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Memórias, territórios, identidades: diálogos entre gerações na Região da Grande Madureira

A obra reúne uma série de textos, experiências e visões da Região da Grande Madureira como uma encruzilhada, um ponto que propicia diálogos e permite várias direções. Nas religiões que chamamos genericamente como de matriz africana, a encruzilhada representa um lugar de encontro de caminhos que não se fecham neles mesmos. Perseguindo esta concepção, o livro é uma tentativa de passagem por essa encruzilhada chamada Madureira, na busca pela compreensão do complexo social que reitera uma memória específica de lugar, como um lugar de memória que no conjunto de seus rastros do passado se atualiza, delineando, a partir desta ritualística de trazer ao presente, o passado, um lugar social. Essa busca surgiu das pesquisas e encontros propiciados pelo Museu Afrodigital Rio de Janeiro, que a partir de 2013 passou a desenvolver o projeto de pesquisa “Nos quintais do samba da Grande Madureira”, com o objetivo de produzir arquivos e exposições virtuais sobre a região. O que observamos é que a sociabilidade registrada nestes tão variados quintais não se esgota na sua musicalidade, mas se desdobra em sua história, na memória sobre seus personagens mais ou menos conhecidos, nas reestruturações urbanas e nos seus espaços: o Mercadão de Madureira, o Viaduto Negrão de Lima, as escolas de samba, os campos de futebol, as festas religiosas, em suas atividades comerciais, entre tantos outros espaços, ações e movimentos.

A obra reúne uma série de textos, experiências e visões da Região da Grande Madureira como uma encruzilhada, um ponto que propicia diálogos e permite várias direções. Nas religiões que chamamos genericamente como de matriz africana, a encruzilhada representa um lugar de encontro de caminhos que não se fecham neles mesmos. Perseguindo esta concepção, o livro é uma tentativa de passagem por essa encruzilhada chamada Madureira, na busca pela compreensão do complexo social que reitera uma memória específica de lugar, como um lugar de memória que no conjunto de seus rastros do passado se atualiza, delineando, a partir desta ritualística de trazer ao presente, o passado, um lugar social.

Essa busca surgiu das pesquisas e encontros propiciados pelo Museu Afrodigital Rio de Janeiro, que a partir de 2013 passou a desenvolver o projeto de pesquisa “Nos quintais do samba da Grande Madureira”, com o objetivo de produzir arquivos e exposições virtuais sobre a região. O que observamos é que a sociabilidade registrada nestes tão variados quintais não se esgota na sua musicalidade, mas se desdobra em sua história, na memória sobre seus personagens mais ou menos conhecidos, nas reestruturações urbanas e nos seus espaços: o Mercadão de Madureira, o Viaduto Negrão de Lima, as escolas de samba, os campos de futebol, as festas religiosas, em suas atividades comerciais, entre tantos outros espaços, ações e movimentos.

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<strong>Memórias</strong>,<br />

<strong>territórios</strong>,<br />

<strong>identi<strong>da</strong>des</strong>:<br />

DIÁLOGOS ENTRE GERAÇÕES NA<br />

REGIÃO DA GRANDE MADUREIRA<br />

ANA PAULA ALVES RIBEIRO<br />

GABRIEL DA SILVA VIDAL CID<br />

GUILHERME FERREIRA VARGUES (ORGS.)


www.museuafrorio.uerj.br<br />

universi<strong>da</strong>de do estado do rio de janeiro – uerj<br />

Rua São Francisco Xavier, 524 – Bloco F<br />

Sala 9103 / Sala de Ensino e Pesquisa em Ciências Sociais<br />

Maracanã – Rio de Janeiro – CEP 20550-013<br />

e-mail: museuafrorio@gmail.com<br />

Coleção Museu Afrodigital Rio de Janeiro<br />

organização<br />

Maurício Barros de Castro<br />

Myrian Sepúlve<strong>da</strong> dos Santos<br />

revisão<br />

Marília Gonçalves<br />

projeto gráfico e diagramação<br />

Patrícia Oliveira<br />

cip-brasil. catalogação <strong>na</strong> publicação<br />

sindicato <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l dos editores de livros, rj<br />

M487<br />

<strong>Memórias</strong>, <strong>territórios</strong>, <strong>identi<strong>da</strong>des</strong> : <strong>diálogos</strong> <strong>entre</strong> <strong>gerações</strong> <strong>na</strong> região <strong>da</strong><br />

grande <strong>Madureira</strong> / organização A<strong>na</strong> Paula Alves Ribeiro , Gabriel <strong>da</strong> Silva<br />

Vi<strong>da</strong>l Cid , Guilherme Ferreira Vargues. — 1. ed. — Rio de Janeiro : Mórula,<br />

2019.<br />

348 p. ; 21 cm. (Museu Afrodigital Rio de Janeiro ; 1)<br />

Inclui bibliografia e índice<br />

ISBN 978-85-65679-84-8<br />

1. <strong>Madureira</strong> — (Rio de Janeiro, RJ) — História. 2. <strong>Madureira</strong> —<br />

(Rio de Janeiro, RJ)— Aspectos sociais. 3. Cultura popular. 4. Ciências<br />

Sociais. I. Ribeiro, A<strong>na</strong> Paula Alves. II. Cid, Gabriel <strong>da</strong> Silva Vi<strong>da</strong>l. III.<br />

Vargues, Guilherme Ferreira. IV. Série.<br />

19-55116 CDD: 306.098153<br />

CDU: 316.7(815.3)<br />

R. Teotônio Rega<strong>da</strong>s, 26/904 – Lapa – Rio de Janeiro<br />

www.morula.com.br | contato@morula.com.br


<strong>Memórias</strong>,<br />

<strong>territórios</strong>,<br />

<strong>identi<strong>da</strong>des</strong>:<br />

DIÁLOGOS ENTRE GERAÇÕES NA<br />

REGIÃO DA GRANDE MADUREIRA<br />

ANA PAULA ALVES RIBEIRO<br />

GABRIEL DA SILVA VIDAL CID<br />

GUILHERME FERREIRA VARGUES (ORGS.)


conselho mórula editorial<br />

Eduardo Granja Coutinho<br />

José Paulo Netto<br />

Lia Rocha<br />

Márcia Leite<br />

Mauro Iasi<br />

Virgínia Fontes<br />

coorde<strong>na</strong>ção colegia<strong>da</strong><br />

conselho curador e de re<strong>da</strong>ção<br />

A<strong>na</strong> Paula Pereira <strong>da</strong> Gama Alves Ribeiro (FEBF/UERJ)<br />

Gabriel <strong>da</strong> Silva Vi<strong>da</strong>l Cid (PPCIS/UERJ)<br />

Guilherme Ferreira Vargues (EDU/UERJ)<br />

Maria Alice Rezende Gonçalves (EDU/UERJ)<br />

Mauricio Barros de Castro (ART/UERJ)<br />

Myrian Sepúlve<strong>da</strong> dos Santos (ICS/UERJ)<br />

conselho editorial<br />

Andréa Lopes <strong>da</strong> Costa Vieira (UNIRIO)<br />

Ângela Maria de Souza (UNILA)<br />

Antonio Motta (UFPE)<br />

Carla Dias (UFRJ)<br />

Edson Silva de Farias (UnB)<br />

Julie Cavig<strong>na</strong>c (UFRN)<br />

Isis Barra Costa (Ohio State University)<br />

Livio Sansone (UFBA)<br />

Mário Chagas (UNIRIO)<br />

Paulo Peixoto (CES/Universi<strong>da</strong>de de Coimbra)<br />

Sabri<strong>na</strong> Marques Parracho Sant'An<strong>na</strong> (UFRRJ)<br />

