br />

-entação e adesão terapêutica”.<br />

Então porque há tão poucas teleconsultas (cerca de<br />

3%) no universo de consultas em Portugal?<br />

c) Qual a regularidade da prática da telemedicina/telessaúde<br />

na instituição? A APT considera que apenas a<br />

prática regular da telessaúde determina a adoção desta<br />

técnica. De resto são conhecidos, no SNS, experiências<br />

e pilotos que se iniciaram e concluíram sem que<br />

a adoção se tivesse concretizado, para além dos casos<br />

em que, apesar de bem-sucedidos inicialmente, caíram<br />

posteriormente em desuso; e nestes casos importava<br />

identificar os motivos que justificaram a não adoção.<br />

Das conclusões<br />

Finalmente, uns poucos comentários e reflexões sobre<br />

algumas das conclusões do Relatório Final do Barómetro,<br />

as primeiras relativas aos facilitadores e às barreiras<br />

na adoção da telessaúde/telemedicina, e as segundas<br />

sobre algumas conclusões que nos motivam outras tantas<br />

interrogações.<br />

Assim, relativamente aos facilitadores e barreiras:<br />

Em primeiro lugar, 61% dos inquiridos identifica a infraestrutura<br />

tecnológica desadequada, como sendo a<br />

maior barreira, o que significa que é urgente investir<br />

nesta área. Não se pode pedir aos utilizadores médicos<br />

(entre outros) que lidem com plataformas desadequadas<br />

e que não sejam facilitadores. A telessaúde é uma<br />

ferramenta que tem de ser vista como facilitadora e o<br />

sistema de informação de suporte deve acompanhar<br />

este ensejo.<br />

A APT identificou desde sempre este problema. Conhecida<br />

que é a génese da Associação Portuguesa de<br />

Telemedicina 1 permitimo-nos trazer à colação a experiência<br />

dramática e as dificuldades sentidas na estabi-<br />

lização e adequação da infraestrutura tecnológica na<br />

Cardiologia Pediátrica do CHUC que presta serviços<br />

de telemedicina - consultas em linha (síncronas) com<br />

tele-ecocardiografia em tempo real, com hospitais das<br />

regiões Norte e Centro e com países africanos de língua<br />

portuguesa.<br />

E relembrar que a infraestrutura tecnológica inclui não<br />

apenas a rede de comunicações, mas também a(s) aplicação(ões)<br />

informática(s) que permite(m) a realização<br />

do ato clínico à distância. E que ambos apresentam<br />

problemas que inibem a prática da telemedicina que a<br />

SPMS não resolve, e por isso inibe a adopção, desde há<br />

cerca de oito (!) anos a esta parte.<br />

Não é objeto do Barómetro, mas de elevado interesse<br />

para os diversos profissionais, para os diferentes responsáveis,<br />

para as instituições e para a Tutela, a revisão da<br />

estratégia da SPMS nesta matéria, de modo a alcançar a<br />

total disponibilidade das infraestruturas para a viabilização<br />

da adoção da telemedicina/telessaúde. Para quando,<br />

pois, por parte do Ministério da Saúde, uma aposta<br />

clara numa plataforma tecnológica que satisfaça os quesitos<br />

técnicos e funcionais dos agentes envolvidos?<br />

Um segundo aspeto dos “Facilitadores e Barreiras”, é a<br />

muito interessante reflexão sobre o papel da “Motivação<br />

na adoção da telessaúde dos profissionais”. Com<br />

efeito, 67% dos inquiridos apontam-na como facilitador.<br />

Uma vez mais recorrendo à génese da APT, o seu }<br />

56 57


GH Iniciativa APAH | barómetro<br />

“<br />

O BARÓMETRO É A GÉNESE<br />

DE UMA FERRAMENTA<br />

QUE TRARÁ O CONHECIMENTO<br />

DO NÍVEL DE ADOÇÃO<br />

DA TELESSAÚDE<br />

EM PORTUGAL.<br />

”<br />

Presidente pode testemunhar esse papel, uma vez que,<br />

tendo sido, desde cedo, um “evangelizador” da telemedicina,<br />

foi facilitador e motivador da sua prática no<br />

Hospital Pediátrico, no CHUC e na Região Centro.<br />

Contraditoriamente, contudo, 44% dos inquiridos citam-na<br />

como barreira à adoção! Importaria perceber<br />

a que se deve esta barreira: à gestão de topo (os conselhos<br />

de administração), aos responsáveis pelos Serviços<br />

de Ação Médica? Haverá necessidade de formação<br />

de profissionais de saúde (médicos)?<br />

Vem a propósito lembrar que 53% dos respondentes<br />

identificaram a “Baixa literacia em telessaúde” como<br />

barreira na adoção, imediatamente a seguir à “Infraestrutura<br />

tecnológica”! Note-se que a questão da literacia<br />

enquanto barreira, coloca-nos uma outra questão<br />

a incluir nos questionários: será necessário identificar<br />

o nível de literacia de cada respondente? E identificar<br />

necessidades de formação?<br />

No que diz respeito às restantes conclusões do barómetro,<br />

apenas algumas interrogações se nos colocam.<br />

Porque é que “As ULS são as instituições que têm implementado<br />

mais áreas de telessaúde por instituição”<br />

designadamente mais áreas do que os Centros <strong>Hospitalar</strong>es/Hospitais?<br />

