Revista Kids Mais - Edição 07 - Campo Mourão
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Mamãe, porque menino<br />
não brinca de casinha? Psicologia<br />
A<br />
brincadeira é fundamental na infância e traz<br />
impactos importantes para o desenvolvimento<br />
da criança, trazendo a vivência de outros<br />
papéis sociais, como um ensaio para a vida adulta.<br />
É por meio do faz de conta, que as crianças podem<br />
compreender melhor o papel dos adultos à sua volta<br />
e o funcionamento da sociedade. Ampliam o vocabulário<br />
verbal e corporal, desenvolvem o senso de responsabilidade<br />
e estreitam os laços afetivos.<br />
Brincar é viver a reinvenção de sentido, a experiência<br />
de estar no mundo adulto sem ainda o ser, vivenciando<br />
papéis, sentimentos, gestos e movimentos do seu<br />
cotidiano familiar. Contudo, a brincadeira também<br />
pode servir como um dos primeiros disparadores de<br />
desigualdades entre homens e mulheres, especialmente<br />
quando no âmbito familiar ou escolar é ensinado<br />
que há aquelas que são exclusivas para as meninas<br />
e outras para os meninos.<br />
Determinar quais são “brinquedos para meninas” e<br />
“brinquedos para meninos” tira da criança a oportunidade<br />
de entender o significado das atitudes que o<br />
pai ou a mãe tomam diante de situações corriqueiras,<br />
como por exemplo, separar o lixo reciclável, arrumar a<br />
cama, lavar a louça, dirigir o carro ou contratar um jardineiro,<br />
mantendo-se estereótipos de gênero criados<br />
numa época em que homem era considerado “inútil”<br />
em casa e seu lugar era na rua.<br />
As acirradas discussões sobre gênero deixam claro o<br />
afloramento de dúvidas sobre como lidar com as diferenças.<br />
O diferente assusta e põe em evidência o<br />
outro/eu em espelho. O que acontece com o outro, eu<br />
posso sofrer também. Arquetipicamente falando, tudo<br />
o que ocorre na vida de um ser humano, em qualquer<br />
lugar do planeta, é passível de acontecer aqui, agora,<br />
no presente, comigo ou com você.<br />
Mas, lidar com o julgamento social exige uma grande<br />
dose de coragem, audácia e desejo de conhecer a si<br />
mesmo. Vemos esses predicados na atualidade quando<br />
meninos não mais se intimidam nas “brincadeiras<br />
de casinha”, momento mais que oportuno para se experimentar<br />
o papel de pai que embala seu bebê. É<br />
contraditório uma sociedade querer que um homem<br />
seja pai presente, carinhoso e responsável quando<br />
se disse a este mesmo homem na infância que numa<br />
brincadeira de casinha apenas mulheres podem tomar<br />
decisões, lavar, passar, cozinhar e cuidar das<br />
crianças.<br />
Quando um garoto brinca de boneca e cozinha nas<br />
panelinhas, está apenas vivenciando no universo<br />
lúdico a experiência de cuidar da casa (comum+unidade<br />
= comunidade) e dos outros, está ampliando<br />
sua autonomia. O problema está quando se associa<br />
a atitude de ninar uma boneca a um comportamento<br />
“afeminado” pejorativamente. Se assim fosse, todo<br />
homem que carrega seu filho nos braços estaria se<br />
“afeminando”.<br />
A menina que brinca de carrinho ou joga futebol se<br />
coloca em contato com uma atividade/esporte culturalmente<br />
masculino, mas que para ela na infância<br />
era apenas “brincar com o pai”. Praticar um esporte<br />
aprimora a noção espacial, e torna homens e mulheres<br />
bons motoristas, além de ajudar a desenvolver a<br />
imaginação à medida que vivencia seu lado criativo;<br />
auxilia na criação de regras, controle de velocidade e<br />
absorção das noções de tempo e espaço.<br />
Mães trabalham fora, apesar de voltarem para casa<br />
cansadas como o homem e fazerem o jantar ao mesmo<br />
tempo em que cuidam das tarefas escolares dos<br />
filhos. E o pai, onde está que não “brinca” de viver<br />
uma casinha de verdade com a mãe e os filhos? Está<br />
na hora de desconstruirmos muitos paradigmas, e<br />
para isso são necessários esforços e revisões constantes<br />
em nosso modo de agir e pensar.<br />
É muito importante para o menino se conectar com<br />
o seu lado acolhedor, afetuoso, empático, flexível e<br />
amável, pois a mulher há tempos vem lidando com<br />
seu lado audacioso, regrado, estando à frente de tomadas<br />
de decisões. E o que isso significa? Esperamos<br />
que signifique a construção de um futuro mais humanizado,<br />
onde mulheres e homens se compreendam<br />
mais, sem repressão, sem piadinhas e sem preconceitos.<br />
O que importa é nos olharmos como seres<br />
humanos, que têm as mesmas dores, os mesmos<br />
sentimentos, que podem ter as mesmas perdas ou<br />
alegrias, mas onde todos permaneçam com seu<br />
direito à vida, respeitando-se as diferenças.<br />
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