GAZETA DIARIO 947
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Foz do Iguaçu, quinta-feira, 15 de agosto de 2019<br />
IMPASSE<br />
Geral<br />
13<br />
Embaixadora acredita que Brasil e Paraguai<br />
vão encontrar uma solução aceitável para Itaipu<br />
Para a diplomata, o acordo é técnico e pontual e não tem a dimensão da negociação de um tratado<br />
Da redação com Agência Brasil<br />
Reportagem<br />
Segundo publicação<br />
da Agência Brasil (AB),<br />
a Usina de Itaipu está<br />
enfrentando um impasse<br />
pela falta de contrato<br />
de compra de energia<br />
pela Administração Nacional<br />
de Eletricidade<br />
(Ande) e pela Eletrobras.<br />
Sem contrato, a<br />
empresa não pode emitir<br />
faturas desde o começo<br />
do ano.<br />
A reportagem inclui<br />
uma entrevista com a<br />
embaixadora Eugenia<br />
Barthelmess, do Departamento<br />
da América do<br />
Sul do Ministério das Relações<br />
Exteriores, que falou<br />
sobre a Ata de 24 de<br />
Maio que o Paraguai revogou<br />
e os próximos passos<br />
da negociação.<br />
Agência Brasil (AB):<br />
Por que Brasil e Paraguai<br />
ainda não chegaram<br />
a um acordo sobre o fornecimento<br />
de energia de<br />
Itaipu?<br />
Embaixadora Eugenia<br />
Barthelmess: A energia<br />
que é produzida pela<br />
Usina de Itaipu é adquirida<br />
pela Eletrobras, no<br />
Brasil, e pela Ande, no<br />
Paraguai. Nos últimos<br />
anos, a Ande estava adotando<br />
a prática de subdimensionar<br />
a previsão de<br />
sua demanda de energia<br />
de Itaipu. Para se ter<br />
uma ideia, nos últimos<br />
quatro anos, a potência<br />
que a Ande contratou de<br />
Itaipu aumentou 6,7%,<br />
não chegou a 7%. Nesses<br />
mesmos quatro anos, a<br />
energia que a Ande efetivamente<br />
usou de Itaipu<br />
aumentou em 41,4%. Isso<br />
levou a um problema técnico<br />
na usina. Além de<br />
utilizar a parcela majoritária<br />
da energia excedente<br />
de Itaipu, a Ande chegou<br />
a consumir energia<br />
contratada pela Eletrobras.<br />
Isso aconteceu em<br />
três ocasiões no ano passado.<br />
Foto: Fabio Pozzebom/ AB<br />
Embaixadora Eugenia Barthelmess:<br />
interesse nas boas relações<br />
Agência Brasil: Qual<br />
a solução política buscada<br />
pelos dois países?<br />
Embaixadora: Os dois<br />
países chegaram a um<br />
documento político que<br />
se chamou Ata Bilateral,<br />
que foi assinado em 24 de<br />
maio de 2019. O documento<br />
tentou definir o<br />
aumento gradual do volume<br />
de potência contratada<br />
pelo Paraguai.<br />
Agência Brasil: Por<br />
que gradual?<br />
Embaixadora: Para<br />
não causar impacto excessivo<br />
para os cofres da<br />
Ande. O pleito da Eletrobras<br />
era que houvesse um<br />
aumento único que correspondesse<br />
à defasagem<br />
verificada ao longo dos<br />
últimos anos. O resultado<br />
da negociação não foi<br />
esse. No último dia da<br />
negociação, a Ande, na<br />
pessoa de um de seus engenheiros,<br />
propôs o seguinte:<br />
esse aumento<br />
gradual deveria ser feito<br />
na base de um gatilho. O<br />
gatilho funcionaria da<br />
seguinte maneira: vamos<br />
supor que, em um determinado<br />
ano, a Ande não<br />
tivesse o aumento de<br />
12% em relação ao ano<br />
