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ESTRATÉGIA DE INVESTIMENTO EM BOLSA DE VALORES

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JÚLIO CÉSAR BARBOSA<br />

<strong>ESTRATÉGIA</strong>S <strong>DE</strong><br />

<strong>INVESTIMENTO</strong><br />

<strong>EM</strong> <strong>BOLSA</strong> <strong>DE</strong><br />

<strong>VALORES</strong><br />

2ª Edição<br />

CLARA<br />

Editora<br />

São Luís, Maranhão<br />

2019


© Júlio Barbosa Bezerra<br />

Coordenação:<br />

Tatiana Fagundes<br />

Digitação:<br />

UniDIGITU’S<br />

Editoração eletrônica<br />

Paulo Ribeiro<br />

Capa:<br />

Wagner Cantanhede<br />

Revisão gramatical:<br />

Maria Cláudia Baima Ferreira - MTb 892<br />

Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua<br />

Portuguesa de 1990, vigente no Brasil a partir de janeiro de 2009.<br />

Dados de Catalogação na Publicação:<br />

B238e<br />

Estratégias de investimento em Bolsa de Valores.Júlio César Barbosa.<br />

2.ed. São Luis: Clara Editora,2019.<br />

122p<br />

ISBN 978-85-65081-15-3<br />

1.Estratégia de investimento-Economia 2.Bolsa de Valores I. Título.


“ A mente que se abre para alguma<br />

coisa nova, nunca mais será a mesma.”<br />

Albert Einstein


Este livro é inteiramente dedicado<br />

à minha saudosa irmã, Luciane.


AGRA<strong>DE</strong>CIMENTOS<br />

Ao casal Edward kuchmeister e Kim Mac Neil<br />

(amigos de Toronto-CAN), aos meus filhos Caio César,<br />

Lucas, Vinícius e Victória, pelo apoio e incentivo na<br />

conclusão desta obra; aos meus pais, José Queiroz e<br />

Clemides Ribeiro; à minha irmã Juciléia Barbosa e,<br />

sempre, a Deus.


SUMÁRIO<br />

Apresentação.....................................................................15<br />

Prefácio à 1ª Edição...........................................................19<br />

Prefácio à 2ª Edição...........................................................23<br />

Capítulo 1 - Investindo com Segurança no<br />

Mercado de Ações..........................................................39<br />

Bons fundamentos e longo prazo...................................39<br />

O conceito de margem de segurança.............................41<br />

Como calcular o valor de uma empresa de capital<br />

aberto?............................................................................42<br />

Método de análise dos indicadores financeiros.............45<br />

O índice P/PL.................................................................46<br />

Capítulo 2 - As Oscilações do Mercado e o<br />

Comportamento do Investidor.............................57<br />

Fatores determinantes das oscilações do mercado........57<br />

Oscilações de preços x técnicas de investimento..........64


Capítulo 3 - Selecionando Ações para o Investidor<br />

Inteligente........................................................................69<br />

Critérios de seleção........................................................69<br />

Selecionando ações - um exemplo prático....................74<br />

Comentários sobre a seleção..........................................74<br />

Capítulo 4 - Métodos de Investimento..............................77<br />

Categorias de investimento............................................77<br />

A maneira de investir de Warren Buffett -<br />

Warren’s Way.................................................................84<br />

Desempenho de algumas companhias listadas na B3.......88<br />

Itaúsa..........................................................................88<br />

Vale.............................................................................89<br />

Petrobrás.....................................................................91<br />

Porto Seguro...............................................................92<br />

Banco do Brasil..........................................................93<br />

Ambev........................................................................94<br />

Equatorial...................................................................95<br />

Capítulo 5 - Negociando Ações na Bolsa.........................99<br />

Dicas importantes:........................................................100<br />

Conclusão........................................................................101<br />

Apêndice .........................................................................105<br />

Epílogo ............................................................................115<br />

Glossário..........................................................................117<br />

Bibliografia consultada.....................................................123


APRESENTAÇÃO<br />

A publicação da segunda edição do livro ESTRATÉ-<br />

GIAS <strong>DE</strong> <strong>INVESTIMENTO</strong> <strong>EM</strong> <strong>BOLSA</strong>S <strong>DE</strong> VA-<br />