• Porque estão sob a gestão de um só órgão (conselho<br />

de administração)?<br />

• Pela necessidade de partilha de informação clínica intra-ULS?<br />

58<br />

• Porque focam no cidadão o centro dos cuidados<br />

prestados na ULS (intra-ULS)?<br />

• Porque têm uma visão mais integradora da medicina?<br />

• Porque têm uma visão mais integradora da complementaridade<br />

de cuidados primários e hospitalares?<br />

Esta questão traduz a preocupação hospitalar na área<br />

da complementaridade e integração de cuidados: que<br />

perguntas poderiam ser introduzidas no questionário<br />

para encontrar respostas?<br />

Porque é que o telerastreio tem mais projetos que a<br />

teleconsulta ou o telediagnóstico?<br />

• E porque não a teleconsulta síncrona, por exemplo?<br />

• Por orientações políticas de cariz regional?<br />

• Por se identificar uma aposta clara de algumas especialidades<br />

médicas com maior propensão para a<br />

telessaúde?<br />

Como se incentiva o desenvolvimento e a adoção das<br />

áreas da telessaúde no SNS? Que ideias poderão ter<br />

os grupos profissionais - a inquirir doravante, sobre esta<br />

questão?<br />

Que bloqueios e dificuldades poderão ser identificados<br />

aos diversos níveis - central, regional e local, no<br />

cumprimento da vontade política para se desenvolverem<br />

projetos que conduzam à adoção da telessaúde<br />

no âmbito da rede de referenciação entre os<br />

diversos níveis de cuidados de saúde: primários, hospitalares,<br />

continuados?<br />

• Qual a opinião sobre esta matéria dos conselhos de<br />

administração (Hospitais, Centros <strong>Hospitalar</strong>es, Unida-des<br />

Locais de Saúde), dos conselhos directivos das<br />

Administrações Regionais de Saúde (ARS), da Administração<br />

Central do Sistema de Saúde (ACSS), dos<br />

directores executivos dos Agrupamentos de Centros<br />

de Saúde (ACeS), dos Coordenadores das USF, dos<br />

directores de Serviço <strong>Hospitalar</strong>es, entre outros?<br />

• E qual a opinião dos pacientes e dos utentes, de um<br />

modo geral?<br />

Conclusão<br />

Foram estas algumas das questões que a Associação<br />

Portuguesa de Telemedicina entendeu por bem equacionar,<br />

no âmbito do estudo elaborado pelo Barómetro<br />

da adoção da telessaúde e da inteligência artificial<br />

no Sistema da Saúde que, em boa hora, a APAH decidiu<br />

promover.<br />

Trata-se de uma iniciativa de inegável mérito que merece<br />

a maior atenção das instituições de saúde, particularmente<br />

do Serviço Nacional de Saúde, do Ministério da<br />

Saúde e de todos os atores que compõem o ecossistema<br />

da telessaúde/telemedicina.<br />

E merece também que não fique por aqui, que se aperfeiçoe<br />

de modo a alcançar um grau de maturidade que<br />

permita periodicamente dar uma visão independente,<br />

cientificamente sustentada, do estado da arte da adoção<br />

da telessaúde em Portugal.<br />

A Associação Portuguesa de Telemedicina tem por finalidade<br />

apoiar, implementar e dinamizar a prática da<br />

telemedicina nas suas várias vertentes - teleconsulta, teleurgência,<br />

teleformação, teleconsultadoria, etc., de modo<br />

a potenciar as suas principais vantagens, nomeadamente,<br />

a obtenção de ganhos em saúde, o incremento<br />

da acessibilidade da população à prestação de cuidados<br />

de saúde, a melhoria da articulação entre cuidados de<br />

saúde, a rentabilização dos recursos instalados e a consequente<br />

redução de custos diretos e indiretos, a formação<br />

continuada uma vez que o contacto entre os<br />

diversos profissionais no âmbito da prática clínica concreta,<br />

permite a constante atualização bilateral de conceitos,<br />

técnicas e procedimentos.<br />

A APT entende que o Barómetro é a génese de uma<br />

ferramenta que trará o conhecimento do nível de adoção<br />

da telessaúde em Portugal: o relatório apresentado<br />

demonstra que estão criadas todas as condições<br />

para que tal realidade seja alcançada. A APT tudo fará<br />

para apoiar esta iniciativa. Ã<br />

Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

Proteção das Equipas de <strong>Gestão</strong> e dos Gestores Intermédios<br />

A Abordagem<br />

Na Aon, consideramos o setor da saúde<br />

como estratégico, procurando centrar<br />

esforços na identificação de<br />

tendências, exposições e riscos e no<br />

desenvolvimento de soluções de<br />

transferência de risco específicas e<br />

adaptáveis à cultura de risco dos<br />

nossos clientes.<br />

Administradores e Gestores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es são, mais do que nunca,<br />

sensíveis às responsabilidades que<br />

enfrentam no exercício das suas<br />

funções (podendo culminar na afetação<br />

do seu próprio património) muito por via<br />

da elevada complexidade e possíveis<br />

impactos das suas decisões e ao<br />

elevado grau de escrutínio que terceiros<br />

(como entidades reguladoras)<br />

promovem junto do setor.<br />

É este contexto que estabelecemos, em<br />

parceria com a APAH, uma solução<br />

especificamente dedicada à proteção<br />

do património pessoal das equipas<br />

de gestão das unidades de prestação<br />

de cuidados de saúde.<br />

As Soluções<br />

BASIC<br />

Indemnizações: 50.000 euros<br />

Apoio jurídico: 25.000 euros<br />

Prémio anual: 294,30 euros<br />

PLUS<br />

Indemnizações: 100.000 euros<br />

Apoio jurídico: 50.000 euros<br />

Prémio anual (*): 436,00 euros<br />

PREMIUM<br />

Indemnizações: 250.000 euros<br />

Apoio jurídico: 75.000 euros<br />

Prémio anual (*): 654,00 euros<br />

(*) Opção de fracionamento semestral, com agravamento de 4%<br />

1. O embrião da APT foi efetivamente o Serviço de Cardiologia Pediátrica<br />

(SCP) do anterior Centro <strong>Hospitalar</strong> de Coimbra (CHC), atual CHUC -<br />

Centro <strong>Hospitalar</strong> e Universitário de Coimbra. Criada em 2007, reuniu personalidades<br />

dos mais variados quadrantes, nomeadamente, profissionais de<br />

saúde – não apenas do SCP, e das tecnologias de informação, mas também<br />

atores anónimos dos processos de saúde, com um interesse comum: o da<br />

divulgação e promoção da prestação de cuidados de saúde à distância (telemedicina<br />