Sérgio Ferretti (UFMA) (In Memoriam)<br />

Simone Pondé Vassallo (UFF)


s u m á r i o<br />

7 “Pelos sete lados eu vou te cercar”: os quintais<br />

<strong>da</strong> <strong>Grande</strong> <strong>Madureira</strong> como uma encruzilha<strong>da</strong> de pesquisa<br />

a<strong>na</strong> paula alves ribeiro, gabriel cid e guilherme vargues<br />

PREFÁCIO<br />

21 “Vou sambar em <strong>Madureira</strong>”<br />

rachel valença<br />

PARTE 1 | HISTÓRIA E MEMÓRIA DA GRANDE MADUREIRA<br />

25 Samba, história e territoriali<strong>da</strong>de: uma história <strong>da</strong> <strong>Grande</strong> <strong>Madureira</strong><br />

washington dener dos santos cunha<br />

41 Das fazen<strong>da</strong>s à “capital do subúrbio”:<br />

a formação do bairro de <strong>Madureira</strong><br />

inoã pierre carvalho urbi<strong>na</strong>ti<br />

60 O lugar <strong>da</strong> memória <strong>Madureira</strong>: características origi<strong>na</strong>is <strong>da</strong> formação<br />

do bairro; a centrali<strong>da</strong>de de <strong>Madureira</strong> no cenário urbano dos<br />

subúrbios e <strong>na</strong> cultura carioca; <strong>Madureira</strong>, futebol, Che Guevara<br />

e Zaquia Jorge: a construção de um imaginário de resistência<br />

antonio edmilson martins rodrigues<br />

68 Fontes em fluxo e em perspectiva: uma análise antropológica<br />

de alguns dos <strong>territórios</strong> de “Maria Sapeca”<br />

alline torres dias <strong>da</strong> cruz<br />

PARTE 2 | DIVERSIDADE E USOS DO TERRITÓRIO<br />

93 As três comuni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Serrinha<br />

javier lifschitz<br />

108 A reconstrução de <strong>Madureira</strong> enquanto bairro,<br />

marca e mercadoria urbanística<br />

joão felipe p. brito<br />

130 <strong>Madureira</strong>: quintal <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de!<br />

rodrigo reduzino<br />

141 O efeito do lugar <strong>na</strong> ci<strong>da</strong>de do Rio de Janeiro<br />

rolf malungo de souza


PARTE 3 | MEMÓRIA E RESISTÊNCIA NAS PRÁTICAS DO SAMBA<br />

161 “Escolas de memória”: saberes e fazeres do samba em <strong>Madureira</strong><br />

márcia leitão pinheiro<br />

193 Império do futuro: Um olhar sobre a juventude do samba<br />

valdemir dos santos lino (priminho <strong>da</strong> serrinha)<br />

196 A resistência do samba nosso de ca<strong>da</strong> dia, no subúrbio carioca<br />

elias josé alfredo<br />

201 A velha guar<strong>da</strong> como sentinela: Festa, memória e sociabili<strong>da</strong>de<br />

<strong>na</strong>s “comuni<strong>da</strong>des” <strong>da</strong> Portela<br />

fábio pavão<br />

219 De Paulo a Candeia, um projeto de Escola de Samba e sua crise<br />

guilherme ferreira vargues<br />

251 “O Menino de 47”: sobre a velha guar<strong>da</strong> e as redes sociabili<strong>da</strong>de<br />

do mundo do samba<br />

maria alice rezende gonçalves e sormani <strong>da</strong> silva<br />

270 A ro<strong>da</strong> <strong>da</strong>s do<strong>na</strong>s: a mulher negra e as suas estratégias<br />

de sobrevivência<br />

vanessa soares <strong>da</strong> silva<br />

PARTE 4 | SONS E IMAGENS DO SUBÚRBIO E DA CULTURA POPULAR<br />

287 Cruzamentos, trânsitos, <strong>na</strong>rrativas e <strong>identi<strong>da</strong>des</strong> em três filmes<br />

ou os caminhos que nos levam a <strong>Madureira</strong><br />

a<strong>na</strong> paula alves ribeiro<br />

301 Som e imagem como resgate de uma memória e visibili<strong>da</strong>de<br />

de uma cultura<br />

filó filho<br />

304 Na cadência bonita do samba: outras possibili<strong>da</strong>des<br />

de viver e de pensar o mundo<br />

valter filé<br />

320 Dos modos de regulagem <strong>da</strong> visão. A produção de espaço<br />

pela imagem no projeto “Meu bairro vale um filme”<br />

marcio blanco<br />

332 Nos quintais <strong>da</strong> Casa do Artista Independente<br />

flávio lima<br />

343 SOBRE OS AUTORES


“Pelos sete lados eu vou te cercar”:<br />

os quintais <strong>da</strong> grande madureira como<br />

uma encruzilha<strong>da</strong> de pesquisa<br />

a<strong>na</strong> paula alves ribeiro • gabriel <strong>da</strong> silva vi<strong>da</strong>l cid •<br />

guilherme ferreira vargues<br />

A proposta deste livro foi reunir uma série de textos, experiências e visões<br />

<strong>da</strong> <strong>Região</strong> <strong>da</strong> <strong>Grande</strong> <strong>Madureira</strong> como uma encruzilha<strong>da</strong>, um ponto que<br />

propicia <strong>diálogos</strong> e permite várias direções. Nas religiões que chamamos<br />

genericamente como de matriz africa<strong>na</strong>, a encruzilha<strong>da</strong> representa um lugar<br />

de encontro de caminhos que não se fecham neles mesmos. Como se diz,<br />

quem lá mora atira a pedra hoje para acertar amanhã. Nas doutri<strong>na</strong>s e rituais<br />

que se recriam e reproduzem a específica memória <strong>da</strong> tradição africa<strong>na</strong> no<br />

Brasil, entende-se que as encruzilha<strong>da</strong>s têm seus moradores e delimita-se<br />

um lugar em sua especifici<strong>da</strong>de. Perseguindo esta concepção, propõe-se a<br />

tentativa de passagem por essa encruzilha<strong>da</strong> chama<strong>da</strong> <strong>Madureira</strong>, <strong>na</strong> busca<br />

pela compreensão do complexo social que reitera uma memória específica de<br />

lugar, como um lugar de memória que no conjunto de seus rastros do passado<br />

se atualiza, delineando, a partir desta ritualística de trazer ao presente, o<br />

passado, um lugar social.<br />

Essa busca surgiu <strong>da</strong>s pesquisas e encontros propiciados pelo Museu<br />

Afrodigital Rio de Janeiro 1 , que a partir de 2013 passou a desenvolver o<br />

projeto de pesquisa “Nos quintais do samba <strong>da</strong> <strong>Grande</strong> <strong>Madureira</strong>” 2 , visando<br />

1<br />

www.museuafrorio.uerj.br<br />

2<br />

Para o desenvolvimento <strong>da</strong>s ações de pesquisa, tivemos o fi<strong>na</strong>nciamento dos projetos, coorde<strong>na</strong>dos<br />

pela professora Myrian Sepúlve<strong>da</strong> dos Santos (ICS/UERJ): Museu Afrodigital Rio de<br />

Janeiro: memória <strong>entre</strong> <strong>gerações</strong> nos quintais do samba <strong>da</strong> <strong>Grande</strong> <strong>Madureira</strong>, aprovado no edital<br />

Faperj N.º 03/2013 programa “Apoio a projetos temáticos no estado do Rio de Janeiro —<br />

2013”; Museu Afrodigital Rio: Arquivos de expressões musicais de matriz africa<strong>na</strong> / <strong>Grande</strong> <strong>Madureira</strong>,<br />

aprovado no edital Minc/UFPE 2013: “Preservação e acesso aos bens do patrimônio<br />

Afrobrasileiro”; e Nos quintais do samba <strong>da</strong> <strong>Grande</strong> <strong>Madureira</strong>: memória, história e imagens de<br />

ontem e hoje, aprovado no edital FAPERJ No 42/2014 — Programa: Apoio à Produção e Publicação<br />

de Livros e DVDs Visando à Celebração dos 450 Anos <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de do Rio de Janeiro: 2014.<br />

7


produzir arquivos e exposições virtuais sobre a região. Em nossa busca desta<br />

ritualística, o quintal surgiu como um lugar para nossa reflexão, organizando<br />

as ideias sobre uma <strong>na</strong>rrativa de <strong>Madureira</strong>. A ideia de quintal enquanto lugar<br />

mítico de surgimento do samba no Rio de Janeiro, em sua interoperabili<strong>da</strong>de<br />

com outras práticas, nos levou a problematizar as tradicio<strong>na</strong>is <strong>na</strong>rrativas de<br />

espaço público e privado. A partir de práticas atuais, <strong>na</strong>rrativas e lembranças<br />

inscritas no e pelo território, podemos entender o quintal enquanto lugar<br />

ideal no passado de surgimento <strong>da</strong>s instituições de empoderamento <strong>da</strong><br />

população negra no Rio de Janeiro. O quintal requer pensar no <strong>entre</strong>cruzamento<br />

realizado <strong>entre</strong> o espaço privado e também público, tanto no religioso<br />

quanto no festivo, que deu as bases para a fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> experiência religiosa<br />

dos negros no espaço urbano, ou <strong>da</strong>s associações que viriam a se consagrar<br />

no formato <strong>da</strong>s escolas de samba no Rio de Janeiro ao longo do século XX.<br />

Na região de <strong>Madureira</strong> e suas proximi<strong>da</strong>des, viu-se surgir em seus quintais,<br />

como numa encruzilha<strong>da</strong> de tempo e espaço, a capaci<strong>da</strong>de de fun<strong>da</strong>r<br />

instituições que hoje são símbolos <strong>da</strong> cultura popular carioca. E dessa forma,<br />

novamente, o quintal, ao confundir o lugar do público e do privado, nos levou<br />