LORES, do Economista Júlio Cesar Barbosa, depois<br />

de pouco mais de doze anos que veio a lume a sua<br />

primeira edição, tem um importante significado conjuntural<br />

que precisa ser levado em conta para seu melhor<br />

entendimento e, eu diria, melhor aproveitamento.<br />

No ano de 2006, data de sua primeira publicação,<br />

o Brasil vivia a eufórica fase, posteriormente denominada<br />

de “boom das comodities”, e de políticas sociais<br />

que sinalizavam um promissor processo de inclusão de<br />

vastas camadas de sua população no circuito ativo da<br />

economia, tudo parecendo indicar que, finalmente, o<br />

país ingressaria numa fase de crescimento sustentável.<br />

Então, pelo menos parte de sua população naturalmente<br />

poderia voltar-se para o mercado de ações como lugar<br />

onde poderia “fazer o seu pé de meia “ para o futuro.<br />

Nada melhor, portanto, que um guia especializado


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

para conduzí-la nessa senda. E, para este papel, o livro<br />

apresenta elementos sólidos.<br />

Já a presente edição chega ao público quando o<br />

Brasil ainda se recupera lentamente da rigorosa recessão<br />

que atravessou a partir de 2014, estendendo-se até<br />

2016, e também no momento inaugural de um novo<br />

governo, eleito com um discurso de cunho liberal na<br />

política econômica como promessa de solução da crise<br />

que o aprisiona em um processo de baixo crescimento,<br />

que compromete as perspectivas tanto do setor<br />

público quanto do privado. Logicamente, a vingar o<br />

novo modelo de política econômica, os investimentos<br />

em ações de empresas promissoras e emergentes se<br />

fortalecerão como canal de financiamento de um novo<br />

ciclo de crescimento nacional. E, em tais circunstâncias,<br />

os participantes deste movimento se beneficiarão das<br />

lições do presente livro.<br />

Este é um livro que apresenta várias “virtudes”. Um<br />

dos seus aspectos virtuosos consiste na sua insistência<br />

em afastar-se da visão e da prática especulativas do e no<br />

mercado ações. Logo na Introdução da obra, o autor já<br />

adverte que “o pensamento da maioria dos analistas do<br />

mercado de ações está focado numa visão puramente<br />

especulativa, ....ou, ainda, em análises fundamentalistas<br />

de curto prazo”. Então arremata: “A proposta<br />

desta obra é oposta a esta visão. O foco principal é o<br />

investimento em longo prazo, em companhias com<br />

bons fundamentos, pondo de lado qualquer técnica ou<br />

estratégia de especulação pura e simples”.<br />

Também entendo como ponto virtuoso do livro<br />

e nem sempre observado na literatura deste tema, a<br />

16


Apresentação<br />

preocupação do autor com o que eu chamaria de “qualidade<br />

de vida” do investidor. Defendendo o método<br />

VALUE INVESTMENT em relação a outros métodos<br />

especulativos, ele aponta que o investidor que adota o<br />

método de Graham/Buffett “além da alta rentabilidade,<br />

consegue ter um estilo de vida saudável, normal.<br />

...podem trabalhar em outras atividades, exercerem<br />

suas profissões, estudar, empreender, ter tempo para se<br />

relacionar com a família e amigos etc e, paralelamente,<br />

investir na Bolsa de Valores sem o estresse causado<br />

pela volatilidade diária das ações ou outros papéis do<br />

mercado de capitais”.<br />

Finalmente, eu diria que outro grande mérito do<br />

livro de Julio César consiste em oferecer ao público<br />

uma oportunidade de conhecimento, em linguagem<br />

clara e objetiva, do canal mais adequado de poupança<br />

e de investimento nas economias capitalistas avançadas.<br />

O Brasil superou o seu trauma inflacionário<br />

secular com a edição do Plano Real em 1994. Agora<br />

enfrenta o desafio de solucionar o “nó fiscal”, que o<br />

asfixia durante os últimos 15 anos. No novo cenário<br />

que se prenuncia o processo de financiamento das<br />

atividades produtivas terá na Bolsa de Valores o seu<br />

local de destaque. Os leitores deste livro colocam-se<br />

na primeira fila da largada para aproveitamento das<br />

oportunidades que se apresentarão. Boa leitura.<br />

São Luís, 23 de Janeiro de 2019<br />

José Cursino Raposo Moreira.<br />

Economista - CORECON/MA<br />

17


PREFÁCIO À 1 a EDIÇÃO<br />

Este livro “Estratégias de Investimento em Bolsa de<br />

Valores” tenta desmistificar o aparentemente complexo<br />

mercado de ações. A principal referência do livro<br />

é a teoria do “Investidor Inteligente”, de Benjamin<br />

Graham, que atuou como investidor e professor entre<br />

1920 e 1976. Através de suas obras, principalmente o<br />

best seller “The Intelligent Investor”, tem contribuído<br />

para a formação de investidores conscientes em nível<br />

global.<br />

Outra importante contribuição deste mestre das finanças<br />

foi a formação de uma gama de investidores que<br />

se consagraram nos mercados financeiros dos Estados<br />

Unidos e Europa, em especial. Dentre seus alunos, o<br />

maior expoente é, sem dúvida, Warren Buffett, o investidor<br />

americano que se tornou bilionário utilizando os<br />

conceitos e o método do Value Investment. A iniciativa


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

de escrever este livro ocorreu durante minha estada no<br />

Canadá, em 2004, ocasião em que estive em contato,<br />

pela primeira vez, com a obra de Graham. Até então<br />

meus resultados obtidos em Bolsa de Valores eram<br />

pífios, e até mesmo negativos em algumas tentativas de<br />

ganhar grandes quantias em curto prazo. A partir desta<br />

data, no entanto, os resultados têm demonstrado uma<br />

trajetória crescente e sustentável, fruto de investimentos<br />

em empresas de bons fundamentos, adquiridas por<br />

preços não muito elevados e com perspectiva de longo<br />

prazo. Estes são os pilares do “investidor tranquilo”,<br />

conforme afirma Warren Buffett.<br />

Observando que a literatura disponível para o mercado<br />

brasileiro ainda é tímida em relação aos ensinamentos<br />

dos gurus que fundamentam esta obra, decidi<br />

escrever este trabalho sobre o tema, oportunizando ao<br />

investidor o acesso à teoria, de cunho fundamentalista<br />

- a qual prioriza análises baseadas nos fundamentos<br />

das companhias e da economia na qual está inserida,<br />

que vem complementar os postulados da escola técnica<br />

- que se utiliza da análise gráfica para direcionar<br />

os investimentos. Cabe enfatizar que fizemos um esforço<br />

no sentido de simplificar a linguagem técnica<br />

que geralmente é utilizada nas áreas de finanças e<br />

economia, tornando esta obra acessível para uma gama<br />

diversificada de leitores, sejam estes participantes do<br />

mercado ou pessoas que ainda não tiveram qualquer<br />

contato com Bolsa de Valores. Assim, os assuntos mais<br />

complexos foram resumidos e explicitados da forma<br />

mais didática possível, deixando a critério do leitor a<br />

20


Prefácio à 1 a Edição<br />

decisão de ampliar seus estudos e pesquisas dos temas<br />

tratados, através das fontes de referência citadas.<br />

Este procedimento fora adotado com o intuito de não<br />

prejudicar o foco do livro, que é o de fornecer um<br />

arcabouço teórico simples, eficaz e de fácil aplicação<br />

aos investidores, sejam estes de pequeno, médio ou<br />

grande porte.<br />

O livro está dividido em cinco capítulos. O Capítulo<br />

I trata do conceito de “Margem de Segurança”, da<br />

lógica de investimentos em longo prazo e do cálculo<br />

do valor de empresas de capital aberto, com destaque<br />

para o método dos Indicadores Financeiros e o Fluxo<br />

de Caixa Descontados (FCD). O Capítulo II relaciona<br />

as oscilações do mercado e o comportamento do investidor,<br />

onde se discorre sobre os principais fatores<br />

que determinam as variações do mercado e as oportunidades<br />

de investimentos daí advindas. No capítulo III<br />

expomos a maneira de selecionar ações do investidor<br />

tido como conservador, se é que existe investimento<br />

conservador em Bolsa de Valores! No capítulo IV,<br />

apresentamos os mais consagrados métodos de investimento<br />

em ações em nível global, cuja origem está<br />

no mercado norte-americano. O destaque do capítulo<br />

fica por conta do método Value Investment, o método<br />

do Investidor Inteligente. Por último, demonstramos<br />

a eficácia do método através de análises gráficas de<br />

empresas de bons fundamentos listadas na Bovespa<br />

(Bolsa de Valores de São Paulo), cujos rendimentos,<br />

na maioria dos casos, se mostraram excelentes nos<br />

últimos 05 anos. No capítulo V explicitamos, de forma<br />

21


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

sucinta, os procedimentos práticos para a realização<br />

de investimentos em Bolsas de Valores. Trata-se de<br />

um roteiro simples, que demonstra as alternativas que<br />

os investidores têm de adquirir ou vender ações no<br />

mercado brasileiro.<br />

São Luís (MA), junho de 2006.<br />

O autor.<br />

22


PREFÁCIO À 2 a EDIÇÃO<br />

Doze anos se passaram entre a primeira e esta segunda<br />

edição do “Estratégias de Investimento em Bolsa<br />

de Valores. Neste contexto, a primeira pergunta que<br />

deve surgir na mente de muitos leitores deve ser a seguinte:<br />

qual a razão para tamanho espaço de tempo?<br />

E a resposta é simples e ao mesmo tempo complexa,<br />

arriscando-me a responder em uma palavra: maturação.<br />

Alguns anos foram necessários para refletir sobre os<br />

mercados financeiros e, em particular, o mercado de<br />

ações, com uma visão privilegiada de quem esteve de<br />

fora do “jogo” por um breve mas produtivo período de<br />

tempo. Quando se observa um fenômeno, sem nele estar<br />

envolvido físico ou emocionalmente, pode-se analisar<br />

os acontecimentos de maneira mais racional, identificando<br />

oportunidades e ameaças que na maioria dos<br />

casos passam despercebidas pelos atores envolvidos no


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

processo. Fazendo uma analogia com o futebol, não é<br />

por acaso que os técnicos não participam do jogo. Ao<br />

permanecerem ao lado da linha de campo, durante as<br />

partidas, eles têm uma visão global do jogo e, assim,<br />

podem traçar estratégias e mudá-las de acordo com<br />

seus objetivos e com as ameaças dos adversários.<br />

Atuei diretamente na Bolsa de Valores de São Paulo<br />

- BOVESPA, hoje B3, como Agente Autônomo de<br />

Investimento e investidor individual, no período de<br />

2003 a 2013, sendo que a interrupção ocorreu a partir<br />

deste último ano até o final de 2016. Foram três anos<br />

de interrupção, voltando a atuar nas mesmas frentes,<br />

mudando apenas de corretora, a partir de 2017. Neste<br />

período, como investidor, reduzi significativamente<br />

minhas operações, dedicando-me às análises das<br />

movimentações dos mercados, aos acontecimentos<br />

internacionais, ao desempenho das empresas etc., sempre<br />

observando como esses fatores influenciavam as<br />

oscilações de preço das ações em Bolsa.<br />

Havia dois pontos principais nessa reflexão: o primeiro<br />

é focado na pergunta que paira sobre a mente<br />

de milhões de pessoas: vale mesmo a pena investir<br />

em ações de empresas de capital aberto? O segundo<br />

está relacionado a questionamentos sobre o principal<br />

método de investimento proposto na 1ª edição, totalmente<br />

baseado nos conceitos do Value Investment,<br />

do renomado professor Benjamin Graham, principal<br />

mentor do megainvestidor norte-americano Warren<br />

Buffett. O Value Investment propõe investimentos em<br />

empresas de bons fundamentos, com visão de longo<br />

24


Prefácio à 2 a Edição<br />

prazo e as ações devem ser compradas com “margem<br />

de segurança” (as três palavras chaves para Buffett),<br />

ou seja, de preferência bem abaixo do que seria o seu<br />

preço justo - o seu valor intrínseco. Adquirir ações de<br />

excelentes fundamentos nestas condições é fato raro,<br />

geralmente essas oportunidades surgem após grandes<br />

períodos de crise, como a que afetou o mundo capitalista<br />

em 2008 - a famosa crise do sub-prime americano<br />

e a recessão brasileira entre 2014 e 2016, ou ainda<br />

quando a empresa em análise apresenta problemas<br />

pontuais mas que claramente serão superados - esses<br />

momentos abrem oportunidades ímpares e devem ser<br />

aproveitados pelos investidores para adquirirem ações<br />

de excelentes fundamentos que se tornaram baratas e,<br />

em muitos casos, ridicularmente baratas.<br />

Em relação ao primeiro questionamento, se vale<br />

mesmo a pena investir em ações de empresas de capital<br />

aberto, a resposta é um tremendo SIM. Conforme<br />

veremos nos capítulos seguintes, o desempenho de<br />

algumas empresas nas Bolsas de Valores nos últimos<br />

anos foi algo singular e extraordinário, com algumas<br />

empresas obtendo valorizações espetaculares<br />

até mesmo em períodos curtos, após o fim de crises<br />

econômicas cíclicas. Várias empresas no Brasil e nos<br />

EUA multiplicaram seu valor por mais de 10 vezes<br />

em pouco mais de um ano após as crises citadas. E,<br />

em longo prazo, veremos que algumas empresas de<br />

excelência, no Brasil e no mundo, tiveram valorizações<br />

inacreditáveis, algumas chegando a valer 150 ou 200<br />

vezes seu valor inicial, em períodos de 15 e 20 anos.<br />

25


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

Para exemplificar, segue abaixo um case de grande<br />

sucesso na bolsa brasileira, representado graficamente:<br />

o desempenho do Banco Itaú.<br />

26<br />

BANCO ITAÚ S. A.<br />

O gráfico acima nos mostra o desempenho espetacular<br />

das ações do Banco Itaú, um dos maiores bancos<br />

privados do Brasil, para um período de 30 anos, de 1988<br />

a 2018. Nesse período, conforme pode ser observado<br />

no gráfico, essas ações se valorizaram cerca de incríveis<br />

250.000%, ou seja, se valorizaram 2.500 vezes<br />

em relação ao seu valor inicial. Isso porque o preço da<br />

ação custava R$ 0,02 (dois centavos de Real), valores<br />

atualizados, em 1988, e no início de 2018 a cotação já<br />

oscilava em torno de R$ 50,00 (cinquenta reais) por<br />

ação. Assim, alguém que investiu o equivalente a R$<br />

10.000,00 (dez mil reais) em 1988 e manteve os papéis<br />

em carteira, estará hoje com um patrimônio financeiro


Prefácio à 2 a Edição<br />

em torno de R$ 25.000.000,00 (vinte e cinco milhões<br />

de reais). Mesmo em valores nominais, sem descontar<br />

a inflação, isto é impressionante, e ouso afirmar<br />

que poucas pessoas no Brasil e no mundo detêm essa<br />

expertise, essa consciência, incluindo muitos dos profissionais<br />

do mercado financeiro, onde a maioria está<br />

ocupada demais em suas operações day-trade (compra<br />

e venda de ativos no mesmo dia), ou de curta duração,<br />

para perceber esse fenômeno, que se apresenta de<br />

forma quase oculta, pois os olhos não conseguem ver<br />

- ludibriados pelo vai e vem dos preços no dia-a-dia<br />

dos mercados. Talvez essa estratégia seja o verdadeiro<br />

segredo dos mercados, a essência dos investimentos<br />

em ações, como bem afirma Buffett.<br />

Essa visão faz toda a diferença entre os verdadeiros<br />

vencedores do mundo das Bolsas de Valores e a grande<br />

maioria que vive a ilusão de uma prosperidade baseada<br />

em pequenos ganhos à custa de muito esforço. O verdadeiro<br />

investidor do mercado de ações tenta alcançar<br />

um nível de maturidade que lhe permite dedicar-se a<br />

encontrar negócios com fundamentos sólidos, existentes<br />

hoje e que ainda estarão vivos e lucrativos daqui<br />

a 10, 20 ou 30 anos. Este livro tenta colaborar com<br />

você a procurar e encontrar empresas de excelência,<br />

podendo influenciar de maneira decisiva seu futuro e<br />

dos seus herdeiros.<br />

Além desses aspectos e do exemplo acima, o<br />

investimento em ações tem se mostrado o de maior<br />

rentabilidade em escala global, em relação a outros<br />

investimentos, tais como imóveis e títulos de dívida<br />

27


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

pública, como demonstra Piketty em “O capital no<br />

século XXI”, afirmando que “a taxa de retorno média<br />

das ações chega a 7-8% durante períodos longos em<br />

vários países. A dos imóveis e dos títulos, em contrapartida,<br />

raras vezes supera 3-4%, e a taxa real de juros<br />

da dívida pública costuma ser ainda mais baixa.” 1<br />

Em relação à segunda reflexão, sobre se o método<br />

do Value Investment é o mais adequado para nortear<br />

investimentos em Bolsa de Valores, a resposta, até<br />

mesmo como conclusão do que vimos acima, também<br />

é SIM, com convicção. Embora possamos utilizar a<br />

análise técnica como ferramenta auxiliar da análise<br />

fundamentalista, tanto em momentos de exaustão de<br />

alta - vendendo ações quando estas estiverem extremamente<br />

valorizadas -, como em momentos de baixa<br />

- comprando-as quando estas estiverem ridicularmente<br />

baratas. Quando se observa um desempenho como o<br />

do case acima, as especulações, mesmo que visualizem<br />

prazos mais longos, perdem o sentido. Talvez o uso da<br />

análise técnica, como ferramenta de auxílio ao método<br />

do Value Investment, possa ser utilizada em momentos<br />

de crises agudas, como a do subprime norte-americano<br />

de 2008, a grande recessão brasileira de 2014 a 2016,<br />

ou ainda logo após momentos de grande estresse na<br />

bolsa, a exemplo do que ocorre em períodos de eleições,<br />

por exemplo. Com exceção desses períodos,<br />

está comprovado que o método de Graham é o mais<br />

indicado para aqueles que acreditam em estratégias de<br />

1<br />

PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI / Thomas Piketty:<br />

tradução Monica Baumgarten de Bolle. - 1.ed. - Rio de Janeiro: Intrínseca,2014.<br />

