09.05.2019 Views

Agenda Cultural de Proença-a-Nova - Outubro de 2018

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

cos, sendo que “a festa do São Marcos era na Redonda. Íamos daqui a pé à missa ao<br />

Pergulho e regressávamos em festa ao som do acor<strong>de</strong>onista”, recordam os mais antigos,<br />

para continuarem o baile ao som da música num palco <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira montado no<br />

centro da al<strong>de</strong>ia para a ocasião. Era nos bailes <strong>de</strong> domingo que os rapazes conheciam<br />

as futuras esposas. Foi o que aconteceu com Maria das Neves, <strong>de</strong> 78 anos, natural<br />

do Pergulho, que abraçou a Redonda como sua terra <strong>de</strong>pois ter conhecido o marido,<br />

natural da Redonda, num baile no Padrão. Depois <strong>de</strong> casar veio morar para esta terra<br />

“e há mais <strong>de</strong> 50 anos que cá estou. Foi assim que a vida se arranjou”, confessa.<br />

Foi mais ou menos até à década <strong>de</strong> 80 que funcionou a escola primária da Redonda.<br />

A casa era arrendada pelo Ministério da Educação: a professora morava no<br />

último andar e no sótão aprendia-se a ler e a escrever. Fechou antes <strong>de</strong> A<strong>de</strong>lino<br />

Branco Cardoso, <strong>de</strong> 58 anos, começar a estudar, obrigado a ir a pé para São Pedro do<br />

Esteval, que dista, aproximadamente, quatro quilómetros.<br />

Atualmente, a população aumenta em duas épocas do ano: em janeiro com a<br />

chegada das cegonhas e em agosto com os emigrantes. Na década <strong>de</strong> 80-90, com a<br />

chegada a eletricida<strong>de</strong> à al<strong>de</strong>ia, chegou também um casal <strong>de</strong> cegonhas que encontrou<br />

no poste da EDP, localizado no ponto mais alto <strong>de</strong>sta localida<strong>de</strong>, o lugar com as<br />

condições i<strong>de</strong>ias para nidificar. Como o ninho danificava o poste <strong>de</strong> transformação,<br />

a EDP <strong>de</strong>cidiu colocar um outro poste mais seguro para as cegonhas construírem o<br />

ninho. Des<strong>de</strong> então, voltam todos os anos, a meio <strong>de</strong> janeiro e “por volta do S. João<br />

ensinam as crias a voar e <strong>de</strong>pois vão-se embora”, relata A<strong>de</strong>lino Pires Branco. As<br />

cegonhas andam pelas ruas da al<strong>de</strong>ia sem receios, fazem parte da população. “Certa<br />

vez andava por aqui na rua uma cegonha cheia <strong>de</strong> se<strong>de</strong>. Eu trazia um bal<strong>de</strong> com água<br />

e <strong>de</strong>i-lhe <strong>de</strong> beber. Elas não temem as pessoas e até consegui tirar-lhe uma fotografia”,<br />

conta. Depois das cegonhas migrarem, chega a vez dos emigrantes, provenientes<br />

maioritariamente do Brasil, que reconstruíram as suas casas para passar férias.<br />

Menos <strong>de</strong> dúzia <strong>de</strong> quilómetros separam a Redonda do Vale Ma<strong>de</strong>irinho. Apesar<br />

da curta distância, têm apenas um ponto em comum: a falta <strong>de</strong> gente nova para dar<br />

continuida<strong>de</strong> à terra. Enquanto que na primeira moram oito pessoas, na segunda<br />

mora apenas uma. “É um povoado | bem pequenininho | com o nome bem a<strong>de</strong>quado|<br />

<strong>de</strong> Vale Ma<strong>de</strong>irinho”, uma <strong>de</strong>scrição fiel à realida<strong>de</strong> feita por Hélio <strong>Proença</strong>. Com<br />

apenas três casas e um morador efetivo, “Vale Ma<strong>de</strong>irinho é humil<strong>de</strong> |só um galo<br />

é que lá soa| estava lá o senhorio| veio há pouco a patroa”, como cantarolou José<br />

Tavares. O silêncio ecoa na única rua existente, interrompido pelo ladrar dos cães que<br />

vêm receber os forasteiros. Ro<strong>de</strong>ada <strong>de</strong> campos <strong>de</strong> cultivo, este é um lugar marcado<br />

pelo trabalho do campo. Redonda e Vale Ma<strong>de</strong>irinho são duas al<strong>de</strong>ias localizadas<br />

num dos extremos da freguesia <strong>de</strong> São Pedro do Esteval, que hoje sobrevivem graças<br />

às memórias dos que ainda por lá moram ou que a elas têm ligações afetivas.<br />

24<br />

Histórias, lendas, tradições únicas e outros aspetos que marcam a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada povoação:<br />

o ABC das Localida<strong>de</strong>s preten<strong>de</strong> percorrer aquilo que as distingue, contribuindo<br />

para valorizar e tornar acessível a todos um património imaterial nem sempre conhecido.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!