à encruzilha<strong>da</strong>. Com outros contornos, a encruzilha<strong>da</strong> tor<strong>na</strong>-se momentos<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de decisão, quando caminhos e direções se apresentam, momentos<br />

nos quais temos dúvi<strong>da</strong>s, podemos seguir, podemos voltar, mas <strong>na</strong> movimentação<br />

que significa que não conseguimos/podemos ficar parados. Somos<br />

instados a prosseguir.<br />

É a encruzilha<strong>da</strong> a metáfora que recoloca as <strong>identi<strong>da</strong>des</strong> e memórias do<br />

lugar no contínuo processo de atualização de tradições que caracterizam<br />

as diversas ações dos sujeitos marcados por elas. É neste sentido, o de estar<br />

neste lugar de movimento, que perguntamos: qual o impacto <strong>da</strong>s memórias<br />

e ações coletivas <strong>na</strong> vi<strong>da</strong> dos que passam por essa encruzilha<strong>da</strong> nos dias de<br />

hoje? Que instituições e práticas atuam neste específico território, cruzamento<br />

de caminhos <strong>da</strong> topografia <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e situados numa específica<br />

relação do tempo e espaço?<br />

Como se pode ler em alguns capítulos deste livro, <strong>Madureira</strong> é um ponto<br />

de encontro dos caminhos de construção <strong>da</strong> geografia carioca ao longo de<br />

sua história. Também é um lugar fun<strong>da</strong>mental <strong>na</strong> história afro-carioca, assim<br />

como <strong>na</strong> geografia do samba carioca. Se é passagem <strong>da</strong> longa linha <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong><br />

de Ferro Central do Brasil (d<strong>entre</strong> outros ramais), por ela também passam<br />

8


os caminhos que ligam a Baixa<strong>da</strong> de Jacarepaguá aos antigos portos do fundo<br />

<strong>da</strong> Baía de Gua<strong>na</strong>bara. A região que hoje chamamos de <strong>Grande</strong> <strong>Madureira</strong><br />

também assistiu, no fi<strong>na</strong>l do século XIX, aos seus caminhos serem cruzados<br />

pelos trens em detrimento dos bondes e, no século XXI, assiste à junção do<br />

bonde ao trem, próximo ao entroncamento atual dos novos BRTs com as<br />

linhas férreas. Ela também foi pioneira <strong>na</strong> definição <strong>da</strong>s escolas de samba<br />

como importantes marcos culturais e identitários, esteve <strong>na</strong> vanguar<strong>da</strong> do<br />

encontro que transformou as marcas de origem africa<strong>na</strong> em ativos para o<br />

reconhecimento de to<strong>da</strong> uma parcela <strong>da</strong> população que deve e ain<strong>da</strong> precisa<br />

ser reconheci<strong>da</strong> como agente de real definição destas práticas.<br />

Evitando os trabalhos que buscam essencialismos, são raros os que<br />

conseguem identificar a agência conti<strong>da</strong> <strong>na</strong> definição dos projetos destas<br />

práticas, ti<strong>da</strong>s como populares, e reconhecem os créditos do passado dos<br />

descendentes dos africanos no Brasil como construtores <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de de<br />

um Rio de Janeiro que se mostra superficial ao desatento olhar. Caminhar em<br />

<strong>Madureira</strong>, seja pelo tempo, seja pelo espaço, é desven<strong>da</strong>r cama<strong>da</strong>s, adentrar<br />

o profundo <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de e memória carioca, é mergulhar <strong>na</strong>s entranhas<br />

tocando temas que são evitados muitas vezes <strong>na</strong> dita ci<strong>da</strong>de moder<strong>na</strong> tão<br />

deseja<strong>da</strong> ao longo <strong>da</strong> história e em relatos de um Rio de Janeiro exclusivo<br />

de praias. Que se pense sobre o recorte recentemente reconhecido como<br />

Paisagem Cultural pela Unesco 3 . Que paisagem proposta é essa que não se<br />

encontra com <strong>Madureira</strong>, por exemplo? De qualquer forma, ressaltamos,<br />

não é possível passar por <strong>Madureira</strong> e não ser tocado pelas suas dimensões<br />

do tempo, pelos espaços. Falar em tempo e espaço aqui é chamar a atenção<br />

para a possibili<strong>da</strong>de de olhares e <strong>na</strong>rrativas que singularizam o território de<br />

<strong>Madureira</strong> <strong>na</strong> construção de um objeto e uma identi<strong>da</strong>de.<br />

Passar pela encruzilha<strong>da</strong> <strong>Madureira</strong> é reconhecer diversos papéis e<br />

perso<strong>na</strong>gens: o dos quintais, <strong>da</strong> presença <strong>da</strong>s mulheres em to<strong>da</strong>s as suas<br />

dimensões, <strong>da</strong> musicali<strong>da</strong>de, dos compositores e <strong>da</strong>s quituteiras que nos<br />

3<br />

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacio<strong>na</strong>l (Iphan) apresentou a candi<strong>da</strong>tura<br />

“Rio de Janeiro: Paisagens Cariocas <strong>entre</strong> a Montanha e o Mar” em 2009, aprova<strong>da</strong><br />

em julho de 2012, <strong>na</strong> sessão do Comitê do Patrimônio Mundial <strong>da</strong> Unesco. A “paisagem<br />

cultural <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de do Rio de Janeiro” <strong>da</strong> candi<strong>da</strong>tura vitoriosa engloba a zo<strong>na</strong> sul do Rio<br />

de Janeiro e a porção oeste de Niterói. Disponível em: . Acesso em 7 de março de 2016.<br />

“Pelos sete lados eu vou te cercar”: os quintais <strong>da</strong> <strong>Grande</strong> <strong>Madureira</strong><br />

como uma encruzilha<strong>da</strong> de pesquisa<br />

9


levam a confundir o que é público e o que é privado; <strong>da</strong>s práticas religiosas<br />

que se mostram <strong>entre</strong> o segredo contido <strong>na</strong> iniciação e o mercado popular.<br />

No território <strong>entre</strong> o roncó e a esqui<strong>na</strong> há uma mediação necessária que se fez<br />

basea<strong>da</strong> em premissas identitárias sempre abertas ao risco. Pensar em risco<br />

é ressaltar que não existe cultura estática, que os símbolos estruturantes <strong>da</strong><br />

cultura também estão sempre em “risco” 4 .<br />

Nossa proposta de trabalho pode ser entendi<strong>da</strong> como uma busca de<br />

reconhecimento de que a tradicio<strong>na</strong>l forma de se entender espaço público<br />

e privado, nos termos de uma clássica oposição impactando <strong>na</strong> definição<br />

<strong>da</strong> casa e a rua, nos moldes do ideário burguês, precisa ser requalifica<strong>da</strong>.<br />

Preferimos trazer mais a ideia de dialéticas <strong>entre</strong> estes lugares do que a<br />

oposição, como relativamente conhecido no clássico debate que trata a<br />

ci<strong>da</strong>de planifica<strong>da</strong> e homogeneiza<strong>da</strong> numa leitura de duali<strong>da</strong>de <strong>entre</strong> tradicio<strong>na</strong>l<br />

e moderno. Ressaltamos que, de uma maneira geral, teorias mais<br />

contemporâneas já entendem que estes mundos não vivem em oposição ou<br />

estanques, mas sim em constante recriação de si próprios quanto às suas<br />

fronteiras. Destacar este ponto é ressaltar que não buscamos uma <strong>Madureira</strong><br />

essencial, mas sim a extrapolação do debate sobre seu território para reforçar<br />

a tese de que vivemos um momento de transformação <strong>na</strong>s experiências de<br />

ci<strong>da</strong>de. Novamente, buscando a importância de perceber um caráter mais<br />

híbrido do lugar que enseja capaci<strong>da</strong>des diferencia<strong>da</strong>s às biografias e expondo<br />

fraturas enraiza<strong>da</strong>s que leituras ain<strong>da</strong> etapistas cismam em enxergar como<br />

um caminho único. Trabalhar com a memória do lugar pode aquecer uma<br />

história que se propunha insensível aos relatos subterrâneos e lembra-nos<br />

<strong>da</strong> importância do reconhecimento de memórias e diferentes formas de<br />

entendimentos com esta própria memória.<br />

Embora não tenhamos mais a possibili<strong>da</strong>de de pensar a memória como<br />

algo <strong>da</strong>do pelo passado sem um mínimo processo de mediação pelo presente,<br />

falar em memória de um lugar invariavelmente chama o reconhecimento do<br />

nosso próprio passado ao debate. Neste sentido, vale lembrar que este reconhecimento<br />

se preenche de características duplamente “outra”: é ausente<br />

e anterior (Ricoeur, 2007). Reconhecemos o outro como constituinte de<br />

4<br />

Como Sahlins (2004) propõe, a ideia de colocar em “risco” inspira-se no entendimento de<br />

que to<strong>da</strong> “ação histórica é uma relação com a ordem cultural”.<br />