p. 58<br />

28


Prefácio à 2 a Edição<br />

longo prazo, investindo seu dinheiro em companhias<br />

cuja rentabilidade presente e futura deixem poucas,<br />

ou nenhuma dúvida.<br />

O Value Investment, método adotado por Benjamin<br />

Graham, propõe a técnica do Buy and Hold, ou seja,<br />

comprar e manter-se comprado em ações que você<br />

entende e confia por longos períodos de tempo, de<br />

preferência por décadas. Isso, somado à técnica do<br />

Dollar-Cost Averaging - que consiste no investimento<br />

periódico em uma carteira de ações selecionada, ou<br />

seja, investir mensal, bimestral ou semestralmente<br />

numa cesta de ações, proporciona ganhos exponenciais<br />

ao investidor. Está mais do que provado que o método<br />

funciona, seja para grandes ou pequenos investidores,<br />

individuais ou institucionais, que venham a adquirir<br />

participações em companhias de capital aberto.<br />

O método do Value Investment exposto neste livro<br />

continua válido e pode ser adotado por investidores<br />

dos quatro cantos da Terra, sejam quais forem seus<br />

poderes de barganha.<br />

Uma das grandes vantagens do Value Investment<br />

em relação a outros métodos especulativos é que o<br />

investidor não deve se preocupar com as oscilações<br />

diárias (normais) do mercado, tendo em vista que este<br />

tem um componente emocional bastante elevado. Em<br />

determinado momento, Graham personificou o mercado<br />

de capitais, chamando-o de Sr. Mercado, dando-lhe<br />

características maníaco-depressivas, onde ora está em<br />

céu de brigadeiro, em tendência de alta, ora está tranquilo<br />

e sereno, e ora está bravo, inquieto e pessimista,<br />

29


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

quando nada reverte sua tendência de baixa. O autor<br />

sugere, desta forma, que o investidor inteligente não<br />

deve tentar responder diariamente as provocações do<br />

Sr. Mercado, a não ser em casos extremos, aproveitando<br />

para comprar ou vender ações quando o mesmo<br />

atinge limites que beiram a insanidade.<br />

Especular em curtíssimo prazo (horas ou frações<br />

de hora), ou diariamente, requer tempo e dedicação<br />

quase que total aos mercados e, no final, não se terá<br />

os grandes ganhos obtidos pelo investidor que adotou<br />

o Value Investment, que além da alta rentabilidade<br />

consegue ter um estilo vida saudável, normal. Aqueles<br />

que adotam o método de Graham/Buffett podem trabalhar<br />

em outras atividades, exercerem suas profissões,<br />

estudar, empreender, ter tempo para se relacionar com<br />

a família e amigos etc. e, paralelamente, investir na<br />

Bolsa de Valores sem o estresse causado pela volatilidade<br />

diária das ações ou outros papéis do mercado<br />

de capitais. Um “trader”- pessoa que geralmente se<br />

dedica a fazer operações day-trade - compra e vende<br />

ações ou outros títulos no mesmo dia ou no mesmo<br />

minuto, podendo até auferir ganhos neste esforço, mas<br />

a pergunta é, por quanto tempo? Este especulador terá<br />

a capacidade de realizar sempre as mesmas tarefas,<br />

diariamente, comprar e vender ações ou outros ativos<br />

durante décadas?<br />

Outro aspecto diz respeito ao volume de investimento<br />

individual. Quase ninguém em sã consciência<br />

tem a capacidade de alocar milhões de reais ou dólares,<br />

em operações “day-trade”. Somente especuladores<br />

30


Prefácio à 2 a Edição<br />

de alto calibre, da envergadura de George Soros, por<br />

exemplo, têm essa capacidade mental e emocional,<br />

conseguindo alocar milhões de dólares em operações<br />

de curta duração em diversos mercados, incluindo<br />

ações, derivativos, juros e câmbio. Mas Soros, além de<br />

uma excelente formação e acúmulo de conhecimento<br />

adquiridos em décadas de estudo e atuação ativa nos<br />

mercados, em nível global, é um sobrevivente da 2 a<br />

Guerra Mundial, viveu as agruras da guerra junto com<br />

sua família, que graças à astúcia e criatividade do seu<br />

pai, conseguiram fugir da Hungria para a Inglaterra e,<br />

tempos depois, mudou-se para New York. Ou seja, seu<br />

preparo emocional está acima da média, pois trata-se<br />

de alguém que viveu, literalmente, no limite, ainda na<br />

adolescência, sobrevivendo a uma caçada implacável<br />

dos nazistas da Alemanha de Hitler. 2 Claro que existem<br />

muitos traders com bom preparo emocional - sem<br />

necessariamente terem passado por situações limites<br />

como a de uma guerra. Estes especulam com sucesso<br />

nos mercados financeiros, mas as estatísticas oficiais<br />

nos dão conta de que são realmente poucos - segundo<br />

estatísticas da B3, a bolsa do Brasil, cerca de apenas<br />

5% do total dos especuladores têm sucesso relevante<br />

nessa empreitada.<br />

Geralmente, os traders alocam pequenas quantias<br />

em operações que por si só limitam seus ganhos. Por<br />

outro lado, os investidores em ações de bons fundamentos<br />

podem alocar grandes quantias, tendo em<br />

2<br />

SOROS, George. A alquimia das finanças: lendo a mente do mercado.<br />

Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1996.<br />

31


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

vista a qualidade dos papéis e a visão de longo prazo,<br />

com a certeza de que as empresas nas quais investiram,<br />

na sua grande maioria, irão prosperar. Quando<br />

há confiança nas ações em que se pretende investir,<br />

alguns grandes investidores se tornam sócios dessas<br />

empresas, adquirindo participações milionárias, por<br />

vezes bilionárias, através da aquisição de suas ações<br />

em Bolsa de Valores. Esses investimentos costumam<br />

trazer grandes ganhos aos investidores, através dos<br />

ganhos de capital - com a valorização das ações - e<br />

os rendimentos financeiros - através dos dividendos<br />

e juros sobre capital próprio distribuídos pelas companhias<br />

de capital aberto. Esta mesma lógica também<br />

se aplica ao pequeno investidor.<br />

Desta forma, para ser um investidor, nos moldes<br />

que estamos propondo neste livro, creio que seja mais<br />

racional e lucrativo utilizar a Bolsa de Valores para<br />

elevar seu patrimônio de forma tranquila e inteligente<br />

por meio do Value Investment. Para milhares de investidores<br />

mundo afora, este é o método mais indicado a ser<br />

adotado por aqueles que acreditam nestes ensinamentos<br />

e, assim, poderem fazer parte de um clube seleto de<br />

investidores - os mais bem sucedidos do mundo.<br />

Nesta segunda edição, mantivemos basicamente a<br />

mesma estrutura da edição anterior. Os cinco capítulos<br />

foram mantidos, sendo que os acréscimos ficam por<br />

conta do Apêndice e do Epílogo.<br />

Revisões no texto e atualizações, no entanto, foram<br />

imperativas, principalmente nos capítulos III e<br />

IV. Boa parte do conteúdo foi atualizada, incluindo<br />

32


Prefácio à 2 a Edição<br />

os dados das tabelas e dos gráficos. As análises gráficas<br />

foram ampliadas, acrescentamos um maior número<br />

de empresas, bem como o espaço de tempo das análises<br />

- ao invés de 05 anos, foram ampliadas para 20<br />

anos, em média. Mantivemos as análises de Petrobras,<br />

Vale e Banco do Brasil, por permanecerem com bons<br />

fundamentos e, portanto, em linha com a teoria subjacente<br />

a esta obra.<br />

O Apêndice trata do fenômeno das crises financeiras<br />

globais, uma análise histórico-descritiva das principais<br />

crises ocorridas entre 1980 e 2010, com destaque<br />

para a crise do sub-prime americano de 2008 e suas<br />

consequências. Trata-se de um alerta para os investidores<br />

do mercado de capitais em geral, sem que este<br />

interfira no planejamento financeiro de longo prazo.<br />

Júlio César Barbosa Bezerra<br />

Janeiro 2019<br />

33


Introdução<br />

O mercado de ações, para muitas pessoas, é considerado<br />

um mercado de risco e, ainda, para muitos, o mais<br />

arriscado de todos os tipos de investimentos. Isso se<br />

deve por diversas razões, como a grande sensibilidade<br />

das bolsas proporcionadas pelos acontecimentos de<br />

ordem política, econômica e social; mudanças de expectativas<br />

em relação às políticas macroeconômicas,<br />

principalmente as relacionadas à inflação, taxa de juros<br />

e câmbio; informações em relação ao desempenho de<br />

companhias listadas em bolsa, em especial expectativas<br />

sobre lucros futuros.<br />

Esses e outros fatores fazem com que as ações de<br />

companhias abertas oscilem excessivamente em curtos<br />

períodos de tempo, transmitindo insegurança e, muitas<br />

vezes pânico para maioria das pessoas, afastando-as<br />

totalmente do mercado de ações.