e telessaúde). O facto de esta prática ter atingido, no SCP, um índice<br />

de regularidade único (ainda hoje!) no País, representando uma importante<br />

inovação com impactos assinaláveis quer na acessibilidade na prestação<br />

de cuidados de saúde especializados, quer nos resultados clínicos obtidos,<br />

quer ainda na formação contínua resultante da partilha de conhecimento<br />

interpares, a que acrescia o facto de se ter internacionalizado a prática<br />

regular da telemedicina com os PALOP, foi o principal leitmotiv para o<br />

surgimento da Associação.<br />

Proteções<br />

As indemnizações a pagar a Terceiros<br />

financeiramente lesados, pelos atos de<br />

gestão dos Administradores e Diretores,<br />

podem ser transferidos para a apólice,<br />

sem afetar o património do Segurado<br />

Permite o pagamento dos<br />

honorários de advogados incorridos<br />

na preparação da defesa do Segurado<br />

em reclamações (processos civis)<br />

apresentadas por Terceiros<br />

Permite o pagamento dos honorários de<br />

advogados incorridos na preparação da<br />

defesa do Segurado decorrente de em<br />

investigações (processos administrativos)<br />

iniciadas por entidades públicas (reguladores)<br />

Contatos<br />

secretariado@apah.pt


GH Prémio Healthcare Excellence | 2 a Menção Honrosa<br />

TELEMONITORIZAÇÃO<br />

DE DOENTES COM<br />

INSUFICIÊNCIA<br />

CARDÍACA CRÓNICA<br />

SERVIÇO DE CARDIOLOGIA DO CENTRO<br />

HOSPITALAR UNIVERSITÁRIO COVA DA BEIRA, E.P.E.<br />

ção de episódios de urgência, internamentos e consultas<br />

presenciais.<br />

Este programa permite reforçar a ligação entre os<br />

profissionais de saúde e os doentes, aumentando a<br />

capacidade de monitorização remota dos doentes<br />

e uma gestão personalizada de casos de alto risco/<br />

/crónicos, através do acesso a mais e melhor informação<br />

sobre a evolução do estado de saúde do doente,<br />

objetivando-se assim uma efetiva melhoria da informação<br />

clínica.<br />

Também se pretende alterar o papel do doente,<br />

passando o próprio doente a reconhecer/visualizar<br />

o seu estado de saúde, com impacto no seu estilo de<br />

vida e na auto-gestão da sua condição crónica. Promove-se<br />

deste modo uma visão de cidadania para a<br />

saúde centrada na corresponsabilização do doente<br />

no processo e não simplesmente como destinatário<br />

deste, assumindo deste modo um papel mais ativo.<br />

“<br />

O PROGRAMA<br />

DE TELEMONITORIZAÇÃO<br />

DE DOENTES COM ICC<br />

ARRANCOU NO CHUCB<br />

COM A INCLUSÃO DE<br />

10 DOENTES, EM JULHO<br />

DE 20<strong>17</strong>, E TEM VINDO A CRESCER.<br />

ATUALMENTE ESTÃO A SER<br />

João Pedro Reis Serra Garra<br />

Centro <strong>Hospitalar</strong> Universitário<br />

Cova da Beira, E.P.E.<br />

Luís Vítor Clemente Oliveira<br />

Centro <strong>Hospitalar</strong> Universitário<br />

Cova da Beira, E.P.E.<br />

A<br />

insuficiência cardíaca é uma condição<br />

crónica que atinge cerca de<br />

380 mil pessoas em Portugal, nos<br />

indivíduos com 70 ou mais anos<br />

a prevalência é de 10%, sendo<br />

a 1<strong>º</strong> causa de hospitalização após os 65 anos. Na<br />

última década verifica-se um aumento de 33% nos<br />

internamentos por ICC. Com uma elevada taxa de<br />

mortalidade, 5 anos após o diagnóstico a taxa de<br />

mortalidade é de 50%, sendo que <strong>17</strong>% falecem no<br />

primeiro ano. Apresenta a maior taxa de mortalidade<br />

intra-hospitalar entre todas as doenças cérebrocardiovasculares,<br />

na ordem dos 12,5%. 1<br />

Tipicamente os doentes com esta condição crónica<br />

são seguidos em regime de ambulatório, com visitas<br />

frequentes ao hospital, em consultas e em sessões<br />

de hospital de dia. Não havendo uma forma de detetar<br />

deterioração do estado de saúde do doente<br />

fora do ambiente hospitalar. As descompensações<br />

dão origem a episódios de urgência e/ou internamentos/reinternamentos.<br />

Maria Gabriela Ramalhinho<br />

Centro <strong>Hospitalar</strong> Universitário<br />

Cova da Beira, E.P.E.<br />

Equipa do projeto<br />

Este projeto é co-financiado pela Fundação EDP,<br />

através da obtenção de uma bolsa e nele participam<br />

membros do CHUCB e de um consórcio empresarial<br />

constituído pela NOS Comunicações, pela Hope<br />

Care, e pela Axa Assistance. A equipa do projeto é<br />

multidisciplinar, constituída por médicos, enfermeiros<br />

e técnicos especialistas.<br />

Objetivos<br />

Os objetivos deste programa passam essencialmente<br />

pela melhoria no tempo e na qualidade de vida<br />

dos doentes com ICC, contribuindo nomeadamente<br />

para:<br />

• Deteção precoce de episódios de descompensação;<br />

• Diminuir e prevenir hospitalizações;<br />

• Melhorar a qualidade de vida, a esperança de vida,<br />

o bem-estar físico e psicológico do doente;<br />

• Aumentar o auto-conhecimento dos doentes em<br />

relação à sua condição crónica;<br />

• Redução de custos financeiros, através da diminui-<br />

Ações implementadas<br />

Foram seleccionados doentes com episódios de internamento<br />

por ICC descompensada nos 12 meses<br />

prévios, fracção de ejecção ventricular esquerda inferior<br />

a 40%, a vontade e capacidade de garantir (autonomamente<br />

ou com ajuda de familiares) a medição<br />

domiciliária dos parâmetros para análises.<br />

A solução implementada no CHUCB consiste num<br />

sistema de monitorização inovador onde uma equipa<br />

multidisciplinar faz o acompanhamento permanente<br />

centrado no doente com ICC, através dos meios de<br />

telemonitorização que permitem medições diárias,<br />

com gestão de alertas em casos de não medição ou<br />

de medições com valores anómalos.<br />

Em resultado das medições a equipa clínica toma as<br />

medidas protocoladas, que poderão passar por pequenos<br />

ajustes da medicação ou dos hábitos diários ou<br />

a chamada do utente ao hospital para ser observado.<br />

O Programa de Telemonitorização de Doentes com<br />

ICC arrancou no CHUCB com a inclusão de 10 doentes,<br />

em julho de 20<strong>17</strong>, e tem vindo a crescer.<br />

Atualmente estão a ser telemonitorizados 31 doentes<br />

em simultâneo.<br />

O programa de telemonitorização de doentes com<br />

ICC funciona da seguinte forma:<br />

• É distribuído a cada doente um kit com um conjunto<br />

de equipamentos de medição de dados de saúde<br />

que o doente vai utilizar de forma autónoma ou com<br />

a ajuda de familiares para realizar as medições prescritas<br />

pelo médico;<br />

• Os dados de saúde recolhidos nos equipamentos<br />

de medição são transmitidos, via bluetooth para um<br />

tablet (também integrante do kit);<br />

TELEMONITORIZADOS 31<br />

DOENTES EM SIMULTÂNEO.<br />

”<br />

• O tablet colecta a informação recolhida de todos<br />

os dispositivos médicos e envia esses dados para<br />

uma plataforma online, através de uma ligação 4G,<br />

para o Centro de Monitorização e Triagem;<br />

• O Centro de Monitorização e Triagem é um serviço<br />

de acompanhamento de doentes, responsável<br />

por analisar numa primeira linha os parâmetros enviados<br />

pelos doentes, emitindo alarmes para os profissionais<br />

de saúde, de acordo com o protocolado;<br />

• Diariamente, os profissionais de saúde observam e<br />

analisam os dados enviados pelos doentes e os alarmes<br />

emitidos pelo Centro de Monitorização e Triagem;<br />

• A informação é apresentada sob a forma numérica<br />

e gráfica possibilitando visualizar rapidamente a evolução<br />

do utente e alarmística;<br />

• A equipa de profissionais atua depois em conformidade<br />

com aquilo que são os resultados das medições<br />

efetuadas pelos doentes, (esclarecimento, alteração<br />

terapêutica, ou outras).<br />

O kit de telemonitorização é constituído pelos seguintes<br />

equipamentos: }<br />

60 61


GH Prémio Healthcare Excellence | 2 a Menção Honrosa<br />

N=24 Telemonitorização Período prévio homólogo Variação<br />

Internamentos por IC 14 32 -56%<br />

Dias hospitalização por IC 156 286 -45%<br />

Episódios urgência por IC 4 38 -89%<br />

Mortalidade 1 (4,2%)<br />

Tabela 1: Resultados de 24 doentes que concluíram 12 meses de telemonitorização, em comparação com os 12 meses prévios.<br />

• Tablet;<br />

• Esfingmomanómetro digital;<br />

• Balança digital;<br />

• Oxímetro;<br />

• Termómetro digital;<br />

• Pedómetro/Monitor de Atividade Física.<br />

Alguns doentes, verificando-se a necessidade, recebem<br />

detetores de eventos arrítmicos.<br />

Ao nível da inovação tecnológica este programa<br />

utiliza equipamentos homologados pela CE, dotados<br />

com a mais moderna tecnologia de telemonitorização.<br />

Além disso, o facto de as medições serem<br />

efetuadas pelos doentes na sua residência, sem a<br />

necessidade de se deslocarem ao Hospital e o resultado<br />

dessas medições ficar disponível em tempo real<br />

constitui por si só uma inovação.<br />

Complementarmente, perspetiva-se que no futuro<br />

possa ser possível obter uma maior precisão na deteção<br />

de episódios de descompensação e, portanto,<br />

mais informação e conhecimento desta doença, através<br />

da análise de dados de saúde por soluções AI.<br />

Resultados<br />

Um ano após a implementação deste programa no<br />

CHUCB, já é possível começar a perceber o impacto<br />

em números, tal como a redução do número de<br />

internamentos (diminuição de 56%), do número de<br />

dias de internamento (diminuição de 45%) e de episódios<br />

de urgência (diminuição de 89%), bem como<br />

na taxa de mortalidade dos doentes integrados no<br />

programa.<br />

No primeiro ano de projeto, registou-se uma taxa<br />

de mortalidade dos doentes em programa de 4,2%,<br />

sendo que a taxa de mortalidade nos doentes diagnosticados<br />

com ICC com acompanhamento tradicional<br />

se situa nos 19%, segundo os dados apresentados<br />

pela British Heart Foundation.<br />

Em paralelo, conseguiram-se alcançar outros benefícios<br />

intangíveis, como sendo o aumento da qualidade<br />

de vida dos utentes e a promoção de uma visão<br />

da cidadania para a saúde, pelo facto de os doentes<br />

aprenderem a reconhecer/visualizar o seu estado de<br />

saúde, com impacto no seu estilo de vida e na autogestão<br />

da sua condição crónica, coresponsabilizando<br />

os doentes no processo e não simplesmente como<br />

destinatário deste.<br />

Em Portugal este programa de telemonitorização de<br />

doentes com ICC tem o mérito de se posicionar ao<br />

nível da inovação por ser uma iniciativa pioneira a<br />

nível nacional.<br />

Indicadores de resultado<br />

• 31 doentes em telemonitorização, 24 concluíram<br />

um ano;<br />

• 3 doentes não aderiram por desinteresse (2) ou<br />

falta de cobertura de rede (1);<br />

• 52% etiologia isquémica;<br />

• Fracção de ejecção ventricular esquerdo 29,2±<br />

7,0%. Ã<br />

1. Insuficiência Cardíaca em números: estimativas para o século XXI em<br />

Portugal.<br />

Cândida Fonseca, Daniel Brás, Inês Araújo, Fátima Ceia; Errata a "Insuficiência<br />