10


nosso passado, mas exterior. Ao que parece, observamos um caminho<br />

aparentemente contraditório, ao mesmo tempo em que nos encaixamos<br />

num contínuo civilizacio<strong>na</strong>l, como proposto por Nobert Elias 5 , encaixamos<br />

crescentemente a memória em “lugares de memória” (Nora, 1993), sendo<br />

ca<strong>da</strong> vez mais constitutiva de processos de identificação e reconhecimento.<br />

Todo processo de musealização e reconhecimento de <strong>Madureira</strong> como lugar<br />

de memória <strong>da</strong> cultura afro-brasileira, afro-carioca, do samba (d<strong>entre</strong> tantas<br />

outras) é próprio disso.<br />

A partir <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> metade do século XX, os estudos sobre a memória<br />

ganham novo ímpeto 6 . A partir <strong>da</strong> crítica de autores como Michel Foucault<br />

e Jacques Derri<strong>da</strong>, a dita “neutrali<strong>da</strong>de” científica é reavalia<strong>da</strong> e a memória<br />

ressurge como objeto de estudo <strong>na</strong> busca do entendimento <strong>da</strong>s estruturas<br />

sociais, em especial <strong>na</strong>s estruturas de produção de <strong>na</strong>rrativas. Estes estudos<br />

podem ser entendidos dentro do que alguns autores chamam de “gui<strong>na</strong><strong>da</strong><br />

subjetiva” (Sarlo, 2007), quando novos objetos de pesquisa passam a ser valorizados.<br />

Estudos sobre memória e história oral ganham impulso e, embora não<br />

fossem novi<strong>da</strong>de neste momento, passam a influenciar ao apresentar novos<br />

sujeitos de pesquisa que requerem uma nova conceituação do lugar <strong>da</strong> estrutura<br />

e do indivíduo, conceitos basilares <strong>na</strong> teoria social, também repensados.<br />

Coetâneos aos estudos no campo <strong>da</strong>s ciências huma<strong>na</strong>s sobre a memória<br />

coletiva, os diversos usos <strong>da</strong> memória também ganham força, vinculados a<br />

diversos fatores e associados a uma ideia de saturação do presente como fim.<br />

Nesse caminho, o passado ganha ares de ativo <strong>na</strong> valorização social de grupos,<br />

tanto em deman<strong>da</strong>s políticas por reconhecimento e reparação, quanto em<br />

usos comerciais dos mais diversos. Estas <strong>na</strong>rrativas rechea<strong>da</strong>s de categorias<br />

muito relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s ao tratado como memória, passado de exclusão e<br />

5<br />

Elias (1994) promove uma ampliação no debate sobre civilização ao trazê-la como um<br />

fenômeno do ocidente, uma expressão de “consciência que o Ocidente tem de si mesmo”.<br />

Civilização assume um conjunto de técnicas, hábitos, maneiras de agir próprios de um<br />

desenvolvimento no ocidente. Entretanto, importante colocar, ele não vê um processo<br />

concluído, mas em construção que vem sendo posto em relação a outros fenômenos.<br />

6<br />

Desde Maurice Halbwacs, com sua discussão semi<strong>na</strong>l fortemente influencia<strong>da</strong> por<br />

Durkheim e sua concepção de organici<strong>da</strong>de <strong>entre</strong> a memória e a socie<strong>da</strong>de, diversos autores<br />

vêm discutindo o conceito de memória coletiva. A partir <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> metade do século XX,<br />

este conceito vem sendo ca<strong>da</strong> vez mais pensado em relação às estruturas de poder. Para<br />

uma revisão desta literatura, ver Santos (2003).<br />

“Pelos sete lados eu vou te cercar”: os quintais <strong>da</strong> <strong>Grande</strong> <strong>Madureira</strong><br />

como uma encruzilha<strong>da</strong> de pesquisa<br />

11


identi<strong>da</strong>de são importantes marcos <strong>na</strong> experiência de compartilhamento de<br />

um tempo comum. A reprodução deste tempo comum para além <strong>da</strong> demarcação<br />

de marcos identitários será essencial <strong>na</strong> definição de projetos pessoais<br />

e coletivos. Para autores preocupados com a construção de sínteses teóricas<br />

como Pierre Bourdieu, Anthony Giddens ou Nobert Elias, estes projetos são<br />

essenciais <strong>na</strong> definição dos lugares sociais. Mais do que nunca faz sentido<br />

entendermos a memória como uma relação do que nos chega por algo como<br />

um habitus, uma predisposição estruturante. Não obstante todo o trabalho de<br />

desconstrução <strong>da</strong> categoria tempo — <strong>na</strong>turalizado —, não se nega o peso <strong>da</strong><br />

história como um importante mecanismo <strong>na</strong> definição <strong>da</strong>s sensibili<strong>da</strong>des e<br />

capaci<strong>da</strong>des. A todo momento estamos sendo tocados pelo passado, e acrescenta-se<br />

que este tempo, compreendido como passado, é sentido de forma<br />

coletiva, evidentemente numa relação com o individual. Esta percepção de<br />

tempo relacio<strong>na</strong>-se com um habitus que só se constitui no coletivo 7 .<br />

Seguindo, os lugares de memória serão sempre uma relação <strong>entre</strong> as<br />

circunstâncias apresenta<strong>da</strong>s do que teríamos e a capaci<strong>da</strong>de de lembrar. A<br />

ci<strong>da</strong>de <strong>na</strong>rra<strong>da</strong> (a escrita <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de) é construí<strong>da</strong> nessa relação que gera determi<strong>na</strong><strong>da</strong>s<br />

sensibili<strong>da</strong>des urba<strong>na</strong>s que podem ser li<strong>da</strong>s <strong>na</strong>s relações sociais<br />

<strong>entre</strong> os sujeitos históricos e a ci<strong>da</strong>de.<br />

A ci<strong>da</strong>de em sua complexi<strong>da</strong>de que multiplica os encontros reforça que<br />

an<strong>da</strong>r, viver, pesquisar e <strong>na</strong>rrar (em) <strong>Madureira</strong> é ser tocado pela efetivação<br />

de um habitus que caminha <strong>na</strong>s brechas, brechas por vezes escancara<strong>da</strong>s aos<br />

que enxergam (aqui, no limite, não há mistério, há segredo). Brechas que nos<br />

lembram <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de em pensar <strong>identi<strong>da</strong>des</strong> híbri<strong>da</strong>s e múltiplas, repletas<br />

<strong>da</strong> experiências <strong>da</strong> diáspora 8 . As memórias e as <strong>identi<strong>da</strong>des</strong> acio<strong>na</strong><strong>da</strong>s em<br />

7<br />

Individualmente, o sujeito é incapaz de formular a noção de tempo, assim como a instituição<br />

social. Elias (1998) pontua que o tempo se estabeleceria individualmente no ser<br />

humano, pois é sempre adquirido <strong>na</strong> forma de um habitus que coercitivamente autodiscipli<strong>na</strong><br />

o sujeito, desde a sua infância, quando se relacio<strong>na</strong> de determi<strong>na</strong><strong>da</strong> forma com fenômenos<br />

<strong>na</strong>turais que são colocados socialmente como tempo. Nesse sentido o tempo, o<br />

passado, a memória não é exterior ao sujeito.<br />

8<br />

Stuart Hall (2003) usa o termo diáspora para a experiência <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des negras caribenhas<br />

<strong>na</strong> Inglaterra em diálogo com a obra de Paul Gilroy (2004) e sua concepção de Atlântico<br />

Negro. Para este autor, as “culturas do Atlântico negro criaram veículos de consolação<br />

através <strong>da</strong> mediação do sofrimento” e, assim, a ideia de diáspora permite pensar este<br />

processo político como multicentrado.<br />

12


práticas que se efetivam no território de <strong>Madureira</strong> como símbolos de um<br />

passado por vezes idealizado, mas repletas de releituras. Nas experiências de<br />

diáspora que as brechas nos permitem acessar, as <strong>identi<strong>da</strong>des</strong> se constroem<br />

por vetores que, devido à complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> experiência contemporânea, hora<br />

reforçam o passado, hora incluem novas forças identitárias. Ou seja, se a<br />

diáspora, como afirma Stuart Hall (2003), traz em si a ideia de deslocamento,<br />

sensação extremamente moder<strong>na</strong> 9 , repleta <strong>da</strong> metáfora do retorno redentor,<br />

as <strong>identi<strong>da</strong>des</strong> negras em <strong>Madureira</strong> significam uma promessa de restauração<br />

do mito originário, onde a pureza africa<strong>na</strong> assume um sentido restaurador.<br />

É evidente que todo esse percurso se dá em meio às contradições <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de<br />