36<br />

Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

Além disso, ocorre que o pensamento da maioria<br />

dos analistas do mercado de ações está focado numa<br />

visão puramente especulativa, baseando suas previsões<br />

na escola técnica ou grafista ou, ainda, em análises<br />

fundamentalistas de curto prazo.<br />

Assim, diariamente fazem-se previsões sobre o que<br />

pode ocorrer no dia seguinte ou nas próximas semanas,<br />

se a bolsa vai cair ou vai subir - e, como são apenas<br />

especulações, estas nem sempre estão corretas. Aliás,<br />

é uma tarefa muito difícil tentar prever com exatidão<br />

movimentos de curto prazo em bolsas de valores. Há<br />

autores que afirmam que essa tarefa é quase impossível,<br />

incluindo Benjamin Graham.<br />

De qualquer modo, essas análises influenciam as<br />

pessoas diariamente, levando-as a adquirirem ações<br />

de acordo com as indicações disponíveis nos meios<br />

de comunicação ou diretamente com os corretores.<br />

Como o objetivo, geralmente, é comprar as ações em<br />

baixa e vendê-las em alta em um curto espaço de tempo,<br />

na maioria das vezes o que acontece é o inverso,<br />

o especulador acaba comprando as ações em alta e<br />

vendendo em baixa, assim incorrendo em prejuízos.<br />

Esse processo é incentivado quando o mercado está<br />

em alta, pois a análise grafista indica ponto de compra<br />

justamente após algumas altas do papel, sejam ações<br />

ou outro ativo do mercado financeiro. Como é natural<br />

haver pequenas baixas mesmo num processo de alta,<br />

o investidor comum se assusta e acaba vendendo os<br />

papeis recém-adquiridos.<br />

A proposta desta obra é oposta a esta visão. O<br />

foco principal é o investimento em longo prazo, em


Introdução<br />

companhias com bons fundamentos, pondo de lado<br />

qualquer técnica ou estratégia de especulação pura e<br />

simples. O que está por trás desta visão é a ideia de se<br />

adquirir partes de um negócio, através de suas ações,<br />

tornando-se sócio dele, consciente de que o valor de<br />

sua participação vai variar no tempo, mas que, em<br />

longos períodos, esta variação tenderá a ser positiva.<br />

No entanto, a premissa fundamental é que o negócio<br />

selecionado seja excelente, não deixando dúvidas em<br />

relação a sua lucratividade futura.<br />

Se você seguir os ensinamentos contidos nos capítulos<br />

seguintes, que tem por base as ideias de Ben<br />

Graham, você poderá obter grandes resultados no<br />

mercado financeiro. Da mesma forma que os discípulos<br />

deste investidor, incluindo seu maior expoente, Warren<br />

Buffett, um dos investidores mais bem sucedidos de<br />

todos os tempos. Assim, você perceberá que este mercado<br />

tem sua parcela de risco sim, como qualquer outro<br />

investimento tradicional, mas que este investimento,<br />

por outro lado, proporciona oportunidades de ganhos<br />

financeiros superiores aos demais.<br />

37


Capítulo 1<br />

INVESTINDO COM<br />

SEGURANÇA NO<br />

MERCADO <strong>DE</strong> AÇÕES<br />

Bons fundamentos e longo prazo<br />

O mercado de ações, para quem o vê pela primeira vez,<br />

apresenta-se como um mundo mágico e fascinante, mas<br />

ao mesmo tempo, enigmático, desconhecido e, para<br />

muitos, perigoso. O sobe e desce do preço das ações<br />

provoca sensações distintas nas mais variadas estruturas<br />

de pensamento, de acordo com as especificidades de<br />

cada pessoa.<br />

Este trabalho pretende desmistificar este mercado,<br />

demonstrando que, na realidade, ao se comprar uma<br />

ação, você está comprando uma pequena parte de uma<br />

empresa.<br />

Assim, você estará fazendo parte de um negócio e<br />

tornando-se sócio dele ao mesmo tempo. Warren Buffett<br />

diz o seguinte: “A compra de uma ação representa a<br />

compra de uma pequena parte de um negócio. Compre<br />

negócios, não ações”.<br />

Isso significa que o mais apropriado é comprar ações<br />

de empresas de bons fundamentos, por um bom preço<br />

(não muito elevado) e com a pretensão de permanecer<br />

com esses papéis por um longo período de tempo. Deste


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

modo, é como se você tivesse comprando parte de uma<br />

fábrica, de um banco ou de uma mineradora e, que você<br />

só investiria nesta empresa, diretamente, se ela possuísse<br />

bons administradores, um mercado consolidado,<br />

apresentasse boas perspectivas de lucros etc. E por que<br />

pensar em longo prazo?<br />

No mercado de ações as oscilações de preços são<br />

constantes. A partir do momento em que as bolsas de<br />

valores abrem seus pregões, as ordens de compra e<br />

venda, feitas por milhares de pessoas, fazem os preços<br />

variarem. Aumentando quando o volume de ofertas de<br />

compra é maior do que o de vendas, e caindo quando o<br />

volume de vendas é maior do que o de compras.<br />

Esse movimento segue de acordo com as expectativas<br />

dos participantes do mercado. Como são muito<br />

os participantes, as expectativas em relação aos preços<br />

futuros variam de indivíduo para indivíduo. A tendência<br />

é que os preços variem consideravelmente em curtos<br />

espaços de tempo, minuto a minuto, influenciados muitas<br />

vezes por notícias de última hora, que nem sempre<br />

retratam a realidade sobre o mercado ou a empresa em<br />

análise.<br />

Por isso, é comum ver oscilações do tipo: numa<br />

determinada semana o preço de uma ação cai 10%<br />

mas logo se recupera na semana seguinte. Com isso<br />

vemos erros de percepção e de expectativas de quem<br />

se precipitou e vendeu suas ações, provavelmente num<br />

movimento em que os sentimentos (as emoções) têm<br />

mais influência que a racionalidade.<br />

Por isso, é recomendável que se tenha em mente<br />

horizontes de investimentos mais longos, superiores há<br />

40


Investindo com Segurança no Mercado de Ações<br />

um ano ou, mais adequadamente, entre 05 e 10 anos.<br />

Em períodos mais dilatados as expectativas (mal ou<br />

bem formuladas) confrontam-se com a realidade dos<br />

fatos, fazendo com que os preços tendam para um nível<br />

mais próximo da realidade. E, se a empresa ou grupo<br />

de empresas compradas possuem bons fundamentos,<br />

gerando lucros crescentes no decorrer do tempo, a tendência<br />

é que os preços de suas ações subam, trazendo<br />

bons retornos aos investimentos realizados.<br />

Ações de empresas lucrativas valorizam-se naturalmente<br />

no decorrer do tempo, acompanhando a evolução<br />

do lucro.<br />

O conceito de margem de segurança<br />

Apresentaremos a seguir um dos conceitos mais<br />

importantes para o mundo das finanças e dos negócios<br />

em geral, que é o conceito de “margem de segurança”*.<br />

Este conceito foi apresentado por Benjamin Graham no<br />

livro The Intelligent Investor como “conceito central<br />

da teoria de Investimento”, conhecida no mercado<br />

como Value Investment.<br />

Quarenta e dois anos após lê-las pela primeira vez,<br />

ainda acho que “margem de segurança” são as três<br />

palavras chaves. ( Warren Buffett)<br />

Como o próprio termo sugere, margem de segurança<br />

significa uma proteção em relação a eventos imprevistos<br />

que possam ocorrer. No mundo dos negócios, o<br />

conceito de margem de segurança é dado pela garantia<br />

de que o valor de um bem adquirido não seja superior<br />

41


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

ao seu valor intrínseco, ou seja, seu preço justo, ou<br />

ainda, o valor econômico. A margem de segurança<br />

ocorre quando o preço pago por um bem é inferior a<br />

esse valor intrínseco. Quanto maior a diferença entre<br />

o valor real de um bem, que pode ser um imóvel, um<br />

automóvel, ou um título (ações de empresas de capital<br />

aberto) e o preço adquirido, maior será a margem de<br />

segurança, que equivale a uma proteção em relação<br />

a eventos imprevistos que possam ocorrer.<br />

Assim, adquirindo ações por um preço abaixo do<br />

seu valor intrínseco, o investidor estará se beneficiando<br />

de dois modos: o primeiro, é que as chances do preço<br />

da ação subir até o ponto do seu valor real, são grandes<br />

; o segundo, está relacionado com a “proteção” contra<br />

eventuais crises nos mercados financeiros, pois certamente,<br />

o preço da ação adquirida nestas condições<br />

cairá bem menos do que as demais que, porventura,<br />

foram adquiridas sem nenhuma margem de segurança.<br />

Desta forma, o ponto crucial desse conceito reside<br />

na seguinte questão: qual o valor intrínseco (ou preço<br />

justo) da empresa que se pretende investir? Somente<br />

após se ter uma ideia de quanto vale a empresa e, por<br />

conseguinte, suas ações, é que se terá consciência do<br />

investimento a ser realizado, da dimensão da margem<br />

de segurança e dos ganhos que poderão ser auferidos.<br />

Como calcular o valor de uma empresa<br />

de capital aberto?<br />

Conforme fora mencionado, no mercado de ações,<br />

a margem de segurança é encontrada quando o preço<br />

42


Investindo com Segurança no Mercado de Ações<br />

de uma ação (seu valor de mercado) está mais barato<br />

do que seu valor real. Existem alguns métodos que<br />

nos possibilitam encontrar o valor aproximado de uma<br />

empresa e, por conseguinte, o valor de suas ações.<br />

Um deles é o método de análise das demonstrações<br />

contábeis, especialmente o Balanço Patrimonial e a<br />

Demonstração de Resultados. Este método nos proporciona<br />

a obtenção de indicadores que norteiam os<br />

investimentos, não calculando, portanto, o valor intrínseco<br />

de empresas. Os principais indicadores são:<br />

• P/L (valor de mercado da empresa dividido pelo<br />

lucro);<br />

• P/PL (valor de mercado da empresa dividido pelo<br />

valor do seu patrimônio líquido);<br />

• Dívida líquida / patrimônio líquido - que demonstra<br />

o endividamento da companhia em relação<br />

ao patrimônio líquido.<br />

O outro método utilizado é o Fluxo de Caixa Descontado<br />

- FCD, o preferido dos analistas do mercado.<br />

O FCD consiste em determinar o preço atual de uma<br />

empresa, seu valor presente, com base nas projeções<br />

futuras de fluxo de caixa, utilizando para isso uma taxa<br />

de desconto, que variará em função do risco - do grau<br />

de incerteza futuro desse fluxo. A taxa de desconto<br />

corresponde ao custo de oportunidade do negócio.<br />

Este método tem o mérito de determinar o valor<br />

intrínseco de uma companhia, no entanto, esse valor<br />

depende das projeções futuras do fluxo de caixa descontado,<br />

calculadas, geralmente, pela combinação de<br />

dois períodos: um de dez anos e um outro, a partir<br />

desta data, de perpetuidade, ou seja, hipoteticamente<br />

43


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

eterno, o que torna seu grau de incerteza elevado. O<br />