precedente. Vamos dizer<br />
que fosse menor. Então,<br />
não seriam cobrados os<br />
12% naturalmente. Consumiu<br />
menos, paga menos.<br />
Mas se consumisse<br />
mais de 12% em relação<br />
ao ano anterior, aí pagaria<br />
mais. No último dia<br />
da negociação, a Ande<br />
propôs, e o lado brasileiro<br />
acolheu, o seguinte<br />
pedido: um freio de 6%,<br />
que funcionaria para o<br />
patamar superior. Vamos<br />
supor que, em um ano<br />
“x”, a Ande gastou mais<br />
12% de energia em relação<br />
ao ano anterior. Pagou<br />
12%. Mas aí chega<br />
um momento em que a<br />
Ande gastou, vamos dizer,<br />
30% a mais do que<br />
no ano anterior. No raciocínio<br />
do gatilho, pagaria<br />
30%. No raciocínio<br />
que a Ande conseguiu<br />
fazer valer, pagaria os<br />
12% mais 6%. Ou seja,<br />
nunca passaria de 18% a<br />
despesa que a Ande teria,<br />
independentemente do<br />
aumento real de consumo<br />
da Ande.<br />
Agência Brasil: E o<br />
impasse gerado pelo lado<br />
paraguaio?<br />
Embaixadora: Eu não<br />
me atreveria a interpretar<br />
os acontecimentos do<br />
lado paraguaio ou a natureza<br />
da crise política no<br />
lado paraguaio. Mantendo<br />
sempre o foco na natureza<br />
do documento, na<br />
imprensa paraguaia houve<br />
uma cobertura que<br />
não correspondia à real<br />
natureza do documento.<br />
Argumentou-se que teria<br />
havido uma negociação<br />
secreta, quando eu nunca<br />
participei de uma negociação<br />
secreta. Com<br />
tantos atores de cada<br />
lado, com tantos negociadores<br />
de cada lado, é difícil<br />
imaginar que a negociação<br />
pudesse ser de natureza<br />
secreta. Lemos, por<br />
exemplo, que teria havido<br />
um pleito paraguaio de<br />
que a ata devesse conter<br />
um elemento que permitisse<br />
à Ande a venda direta<br />
de energia no mercado brasileiro.<br />
Isso jamais foi objetivo<br />
de pleito paraguaio.<br />
Isso jamais esteve sobre a<br />
mesa de negociação pela<br />
razão de que isso não é per-<br />
mitido nos termos do Tratado<br />
de Itaipu. Essa negociação<br />
é voltada para resolver<br />
um problema técnico específico<br />
e circunstrito.<br />
Agência Brasil: Como a<br />
senhora vê a decisão do Paraguai<br />
de ter renunciado a<br />
cumprir a Ata Bilateral?<br />
Embaixadora: É um<br />
direito que assiste ao governo<br />
paraguaio.<br />
Agência Brasil: Onde<br />
estamos no momento?<br />
Embaixadora: No mesmo<br />
documento em que o<br />
governo paraguaio declarou<br />
unilateralmente que a<br />
ata de 24 de maio estava<br />
sem efeito, os dois governos<br />
instruíram as suas<br />
instâncias técnicas a<br />
continuar os entendimentos<br />
ou a retomar os<br />
entendimentos com vistas<br />
a equacionar esse<br />
problema. É preciso definir<br />
um cronograma de<br />
contratação de potência<br />
para a usina no período<br />
de 2019 a 2022. É nesse<br />
ponto em que estamos.<br />
Agência Brasil: A<br />
senhora acredita que<br />
haja um impasse?<br />
Embaixadora: Não<br />
acredito nisso. Acredito<br />
que os dois países vão<br />
encontrar uma solução<br />
técnica, correta e politicamente<br />
aceitável para a<br />
usina, que é um bem comum<br />
aos dois países.