Cardíaca em números: estimativas para o século XXI em Portugal",<br />

Revista Portuguesa de Cardiologia, Volume 37, outubro de 2018, Paginas<br />

871-872.<br />

62


GH 50 anos Administração <strong>Hospitalar</strong><br />

EVOCAÇÃO DO PROFESSOR<br />

CORIOLANO FERREIRA<br />

José Nogueira da Rocha<br />

Sócio de mérito da APAH<br />

Agradeço à Associação Portuguesa<br />

de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

(APAH) a oportunidade que me<br />

deu para evocar Coriolano Ferreira,<br />

que conheci em 1965 e com quem,<br />

nesse ano, comecei a minha vida profissional.<br />

Não é tarefa fácil fazê-lo nos dez minutos que me foram<br />

concedidos, já que, tendo sido a sua vida particularmente<br />

multifacetada, bem mais tempo seria necessário.<br />

Sacrificarei o conteúdo ao tempo.<br />

Vida multifacetada: na Administração Pública, no ensino,<br />

no governo do País e em outras áreas.<br />

Na Administração Pública, na área da Saúde, particularmente<br />

no setor hospitalar, a sua ação foi tão notória<br />

que, afinal, seria escusado relembra-la. Mas nunca será<br />

por demais fazê-lo.<br />

Coriolano Ferreira abandonou a advocacia e outras atividades<br />

profissionais na área da Assistência e Previdência<br />

e entrou na Saúde em 1944 para as funções de Chefe<br />

dos Serviços Administrativos dos Hospitais da Universidade<br />

de Coimbra, que manteve até 1950, ano em<br />

que passou a desempenhar o cargo de administrador.<br />

Depois de, em 1954, ter sido nomeado para a Comissão<br />

Instaladora do Hospital de São João, passou, em<br />

1959, a ocupar o cargo de administrador do Hospital<br />

de Santa Maria.<br />

Como consequência natural da sua destacada ação<br />

nestes cargos e, uma vez criada, em 1961, a Direção<br />

Geral dos Hospitais, foi nomeado seu primeiro Diretor-<br />

Geral, funções que exerceu até 1972, em acumulação<br />

com a presidência de diversas Comissões no âmbito do<br />

Ministério da Saúde.<br />

Antes e depois desta nomeação teve uma intensa<br />

atividade internacional de que se destacam o ter sido<br />

membro de um Grupo de Peritos que, em 1959, a Organização<br />

Mundial de Saúde (OMS) convidou para<br />

preparar Cursos de Administração <strong>Hospitalar</strong>, membro<br />

do Conselho Diretivo da Federação Internacional dos<br />

Hospitais (FHI) durante 6 anos, sendo seu Vice-Presidente<br />

entre 1973 e 1975 e um dos fundadores da<br />

European Healthcare Managente Association (EHMA).<br />

É no exercício do cargo de Diretor-Geral que Coriolano<br />

Ferreira se torna o grande paladino de marcantes<br />

inovações em matéria de organização e gestão hospitalares.<br />

Muito em particular, e para além do muito<br />

mais que o País lhe ficou a dever, todos certamente<br />

nos lembramos do seu quase que exclusivo contributo<br />

para que dois importantes diplomas vissem a luz do dia<br />

e dessem os seu frutos:<br />

• O Decreto-Lei n.<strong>º</strong> 48.357, de 27 de abril de 1968,<br />

mais conhecido por Estatuto <strong>Hospitalar</strong>;<br />

• O Decreto-Regulamentar n.<strong>º</strong> 48.358, daquela data<br />

igualmente mais conhecido por Regulamento Geral<br />

dos Hospitais;<br />

• Do seu contributo, a começar pelo consignado naqueles<br />

dois diplomas, para a criação do Curso e da Carreira<br />

da Administração <strong>Hospitalar</strong>, bem como para a profissionalização<br />

do exercício desta atividade;<br />

• De ter sido o principal impulsionador de cursos de<br />

curta duração sobre o tema “Novas Conceções de <strong>Gestão</strong><br />

<strong>Hospitalar</strong>ˮ ministrados por personalidades estrangeiras<br />

de renome;<br />

• De ter sido, em 1965, o grande mentor e impulsionador<br />

do Serviço de Utilização Comum dos Hospitais<br />

(SUCH), de que foi o seu primeiro Diretor, numa ação<br />

cujo desenvolvimento tive o privilégio de acompanhar<br />

e apoiar.<br />

Seja-me permitido que, por ter sido seu colaborador<br />

direto na Direção-Geral dos Hospitais, dê conta do<br />

respeito e admiração pelo Dirigente que impressionava<br />

pela sua determinação, saber, inteligência e capacidade<br />

de organização, de decisão e de liderança. Além de uma<br />

outra unânime e igualmente reconhecida e cujas consequências<br />

se tornaram particularmente visíveis: “Fazedor<br />

de Equipasˮ, permita-se-me a expressão.<br />

Numa mudança de cargo cuja razão então não compreendi<br />

e continuo a não compreender - mas a vida tem<br />

os seus mistérios (será este o caso?) - em 1972 foi nomeado<br />

Secretário-Geral do Ministério da Saúde, funções<br />

que desempenhou até 1982, ano em que cessou<br />

funções para se dedicar exclusivamente à Escola Nacional<br />

de Saúde Pública.<br />

Ao longo da sua vida profissional sempre atribuiu grande<br />

atenção ao ensino. Desde cedo, ainda em Coimbra,<br />

ensinou em diversos Estabelecimentos da área da Saúde,<br />

designadamente Escolas de Enfermagem.<br />

Em 1968, por concurso de avaliação curricular ingressou<br />

como professor ordinário (correspondente a professor<br />

catedrático) da cadeira de Administração <strong>Hospitalar</strong><br />

da recentemente criada Escola Nacional de Saúde<br />

Pública e Medicina Tropical.<br />

Na sequência deste ingresso desenvolveu de imediato<br />

diligências para a criação do Curso de Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong>, cujo início teve lugar em 1970.<br />