Rio de Janeiro.<br />

Ain<strong>da</strong> <strong>na</strong> ideia de diáspora proposta por Hall (2003), vale lembrar do<br />

caráter profano <strong>da</strong> relação com a terra. Pois é a África o signo de pureza, sendo<br />

a experiência <strong>na</strong> América o lugar <strong>da</strong> experiência <strong>da</strong> violência, do cativeiro, <strong>da</strong><br />

dessacralização. As práticas de origem negra poderiam assim ser entendi<strong>da</strong>s<br />

rechea<strong>da</strong>s com o projeto do retorno, mas um retorno que se dá em constante<br />

tensão, <strong>na</strong> mediação <strong>entre</strong> projetos e possibili<strong>da</strong>des. Essa mediação gerou<br />

lugares permeados por especifici<strong>da</strong>des que produziram <strong>identi<strong>da</strong>des</strong> ancora<strong>da</strong>s<br />

<strong>na</strong>s experiências de africanos e seus descendentes no Rio de Janeiro.<br />

Esse território negro, onde o terreiro é o lugar por excelência de guar<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

memória e <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de africa<strong>na</strong> segundo Muniz Sodré (2002), transferiu<br />

legitimi<strong>da</strong>de e força identitária a outras instituições <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, organizando<br />

o território do subúrbio. Num projeto político fun<strong>da</strong>mental <strong>na</strong> elaboração<br />

<strong>da</strong>s <strong>identi<strong>da</strong>des</strong> tanto <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de como <strong>da</strong>s específicas comuni<strong>da</strong>des, estes<br />

<strong>territórios</strong> mol<strong>da</strong>ram biografias e subjetivi<strong>da</strong>des para além <strong>da</strong>s instituições<br />

a que pertenciam.<br />

Uma <strong>da</strong>s consequências mais visíveis <strong>da</strong> organização <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> popular<br />

nos subúrbios, com seus <strong>territórios</strong> negros, é o surgimento de destaca<strong>da</strong>s<br />

lideranças populares que têm presença ativa <strong>na</strong> história social <strong>da</strong> região de<br />

<strong>Madureira</strong>. Estas lideranças vão tomando papel de intelectuais, tal como<br />

aporta Gramsci (1989), organizadores <strong>da</strong> cultura. Vão se destacando em<br />

9<br />

Ain<strong>da</strong> que não esteja presente em Stuart Hall, buscamos aqui uma aproximação com a<br />

proposta de Giddens (1991) quando afirma que a moderni<strong>da</strong>de é marca<strong>da</strong> por experiências<br />

de desencaixe e reencaixe.<br />

“Pelos sete lados eu vou te cercar”: os quintais <strong>da</strong> <strong>Grande</strong> <strong>Madureira</strong><br />

como uma encruzilha<strong>da</strong> de pesquisa<br />

13


especial pela sua capaci<strong>da</strong>de de mediar as relações <strong>entre</strong> os subúrbios, as<br />

zo<strong>na</strong>s centrais e os bairros de elite. É muito importante a compreensão<br />

destas trajetórias que <strong>na</strong> análise <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de um indivíduo destacado em seu<br />

grupo apontam elementos no<strong>da</strong>is para a compreensão <strong>da</strong>s transformações<br />

sociais que envolvem a história <strong>da</strong> região e do restante <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Esse<br />

universo envolve tias de santo, grandes lideranças sambistas, compositores<br />

e contraventores. Ao a<strong>na</strong>lisar a trajetória de algumas destas perso<strong>na</strong>gens,<br />

pensamos também em seguir um certo habitus que se elaborou e se reelabora<br />

historicamente no bairro. Esse tipo de pesquisa e análise aju<strong>da</strong> a compreender<br />

as estratégias elabora<strong>da</strong>s pelo povo de <strong>Madureira</strong> para negociar sua<br />

complexa inserção <strong>na</strong> ci<strong>da</strong>de.<br />

Como os textos aqui reunidos demonstram, temos uma ampla gama de<br />

“<strong>Madureira</strong>s” em diálogo. E as diversas agen<strong>da</strong>s <strong>na</strong> qual a região se insere. Os<br />

trabalhos propostos falam <strong>da</strong>s suas transformações urbanísticas, <strong>da</strong> história<br />

dos seus perso<strong>na</strong>gens e <strong>da</strong>s figuras históricas, canta<strong>da</strong>s em prosa e verso ou<br />

autores destas mesmas. Falam também dos seus lugares de referência, sua<br />

musicali<strong>da</strong>de, d<strong>entre</strong> tantas outras pesquisas que não esgotam o que o bairro<br />

é. O jongo, a construção do jongo <strong>da</strong> Serrinha, as escolas de samba, o jogo do<br />

bicho, a umban<strong>da</strong> e o candomblé, seus quintais e terreiros, o Mercadão de<br />

<strong>Madureira</strong> e o extenso comércio do bairro, as lojas de artigos afrorreligiosos<br />

além <strong>da</strong>s dimensões que ficaram de fora como o baile, o Museu do Jongo, as<br />

imagens do bairro.<br />

Os artigos apontam leituras que se encontram sobrepostas, em disputas,<br />

em diálogo. Quem está perto, quem está longe, quem é de dentro, quem é<br />

de fora, quem mergulhou em <strong>Madureira</strong> por ter vivido e/ou por ter estu<strong>da</strong>do<br />

os bairros, seus moradores, suas instituições, festas e possibili<strong>da</strong>des de<br />

encontro, quem ali <strong>na</strong>sceu, chegou ou foi adotado. Até quando as reflexões<br />

parecem não <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des de entender a grande <strong>Madureira</strong>,<br />

é desta região que estamos falando. <strong>Madureira</strong>, para estes autores, não está<br />

isola<strong>da</strong>. Funcio<strong>na</strong> e trabalha <strong>na</strong>s suas redes, nos seus encaixes.<br />

Longe de esgotar o tema, a proposta de reflexão joga com o desven<strong>da</strong>mento<br />

de cama<strong>da</strong>s e relações que tem feito de <strong>Madureira</strong> um bairro<br />

paradigmático do subúrbio. Assim como “O meu lugar”, é um lugar identificado<br />

com todos, podendo servir como trilha de pertencimento àqueles que<br />

escrevem sobre o subúrbio. Pode estar <strong>na</strong> novela Aveni<strong>da</strong> Brasil (2012), que<br />

14


tem suas primeiras ce<strong>na</strong>s inspira<strong>da</strong>s no clipe <strong>da</strong> música de Arlindo Cruz, ou<br />

<strong>na</strong> novela juvenil Malhação (2016). “O meu lugar” é resumo e representante<br />

de um subúrbio idealizado/tipo ideal. A proposta weberia<strong>na</strong> de construção do<br />

conhecimento, o tipo ideal nos aju<strong>da</strong> a compreender <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que mais<br />

perto do objeto chegamos com nossa construção, de modo que por via <strong>da</strong>s<br />

dúvi<strong>da</strong>s vamos tentar o “pelos sete lados eu vou te cercar”. Linguagem do jogo<br />

do bicho? Tentativa de <strong>da</strong>r conta do complexo, do impossível, <strong>da</strong>s inúmeras e<br />

infinitas cama<strong>da</strong>s que <strong>Madureira</strong>, assim como o próprio subúrbio, traz em si.<br />

O que observamos é que a sociabili<strong>da</strong>de registra<strong>da</strong> nestes tão variados<br />

quintais não se esgota <strong>na</strong> sua musicali<strong>da</strong>de, mas se desdobra em sua história,<br />

<strong>na</strong> memória sobre seus perso<strong>na</strong>gens mais ou menos conhecidos, <strong>na</strong>s reestruturações<br />

urba<strong>na</strong>s e nos seus espaços: o Mercadão de <strong>Madureira</strong>, o Viaduto<br />

Negrão de Lima, as escolas de samba, os campos de futebol, as festas religiosas,<br />

em suas ativi<strong>da</strong>des comerciais, <strong>entre</strong> tantos outros espaços, ações e<br />

movimentos. Nas tantas <strong>Madureira</strong>s que não couberam no livro, <strong>da</strong>s encruzilha<strong>da</strong>s<br />

que nos levam aos vários quintais, fica aqui o registro por outros<br />

objetos desta agen<strong>da</strong> de pesquisa.<br />

* * *<br />

Destacamos que <strong>Madureira</strong> nos fala a todo o tempo de um complexo<br />

de difícil demarcação. A partir disso, neste livro, trazemos um conjunto de<br />

autores que participaram de um seminário organizado <strong>na</strong> Universi<strong>da</strong>de do<br />

Estado do Rio de Janeiro (UERJ) sobre a região <strong>da</strong> <strong>Grande</strong> <strong>Madureira</strong>. E neste<br />

sentido, como o passar pela encruzilha<strong>da</strong> que descrevemos acima, todos os<br />

autores foram tocados de alguma forma pelas questões que emergem <strong>na</strong><br />

região <strong>da</strong> <strong>Grande</strong> <strong>Madureira</strong>, como ponto de encontro do subúrbio, neste<br />

grande quintal.<br />

A proposta de reunir pesquisadores e lideranças <strong>da</strong> região <strong>da</strong> <strong>Grande</strong><br />

<strong>Madureira</strong> e do subúrbio carioca em um seminário em novembro de 2014<br />