ponto chave aqui é projetar o valor futuro dos fluxos<br />

de caixa livre de forma muito realista para se obter um<br />

valor presente da companhia o mais próximo possível<br />

da realidade - para daí comparar esse valor intrínseco<br />

com o valor de mercado da empresa e verificar a existência,<br />

ou não, de margem de segurança.<br />

A margem de segurança, como já foi dito, é obtida<br />

quando o valor de mercado é inferior ao valor intrínseco<br />

(ou econômico) da companhia. Assim sendo, um<br />

investidor que se utiliza dessa abordagem procurará<br />

as ações que se encontram abaixo do valor econômico<br />

da empresa, esperando que haja uma valorização do<br />

título, um ganho de capital, e venderá as ações que se<br />

encontram acima desse valor intrínseco. Vale ressaltar<br />

que o cálculo do valor real de uma empresa não é<br />

científico e muito menos exato. No entanto, podem-se<br />

obter valores aproximados, proporcionando um grau<br />

de certeza bem maior do que a simples intuição.<br />

Reconhecemos a importância do método do Fluxo<br />

de Caixa Descontado como um excelente método<br />

de obtenção do valor econômico de uma empresa,<br />

inclusive, adotado por Graham e Buffett. No entanto,<br />

deixaremos a cargo do leitor o aprofundamento do tema<br />

em questão. Veja um bom exemplo de cálculo do FCD<br />

em https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/1987178/<br />

mod_resource/content/1/Fluxo%20de%20Caixa%20<br />

Perpetuidade%20%281%29.pdf.<br />

Para o propósito deste livro, o método dos indicadores<br />

financeiros, também denominado de método<br />

dos múltiplos financeiros, se adequa perfeitamente.<br />

44


Investindo com Segurança no Mercado de Ações<br />

Método de análise dos indicadores<br />

financeiros<br />

A metodologia adotada neste trabalho consiste em<br />

demonstrar a eficácia do método de Graham e Buffett<br />

que, em nosso entendimento, pode ser explicado pelos<br />

bons fundamentos da empresa, que tem como base<br />

principal os indicadores financeiros. Desta forma, detalharemos<br />

abaixo o método de análise dos indicadores<br />

financeiros para direcionamento de investimentos em<br />

companhias listadas em Bolsas de Valores.<br />

Veja estes e outros índices no site www.fundamentus.com.br<br />

O índice P/L<br />

O valor econômico de um empreendimento é determinado<br />

pela sua capacidade de geração de lucros<br />

futuros. Assim, dos três indicadores selecionados,<br />

a relação P/L é considerada a mais importante. De<br />

acordo com o dicionário de finanças, encontrado no<br />

site da B3, o índice P/L é um “Indicador do tempo de<br />

recuperação do capital investido, onde P é o preço-cotação<br />

da ação em bolsa, e L é lucro por ação estimado<br />

em regime de perpetuidade, hipótese em que o lucro<br />

por ação se mantém inalterado nos anos à frente. Com<br />

estes dados estabelece-se uma relação, que indica em<br />

quanto tempo, que é contado em anos, o capital será<br />

recuperado. O P/L médio pode ser calculado para uma<br />

carteira de ações.”<br />

45


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

De acordo com os parâmetros estabelecidos pela<br />

teoria do “investidor inteligente”, a relação P/L não<br />

deve ser superior a 15, sendo que muitos investidores,<br />

sobretudo no Brasil, afirmam que o índice P/L não pode<br />

ser superior a 10. Desde que a empresa tenha bons<br />

fundamentos, quanto menor o índice, melhor para o<br />

investidor, pois assim ter-se-á um retorno mais rápido<br />

sobre o capital investido. Outro aspecto importante<br />

diz respeito ao histórico deste índice. Por exemplo,<br />

se a relação P/L de uma determinada empresa sempre<br />

oscilou (nos últimos 10 anos, por exemplo) entre 3 e<br />

5, um aumento repentino para 7 ou mais, pode indicar<br />

que o preço da ação esteja elevado.<br />

Neste caso, o melhor a fazer é aguardar os preços<br />

caírem para os níveis históricos e a partir daí realizar<br />

o investimento, ou investir no nível atual, caso se verifique<br />

que esta é a tendência, calcada na perspectiva<br />

de aumento dos lucros.<br />

O índice P/PL<br />

O índice P/PL mede a relação entre o preço de<br />

mercado da empresa<br />

dividido pelo valor do seu Patrimônio Líquido.<br />

Veja uma ilustração:<br />

Valor do patrimônio liquido<br />

de uma empresa “x”<br />

Quantidades de ações da<br />

empresa “x”<br />

R$ 1.000.000.000,00<br />

(Um bilhão de reais).<br />

R$ 1.000.000.000,00<br />

(Um bilhão de ações).<br />

Preços da ação R$ 0,60<br />

Valor de mercado da empresa “x” R$ 600.000.000,00<br />

(Seiscentos milhões de reais).<br />

46


Investindo com Segurança no Mercado de Ações<br />

Neste exemplo, percebe-se que o valor de mercado<br />

é bem menor do que o valor do patrimônio líquido da<br />

empresa “x”, isso porque o preço ideal da ação, neste<br />

caso, deveria ser R$ 1,00, que multiplicado pelo número<br />

de ações ( 01 bilhão) daria um valor de mercado<br />

de R$ 1.000.000.000,00 (um bilhão de reais), que é o<br />

valor hipotético do Patrimônio Líquido dessa empresa.<br />

Mas ocorre que o valor da ação é apenas R$ 0,60<br />

(sessenta centavos), gerando um valor de mercado<br />

de R$ 600.000.000,00 (seiscentos milhões de reais).<br />

Supondo uma dívida líquida igual a zero, a diferença<br />

entre os valores é tida com uma margem de<br />

segurança. Isso não significa, porém, que o preço desta<br />

ação não possa cair um pouco mais, pois depende do<br />

apetite do mercado, das expectativas em relação ao<br />

setor no qual a empresa está inserida, da conjuntura<br />

nacional e internacional e das expectativas em relação<br />

aos resultados futuros da empresa em questão. No<br />

entanto, é larga a vantagem do investidor que adquire<br />

uma ação nesse nível de preço. Suas chances de obter<br />

grandes ganhos são bem maiores do que aqueles que<br />

adquirirem-na por preços maiores do que R$ 1,00 (um<br />

real) ou em relação àqueles que irão esperar as coisas<br />

“melhorarem” para realizar algum investimento.<br />

Patrimônio Líquido (PL) = Total do Ativo<br />

( bens e direitos) - Passivo (Obrigações)<br />

De acordo com os parâmetros de Graham, o P/PL<br />

não pode ser superior a 1,50. No exemplo acima, o P/<br />

PL é de apenas 0,60, indicando que a ação está barata.<br />

47


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

Se as expectativas em relação à empresa forem boas e<br />

o grau de endividamento for baixo, há uma boa razão<br />

para se investir. Portanto, as relações dadas por P/L<br />

e P/PL são fundamentais para determinar o momento<br />

da compra de uma ação. Veja no quadro abaixo um<br />

exemplo de uma empresa que possui margem de segurança,<br />

dada por baixos quocientes de P/L, P/PL e<br />

Endividamento/PL:<br />

Fonte: www.fundamentus.com<br />

48


Investindo com Segurança no Mercado de Ações<br />

A empresa analisada é a Itausa (cujos códigos de<br />

negociação na B3 são ITSA4 e ITSA3), trata-se de<br />

uma holding que foi constituída para centralizar as<br />

decisões financeiras e estratégicas de um conjunto de<br />

empresas, sendo as principais: Itau Unibanco Holding<br />

S.A e suas controladas Banco Itaú e Banco Itaú BBA;<br />

a Alpargatas, que é a maior empresa brasileira de<br />

calçados (proprietária da marca Havaianas); a Duratex<br />

- que atua em dois ramos de negócio, Madeira e<br />

Deca; a NTC (Nova Transportadora do Sudeste S.A)<br />

a empresa distribui gás natural através de um sólido<br />

sistema de gasodutos, ligando a região de maior pujança<br />

econômica do Brasil ao gasoduto Brasil - Bolívia;<br />

e a Itautec, empresa ligada ao setor de informática,<br />

que atualmente encontra-se num processo de reestruturação.<br />

Percebe-se que a empresa atua em segmentos<br />

consolidados, com atuação não só no Brasil, mas em<br />

vários países, sobretudo através do Banco Itaú e da<br />

Alpargatas. Há de se registrar também a longa história<br />

da empresa, que remonta ao ano de 1966 quando foi<br />

criado o primeiro banco de investimento do Brasil,<br />

denominado Banco Federal Itaú de Investimentos S.A.<br />

Como pode-se verificar no quadro acima, a empresa<br />

possui sólidos fundamentos. De acordo com os dados<br />

do Balanço Patrimonial encerrado em 30/06/2018, o<br />

P/L é de 9,50 (resultado da divisão entre o valor de mercado<br />

da empresa (P), que é de R$ 83.048.100.000,00,<br />

dividido pelo Lucro Líquido (L) dos últimos doze (12)<br />

meses, que é de R$ 8.739.000,00. Como resultado temse<br />

9,50, que está dentro dos parâmetros de Graham e<br />

do mercado brasileiro.<br />

49


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

Em relação ao P/PL, índice obtido através da razão<br />

entre o valor de mercado da empresa e o valor do seu<br />

patrimônio líquido, encontra-se o quociente de 1,63,<br />

que apesar de estar um pouco acima de 1,50, que é o<br />

valor ideal para o P/Pl, de acordo com os conceitos<br />

do Investidor Inteligente, não há nenhum problema,<br />

tendo em vista que se usarmos a máxima de Graham<br />

P/L x P/PL < 22 (o produto dos dois índices não pode<br />

ser maior do que 22), neste caso tem-se 9,50 x 1,63 =<br />

15,48. Portanto, bem abaixo da fórmula em tela, indicando<br />

que além dos sólidos fundamentos a empresa<br />

não está cara, podendo o investidor adquirir, nestas<br />

condições, parte de suas ações para um horizonte de<br />

médio ou longo prazo.<br />

O índice Dívida Líquida / Patrimônio Líquido<br />

O índice dívida liquida/patrimônio líquido indica<br />

o percentual de dívidas/empréstimos que a empresa<br />

possui em relação ao seu patrimônio líquido. De nada<br />

adianta uma empresa ter baixa de quocientes de P/L e<br />

P/PL, se sua dívida é elevada.<br />

A dívida bruta da empresa de acordo com o quadro<br />

acima é de R$ 4,198 bilhões e o valor do Patrimônio<br />

Líquido é de R$ 51,081. Portanto a relação Dívida<br />

Bruta/PL é de 8,21%. Se levarmos em consideração<br />

apenas a Dívida Líquida (que é igual a Dívida Bruta<br />

- Disponibilidades), encontra-se um índice de endividamento<br />

ainda menor, de apenas 2,31%. Ou seja,<br />

confirma-se, desta forma, os sólidos fundamentos da<br />

50


Investindo com Segurança no Mercado de Ações<br />

empresa em epígrafe, bem como seus preços atrativos<br />

para o momento. Um último destaque refere-se aos<br />

dividendos distribuídos pela empresa. De acordo com<br />

o quadro acima, a distribuição de dividendos projetada<br />

sobre o capital investido, ou seja, o dividend yield,<br />

para 2018, é de 10,2%, também excelente.<br />

Para melhor ilustrar os cálculos acima:<br />

P/L= Valor de Mercado = 83.048.100.000,00 = 9,50<br />

Lucro Líquido 8.739.000.000,00<br />

P/PL = Valor de Mercado = 83.048.100.000,00 = 1,63<br />

Patrimônio Líquido 51.048.000.000,00<br />