Entre 1976 e 1980 foi Presidente da Comissão Instaladora<br />

da Escola Nacional de Saúde Pública, cargo a que<br />

se seguiu o de Presidente do Conselho Diretivo, desempenhado<br />

até 1986.<br />

Permaneceu nas suas funções de Dirigente e de Professor<br />

Catedrático de Administração <strong>Hospitalar</strong> até à sua<br />

jubilação em 1986, funções que só interrompeu duranta<br />

a sua permanência no Governo.<br />

Mas a sua atividade no ensino situou-se também na<br />

extinta Universidade Internacional e no igualmente extinto<br />

Instituto Superior Politécnico Internacional, tendo,<br />

em 1984, no segundo destes Estabelecimentos de<br />

ensino, criado o Curso Superior de Segurança Social<br />

e desempenhado o cargo de Vice-Reitor da Universidade<br />

Internacional a partir de 1991.<br />

Entre setembro de 1978 e janeiro de 1980 integrou o<br />

III, IV e V Governos Constitucionais como Secretário de<br />

Estado da Segurança Social. Voltei de novo a ser testemunha<br />

presencial da sua ação à frente deste Departamento<br />

Governamental não hesitando em afirmar que<br />

vieram de novo ao de cima as suas reconhecidas capacidades<br />

e qualidades de decisão e de organização e,<br />

também aqui, de “Fazedor de Equipasˮ. Ainda hoje se<br />

ouve de alguns dirigentes por eles nomeados para os<br />

cargos de Presidentes das Comissões Instaladoras dos<br />

primeiros Centros Regionais de Segurança Social o reiterar<br />

dessas qualidades.<br />

Mas há outros aspetos da vida de Coriolano Ferreira<br />

que, embora menos conhecidos, não posso deixar de,<br />

aqui e agora, recordar.<br />

Foi associado fundador, em 1983, do Instituto de Apoio<br />

à Criança (IAC), tendo nele desempenhado os cargos<br />

de Presidente da Assembleia Geral e do Conselho Fiscal,<br />

cargo em que tive a honra de lhe suceder.<br />

Na sua atividade editorial há que destacar, sem ser a<br />

única - o papel que teve no desenvolvimento da Revista<br />

Portuguesa de Saúde Pública, da Escola Nacional de<br />

Saúde Pública foi preponderante - o facto de ter sido<br />

fundador, em 1948 da revista Hospitais Portugueses -<br />

durante duas dezenas de anos a única revista dedicada<br />

à organização e administração hospitalares - verdadeiramente<br />

decisiva para a criação e desenvolvimento da<br />

carreira de administração hospitalar.<br />

Menos conhecida, mas, interessante, foi a sua atividade<br />

como etnógrafo. Grande admirador do Abade de Baçal,<br />

ficou-lhe o gosto pela etnografia que cultivou de<br />

forma amadora.<br />

Mas, antes de tudo, houve o Homem, para o que não<br />

há palavras. E como Homem há uma biografia que não<br />

posso omitir nesta minha intervenção.<br />

Nasceu em 12 de maio de 1916, em Valpereiro, pequena<br />

aldeia do concelho de Alfândega da Fé.<br />

Na sua infância coabita com os Pais e avós maternos -<br />

ainda conheci bem sua Mãe, a D.ª Emília - no seio de<br />

uma Família de tradições católicas e também recetiva<br />

às novas ideias republicanas.<br />

Estudou em Bragança onde concluiu, em 1933, os seus<br />

estudos liceais.<br />

Em Coimbra frequentou a Faculdade de Direito, licenciando-se<br />

em 1939 em Ciências Jurídicas e em 1940<br />

em Ciências Político-Económicas.<br />

Do seu casamento com a D.ª Maria José, em 20 de<br />

março de 1946, nasceram dez filhos.<br />

Faleceu em 1996 em plena atividade.<br />

Permitam-me, para concluir, que leia o que tive oportunidade<br />

de escrever quase logo após a sua morte no<br />

“álbum” de recordações que lhe dedicou a Universidade<br />

Internacional:<br />

“Três dias antes da sua morte saí de sua casa com o último<br />

e mais difícil caderno de encargos que dele recebi:<br />

assegurar a continuidade da sua obra na Universidade<br />

Internacional”. Não esquecerei jamais esse dia. Nele revivi<br />

toda a caminhada que Deus permitiu fazer com ele.<br />

Termino como em parte o fiz neste local na Sessão<br />

que, em 28 de outubro de 2016, muito justamente o<br />

homenageou pela passagem do seu centenário.<br />

“Num dueto a todos os títulos exemplar e particularmente<br />

fecundo, também aqui tem lugar a verdade, nem<br />

sempre absoluta, de que atrás de um grande Homem<br />

há sempre uma grande Mulher”.<br />

Amplio agora esta verdade. Não houve, afinal, uma<br />

grande Mulher. Há duas. Sua mãe, a D.ª Emília, que<br />

muito bem conheci e admirei e a D.ª Maria José, companheira<br />

de mais de 50 anos, que, igualmente bem conheci<br />

e admirei. Ã<br />

64 65


GH 50 anos Administração <strong>Hospitalar</strong><br />

GH 50 anos Administração <strong>Hospitalar</strong> | Livro 50 Anos em 20 olhares<br />

PRÉMIO CORIOLANO FERREIRA<br />

Mavilde Vitorino<br />

Aluna do XLV CEAH<br />

Enf.ª Chefe da UCIP do CHLO<br />

O<br />

prémio Coriolano Ferreira foi entregue<br />

no passado dia 24 de abril de<br />

<strong>2019</strong>, através de uma iniciativa conjunta<br />

da Associação Portuguesa de Adminitradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es (APAH) e<br />

da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade<br />

Nova de Lisboa (ENSP), com o apoio da IQVIA (The<br />

Human Data Science Company). Um prémio atribuído<br />

ao melhor aluno do curso e que coincidiu este ano de<br />

<strong>2019</strong> com a comemoração dos 50 anos do Curso de<br />

Administração <strong>Hospitalar</strong>.<br />

Duas razões relevantes que me permitem hoje afirmar<br />

que receber este prémio foi não só uma honra como<br />

muito relevante para a minha carreira profissional e académica.<br />

Como se sabe o Professor Coriolano Ferreira<br />

foi um homem que se fez notar pelo seu exemplo de<br />

esforço, de liderança, de dinamismo, de resiliência e<br />

de inovação na área da Administração <strong>Hospitalar</strong>, para<br />

além das outras conhecidas qualidades pessoais e profissionais.<br />

Relevantes competências humanas e profissionais<br />

com as quais me permito identificar na atualidade<br />

enquanto pessoa e profissional de saúde. Um prémio<br />

duplamente relevante porque permite não só fazer<br />

uma justa homenagem à carreira notável do Professor<br />

Coriolano Ferreira, evidenciando a pessoa e a sua notável<br />

carreira, mas também porque de forma simultânea,<br />

pretende salientar e dinamizar o que de melhor a investigação<br />

em Administração <strong>Hospitalar</strong> faz em benefício<br />

da boa prática gestionária a nível hospitalar, não só ao<br />

nível nacional como internacional. Razões suficientemente<br />

robustas para afirmar que este é um prémio<br />

que me permite dar visibilidade internacional ao meu<br />

trabalho final de campo, assim como me permite ainda<br />

adquirir novos conhecimentos e experiências pessoais<br />

e profissionais no âmbito da Administração <strong>Hospitalar</strong><br />

fora de Portugal. Sabemos hoje que a carreira de<br />

Administração <strong>Hospitalar</strong> é uma atividade profissional<br />

que se confronta regularmente com elevados níveis de<br />

complexidade gestionária. Os Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

têm hoje que ser capazes de gerir profissionais<br />

com diferentes níveis de autoridade associados a conhecimentos<br />

altamente especializados, gerir estruturas<br />

tecnicamente complexas, gerir recursos quase sempre<br />

escassos associados quase sempre aos contínuos problemas<br />

de financiamento, gerir os problemas quotidianos<br />

associados aos problemas da logística, gerir os contínuos<br />

conflitos entre os diferentes grupos profissionais,<br />

entre outras relevantes áreas de intervenção. Razões<br />

suficientes para se exigir que os atuais e futuros Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es sejam na sua essência bons<br />

líderes capazes de conjugar competências que lhes permitam<br />

envolver e unir os profissionais em torno de caminhos<br />

comuns e ao mesmo tempo sejam capazes de contribuir<br />

para melhorar os níveis de eficiência e eficácia que<br />

permitam alcançar os objetivos da instituição. Áreas do<br />

conhecimento que ao longo de todo o curso nos foram<br />

apresentadas por notáveis e reconhecidos professores<br />

do panorama nacional e que nos permitiram fortes debates<br />

e profundas reflexões. No entanto sugeria-se o reforço<br />

de outras áreas do conhecimento ao nível dos curricula<br />

como por exemplo a melhoria de conceitos como<br />

a liderança, a gestão da mudança e gestão de conflitos.<br />

Ainda assim este é um curso muito exigente e consistente<br />

porque entendo que sabe aliar a exigência pedagógica<br />

e a excelência científica a uma sociedade complexa<br />

e em constante mudança.<br />

Apesar deste elevado grau de exigência, importa reconhecer<br />

que foi muito enriquecedor e gratificante participar<br />

neste curso não só pelos conhecimentos adquiridos,<br />

consubstanciados na qualidade das aulas lecionadas,<br />

mas também pela importante e constante partilha<br />

de conhecimentos com colegas de diferentes atividades<br />

profissionais e de diferentes faixas etárias.<br />

Um curso consistente que me permite afirmar que hoje<br />

reúno mais e melhores competências que me permitem<br />

responder de forma mais eficiente e eficaz aos velhos<br />

desafios que enfrento diariamente no âmbito da<br />

minha atividade profissional assim como, estou certa<br />

disso, a aquisição de novos conhecimentos que me ajudarão<br />

a enfrentar os novos desafios que espero poder<br />

abraçar brevemente. Ã<br />

VIVÊNCIAS E TESTEMUNHOS<br />

DE 50 ANOS DE HISTÓRIA<br />

Carla Pedro<br />

Jornalista<br />

Quando fui convidada para realizar uma<br />

série de entrevistas a personalidades<br />

relevantes no percurso da Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong> em Portugal, por ocasião<br />

da celebração dos 50 anos da carreira<br />

no país, sendo o objetivo da APAH fazer um livro de<br />

homenagem à carreira com estes testemunhos, aceitei<br />

sem hesitar, pensando que teria pela frente um desafio<br />

muito interessante. Não me enganei. Aliás, a realidade<br />

superou todas as minhas expectativas. As pessoas<br />

com quem me cruzei enriqueceram a minha vida com<br />

as suas histórias, as suas vivências e a sua sabedoria.<br />

A Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

tinha objetivos muito claros: pretendia criar um<br />

acervo com histórias contadas na primeira pessoa, sendo<br />

que as entrevistas deveriam ser presenciais. Um enorme<br />

desafio, algumas vezes pelas distâncias, outras vezes<br />

pelas agendas, mas que foi superado com o suporte<br />

de todos.<br />

Ter o Miguel Baltazar como fotógrafo deste projeto foi<br />

muito importante, pois além de ser um profissional<br />

exemplar é também uma óptima companhia, pelo que<br />

as nossas viagens foram sempre revigorantes. Depois<br />

das entrevistas conversávamos sobre o que tínhamos<br />

acabado de ouvir - e quando tínhamos viagens de regresso<br />

mais longas, o debate estendia-se durante horas.<br />

Nunca nos faltou tema de conversa porque todos os<br />

entrevistados nos deram muito por onde olhar.<br />

As entrevistas repartiram-se geograficamente por Lisboa,<br />

Oeiras, Coimbra, Vila Nova de Gaia e Funchal,<br />

e trouxeram a lume a realidade da carreira de Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong> ao longo dos últimos 50 anos,<br />