<strong>na</strong>sceu <strong>da</strong> vontade de um grupo de pesquisadores do Museu Afrodigital Rio de<br />

Janeiro em entender os processos sociais envolvidos <strong>na</strong> definição <strong>da</strong> memória<br />

afro-brasileira no subúrbio carioca e suas implicações. Entendiam a <strong>Grande</strong><br />

<strong>Madureira</strong> como inspiração para <strong>na</strong>rrar processos sociais que resultam <strong>na</strong><br />

“Pelos sete lados eu vou te cercar”: os quintais <strong>da</strong> <strong>Grande</strong> <strong>Madureira</strong><br />

como uma encruzilha<strong>da</strong> de pesquisa<br />

15


definição de determi<strong>na</strong><strong>da</strong> memória coletiva e identi<strong>da</strong>de. Neste sentido,<br />

o grupo de pesquisa pensou em um seminário com a intenção de reunir<br />

intelectuais que tivessem o que falar sobre a região tanto numa perspectiva<br />

histórica, quanto depoimentos de ações que vinham se desenvolvendo ali.<br />

O III Seminário Afro-carioca — Nos quintais <strong>da</strong> <strong>Grande</strong> <strong>Madureira</strong> propiciou<br />

a reunião de diferentes perspectivas sobre aquele espaço, gerando um<br />

acúmulo de conhecimento que julgamos interessante ser compartilhado<br />

com um público mais amplo em uma publicação que sistematizasse nossos<br />

<strong>diálogos</strong>. Perceberá o leitor que o livro contém artigos em formato mais<br />

acadêmico, assim como depoimentos transcritos <strong>da</strong>s apresentações que<br />

ocorreram durante o seminário. Todos os palestrantes foram convi<strong>da</strong>dos a<br />

contribuir com a publicação, ficando a escolha do formato por conta de ca<strong>da</strong><br />

autor. Cabe ain<strong>da</strong> ressaltar que esta publicação é o segundo volume 10 de uma<br />

coleção proposta pelo Museu Afrodigital Rio de Janeiro.<br />

Ain<strong>da</strong> que não seja tão explícito, um ponto central desta publicação<br />

caminha no debate de varia<strong>da</strong>s ações atuais, seguindo efetivamente um<br />

formato de relato ou reflexões sobre o passado. Tradicio<strong>na</strong>lmente, boa parte<br />

<strong>da</strong>s ações relata<strong>da</strong>s aqui são trabalha<strong>da</strong>s pela literatura, especializa<strong>da</strong> ou não,<br />

como ações no campo <strong>da</strong> cultura. Ain<strong>da</strong> que não se negue a efetiva relação<br />

delas com o que se entende como cultura, queremos propor uma leitura mais<br />

ampla do <strong>na</strong>rrado <strong>na</strong> esfera <strong>da</strong> ação política também. A ampla literatura que<br />

vem discutindo a produção <strong>da</strong> memória social ou coletiva já nos demonstrou<br />

como lembrar é um ato, além de social, político. O Seminário, assim como<br />

os textos organizados neste volume, fornece pistas para se perceber lugares<br />

de fala calcados em posições em que os atores se encontravam. Seja quando<br />

falaram <strong>da</strong>s prisões de participantes do movimento Black por agentes <strong>da</strong> ditadura<br />

militar, seja <strong>na</strong> construção de uma escola de samba mirim que serviria<br />

como opção de atuação e aprendizado para jovens e crianças. Os relatos e<br />

<strong>na</strong>rrativas do lugar circularam <strong>entre</strong> uma posição político-social situa<strong>da</strong> em<br />

determi<strong>na</strong>do território e visando à ampliação deste para a dinâmica mais<br />

geral <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de.<br />

10<br />

O primeiro volume foi organizado por Maurício Barros de Castro e Myrian Sepúlve<strong>da</strong> dos<br />

Santos, publicado em 2016 pela Azougue Editorial, com o título Relações Raciais e Políticas de<br />

Patrimônio.<br />

16


Ao pensar o território de <strong>Madureira</strong> a partir <strong>da</strong> perspectiva afro-brasileira<br />

de quintal, percebeu-se que há uma passagem <strong>da</strong> casa para rua. A casa como<br />

lugar de ritual privado, onde o terreiro assumiu uma expressão máxima desta<br />

perspectiva, um lugar de guar<strong>da</strong> <strong>da</strong> memória e <strong>da</strong> tradição africa<strong>na</strong> no Brasil;<br />

e a rua como lugar de negociação, o lugar do jogo, onde pessoas e instituições<br />

precisariam a<strong>da</strong>ptar uma memória ou tradição às regras do jogo e então se<br />

empoderar <strong>na</strong> definição <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, onde as escolas de samba figuram como<br />

expressão máxima. Entretanto, evidenciou-se que o território <strong>da</strong> <strong>Grande</strong><br />

<strong>Madureira</strong> vai muito além destas instituições, o terreiro e a escola de samba.<br />

Ain<strong>da</strong> que eles exerçam um lugar central <strong>na</strong> rede de significados e símbolos<br />

para a região e to<strong>da</strong> a ci<strong>da</strong>de, muitas experiências devem ser reconheci<strong>da</strong>s e<br />

valoriza<strong>da</strong>s para se entender melhor o que ocorre <strong>na</strong>s ruas e quintais. Longe<br />

de esgotar estes encontros <strong>na</strong>s encruzilha<strong>da</strong>s do bairro e <strong>na</strong>s pesquisas que<br />

giram em torno dele, o Seminário pode ser entendido como um movimento<br />

para desven<strong>da</strong>r movimentos.<br />

Neste sentido, perceber a festa de Iemanjá do Mercadão de <strong>Madureira</strong>,<br />

local tradicio<strong>na</strong>l de comércio popular e de lojas de religiosi<strong>da</strong>de afro-brasileira,<br />

que ao fi<strong>na</strong>l de dezembro tem seus lojistas como organizadores de uma<br />

carreata, que atravessa bairros do subúrbio e do Centro para festejar Iemanjá;<br />

o Movimento do Viaduto Negrão de Lima — Viaduto de <strong>Madureira</strong> — que<br />

se transforma dependendo do horário e do dia de sema<strong>na</strong> e se mostra uma<br />

ponte fun<strong>da</strong>mental nos espaços de sociabili<strong>da</strong>de afro-brasileira, e seu baile,<br />

momento/movimento aonde grupos vindos de diversas partes <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de se<br />

encontram; a Casa do Jongo/Museu do Jongo, que se materializa como reconhecimento<br />

<strong>da</strong> reinvenção de tradições que estavam adormeci<strong>da</strong>s, colocando<br />

o Jongo <strong>da</strong> Serrinha no mapa destas manifestações a partir dos anos 2000.<br />

Estes três exemplos são significativos, pois demonstram como <strong>Madureira</strong><br />

— entendido como representante do subúrbio e representação tipicamente<br />

ideal não esgota, nem cerca, as possíveis agen<strong>da</strong>s de pesquisa.<br />

O Seminário teve duração de três dias, englobando seis mesas e seus respectivos<br />

debates. Tivemos ain<strong>da</strong> as noites com programação de três sessões com<br />

filmes sobre ou realizados <strong>na</strong> <strong>Grande</strong> <strong>Madureira</strong>, sendo exibidos assim oito<br />

produções, também debates com alguns realizadores e perso<strong>na</strong>gens e ain<strong>da</strong><br />

cinco exposições fotográficas, três de colegas ou colaboradores do Museu<br />

Afrodigital Rio de Janeiro, e duas em parceria com a Casarti. O III Seminário<br />

“Pelos sete lados eu vou te cercar”: os quintais <strong>da</strong> <strong>Grande</strong> <strong>Madureira</strong><br />

como uma encruzilha<strong>da</strong> de pesquisa<br />

17


Afro-carioca — Nos quintais <strong>da</strong> <strong>Grande</strong> <strong>Madureira</strong> contou ain<strong>da</strong> com a parceria<br />

do Neab/UERJ — Núcleo de Estudos Afro-brasileiros <strong>da</strong> UERJ.<br />

Dito isto, reiteramos que o conjunto de textos reunidos não busca reduzir<br />

a imagem do território <strong>da</strong> <strong>Grande</strong> <strong>Madureira</strong>, mas, ao contrário, complexificar<br />

as falas sobre ele e ampliar as possibili<strong>da</strong>des de olhares. Daí a intenção<br />

em trazer textos em diferentes formatos e temas, ain<strong>da</strong> que corramos o risco<br />

de uma heterogenei<strong>da</strong>de exagera<strong>da</strong>. A proposta é construir um retrato, ser<br />

um registro de uma busca de determi<strong>na</strong>do grupo em reunir intelectuais que<br />

vem atuando ou refletindo sobre a região.<br />

Cabe um agradecimento às pessoas e instituições que assistiram e participaram<br />

do seminário e vêm também contribuindo com o arquivo virtual<br />

“Nos quintais <strong>da</strong> <strong>Grande</strong> <strong>Madureira</strong>”. Agradecemos a Myrian Sepúlve<strong>da</strong> dos<br />