Nível de<br />

endividamento =<br />

Dívida Líquida = 1.185.000.000,00= 2,31%.<br />

Patrimônio líquido 51.081.000.000,00<br />

Valores em reais (R$)<br />

No apêndice do livro The Inteligente Investor,<br />

Warren Buffett apresenta uma lista de grandes investidores,<br />

ou melhor, magníficos investidores. São<br />

ex-alunos de Bem Grahan que se tornaram grandes<br />

vencedores do mercado financeiro. O desempenho dos<br />

fundos gerenciados por esses investidores tem superado<br />

largamente os índices oficiais das Bolsas de Valores,<br />

a exemplo de Dow Jones e S&P 500, que ano após<br />

ano, vem superando estes índices desde a década de<br />

60. Como exemplo, podemos citar Rick Guerin, gestor<br />

do fundo Pacific Partners Ltd, o qual obteve um ganho<br />

de 22.200% (vinte e dois mil e duzentos por cento)<br />

entre 1965 e 1983, enquanto a rentabilidade do S&P<br />

500 foi de 316% no mesmo período. Enfim, Buffett<br />

51


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

demonstra as altas taxas de retorno de nove fundos de<br />

investimentos (incluindo o dele e de seu sócio Charles<br />

Munger) todos eles administrados por adeptos da<br />

teoria do Value Investment, que tem como parâmetro<br />

principal o conceito de margem de segurança. 3<br />

A estratégia abordada por todos eles é a máxima<br />

pregada por Graham, procurar por discrepâncias entre<br />

o valor de um negócio - dado pelo seu valor de mercado<br />

e o preço justo desse negócio. Ou seja, procurar<br />

pela margem de segurança. No exemplo acima, a Itaúsa<br />

parece se encaixar perfeitamente nesse raciocínio, pois<br />

existe uma boa margem de segurança para se investir e<br />

a empresa tem excelentes fundamentos, tais como, bom<br />

histórico de lucros, nível satisfatório de liquidez corrente,<br />

um tamanho adequado etc.<br />

Observação: Lembre-se que as análises contidas neste<br />

trabalho não constituem indicação de compra ou venda<br />

de qualquer ativo, ficando o autor isento de quaisquer<br />

responsabilidades neste sentido.<br />

Os investidores de Graham exploram essas discrepâncias<br />

sem se preocuparem com o dia em que estão<br />

adquirindo a ação, com o beta do papel, com a covariância<br />

entre a ação e o índice da qual faz parte, com<br />

as pesquisas realizadas por diferentes institutos, com<br />

o preço de face (nominal) da ação ou com o volume<br />

transacionado. Não há preocupação com os postulados<br />

3<br />

GRAHAM, B. The Intelligent Investor. New York: Harper Business,<br />

2003.<br />

52


Investindo com Segurança no Mercado de Ações<br />

da escola técnica. Eles simplesmente perguntam: Qual<br />

o valor real desta empresa? E qual o preço de suas<br />

ações no mercado?<br />

Esses investidores focam suas atenções para duas<br />

variáveis principais: preço e valor. Preço da ação e<br />

o valor real do negócio. Se a cotação de uma ação<br />

estiver proporcionalmente inferior ao valor da companhia,<br />

ou seja, se o valor de mercado (que é dado pela<br />

multiplicação entre a cotação atual e a quantidade de<br />

ações) for inferior ao valor intrínseco, ou preço justo<br />

da companhia (obtido através do método do Fluxo de<br />

Caixa Descontado), tem-se uma margem de segurança<br />

para investir. Como foi visto, a outra forma de constatar<br />

uma oportunidade de investimento é através da análise<br />

dos indicadores financeiros. No exemplo acima: se o<br />

valor de mercado de uma companhia estiver abaixo do<br />

seu Patrimônio Líquido, se a relação P/L for menor do<br />

que 10 e a dívida líquida baixa, tem-se uma margem<br />

de segurança, o que pode garantir bons retornos para<br />

o investimento.<br />

Existe um grande número de empresas que apresentam<br />

uma boa diferença entre o valor do patrimônio<br />

líquido e o seu valor de mercado. Mas não por erros<br />

de expectativas por parte dos investidores ou por problemas<br />

sazonais ou outra questão que não afeta diretamente<br />

a essência e os bons fundamentos da empresa.<br />

Muitas vezes tem-se uma falsa margem de segurança<br />

(representada por baixos quocientes de P/L e P/PL),<br />

dado que a companhia apresenta sérios problemas,<br />

como a ocorrência de grandes prejuízos por mais de<br />

53


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

um exercício, excesso de endividamento, forte redução<br />

de receitas, entre outros. Nestes casos, não há<br />

margem de segurança, mas sim uma grande margem<br />

de risco. Outro aspecto a ser considerado é que o investidor<br />

deve ficar atento, é em relação a companhias<br />

que possuem grandes ativos imobilizados. É o caso das<br />

empresas do setor elétrico e petróleo. Essas empresas<br />

geralmente possuem um ativo imobilizado bastante<br />

elevado, apresentando Patrimônio Líquido robusto e<br />

valores de mercados relativamente baixos em relação<br />

ao Patrimônio Líquido, gerando uma falsa margem de<br />

segurança. Nesses casos, o melhor a fazer é observar<br />

a relação P/L e adquirir o papel quando P/L for igual<br />

ou menor a 10, levando em conta como estão os níveis<br />

de endividamento da empresa e o seu desempenho no<br />

tempo, analisando outros fundamentos.<br />

Você pode estar achando o enfoque da margem de<br />

segurança bastante interessante e estar se perguntando<br />

qual a razão de tantas análises veiculadas diariamente<br />

na Internet, nos principais meios de comunicação de<br />

todo o mundo, nos diversos cursos direcionados para<br />

especuladores, passando por técnicas de como comprar<br />

na baixa e vender na alta, entre outros.<br />

A escola técnica ou grafista tem sua importância<br />

reconhecida pela comunidade de investidores do mundo<br />

inteiro. O problema é que na maioria dos casos ela é<br />

utilizada para fins especulativos, e como vimos poucos<br />

são aqueles que auferem algum lucro nessas operações.<br />

O investidor hábil se utiliza das duas escolas, a<br />

técnica e a fundamentalista. Utiliza a escola técnica<br />

54


Investindo com Segurança no Mercado de Ações<br />

para auxiliá-lo nos momentos de compra ou de venda<br />

e a escola fundamentalista para selecionar as empresas<br />

ou fundos de investimentos nos quais irá investir.<br />

Percebe-se, no entanto, que a escola técnica tem importância<br />

secundária para investidores envergadura<br />

de Ben Graham e Warren Buffett.<br />

Existem duas maneiras de se responder a questão<br />

acima, a primeira tem caráter histórico. A teoria Dow,<br />

que é extremamente técnica, surgiu ainda no final do<br />

século XIX quando o índice Dow Jones foi implantado.<br />

Por atrair a atenção de milhares de investidores e<br />

especuladores de todo o mundo, devido uma série de<br />

previsões que se concretizaram, dentre elas o importante<br />

indicador de venda logo antes do crash da bolsa<br />

de Nova Iorque em 1929 e indicador de compra no<br />

final dos anos 30, a teoria consagrou-se no mercado,<br />

virou tradição, e assim permanece até hoje.<br />

A segunda explicação é de caráter psicológico.<br />

O ser humano é voltado para desafios que ensejam a<br />

superação, a vitória, até mesmo sobre coisas que ele<br />

não conhece. Tentar ganhar quantias em curtos espaços<br />

de tempo é algo tentador para muitos. Assim, sempre<br />

haverá pessoas dispostas a entra no “jogo”, arriscar<br />

alto, na tentativa de obter grandes lucros em curto<br />

prazo, isto é recorrente, ocorre praticamente todos os<br />

dias nas principais bolsas do mundo.<br />

Felizmente, o propósito do verdadeiro investidor<br />

não é especular, não é entrar no “Jogo da Bolsa”. O<br />

verdadeiro propósito é realizar investimentos em empresas<br />

sólidas, com bons fundamentos, consciente de<br />

55


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

que ao comprar uma ação estará fazendo parte de um<br />

negócio, obtendo bons retornos ao longo do tempo e<br />

procurando sempre por discrepâncias entre valores na<br />

infindável busca por margens de segurança.<br />

Conceitualmente, o método que estamos propondo aqui<br />

é simples, no entanto, o sucesso do investidor depende<br />

fundamentalmente de uma boa disciplina, persistência<br />

e controle emocional.<br />

56


Capítulo 2<br />

AS OSCILAÇÕES<br />

DO MERCADO E O<br />

COMPORTAMENTO<br />

DO INVESTIDOR<br />

Fatores determinantes das<br />

oscilações do mercado<br />

As oscilações do mercado de capitais são influenciadas<br />

pela lei da oferta e da procura, e esta pelas expectativas<br />

do mercado. Bolsas de valores talvez sejam o lugar<br />

mais apropriado para se averiguar o sentimento dos<br />

agentes econômicos em relação ao futuro de uma economia.<br />

Quase sempre as cotações dos ativos listados<br />

em Bolsa refletem não somente as condições atuais<br />

do negócio, nelas geralmente já estão precificadas as<br />

expectativas de curto e médio prazos, sobre o futuro<br />

da economia, da empresa ou ativo (uma commoditie,<br />

por exemplo) que se está investindo ou especulando.<br />

Daí surgiu um dos jargões mais utilizados por aqueles<br />

que atuam no universo dos mercados financeiros “a<br />

Bolsa antecipa expectativas, antecipa movimentos”.


58<br />

Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

O processo de compra e venda de ativos, feito<br />

diariamente por milhões de pessoas e por diversas<br />

instituições financeiras, acaba por precificar as ações<br />

listadas em Bolsa de Valores. No entanto, nem sempre<br />

as cotações refletem o preço justo das companhias. Pois,<br />

na maioria das vezes, ou tornam-se muito elevados<br />

ou caem bastante em relação ao que seria o ponto de<br />

equilíbrio, ou seja, o ponto onde o valor de mercado<br />

da empresa (Quantidade de ações X preço atual) é<br />

igual ao valor intrínseco da empresa, conforme vimos<br />

no capítulo I.<br />

E qual deve ser o comportamento do investidor<br />

diante dessas oscilações?<br />

O investidor hábil se movimenta de forma bem<br />

mais comedida em relação aos especuladores. Quando<br />

uma ação está alta, bem acima do ponto de equilíbrio,<br />

ele aguarda calmamente o momento para realizar a<br />

compra da ação, esperando o momento em que ela<br />

atinge ou aproxima-se do ponto de equilíbrio ou, numa<br />

situação ainda melhor, compra-a quando ela estiver<br />

abaixo desse ponto, obtendo larga margem de segurança.<br />

Daí, o ideal é que o investidor mantenha esta<br />

ação em carteira por longo período, vendendo-a quando<br />

ela subir demasiadamente. Assim o investidor vende<br />

suas ações quando elas estão amplamente valorizadas,<br />

valendo 5 ou 6 vezes o valor do seu Patrimônio<br />

Líquido, por exemplo.<br />

A performance do mercado de ações depende de<br />

três fatores fundamentais:<br />

• Crescimento real das companhias (lucros e dividendos<br />

crescentes);