sem esquecer o contexto político e a área em que a<br />

profissão se desenvolve: a Saúde. Todas as conversas<br />

acabaram por ser bastante descontraídas, o que torna<br />

a memória desta obra ainda mais especial. Deliciámonos<br />

com episódios mais caricatos que nos foram contados<br />

por entre gargalhadas, surpreendemo-nos com histórias<br />

nunca antes contadas e ficámos gratos pelos sorrisos<br />

abertos e afáveis. Pessoas de corpo inteiro, genuínas,<br />

com muito para dar, e que na fase de produção do<br />

livro continuaram a mostrar uma grande disponibilidade.<br />

Por entre os cargos que se ocuparam, foram contando<br />

as revoluções que se fizeram, as reestruturações<br />

e remodelações que se impuseram, as tentativas e erros,<br />

e as novas tentativas para se alcançar um exímio<br />

desempenho - sempre com um olhar direto e franco.<br />

Desde os acasos na escolha desta carreira até à convicção<br />

de era ali que queriam estar, todos os entrevistados,<br />

sem exceção, deixaram bem claro que a<br />

saúde é ‘um bichinho’ que fica. Porque se lida com a<br />

vida e a morte, porque se lida com a dignidade humana.<br />

Porque todos nós, mais cedo ou mais tarde,<br />

iremos precisar dos seus serviços e queremos ser<br />

bem tratados.<br />

O Professor Doutor Coriolano Ferreira, ‘pai’ da carreira<br />

de Administração <strong>Hospitalar</strong>, via os hospitais como um<br />

“mundo fascinante e absorvente”. E são também fascinantes<br />

e absorventes as caminhadas feitas pelas 20 personalidades<br />

que deram os seus testemunhos - e com<br />

as quais tive o gosto de aprender.<br />

De cada um dos entrevistados guardo uma lembrança<br />

que fica para memória futura e guardo muito especialmente<br />

um enorme carinho. Por me terem feito sorrir,<br />

mas também por me terem emocionado muitas outras<br />

vezes. E por me terem ensinado.<br />

Tenho a agradecer à Associação Portuguesa de Admi-nistradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es por este projeto magnífico<br />

e que me fez conhecer melhor esta carreira. As escolhas<br />

diárias que se fazem não são fáceis. Quase nunca<br />

o são. E sinto-me honrada por ter podido conhecer<br />

pessoas tão especiais.<br />

Na APAH, pude contar com todo o apoio para o bom<br />

desenrolar do livro, nomeadamente nas pessoas do seu<br />

presidente, Alexandre Lourenço, e de Raquel Chantre,<br />

Miguel Lopes e Margarida Silvestre. Ã<br />

66 67


GH cerimónia comemorativa<br />

HOMENAGEM AOS SÓCIOS<br />

DE HONRA E MÉRITO DA APAH<br />

oração dos 50 Anos da Administração<br />

l, a APAH presta homenagem às<br />

e distinguindo-as como:<br />

A<br />

a<br />

e C a m p o s<br />

S i l v a<br />

SÓCIOS DE MÉRITO SÓCIOS DE HONRA<br />

António Correia de Campos<br />

Don C. Holloway Jr.<br />

António Menezes Duarte<br />

João Urbano<br />

Jorge Simões<br />

S Ó C I O S d e M É R I T O<br />

José Meneses Correia<br />

Margarida Bentes<br />

Augusto Mantas<br />

Eduardo Caetano<br />

Eduardo Sá Ferreira 1<br />

A n t ó n i o M e n e z e s D u a r t e<br />

E d u a r d o S á F e r r e i r a<br />

F á t i m a N o g u e i r a<br />

F e r n a n d a D i a s<br />

J o ã o U r b a n o<br />

J o ã o S a n t o s C a r d o s o<br />

J o r g e S i m õ e s<br />

J o r g e V a r a n dJosé a Nogueira da Rocha<br />

J o s é C a r l o s L o p e s M a r t i n s<br />

J o s é M e n e s e s C o r r e i a<br />

J o s é N o g u e i r a d a R o c h a<br />

J ú l i o R e i s<br />

M a n u e l D e l g a d o<br />

M a r g a r i d a B e n t e s<br />

R a u l M o r e n o<br />

V a s c o R e i s<br />

Maria de Fátima Nogueira<br />

Coriolano Ferreira<br />

José Caldeira da Silva<br />

Fernanda Dias<br />

João Santos Cardoso 2<br />

Jorge Varanda 3 José Carlos Lopes Martins 4<br />

Júlio Pereira dos Reis<br />

Manuel Delgado 5<br />

Raúl Moreno Rodrigues<br />

Vasco Reis<br />

1 Presidente da APAH<br />

(1981-1984),<br />

2 Presidente da APAH<br />

(1984-1987),<br />

3 Presidente da APAH<br />

(1988-1992),<br />

4 Presidente da APAH<br />

(1986-1989),<br />

5 Presidente da APAH<br />

(1992-2008).<br />

www.apah.pt<br />

68


GH 50 anos Administração <strong>Hospitalar</strong><br />

CERIMÓNIA COMEMORATIVA<br />

DOS 50 ANOS DA<br />

ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR<br />

EM PORTUGAL<br />

Em Portugal, a Profissão de Administrador<br />

<strong>Hospitalar</strong>, então chamada de<br />

“provedor”, já vem expressa no “Regimento<br />

do Hospital de Todos os Santos”<br />

de 1504. Mas é com a revista<br />

“Hospitais Portugueses”, editada em 1948 por Coriolano<br />

Ferreira, que a criação da profissão é relançada.<br />

Nos anos subsequentes, a administração hospitalar<br />

vai alastrando pelos hospitais portugueses num<br />

contexto de controvérsia em que se discutia, com<br />

vários pretextos, a quem devia ser entregue o poder<br />

nos hospitais: médicos, e de entre estes, docentes<br />

universitários de Medicina, ou figuras de emanação<br />

política. Ao mesmo tempo, reforçando a argumentação<br />

favorável à profissionalização da administração<br />

hospitalar, e seguindo à distância o percurso dos Estados<br />

Unidos onde esta opção surgira no final da década<br />

de 20 do século passado, defendia-se a criação<br />

de uma formação específica.<br />

Em 1968, o Decreto-lei n.<strong>º</strong> 48.357 e o Decreto-lei n.<strong>º</strong><br />

48.358, ambos de 27 de abril, para além de estabelecerem<br />

que “os estabelecimentos e serviços hospitalares<br />

devem organizar-se e ser administrados em termos<br />

de gestão empresarial” (artigo 35.<strong>º</strong> do Decreto-Lei n.<strong>º</strong><br />

48.357) criam e regulamentam a carreira de Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong>.<br />

Decorrido meio século de história, a APAH realizou no<br />

passado dia 24 de abril, pelas 14h30, no Salão Nobre da<br />

Escola Nacional de Saúde Pública, a Cerimónia Comemorativa<br />

dos "50 anos da Administração <strong>Hospitalar</strong> em<br />

Portugal", cuja Sessão de Abertura contou com a participação<br />

da Ministra da Saúde, Prof.ª Doutora Marta<br />

Temido, acompanhada pelo Prof. Doutor João Pereira,<br />

Diretor da Escola Nacional de Saúde Pública e por Alexandre<br />

Lourenço, Presidente da APAH.<br />

No decurso desta Cerimónia, foram vários os momentos<br />

de homenagem ao contributo dos Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es para a construção do Serviço Nacional de<br />