Santos, Maria Alice Rezende Gonçalves e Maurício Barros de Castro, também<br />

coorde<strong>na</strong>dores do Museu Afrodigital Rio de Janeiro.<br />

A Agnes Lima, Cristiano Cardoso, Daya<strong>na</strong> Doria, Livia Mirre, Leandro<br />

Silva, Pamella Liz Pereira, Paulo Henrique dos Reis Junior e Washington<br />

Santa<strong>na</strong> de Jesus, que colaboraram com a organização do seminário em 2014.<br />

Ficam nossos agradecimentos aos que participaram do seminário como<br />

ouvintes, palestrantes, <strong>na</strong> mostra de filmes ou de fotografias que tanto<br />

contribuíram para a reflexão sintetiza<strong>da</strong> nesta publicação. A Kátia Costa-<br />

Santos, Massari Simões, Carla Dias, ao Museu Virtual do Império Serrano,<br />

Movimento Cultural Buraco do Galo, Do<strong>na</strong> Sú, Luiz Cláudio Motta, Antonio<br />

Carlos Mariano, Carla Lopes e George Araújo.<br />

Aos realizadores que cederam seus filmes: An<strong>na</strong> Azevedo (Batuque <strong>na</strong><br />

cozinha), Caroli<strong>na</strong> Calcavechia (Operários do samba), Bianca Brandão,<br />

Cecília Mendonça, Luisa Pitanga (Saravá Jongueiro), Luis Fer<strong>na</strong>ndo Couto,<br />

Bruno Bacellar, Regi<strong>na</strong> Rocha (Eu sou povo!), Pedro Simo<strong>na</strong>rd (Salve Jongo),<br />

Rafael Mazza (Todo dia é assim: Mercadão de <strong>Madureira</strong>), Re<strong>na</strong>to Vallone<br />

(· i k ø n o c l ø v i s ·) e Vincent Moon (Bate-Bola — Sons do Brasil 2013.<br />

Collection Petites Planètes). E aos fotógrafos que expuseram no Seminário:<br />

Bárbara Copque (Feira <strong>da</strong>s Yabás: Pequenos pensamentos), Cristiano<br />

Cardoso (Resistir, ter fé e agradecer: O trânsito de fiéis pela ci<strong>da</strong>de do Rio<br />

de Janeiro no dia de Iemanjá), Paulo Henrique dos Reis Junior (Subúrbio em<br />

foco), Emilson Mendes e Paula Carvalho.<br />

18


e f e r ê n c i a s<br />

ELIAS, Norbert, O processo civilizador vol. 1. Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 1994.<br />

______. Sobre o tempo. Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 1998.<br />

GIDDENS, Anthony, As consequências <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de, São Paulo, ed. UNESP, 1991.<br />

GILROY, Paul, O Atlântico negro: moderni<strong>da</strong>de e dupla consciência. São Paulo: Ed. 34,<br />

2001.<br />

GRAMSCI, Antonio, Os intelectuais e a Organização <strong>da</strong> Cultura, São Paulo: Civilização<br />

Brasileira, 1989.<br />

HALL, Stuart, Da diáspora: <strong>identi<strong>da</strong>des</strong> e mediações culturais, org. Liv Sovik, Belo<br />

Horizonte, Ed. UFMG, 2003.<br />

NORA, Pierre, Entre memória e história: a problemática dos lugares. In: Projeto História,<br />

n. 10, São Paulo, 1993.<br />

RICOUER, Paul, A memória, a história, o esquecimento. Campi<strong>na</strong>s: Ed. Unicamp, 2007.<br />

SAHLINS, Marshall. Ilhas de história. Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 1999.<br />

SANTOS, Myrian Sepúlve<strong>da</strong> dos. Memória coletiva & teoria social. São Paulo: Ed.<br />

An<strong>na</strong>blume, 2003.<br />

SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura <strong>da</strong> memória e gui<strong>na</strong><strong>da</strong> subjetiva. São Paulo/<br />

Belo Horizonte: Ed. Companhia <strong>da</strong>s Letras/Ed. UFMG, 2007.<br />

SODRÉ, Muniz. O terreiro e a ci<strong>da</strong>de: a forma social negro-brasileira. Rio de Janeiro:<br />

Ed. Imago, 2002.<br />

“Pelos sete lados eu vou te cercar”: os quintais <strong>da</strong> <strong>Grande</strong> <strong>Madureira</strong><br />

como uma encruzilha<strong>da</strong> de pesquisa<br />

19


s o b r e os a u t o r e s<br />

a l l i n e t o r r e s d i a s d a c r u z é doutora em Antropologia Social pelo Museu<br />

Nacio<strong>na</strong>l <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), docente de<br />

Sociologia e <strong>da</strong> Especialização em Educação <strong>da</strong>s Relações Étnico-Raciais<br />

no Colégio Pedro II.<br />

a n a p a u l a a l v e s r i b e i r o é doutora em Saúde Coletiva (Instituto de<br />

Medici<strong>na</strong> Social/UERJ), com estágio pós-doutoral em Ciências Sociais<br />

(PPGCS/UFRRJ). Professora Adjunta <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Educação <strong>da</strong> Baixa<strong>da</strong><br />

Fluminense e do Programa de Pós-Graduação em Educação, Cultura e<br />

Comunicação em Periferias Urba<strong>na</strong>s, ambos <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de do Estado<br />

do Rio de Janeiro (UERJ). Tem experiência <strong>na</strong>s áreas de Antropologia e<br />

Metodologia <strong>da</strong> Pesquisa e atua nos seguintes temas: cinema, ci<strong>da</strong>de, relações<br />

étnico-raciais e educação e cultura afro-brasileira e popular.<br />

a n t o n i o e d m i l s o n m a r t i n s r o d r i g u e s é professor e pesquisador<br />

no âmbito <strong>da</strong> história <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de do Rio de Janeiro, atuando <strong>na</strong> UERJ e <strong>na</strong><br />

PUC-Rio, e membro titular do Conselho do Patrimônio Municipal. Publicou<br />

vários livros e artigos sobre a ci<strong>da</strong>de do Rio de Janeiro, sendo o último “A<br />

costura <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Um estudo de mobili<strong>da</strong>de urba<strong>na</strong>” (Editora Bazar do<br />

Tempo, 2016).<br />

e l i a s j o s é a l f r e d o é morador do bairro de Oswaldo Cruz, militante desde<br />

a déca<strong>da</strong> de 70 dos movimentos negro e sindical, atualmente preside o grupo<br />

Afro Agbara Dudu. É o atual Presidente do sindicato dos Metroviários do<br />

RJ. Militou no Movimento Negro Unificado (MNU) desde a déca<strong>da</strong> de 1990<br />

até 2006. Foi um dos fun<strong>da</strong>dores do Movimento Acor<strong>da</strong> Oswaldo Cruz, que<br />

deu origem ao Pagode do Trem. Compositor de Samba, coorde<strong>na</strong> e produz o<br />

Movimento Cultural Samba do Buraco do Galo, a nossa resistência cultural<br />

popular.<br />

343


f á b i o p a v ã o é bacharel e licenciado em Ciências Sociais (UERJ), especialista<br />

em Sociologia Urba<strong>na</strong> (UERJ) e mestre e doutor em Antropologia<br />

(PPGA/UFF). É pesquisador de cultura popular, com ênfase no samba e no<br />

car<strong>na</strong>val carioca, estu<strong>da</strong>ndo suas formas de sociabili<strong>da</strong>de e relações de poder.<br />

f i l ó f i l h o ( a s f i l ó f i o d e o l i v e i r a f i l h o) é produtor cultural, cinedocumentarista,<br />

engenheiro com MBA em Gestão Esportiva e Pós-graduação<br />

em Marketing. Nos anos 70, foi um dos mentores do Movimento Black Rio.<br />

Nos anos 80, foi o apresentador pioneiro do Programa Radial Filó, veiculado<br />

“ao vivo” diariamente <strong>na</strong> extinta TV Rio sob o comando do diretor Walter<br />

Clark. É coorde<strong>na</strong>dor do Acervo Cultne, o maior acervo digital de cultura<br />

negra <strong>da</strong> América Lati<strong>na</strong> e diretor do programa Cultne <strong>na</strong> TV, veiculado<br />

sema<strong>na</strong>lmente <strong>na</strong> TV Alerj no Rio de Janeiro.<br />

f l á v i o l i m a é professor de Geografia, compositor, gestor cultural, diretor<br />

cultural <strong>da</strong> Casa do Artista Independente – CASARTI.<br />

g a b r i e l d a s i l v a v i d a l c i d é doutor em Sociologia, tem experiência<br />