As Oscilações do Mercado e o Comportamento do Investidor<br />

• Inflação (aumento geral de preços);<br />

• Nível de especulação.<br />

O primeiro item constitui a base da variação dos<br />

preços de uma determinada ação. Se uma companhia<br />

apresenta lucros e dividendos crescentes, a tendência<br />

natural é que seu preço suba.<br />

O movimento contrário força o preço para baixo.<br />

Esse aspecto tem se mostrado verdadeiro no mercado de<br />

ações do Brasil e do Mundo. Lógico que o desempenho<br />

das empresas está diretamente relacionado com o crescimento<br />

econômico da Nação a qual pertencem, com<br />

exceção das companhias essencialmente exportadoras.<br />

Geralmente, quando a economia nacional vai bem, os<br />

índices das bolsas tendem a elevar-se impulsionados<br />

pelos lucros corporativos.<br />

Como exemplo de empresas lucrativas, pode-se<br />

citar a Coca-Cola Co., e a General Electric no mercado<br />

americano, e a Petrobrás no mercado brasileiro. As<br />

duas primeiras são empresas centenárias, distribuindo<br />

dividendos, ano após ano, de forma ininterrupta,<br />

desde 1893 e 1885, respectivamente. As ações dessas<br />

empresas tiveram uma trajetória crescente nos últimos<br />

cem anos.<br />

A Petrobrás também sempre teve uma trajetória<br />

crescente no valor de suas ações desde a época em<br />

que as lançou em Bolsa, devido aos grandes lucros<br />

que obtém praticamente todos os anos. A exceção,<br />

logicamente, fica por conta do período compreendido<br />

entre a grande crise dos mercados financeiros<br />

mundiais, em 2008 - deflagrada principalmente pelo<br />

que se denominou a crise do mercado imobiliário<br />

59


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

americano, o sub-prime americano, até 2016, ano em<br />

que a Companhia muda seu staff de diretoria, após o<br />

impeachment da presidente Dilma Rousseff. Como é<br />

do conhecimento de todos, neste período a Petrobrás<br />

sofreu uma brutal ingerência política, culminando<br />

com um ataque colossal aos seus cofres, por parte de<br />

gestores inescrupulosos, resultando numa sequência de<br />

grandes prejuízos contábeis e financeiros entre o final<br />

do exercício de 2014 e início de 2017. Desta forma,<br />

a dívida líquida que era de R$ 50 bilhões de reais em<br />

2009, salta para R$ 400 bilhões de reais em 2015! 4<br />

Atualmente, de acordo com dados do balanço patrimonial<br />

do 3º trimestre de 2018, a dívida líquida (que<br />

é igual a dívida bruta menos as disponibilidades) da<br />

maior companhia do Brasil em termos de ativos é de<br />

R$ 291 bilhões de reais. 5<br />

Quanto a cotação das ações, houve uma das maiores<br />

desvalorizações da história da companhia. O valor das<br />

ações saiu de R$ 52,00 reais, valor unitário, em junho<br />

de 2008 e chegou ao mínimo nominal de R$ 4,50 reais<br />

em fevereiro de 2016. Atualmente, novembro de 2018,<br />

a ação está oscilando na faixa de R$ 25,00. Neste caso,<br />

qual a estratégia a ser adotada pelo investidor inteligente?<br />

Este é um caso atípico em que uma companhia<br />

de bons fundamentos é afetada por fatores externos.<br />

Nestes casos, o melhor a fazer é se desfazer das<br />

ações, vendê-las a partir do momento em que se percebe<br />

que seus fundamentos, como boa gestão, zelo pelo patrimônio,<br />

estratégias de crescimento etc., estão frágeis.<br />

4<br />

www.fundamentus.com.br<br />

5<br />

Id.<br />

60


As Oscilações do Mercado e o Comportamento do Investidor<br />

E esse processo tem como consequência natural a<br />

diminuição dos lucros e, em se permanecendo, a ocorrência<br />

de prejuízos é inevitável. Portanto, o melhor a<br />

fazer é sair do papel quão logo se perceba a piora nos<br />

fundamentos.<br />

O movimento inverso é adquirir as ações, principalmente<br />

quando estiverem ridicularmente desvalorizadas<br />

e os fundamentos derem sinal de melhora. Quando<br />

os preços bateram no fundo, na faixa de R$ 5,00 e<br />

R$ 4,50 reais, para as ações preferenciais (PETR4)<br />

abriu-se uma excelente oportunidade para se comprar<br />

as ações, com margem de segurança.<br />

Como já se comentou: os preços das ações estão<br />

diretamente ligados ao desempenho das companhias.<br />

Se a companhia na qual se investe é lucrativa, o preço<br />

de suas ações sobem normalmente.<br />

No entanto, de nada adiantaria a existência de<br />

boas empresas, com bom histórico de lucros, se não<br />

existisse outras condições favoráveis ao desenvolvimento<br />

dos mercados, principalmente fatores ligados<br />

à conjuntura econômica (a qual a inflação está relacionada)<br />

e a liquidez de mercado favorecida pela ação<br />

dos especuladores.<br />

A inflação interfere diretamente nos ganhos de<br />

capital e nos lucros. Não se pode esquecer que o ganho<br />

real é obtido da seguinte maneira:<br />

Ganho real = % de ganhos no mercado financeiro - taxa<br />

de inflação.<br />

61


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

Portanto, teoricamente, quanto maior for a inflação<br />

menor tende a ser os ganhos reais nos mercados<br />

financeiros, inclusive no mercado de capitais.<br />

O gráfico abaixo compara a taxa de inflação e o<br />

retorno sobre ações entre 1926 e 2002<br />

Fonte: The Intelligent Investor, p. 62.<br />

Valorização das ações x Taxa de inflação<br />

O gráfico está organizado em ordem crescente de<br />

inflação, do menor ao maior nível e não em ordem<br />

cronológica. Observa-se que quando a inflação é altamente<br />

negativa (à esquerda do gráfico), as ações têm um<br />

desempenho lamentável, apresentando grandes perdas.<br />

Quando a inflação está moderada, como a apresentada<br />

na maior parte do período, o retorno sobre ações é<br />

em geral satisfatório e muitas vezes muito bom. Por<br />

outro lado, quando a inflação atinge níveis elevados,<br />

o desempenho do mercado acionário é errático, oscilando<br />

entre fortes períodos de queda e de elevação,<br />

apresentando perdas em torno de 10% ao ano.<br />

62


As Oscilações do Mercado e o Comportamento do Investidor<br />

O terceiro ponto fundamental para a performance<br />

do mercado de ações é o nível de especulação. Embora<br />

frequentemente criticados, os especuladores desempenham<br />

um importante papel no mercado, que é o de<br />

fornecer liquidez ao sistema. Sem eles, a liquidez, ou<br />

seja, o volume de dinheiro circulando nas principais<br />

Bolsas de Valores e em outros mercados do mundo<br />

seria bem reduzido. Assim, uma aversão generalizada<br />

ao risco em determinados períodos, causa grandes<br />

estragos no mercado, pois sem uma liquidez adequada<br />

as ações tendem a cair fortemente, mesmo as de<br />

empresas lucrativas.<br />

A grande liquidez que presenciamos atualmente é<br />

fundamental para os negócios, facilitando largamente<br />

o processo de compra e venda de ações. Hoje em dia,<br />

vende-se ou compra-se uma ação, principalmente de<br />

empresas de bons fundamentos, quase que instantaneamente,<br />

basta emitir uma ordem via Home Broker. E,<br />

isso, só é viável porque além dos investidores existem<br />

milhões de especuladores atuando diariamente no<br />

mercado.<br />

Qual deve ser a atitude do investidor hábil diante<br />

de uma queda na sua carteira de ações causada por<br />

uma crise de caráter especulativo no mercado?<br />

Desde que as ações em carteira sejam realmente<br />

de empresas sólidas e lucrativas, o melhor a fazer é<br />

aguardar por períodos melhores, segurar suas ações<br />

em carteiras, não vendê-las durante esses períodos de<br />

baixa. Benjamin Graham afirma que quando o investidor<br />

vende suas ações por causa de quedas temporárias<br />

63


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

em suas cotações, ele está transformando uma grande<br />

vantagem em uma grande desvantagem. O investidor<br />

hábil é quase que forçado a vender suas ações. Ele realmente<br />

só as vende em caso de extrema necessidade,<br />

por exemplo, por motivo de saúde pessoal ou familiar<br />

ou quando as ações estão ridiculamente valorizadas,<br />

conforme já mencionamos.<br />

Em vez de vender, no caso de uma baixa nas cotações,<br />

o investidor deve pensar em outra alternativa,<br />

que é totalmente contrária aos postulados da escola<br />

técnica, aguardar os preços caírem ao máximo e então<br />

comprar mais ações das companhias que integram sua<br />

carteira.<br />

Isto faz sentido porque uma crise especulativa é<br />

sempre passageira. E, quando as coisas voltarem ao<br />

normal o investidor não só recupera seu capital naquelas<br />

ações que ele reteve em carteira, como aufere<br />

grandes lucros nas novas ações que adquiriu em baixa.<br />

Uma baixa de 50% (cinquenta por cento) potencializa<br />

um ganho de 100% (cem por cento) quando os preços<br />

voltam ao ponto inicial.<br />

Oscilações de preços x técnicas<br />

de investimento<br />

Passaremos agora a examinar o comportamento<br />

do investidor frente às oscilações do mercado, à luz<br />

da teoria de Graham.<br />

Como a flutuação de preços é inerente ao mercado<br />

de ações, o investidor pode muito bem querer auferir<br />

64


As Oscilações do Mercado e o Comportamento do Investidor<br />

grandes lucros nesses movimentos, tentar comprar em<br />

baixa e vender em alta. Existem duas maneiras pelas<br />

quais ele pode fazer isso: Por timing (previsão) e por<br />

análise de preços.<br />

Por timing entende-se a intenção do investidor ou<br />

especulador em prever os preços - comprar ou manter<br />

ações em carteira quando o futuro indicar alta e, vender<br />

ou não comprar quando o futuro indicar um cenário de<br />

baixa nos mercados de ações. Esta análise geralmente<br />

é feita em curto período de tempo, reflete a expectativa<br />

do investidor em comprar em baixa e vender em alta.<br />

Por análise de preço entende-se o empenho do<br />

investidor em comprar quando o preço da ação estiver<br />

bastante atrativo, abaixo do preço de equilíbrio ou<br />

preço justo da ação - conforme definido no Capítulo<br />

I, ou próximo a ele, não muito acima deste ponto.<br />

Sendo que o ideal é comprar com grande margem de<br />

segurança, abaixo do preço de equilíbrio. Observamos<br />

que encontrar empresas de bons fundamentos com<br />

grandes margens de segurança está cada vez mais raro,<br />

cabendo ao investidor não desperdiçar oportunidades<br />

quando isso ocorrer.<br />

Quanto à venda, mais uma vez, o investidor hábil<br />

empenha-se em desfazer-se de suas ações quando o<br />

preço dessas estiverem amplamente valorizados, percebendo<br />

que uma queda está próxima ou que a ação<br />

tem poucas chances de subir. Geralmente isto ocorre<br />

quando o investimento foi realizado há algum tempo,<br />

no mínimo acima de 01 ano, mas o mais comum para<br />

que isso ocorra é depois 05 à 10 anos. (Mas, como<br />

65


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

tudo na vida, há exceções, as ações do Google subiram<br />

mais de 500% dezoito meses após seu lançamento na<br />

NYSE - ficando ridiculamente valorizadas e praticamente<br />

não sofreram baixas significativas até hoje).<br />

Graham e seus seguidores, incluindo Buffett, estão<br />

convencidos de que o método da previsão ou timing<br />

é utilizado por especuladores e apresenta resultados<br />

típicos de investimentos especulativos, quer dizer,<br />

insatisfatórios. Por outro lado, eles estão igualmente<br />

convencidos de que o método da análise de preços<br />

apresenta resultados típicos de um verdadeiro investidor,<br />

acima da média dos mercados.<br />

Isto pode parecer um pouco estranho para a maioria<br />

dos homens de mercado que atuam na B3 ou em<br />

Wall Street, guiando seus investimentos através do<br />

timing. Alguns profissionais do mercado podem até<br />

ter sucesso através de análises gráficas, por previsão<br />

de preços em curto prazo, mas é quase impossível que<br />

um investidor comum possa obter o mesmo resultado,<br />

dado a complexidade e imprevisibilidade do mercado<br />

de ações.<br />

Lógico que a melhor forma de se ganhar dinheiro<br />

em Bolsa de Valores é comprar em baixa e vender em<br />

alta. Mas quem é capaz de prever esses movimentos<br />

com precisão? Por isso recomenda-se agir como investidor,<br />

dado o grande risco que se corre quando se<br />

atua como especulador.<br />

A seguir apresentamos um modelo de contrato,<br />

uma espécie de autodeclaração, no qual o investidor<br />

compromete-se a investir continuamente numa carteira,<br />

que pode ser diversificada contendo ações, fundos<br />

66


As Oscilações do Mercado e o Comportamento do Investidor<br />

de investimento multimercados, fundos imobiliários<br />

etc. O importante é que essa carteira contenha os fundamentos<br />

expostos neste livro, que o horizonte seja<br />

de longo prazo e que se adote a técnica Dollar-Cost<br />

Averaging.<br />

67


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

CONTRATO DO INVESTIDOR 6<br />

Eu,<br />

por meio deste instrumento,<br />

declaro que sou um investidor que está buscando acumular<br />

riqueza por muitos anos no futuro.Sei que haverá muitos momentos<br />

em que ficarei tentado a investir em ações ou títulos porque<br />

seus preços subiram (ou estão subindo) e, em outros momentos,<br />

que ficarei tentado a vender meus investimentos porque seus<br />

preços caíram (ou estão caindo). Por meio deste contrato declaro<br />

minha recusa em deixar que uma horda de desconhecidos tome<br />

decisões por mim. Além disso, me comprometo solenemente a<br />

nunca investir porque o mercado acionário subiu e a nunca vender<br />

porque ele caiu.Em vez disso, investirei R$....................,00 por<br />

mês, a cada mês, através de um plano de investimentos automático<br />

ou “programa de custo médio em reais”, nos fundo(os) a seguir<br />

ou em carteira(s) diversificada(s):<br />

Da mesma forma, investirei quantias adicionais sempre que tenha<br />

dinheiro sobrando. Por meio deste instrumento, declaro que<br />

manterei cada um desses investimentos continuamente até, pelo<br />

menos, a seguinte data (a qual deve ser um mínimo de dez anos<br />

após a data deste contrato): , 20 . As únicas<br />

exceções permitidas segundo os dispositivos deste contrato são<br />

uma necessidade repentina e inadiável de dinheiro, como uma<br />

emergência médica ou perda de emprego, ou um gasto planejado,<br />

como dar entrada em um imóvel ou despesas com educação.<br />

Ao assinar abaixo, afirmo que minha intenção não é apenas<br />

cumprir os termos deste contrato, mas reler este documento sempre<br />

que ficar tentado a vender qualquer dos meus investimentos. Este<br />

contrato é válido apenas quando assinado por, pelo menos, uma<br />

testemunha, devendo ser mantido em lugar seguro e facilmente<br />

acessível para futura referência.<br />

Assinado:<br />

Data:<br />

, 20 .<br />

Testemunhas:<br />

6<br />

GRAHAM, Benjamin. O investidor inteligente/ Benjamin Graham;<br />

atualizado com novos comentários de Jason Zweig; prefácio e apêndice<br />

de Warren E. Buffett; tradução de Lourdes Sette. Rio de Janeiro: Nova<br />

Fronteira, 2007.<br />

68


Capítulo 3<br />

SELECIONANDO AÇÕES<br />

PARA O INVESTIDOR<br />

INTELIGENTE<br />

Critérios de seleção<br />

Neste capítulo analisam-se os critérios de seleção<br />

para investimentos moderados no mercado<br />

de ações, à luz dos ensinamentos de Graham.<br />

Do ponto de vista estratégico, Graham faz as seguintes<br />

recomendações:<br />

a) Mix de carteira. Uma carteira composta por<br />

50% em renda fixa e 50% em renda variável (ações).<br />

Dependendo das condições de mercado admite- se uma<br />

posição menos conservadora, com 25% dos recursos<br />

aplicados em renda fixa e 75% em renda variável.<br />

b) Timing de compra. O uso da técnica “Dollar-cost<br />

averaging” onde o aplicador investe valores iguais a<br />

intervalos regulares (de um mês, trimestre, semestre<br />

ou um ano).<br />

c) Número de empresas. Uma carteira diversificada<br />

de ações entre 10 e 15 empresas.