Saúde, começando pela exibição do vídeo de tributo<br />

à vida e obra do Professor Coriolano Ferreira, seguida<br />

de uma intervenção do Professor Nogueira da Rocha.<br />

Foi igualmente atribuído o Prémio Professor Coriolano<br />

Ferreira, que visa distinguir anualmente o melhor aluno<br />

do Curso de Especialização em Administração Hospita-<br />

lar (CEAH) da Escola Nacional de Saúde Pública, e que<br />

nesta edição foi entregue à aluna Mavilde Vitorino.<br />

Respeitando o mote dado pelo Presidente da APAH,<br />

Alexandre Lourenço, no seu discurso inicial: “Foram várias<br />

as gerações de homens e de mulheres que ao longo<br />

do tempo contribuíram para a construção de melhores<br />

e mais eficientes serviços de saúde. Esta Cerimónia é<br />

sobre estas pessoas”, a Cerimónia prosseguiu com a homenagem<br />

e distinção entregue aos Sócios de Honra e<br />

Sócios de Mérito da APAH.<br />

A APAH distinguiu António Correia de Campos, Augusto<br />

Mantas, Coriolano Ferreira, Don Holloway, Eduardo<br />

Caetano e José Caldeira da Silva como Sócios de<br />

Honra; e distinguiu António Menezes Duarte, Eduardo<br />

Sá Ferreira, Fernanda Dias, João Urbano, João Santos<br />

Cardoso, Jorge Simões, Jorge Varanda, José Carlos Lopes<br />

Martins, José Meneses Correia, José Nogueira da<br />

Rocha, Júlio Reis, Maria de Fátima Nogueira, Manuel<br />

Delgado, Margarida Bentes, Raúl Moreno e Vasco Reis,<br />

como Sócios de Mérito.<br />

A Cerimónia terminou com a sessão de lançamento do<br />

livro “50 anos em 20 olhares. O percurso da Adminis-<br />

tração <strong>Hospitalar</strong> em Portugal”, que pretende ser uma<br />

reconstrução histórica dos principais marcos que diferenciaram<br />

esta carreira profissional, contada na primeira<br />

pessoa, através de um conjunto de entrevistas a grandes<br />

nomes da Administração <strong>Hospitalar</strong> cujo legado muito<br />

contribuiu para a desenvolvimento das Instituições de<br />

Saúde e do SNS, nas últimas cinco décadas. A apresentação<br />

contou com os comentários de anteriores Ministros<br />

da Saúde, Maria de Belém Roseira e Paulo Macedo. Ã<br />

70


MARCA A AGENDA<br />

A Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH) promoveu e apoiou as seguintes iniciativas (abril - julho <strong>2019</strong>):<br />

ACADEMIA<br />

A Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH) promoveu no âmbito da Academia APAH as seguintes iniciativas formativas (abril - julho <strong>2019</strong>):<br />

6.ª Conferência de VALOR APAH | Modelos de gestão<br />

da qualidade e melhoria continua em saúde<br />

5 e 6 de abril de <strong>2019</strong>, MH Peniche Hotel - Peniche<br />

Inserido no Ciclo de Conferências de Valor APAH <strong>2019</strong> esta foi a 1.ª<br />

de duas conferências que decorrem em <strong>2019</strong>.<br />

Todos os conteúdos apresentados no âmbito desta Conferência estão<br />

disponíveis para visualização no “Canal APAH - <strong>Gestão</strong> em Saúde”<br />

no Youtube. Veja reportagem nesta edição e para mais informações<br />

consulte https: //apah.pt/portfolio/conferencias-de-valor-apah/<br />

Barómetro dos Internamentos Sociais | 3.ª edição<br />

6 de abril de <strong>2019</strong>, MH Peniche Hotel - Peniche<br />

Iniciativa da APAH com o apoio institucional da Sociedade Portuguesa<br />

de Medicina Interna (SPMI) e o suporte técnico da EY,<br />

tem como objetivo monitorizar de forma regular a problemática<br />

dos internamentos inapropriados fomentando ações conjuntas<br />

que minimizem este impacto. Os resultados da edição <strong>2019</strong> foram<br />

apresentados no dia 6 de abril no decurso da 6.ª Conferência<br />

VALOR APAH em Peniche e estão disponíveis em https://apah.<br />

pt/iniciativas-projetos/barometro-de-internamentos-sociais/ Todos<br />

os conteúdos apresentados no âmbito desta Conferência estão<br />

disponíveis para visualização vídeo no “Canal APAH - <strong>Gestão</strong> em<br />

Saúde” no Youtube. Veja reportagem nesta edição.<br />

18.<strong>º</strong> Caminho dos Hospitais | Hospital Reynaldo dos<br />

Santos<br />

12 de abril de <strong>2019</strong>, Hospital Vila Franca de Xira (HVFX)<br />

Pela 1.ª vez o Caminho dos Hospitais chegou a uma Parceria Público<br />

Privada tendo promovido a Conferência/Debate “Boas Práticas<br />

na Prestação de Cuidados de Saúde” partilhando as boas práticas<br />

e soluções desenvolvidas pela instituição em prol de dois grandes<br />

desafios: Prevenção e Controlo de Infeções e Resistência aos<br />

Antimicrobianos e a Transição Segura para a Comunidade dos utentes<br />

com Diabetes Infantil. Todos os conteúdos apresentados no<br />

âmbito desta iniciativa estão disponíveis para visualização no “Canal<br />

APAH - <strong>Gestão</strong> em Saúde” no Youtube. Veja reportagem na edição<br />

da Revista <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> e para mais informações consulte https://apah.pt/portfolio/caminho-dos-hospitais/<br />

50 Anos da Administração <strong>Hospitalar</strong> em Portugal | Cerimónia<br />

Comemorativa<br />

24 de abril de <strong>2019</strong>, Salão Nobre Coriolano Ferreira - Escola<br />

Nacional de Saúde Pública em Lisboa<br />

Cerimónia comemorativa dos 50 anos da Administração <strong>Hospitalar</strong><br />

em Portugal, celebrando a publicação do Estatuto <strong>Hospitalar</strong> e<br />

Regulamento Geral dos Hospitais a 27 de abril de 1968, que criaram<br />

a carreira de Administração <strong>Hospitalar</strong> em Portugal. Todos os<br />

conteúdos apresentados no âmbito desta iniciativa estão disponíveis<br />

para visualização no “Canal APAH - <strong>Gestão</strong> em Saúde” no Youtube.<br />

Veja reportagem nesta edição e para mais informações consulte<br />

https://apah.pt/noticia/comemoracoes-dos-50-anos-da-administracao-hospitalar/<br />

Prémio Coriolano Ferreira | Cerimónia Entrega Prémio<br />

ao Vencedor <strong>2019</strong><br />

24 de abril de <strong>2019</strong>, Salão Nobre Coriolano Ferreira - Escola<br />

Nacional de Saúde Pública em Lisboa<br />

Cerimónia de entrega do Prémio Coriolano Ferreira, uma iniciativa<br />

conjunta da APAH e da Escola Nacional de Saúde Pública da<br />

Universidade Nova de Lisboa (ENSP), a qual tem como objetivo<br />

homenagear o Professor Coriolano Ferreira e dinamizar a investigação<br />

em administração hospitalar, distinguindo anualmente o<br />

melhor aluno do Curso de Especialização em Administração <strong>Hospitalar</strong><br />

(CEAH) da ENSP. O Vencedor da Edição <strong>2019</strong> foi atribuído<br />

a Mavilde Vitorino. Todos os conteúdos apresentados no âmbito<br />

desta iniciativa estão disponíveis para visualização no “Canal APAH<br />

- <strong>Gestão</strong> em Saúde” no Youtube. Veja reportagem nesta edição<br />

e para mais informações consulte https://apah.pt/noticia/mavilde-vitorino-recebe-premio-coriolano-ferreira-2018/<br />

I<strong>º</strong> Encontro Nacional de Integração de Cuidados | The<br />

Portuguese Association for Integrated Care (PAfIC)<br />

9 de maio de <strong>2019</strong>, Centro de Artes e Espetáculos - Figueira da Foz<br />

A APAH apoiou a iniciativa e participou no programa da iniciativa<br />

de forma ativa. Mais informações em: http://www.pafic.pt/pafic/<br />

Barómetro da adoção de Telesaúde e de Inteligência<br />

Artificial no Sistema de Saúde | Apresentação pública<br />

de resultados<br />

4 de junho de <strong>2019</strong>, Sede da Associação Nacional de Farmácia<br />

em Lisboa<br />

Iniciativa do Grupo de Trabalho para a <strong>Gestão</strong> da Informação em<br />

Saúde da APAH em parceria com a Glintt e com o apoio cientifico<br />

da Escola Nacional de Saúde Pública e institucional dos Serviços<br />

Partilhados do Ministério da Saúde. Todos os conteúdos apresentados<br />

no âmbito desta Conferência estão disponíveis para visualização<br />

no “Canal APAH - <strong>Gestão</strong> em Saúde” no Youtube. Veja reportagem<br />

nesta edição e para mais informações consulte https://<br />

apah.pt/portfolio/barometro-telessaude-inteligencia-artificial /<br />

EHMA <strong>2019</strong> Annual Conference | HEALTH MANA-<br />

GEMENT 2.0<br />

<strong>17</strong> a 19 de junho de <strong>2019</strong>, Eespo - Finlandia<br />

O Presidente da APAH participou como moderador da sessão “Digital<br />

Transformation”. Mais informações em: https://ehma.org/events/<br />

annual-conference/<br />

6.<strong>º</strong> Webinar do Ciclo Luso-Brasileiro "<strong>Gestão</strong> em Saúde"<br />

| "Cuidados integrados: A gestão de caso"<br />

18 de junho de <strong>2019</strong>, Webconferência<br />

O Ciclo Luso-Brasileiro de “Webinars de <strong>Gestão</strong> de Serviços de<br />