<strong>na</strong> área de sociologia e história, com ênfase em estudos sobre a cultura e a<br />

memória coletiva, atuando principalmente nos seguintes temas: memória<br />

afro-brasileira, patrimônio cultural, práticas culturais populares, territoriali<strong>da</strong>des<br />

e políticas culturais. Atualmente é bolsista do CNPq em estágio de<br />

pós-doutorado <strong>na</strong> Universi<strong>da</strong>de do Estado do Rio de Janeiro<br />

g u i l h e r m e f e r r e i r a v a r g u e s é professor adjunto Facul<strong>da</strong>de de<br />

Educação/UERJ. Possui graduação em história pela Universi<strong>da</strong>de Federal<br />

do Rio de Janeiro (UFRJ), doutor em Sociologia pela Universi<strong>da</strong>de do Estado<br />

do Rio de Janeiro (UERJ). Atua principalmente nos seguintes temas: cultura<br />

popular, educação, sociologia <strong>da</strong> cultura e sociologia urba<strong>na</strong>.<br />

i n o ã p i e r r e c a r v a l h o u r b i n a t i é doutor em História pela Universi<strong>da</strong>de<br />

do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com parte do doutorado realizado <strong>na</strong><br />

França junto à Université de Versailles Saint Quentin-en-Yvelines (UVSQ).<br />

Especialista em História Agrária, também atua <strong>na</strong> área de História Regio<strong>na</strong>l,<br />

sendo autor do livro Datas Cariocas (2004).<br />

344


j a v i e r l i f s c h i t z é doutor em Ciências Sociais (IUPERJ). Professor<br />

associado do Departamento de Ciências Sociais <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal<br />

do Estado do Rio de Janeiro. Professor do Programa de Pós-graduação em<br />

Memória Social (UNIRIO). Coorde<strong>na</strong>dor do Núcleo de Memória Politica<br />

em perspectiva latino-america<strong>na</strong>. Pesquisador <strong>na</strong>s áreas de cultura popular<br />

e <strong>da</strong> memória política.<br />

j o ã o felipe p. brito é bacharel em Ciências Sociais pela UFRJ, mestre e<br />

doutor em Sociologia pelo PPGSA-UFRJ. Tem formação complementar pela<br />

PUC-Rio e pelo CIES-IUL Lisboa, Portugal. Pesquisa os sentidos e os efeitos<br />

do planejamento urbano e de intervenções urbanísticas em bairros do Rio<br />

e de outras ci<strong>da</strong>des. Atualmente, trabalha como pesquisador e colaborador<br />

<strong>da</strong> organização Observatório de Favelas.<br />

m á r c i a l e i t ã o p i n h e i r o é professora <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Estadual do<br />

Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf). Integrante do Grupo de Pesquisa<br />

Sociabili<strong>da</strong>des Urba<strong>na</strong>s, Espaço Público e Mediação de Conflitos (FSS/UFRJ)<br />

e do Grupo de Pesquisa Arte, Cultura e Poder (UERJ). Também participa<br />

do Programa de Estudos e Debates dos Povos Africanos e Afro-Americanos<br />

(UERJ). Temas de interesse: Reparação histórica; memória, patrimônio,<br />

juventudes, religião e musicali<strong>da</strong>des.<br />

m a r c i o b l a n c o é doutorando em Comunicação Social pela UERJ. Mestre<br />

em Comunicação Social pela mesma universi<strong>da</strong>de <strong>na</strong> linha de Tecnologias<br />

de Comunicação e Cultura (2014). Graduado em cinema pela Universi<strong>da</strong>de<br />

Federal Fluminense (2004). É diretor <strong>da</strong> Associação Imaginário Digital, que<br />

desenvolve projetos <strong>na</strong> interface do audiovisual, educação e tecnologias,<br />

destacando-se o “Festival Visões Periféricas”, do qual é idealizador e coorde<strong>na</strong>dor<br />

geral desde 2007.<br />

m a r i a a l i c e r e z e n d e g o n ç a l v e s é professora associa<strong>da</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />

do Estado do Rio de Janeiro, docente do Departamento de Ciências Sociais<br />

e Educação <strong>da</strong> EDU/UERJ e do Programa de Pós-graduação em Educação,<br />

Cultura e Comunicação em Periferias Urba<strong>na</strong>s <strong>da</strong> FEBF/UERJ. Possui estágio<br />

pós-doutoral <strong>na</strong> EHESS, no PPGAS/UFRJ e Doutorado no IMS/UERJ. Atua<br />

nos seguintes campos de investigação: educação, políticas públicas e cultura<br />

afro-brasileira e popular.<br />

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a c h e l v a l e n ç a é professora e pesquisadora, atualmente vice-presidente<br />

<strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Museu <strong>da</strong> Imagem e do Som. Autora de livros relacio<strong>na</strong>dos ao<br />

car<strong>na</strong>val, tais como “Serra, Serrinha, Serrano: o Império do Samba”, escrito<br />

em parceria com Suetônio Valença, sobre a escola de samba Império Serrano,<br />

<strong>da</strong> qual é integrante há muitos anos.<br />

r o d r i g o r e d u z i n o é cientista social, bacharel e licenciado pela UERJ.<br />

Sociólogo, mestre pelo Programa de Pós-graduação em Sociologia - UFF.<br />

Área de atuação sobre Identi<strong>da</strong>de Nacio<strong>na</strong>l, relação raciais, gênero, sexuali<strong>da</strong>de,<br />

interseccio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de, e pós-coloniali<strong>da</strong>de.<br />

r o l f m a l u n g o d e s o u z a é antropólogo, professor <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal<br />

Fluminense (UFF); Pesquisador do Instituto de Estudos Comparados em<br />

Administração de Conflitos (INCT-InEAC/) e pesquisador associado <strong>da</strong><br />

Maxwell School of Citizenship and Public Affair at Syracuse University.<br />

s o r m a n i d a s i l v a é funcionário <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de do Estado do Rio<br />

de Janeiro (UERJ), atualmente cursa o doutorado em Memória Social<br />

pela UNIRIO. É Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Relações<br />

Etnicorraciais do CEFET-RJ, especializado em Educação e História do Negro<br />

<strong>na</strong> Socie<strong>da</strong>de Brasileira -PENESB/UFF e Bacharel e Licenciado em História<br />

pela Universi<strong>da</strong>de Federal Fluminense (UFF). Compõe o Núcleo de Estudos<br />

Afro-brasileiros <strong>da</strong> UERJ.<br />

v a l d e m i r d o s s a n t o s l i n o ( p r i m i n h o d a s e r r i n h a ) é fun<strong>da</strong>dor <strong>da</strong><br />

GRCESM Império do Futuro, bacharel em Direito e em Serviço Social, com<br />

atuação em projetos sociais sobre juventude. Temas de atuação: esporte,<br />

lazer e cultura negra.<br />

v a l t e r f i l é é professor associado <strong>da</strong> UFRRJ, membro efetivo do Programa<br />

de Pós-graduação em Educação <strong>da</strong> UFF, coorde<strong>na</strong>dor do LEAM - Laboratório<br />

de estudos e aprontos multimídia: relações étnico-raciais <strong>na</strong> cultura digital.<br />

Principais interesses: relações étnico-raciais, linguagens e mídias.


v a n e s s a s o a r e s d a s i l v a é pe<strong>da</strong>goga pela Universi<strong>da</strong>de do Estado do<br />

Rio de Janeiro (UERJ), especialista em Educação e Relações Étnico-raciais<br />

pela Universi<strong>da</strong>de Federal Fluminense (UFF), mestre pelo Programa de<br />

Pós-graduação em Formação Huma<strong>na</strong> e Política Pública, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de do<br />

Estado do Rio de Janeiro. Participa do grupo de pesquisa “Saberes e fazeres<br />

<strong>da</strong> diáspora Africa<strong>na</strong> no Brasil: conflitos de paradigmas <strong>na</strong> história cultural<br />

do Rio de Janeiro”. Áreas de Interesse: Educação, cultura e religião.<br />

w a s h i n g t o n d e n e r d o s s a n t o s c u n h a é professor associado <strong>na</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), pesquisador colaborador<br />

do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros, pesquisador associado do<br />

Laboratório de Pesquisa e Prática de Ensino, no Museu Afrodigital do Rio de<br />

Janeiro. Pesquisador no Diretório de Grupos de Pesquisa Intelectuais e Poder<br />

no Mundo Ibero-Americano, associado à linha Intelectuais e Educação. Tem<br />

experiência <strong>na</strong> área de História Social, História Cultural, História Moder<strong>na</strong><br />

e Contemporânea, História <strong>da</strong> África, História <strong>da</strong> Educação, Cotidiano e<br />

Cultura Afro-Brasileira.<br />

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1ª edição março 2019<br />

impressão rotaplan<br />

papel miolo offset 90g/m 2<br />

papel capa cartão supremo 300g/m 2<br />

tipografia brandon e freight


ISBN 978856567984-8<br />

9 78 8 5 6 5 6 7 9 8 4 8

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