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Revista dos Pneus 55

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Opinião<br />

Preço de compra<br />

ou preço de venda?<br />

A estória que, aqui, vos<br />

conto remonta ao final<br />

<strong>dos</strong> anos 90, trabalhava<br />

eu num fabricante<br />

alemão de pneus, com<br />

responsabilidades<br />

repartidas pelos merca<strong>dos</strong><br />

português e espanhol<br />

Luís Martins<br />

General Market Manager Portugal<br />

& Spain da Dispnal <strong>Pneus</strong><br />

Na altura, em Espanha, tínhamos<br />

um problema de volume de<br />

vendas com uma das marcas<br />

e procurávamos dar-lhe uma<br />

nova vida, que passava por encontrar<br />

uma rede de dimensão nacional que<br />

tivesse interesse em fazer um trabalho de<br />

dedicação à marca. Encontrámos a rede<br />

perfeita, “patrocinada” por um fabricante<br />

concorrente, onde grande parte de<br />

nós tinha trabalhado e nascido para o<br />

comércio <strong>dos</strong> pneus. Preparámos, então,<br />

a estratégia, que passava por manter<br />

os clientes que já comercializavam a<br />

marca e introduzi-la, nesta rede, com<br />

um nível de preços de compra inferiores<br />

ao <strong>dos</strong> clientes “antigos”, mediante um<br />

acordo de volume que justificaria este<br />

nível inferior de preços de compra. Para<br />

além <strong>dos</strong> preços de compra “afina<strong>dos</strong>”,<br />

preparámos um pacote promocional<br />

da marca, em consonância com as<br />

ambições que tínhamos para a marca<br />

e o grau de sofisticação do cliente.<br />

Preparámos a mais sofisticada,<br />

espetacular e divertida apresentação de<br />

que havia memória. Sim, divertida. É que,<br />

na altura, muita gente no comércio de<br />

pneus confundia seriedade com sisudez,<br />

esquecendo-se de uma das leis básicas<br />

do comércio: ninguém compra nada<br />

a um vendedor aborrecido. Ou pode<br />

até comprar, se este vendedor, além de<br />

chato, for insistente. Mas tenhamos a<br />

certeza que será apenas para se livrar<br />

dele e não por prazer. Prazer. Acredite ou<br />

não, é isto que os clientes procuram.<br />

Oferecer prazer é, definitivamente,<br />

a melhor maneira de cativar<br />

uma pessoa. E nós tínhamos<br />

de cativar o presidente da<br />

citada rede... o Mariano.<br />

Com uma apresentação,<br />

é a mesma coisa.<br />

Ninguém<br />

resiste a um produto simpático e a uma<br />

apresentação divertida. Caprichámos na<br />

apresentação. Foi perfeita. O produto<br />

era, de facto, muitíssimo simpático e a<br />

apresentação ultradivertida. O Mariano,<br />

presidente da rede, gostou muito e<br />

deu-nos os parabéns pela performance.<br />

O problema veio depois. O Mariano,<br />

fumando o seu “puro”, confirmou que o<br />

produto era perfeito para a sua rede, nós<br />

éramos pessoas com luz própria, carisma<br />

e simpatia... tudo perfeito. Relativamente<br />

aos preços de compra, quase não olhou<br />

para eles, o que nos pareceu estranho.<br />

Apenas perguntou, uma única vez e<br />

em tom solene: “Esses são os vossos<br />

melhores preços?”. Respondemos,<br />

perentoriamente, que sim. Nesse preciso<br />

momento, o Mariano disse: “Ok, nem<br />

vou olhar para os preços de compra. No<br />

entanto, na vossa brilhante apresentação,<br />

falta o mais importante. A que preços<br />

podemos vender os vossos pneus?”<br />

Ficámos quase paralisa<strong>dos</strong>. De facto,<br />

o Mariano tinha carradas de razão.<br />

Deu-nos uma grande lição. E ainda<br />

deu uma estocada final, afirmando,<br />

perentoriamente, que, na sua<br />

organização, to<strong>dos</strong> os pontos de<br />

venda conseguiam, em 80% <strong>dos</strong> casos,<br />

vender aos clientes as marcas que<br />

mais margem lhes garantiam. Hoje,<br />

esta equação é ainda mais verdade.<br />

De que serve um estupendo preço de<br />

compra se, depois, não conseguimos<br />

vender os produtos com um preço de<br />

venda minimamente compensador<br />

em termos de margem? Atualmente,<br />

passamos demasiado tempo a negociar<br />

preços de compra e nunca discutimos<br />

preços de venda. Comercializar marcas<br />

que garantam preços de venda sem<br />

pressão concorrencial, é absolutamente<br />

fundamental para um negócio de<br />

pneus próspero e rentável. u<br />

28 | <strong>Revista</strong> <strong>dos</strong> <strong>Pneus</strong> | Junho 2019

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