Saúde” é uma iniciativa, da APAH e do Colégio Brasileiro de Executivos<br />

da Saúde (CBEXs), com o objetivo de estreitar relações e<br />

promover a excelência na gestão da saúde através da discussão de<br />

temas relevantes para os gestores de saúde que exercem funções<br />

no Brasil e em Portugal.<br />

Esta edição foi dedica à “<strong>Gestão</strong> de caso (case management) como<br />

modelo da integração de cuidados" e teve como oradora, Adelaide<br />

Belo, Presidente da Portuguese Association for Integrated Care<br />

(PAfIC). Todos os conteúdos apresentados no âmbito deste webinar<br />

estão disponíveis para visualização no “Canal APAH - <strong>Gestão</strong><br />

em Saúde” no Youtube.<br />

“3F - Financiamento, Fórmula para o Futuro” | Apresentação<br />

pública dos resultados inquérito no Parlamento<br />

2 de julho de <strong>2019</strong>, Assembleia da República - Lisboa<br />

Iniciativa da APAH com o suporte técnico da IQVIA e apoio da Roche<br />

Farmacêutica. Todos os conteúdos apresentados no âmbito<br />

desta apresentação pública estão disponíveis para visualização no<br />

“Canal APAH - <strong>Gestão</strong> em Saúde” no Youtube. Mais informações<br />

em https://apah.pt/portfolio/3f/<br />

“AVC e Doenças Cardiovasculares” | Momento Expresso<br />

3 de julho, Montes Claros - Lisboa<br />

A iniciativa contou com a participação de Delfim Rodrigues, Vice-<br />

-Presidente da APAH, no painel de debate “Mudar a primeira causa<br />

de morte em Portugal - uma missão de todosˮ incluído no evento<br />

“AVC e Doenças Cardiovascularesˮ. Uma organização do Expresso<br />

com o apoio da Bayer Portugal que incluiu a apresentação das primeiras<br />

conclusões do estudo “Impacto económico da aterosclerose<br />

em Portugal”, liderado pelo Centro de Estudos de Medicina Baseada<br />

na Evidência.<br />

Curso Avançado de Direito da Saúde<br />

De janeiro a maio de <strong>2019</strong> - Faculdade de Direito da Universidade<br />

de Lisboa, Lisboa<br />

Inserido na Academia APAH este curso é uma organização do<br />

Instituto de Ciências Jurídico-Políticas da Faculdade de Direito da<br />

Universidade de Lisboa. Os sócios efetivos da APAH beneficiaram<br />

de um desconto de 25% na propina.<br />

Programa Avançado de <strong>Gestão</strong> do Medicamento<br />

(PAGeM)<br />

De 22 de fevereiro a 22 de junho de <strong>2019</strong> - Faculdade de Farmácia<br />

da Universidade de Lisboa, Lisboa<br />

O PAGeM é uma parceria entre a APAH, a Ordem dos Farmacêuticos<br />

e a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.<br />

EVENTOS +<br />

Deixamos aqui algumas sugestões de eventos futuros em <strong>2019</strong>:<br />

ORGANIZAÇÃO APAH<br />

Prémio Healthcare Excellence | Reunião Final de eleição<br />

do Vencedor <strong>2019</strong><br />

Data: 18 de outubro de <strong>2019</strong><br />

Local: Hotel Vila Galé, Braga<br />

Mais informações em: http://www.apah.pt<br />

7.ª Conferência de VALOR APAH | Modelos de gestão<br />

centrados no cidadão e na comunidade<br />

Data: 18 e 19 de outubro de <strong>2019</strong><br />

Local: Hotel Vila Galé, Braga<br />

Mais informações em: http://www.apah.pt<br />

XI Fórum do Medicamento | Equidade, Efetividade e<br />

Sustentabilidade no Acesso à Inovação<br />

Data: 15 de novembro de <strong>2019</strong><br />

Local: Centro Cultural de Belém (Sala Fernando Pessoa), Lisboa<br />

Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/forumdo-<br />

medicamento/<br />

CO-ORGANIZAÇÃO APAH<br />

Caminho dos Hospitais – Conferência/debate<br />

Organização: APAH em parceria com Hospitais do SNS e Serviços<br />

Regionais de Saúde<br />

Data: Periodicidade Trimestral<br />

Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/caminhodos-hospitais/<br />

Ciclo Luso-Brasileiro “<strong>Gestão</strong> em Saúde” | Webinars<br />

Organização: Parceria APAH + CBEXs<br />

Data: Periodicidade mensal<br />

Local: Webconferência<br />

Mais informações em: www.apah.pt<br />

Liga Portuguesa da <strong>Gestão</strong> em Saúde (LEGOS)<br />

Parceria APAH + NOVA IMS destinada a promover a mudança<br />

efetiva na gestão em saúde.<br />

Data: Brevemente<br />

Local: Coimbra, Lisboa e Porto<br />

Mais informações em: www.apah.pt<br />

Medicina e Administração de Sistemas de Saúde - Ciclo<br />

Conferências <strong>2019</strong><br />

Organização: Parceria APAH e Secção Regional Norte da Ordem<br />

dos Médicos (SRNOM)<br />

Visita à Unidade Industrial da Generis®<br />

Dia 15 de maio de <strong>2019</strong> - Unidade Industrial da Generis®, Amadora<br />

Numa parceria com a APAH, a visita à Unidade Industrial da Generis<br />

® traduziu-se numa oportunidade única de aprendizagem,<br />

destacando a contextualização do mercado global dos medicamentos<br />

genéricos e desafios no presente e futuro próximo, e o<br />

conhecimento sobre a cadeia de produção do medicamento, com<br />

foco na aplicação da metodologia Kaizen.<br />

Seminário PADIS “Controlo de <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>”<br />

Dias 1 e 2 de julho de <strong>2019</strong> - Instalações da AESE em Lisboa<br />

Realizado no âmbito da Academia APAH e com o apoio da empresa<br />

ViforPharma, este Seminário PADIS é organizado pela AESE<br />

e dedicado ao tema “Controlo de <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>”.<br />

Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/medicina-e-<br />

administracao-de-servicos-de-saude/<br />

APAH RECOMENDA em <strong>2019</strong><br />

Webinars - Integrated Care Matters Series 3<br />

Esta série de webinars terá um foco particular no envelhecimento ativo<br />

e saudável e na prevenção e gestão da fragilidade.<br />

Local: Webconferência<br />

Mais informações em: https://integratedcarefoundation.org/events/<br />

webinar-integrated-care-matters-series-3-3#1540194957625- c2-<br />

0d3dc8-c1cd<br />

6th EuHEA PhD Student-Supervisor and Early Career<br />

Researcher Conference<br />

Organização: European Health Economics Association e Associação<br />

Portuguesa de Economia da Saúde<br />

Data: 4 a 6 de setembro de <strong>2019</strong><br />

Local: Católica Porto Business School, Porto - Portugal<br />

Mais informações em: www.apes.pt<br />

EAHM <strong>2019</strong> | 6 Hospitals 6 Themes<br />

Organização: European Association of Hospital Managers (EAHM)<br />

e Belgian Association of Hospital Managers (BVZD/ABDH)<br />

Data: 12 e 13 de setembro de <strong>2019</strong><br />

Local: Ghent, Bélgica<br />

Mais informações em: http://eahm<strong>2019</strong>.eu/venue/ghent-belgium<br />

22th European Health Forum<br />

Organização: European Health Forum Gastein (EHFG)<br />

Data: 2 e 4 de outubro de <strong>2019</strong><br />

Local: Bad Hofgastein, Austria<br />

Mais informações em: http://www.ehfg.org/<br />

43rd World Hospital Congress | “People at the heart<br />

of health services in peace and crisis”<br />

Organização: International Hospital Federation (IHF)<br />

Data: 7 a 9 de novembro de <strong>2019</strong><br />

Local: Muscat - Oman<br />

Mais informações em: https://worldhospitalcongress.org/<br />

Conferência SNS no Feminino<br />

Organização: Associação Portuguesa para o Desenvolvimento<br />

<strong>Hospitalar</strong> (APDH) e PWN Lisbon<br />

Data: 22 de novembro de <strong>2019</strong><br />

Mais informações em: www.apdh.pt<br />

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