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Opinião<br />
Preço de compra<br />
ou preço de venda?<br />
A estória que, aqui, vos<br />
conto remonta ao final<br />
<strong>dos</strong> anos 90, trabalhava<br />
eu num fabricante<br />
alemão de pneus, com<br />
responsabilidades<br />
repartidas pelos merca<strong>dos</strong><br />
português e espanhol<br />
Luís Martins<br />
General Market Manager Portugal<br />
& Spain da Dispnal <strong>Pneus</strong><br />
Na altura, em Espanha, tínhamos<br />
um problema de volume de<br />
vendas com uma das marcas<br />
e procurávamos dar-lhe uma<br />
nova vida, que passava por encontrar<br />
uma rede de dimensão nacional que<br />
tivesse interesse em fazer um trabalho de<br />
dedicação à marca. Encontrámos a rede<br />
perfeita, “patrocinada” por um fabricante<br />
concorrente, onde grande parte de<br />
nós tinha trabalhado e nascido para o<br />
comércio <strong>dos</strong> pneus. Preparámos, então,<br />
a estratégia, que passava por manter<br />
os clientes que já comercializavam a<br />
marca e introduzi-la, nesta rede, com<br />
um nível de preços de compra inferiores<br />
ao <strong>dos</strong> clientes “antigos”, mediante um<br />
acordo de volume que justificaria este<br />
nível inferior de preços de compra. Para<br />
além <strong>dos</strong> preços de compra “afina<strong>dos</strong>”,<br />
preparámos um pacote promocional<br />
da marca, em consonância com as<br />
ambições que tínhamos para a marca<br />
e o grau de sofisticação do cliente.<br />
Preparámos a mais sofisticada,<br />
espetacular e divertida apresentação de<br />
que havia memória. Sim, divertida. É que,<br />
na altura, muita gente no comércio de<br />
pneus confundia seriedade com sisudez,<br />
esquecendo-se de uma das leis básicas<br />
do comércio: ninguém compra nada<br />
a um vendedor aborrecido. Ou pode<br />
até comprar, se este vendedor, além de<br />
chato, for insistente. Mas tenhamos a<br />
certeza que será apenas para se livrar<br />
dele e não por prazer. Prazer. Acredite ou<br />
não, é isto que os clientes procuram.<br />
Oferecer prazer é, definitivamente,<br />
a melhor maneira de cativar<br />
uma pessoa. E nós tínhamos<br />
de cativar o presidente da<br />
citada rede... o Mariano.<br />
Com uma apresentação,<br />
é a mesma coisa.<br />
Ninguém<br />
resiste a um produto simpático e a uma<br />
apresentação divertida. Caprichámos na<br />
apresentação. Foi perfeita. O produto<br />
era, de facto, muitíssimo simpático e a<br />
apresentação ultradivertida. O Mariano,<br />
presidente da rede, gostou muito e<br />
deu-nos os parabéns pela performance.<br />
O problema veio depois. O Mariano,<br />
fumando o seu “puro”, confirmou que o<br />
produto era perfeito para a sua rede, nós<br />
éramos pessoas com luz própria, carisma<br />
e simpatia... tudo perfeito. Relativamente<br />
aos preços de compra, quase não olhou<br />
para eles, o que nos pareceu estranho.<br />
Apenas perguntou, uma única vez e<br />
em tom solene: “Esses são os vossos<br />
melhores preços?”. Respondemos,<br />
perentoriamente, que sim. Nesse preciso<br />
momento, o Mariano disse: “Ok, nem<br />
vou olhar para os preços de compra. No<br />
entanto, na vossa brilhante apresentação,<br />
falta o mais importante. A que preços<br />
podemos vender os vossos pneus?”<br />
Ficámos quase paralisa<strong>dos</strong>. De facto,<br />
o Mariano tinha carradas de razão.<br />
Deu-nos uma grande lição. E ainda<br />
deu uma estocada final, afirmando,<br />
perentoriamente, que, na sua<br />
organização, to<strong>dos</strong> os pontos de<br />
venda conseguiam, em 80% <strong>dos</strong> casos,<br />
vender aos clientes as marcas que<br />
mais margem lhes garantiam. Hoje,<br />
esta equação é ainda mais verdade.<br />
De que serve um estupendo preço de<br />
compra se, depois, não conseguimos<br />
vender os produtos com um preço de<br />
venda minimamente compensador<br />
em termos de margem? Atualmente,<br />
passamos demasiado tempo a negociar<br />
preços de compra e nunca discutimos<br />
preços de venda. Comercializar marcas<br />
que garantam preços de venda sem<br />
pressão concorrencial, é absolutamente<br />
fundamental para um negócio de<br />
pneus próspero e rentável. u<br />
28 | <strong>Revista</strong> <strong>dos</strong> <strong>Pneus</strong> | Junho 2019