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

São sete os critérios de seleção de empresas sugeridos<br />

por Graham:<br />

1) Tamanho adequado do empreendimento;<br />

2) Forte posição financeira;<br />

3) Lucros estáveis;<br />

4) Bom histórico de distribuição de dividendos;<br />

5) Lucros crescentes;<br />

6) Equilíbrio na relação Preço/Lucro (P/L);<br />

7) Relação equilibrada entre valor de mercado da<br />

empresa e patrimônio líquido (P/PL).<br />

Como a economia e as empresas americanas são<br />

bem mais robustas do que as nossas, fizemos algumas<br />

adaptações para o mercado de ações brasileiro, conforme<br />

segue:<br />

Tamanho adequado do empreendimento - embora<br />

algumas empresas de menor porte sejam lucrativas,<br />

considera-se que estas não garantem a segurança necessária<br />

exigida por um investidor conservador. Pois<br />

em momentos de crise elas podem perder grande parte<br />

da sua lucratividade por falta de um maior suporte<br />

financeiro.<br />

No Brasil, uma empresa com um Ativo Total acima<br />

de R$ 2 bilhões de reais, satisfaz o critério de seleção<br />

70


Selecionando Ações para o Investidor Inteligente<br />

proposto neste capítulo. A maioria das empresas que<br />

compõe o índice IBOVESPA possui Ativo Total acima<br />

desse patamar.<br />

Condição financeira suficientemente forte - uma<br />

forte condição financeira é dada por um índice de<br />

liquidez corrente igual ou maior que 1,5 significando<br />

que para cada R$ 1.00 (um real) em dívidas, a empresa<br />

dispõe de pelo menos R$ 1,50 (um real e cinquenta)<br />

para pagá-las. Por outro lado, dívidas de longo prazo<br />

não podem exceder a 2 vezes o valor do Patrimônio<br />

Líquido da empresa. Dito de outra forma, o valor do<br />

Patrimônio Líquido não pode ser inferior a 50% do<br />

valor das dívidas de longo prazo.<br />

Lucros estáveis - companhias que apresentam lucros<br />

ininterruptos nos últimos 10 anos, ou seja, nenhum<br />

prejuízo durante este período.<br />

Bom histórico de dividendos - selecionar empresas<br />

que tenham efetuado pagamento de dividendos de<br />

forma ininterrupta nos últimos 20 anos. (Devido ao<br />

mercado de ações no Brasil ter se desenvolvido com<br />

mais intensidade a partir da segunda metade dos anos<br />

90, esse critério de Graham pode ser flexibilizado no<br />

caso de empresas brasileiras, reduzindo o tempo para<br />

10 anos).<br />

Lucros crescentes - aumento de no mínimo 33% no<br />

valor das ações nos últimos 10 anos. Mas este aumento<br />

deve ser calculado utilizando a média dos preços dos<br />

três primeiros anos.<br />

Relação Preço/Lucro equilibrada (P/L) - a relação<br />

Preço/Lucro não poderá ser superior a 10, considerando<br />

a média dos últimos 03 anos.<br />

71


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

Relação moderada ente Preço e Patrimônio Líquido<br />

(P/PL)<br />

O valor de mercado da empresa não pode exceder<br />

1,5 vezes ou 150% do valor do patrimônio líquido.<br />

A empresa só poderá apresentar uma relação P/PL<br />

maior do que 1,5 se a relação P/L for menor do que 15.<br />

Aqui Graham apresenta uma fórmula que pode<br />

ser adotada por investidores defensivos. Esta é dada<br />

pela multiplicação do valor do P/L pelo P/PL, cujo<br />

produto não pode ser superior a 22.5. ou seja, 22,5<br />

é o resultado de 15 x 1,5.<br />

Exemplo: suponhamos que uma empresa tenha<br />

uma relação P/L=20 (bastante alta para os parâmetros<br />

de Graham) e uma relação P/PL = 1. Assim,<br />

multiplicando 20 x 1 obtém-se um produto menor<br />

do que 22,5, que é o teto estabelecido. Desta forma,<br />

uma empresa nestas condições pode ser objeto de<br />

investimentos. 7<br />

O leitor pode ter achado que a maioria desses<br />

critérios sejam rigorosos, e até observar que alguns<br />

podem ser de difícil implementação, principalmente<br />

no mercado acionário brasileiro, cuja maioria das empresas<br />

ainda dependem de políticas governamentais<br />

e a bolsa como um todo fica a mercê da volatilidade<br />

dos preços das commodities (petróleo, minério de<br />

ferro e carnes, em especial) no mercado internacional.<br />

7<br />

GRAHAM, B. The Intelligent Investor. New York: Harper Business,<br />

2003.<br />

72


Selecionando Ações para o Investidor Inteligente<br />

Os fundamentos de Graham são realmente rígidos,<br />

mas sem nenhuma dúvida, essenciais para fornecer<br />

maior segurança ao investidor, justamente para protegê-lo<br />

dos fatores citados.<br />

No entanto, flexibilizar um ou dois itens dos<br />

fundamentos apresentados ou aumentar o grau de<br />

exigência em outros, é perfeitamente possível. Por<br />

exemplo, no critério lucros estáveis parece ser excessivamente<br />

rigoroso a exigência de 10 anos ininterruptos<br />

de lucros. Entendemos que 01 ou 02 anos<br />

de pequenos prejuízos, não mais do que isso, para<br />

o período considerado, não deve ser motivo para a<br />

exclusão de uma empresa da carteira de ativos de um<br />

investidor hábil, desde que esta companhia obedeça<br />

aos outros critérios estabelecidos.<br />

Por outro lado, o critério lucros crescentes, de<br />

acordo com comentários de Jason Zweig (The Intelligent<br />

Investor, Revised Edition, 2003), foi bastante<br />

flexibilizado por Graham. Ao levar em consideração<br />

um aumento médio de apenas 33% nos lucros dos<br />

últimos 03 anos em comparação com os 03 primeiros<br />

num período de 10 anos, é uma meta muito fácil de<br />

se atingir. O investidor pode aumentar a exigência<br />

desse critério. Que tal exigir lucros crescentes e ininterruptos<br />

nos últimos 5 anos?<br />

Os outros critérios podem ser adotados tranquilamente<br />

para selecionar empresas no mercado brasileiro.<br />

Devido a grande qualidade dos critérios aqui<br />

definidos, o número de empresas que se encaixam<br />

nesse esquema é bastante reduzido.<br />

73


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

Selecionando ações - um exemplo prático<br />

Segue abaixo uma carteira de ações selecionadas<br />

de acordo com os critérios de Graham. O trabalho foi<br />

realizado por profissionais do site www.acaoereacao.<br />

net no qual foram analisadas 150 empresas para uma<br />

carteira defensiva de ações. Deste total, foi selecionada<br />

uma carteira final, em dezembro de 2017, composta<br />

por apenas 5 empresas que atendem aos critérios de<br />

Graham.<br />

Seleção Defensiva de Graham Final<br />

Preços: 01/12/17<br />

FIRMA ATIVIDA<strong>DE</strong> PREÇO<br />

/AÇÃO<br />

R$<br />

P/L<br />

3 ANOS<br />

X<br />

CRESC<br />

MÉD<br />

%AA<br />

PREÇO<br />

/PL<br />

%<br />

DIV. LIQ<br />

/PL<br />

%<br />

LIQ<br />

COR<br />

X<br />

ALTA<br />

2016-17<br />

%<br />

Não Financeiras<br />

FERBASA Ferroligas 16,92 11.7 5.1 96 -17 3.8 +140<br />

*GRAZZIOTIN Varejo 25,20 8.2 9.1 105 -32 2.6 +178<br />

SANEPAR Saneamento 10,18 8.3 8.2 102 43 1.4 +205<br />

Financeiras<br />

BRA<strong>DE</strong>SCO Banco 32,57 11.4 5.4 180 - - +69<br />

PORTO SEGURO Seguros 36,56 11.6 4.9 156 - - +26<br />

Média - 10,2 - 128 - - -<br />

* Entrou após flexibilização de critérios<br />

P/L: Preço/Lucro PL: Patrimônio Líquido<br />

Indicadores Financeiros se referem ao fim de 2016<br />

Comentários sobre a seleção<br />

A seleção das empresas foi feita em dezembro de<br />

2017, sendo que essa seleção é realizada anualmente,<br />

desde 2001. Pode-se observar que os parâmetros con-<br />

74


Selecionando Ações para o Investidor Inteligente<br />

siderados foram os seguintes: P/L dos últimos 03 anos;<br />

crescimento médio anual; P/PL; Dívida Líquida/PL e<br />

Liquidez Corrente da empresa. Repare como é difícil<br />

fazer parte dessa seleção de empresas. De aproximadamente<br />

400 empresas listadas na B3, apenas 05 companhias<br />

se enquadravam nos parâmetros de Graham<br />

nesta última seleção. Vale lembrar que na 1.a edição,<br />

apresentamos aqui 20 empresas que faziam parte de<br />

uma seleção preliminar e a seleção final contava com<br />

11 empresas. De qualquer forma, seja nos dias atuais<br />

ou de uma década atrás, percebe-se que o grupo de<br />

empresas que fazem parte dessa seleção é um clube<br />

muito seleto e que merece toda a atenção por parte do<br />

investidor hábil.<br />

As razões para a diminuição no número de empresas<br />

selecionadas de acordo com os critérios do<br />

investidor inteligente, em 2016, é dada pela recessão<br />

vivida pelo Brasil, no período do final de 2014 ao início<br />

de 2017. Neste período, tem-se uma redução substancial<br />

no faturamento da maioria das empresas, o que<br />

implica em menor lucratividade e consequentemente<br />

baixos índices de P/L, P/PL, aumento de dívidas etc.<br />

Desta forma, os parâmetros de Graham, que exigem<br />

uma excelente saúde empresarial, não puderam ser<br />

atendidos pela imensa maioria das empresas.<br />

No entanto, reiteramos o fato de que neste caso o<br />

investidor deve olhar para outras empresas que apesar<br />

de estarem com os preços das suas ações um pouco<br />

acima do recomendado, podem ser objeto de investimento,<br />

tendo em vista as expectativas positivas para a<br />

economia brasileira nos próximos anos e, por conseguinte,<br />

uma melhora nos seus indicadores financeiros.<br />

75


76<br />

Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

As companhias que estão relacionadas graficamente,<br />

no capítulo IV, podem, ao nosso ver, constituir-se<br />

em alternativas interessantes para o médio ou longo<br />

prazos, sobretudo se o investidor adotar a técnica<br />

Dollar-cost-averaging, ou seja, técnica de formação<br />

de preços médios.<br />

Detalhamento dos Critérios:<br />

• Companhias proeminentes em seus setores.<br />

• Vendas anuais substanciais: acima de US$250 milhões.<br />

• Sólida posição financeira: Liquidez Corrente de<br />

pelo menos 1,00 e relação Dívida Líquida/PL máxima<br />

de 50%.<br />

• Estabilidade de lucro: lucro e dividendos contínuos<br />

durante 9 anos.<br />

• Crescimento de lucro: aumento de pelo menos<br />

4% a.a. usando as médias dos 3 anos no início e no<br />

fim do período.<br />

• Preço/Lucro histórico moderado: o preço atual<br />

da ação individual, dividido pelo lucro médio dos<br />

últimos 3 anos (em reais), não deve exceder 11x. A<br />

recomendação básica de Graham é que o Lucro/Preço<br />

médio (o inverso do Preço/Lucro médio) da carteira<br />

seja pelo menos igual à taxa de juros oferecida por<br />

bônus de boa qualidade. Uma NTN-B de 10 anos<br />

atualmente oferece juros de quase 9% aa.<br />

• Preço/Patrimônio Líquido moderado: não deve<br />

ultrapassar 150% (mas, seguindo Graham, aceitamos<br />

um Preço/Patrimônio Líquido maior de 150% (ou 1,5)<br />

se o produto de Preço/Patrimônio Líquido x Preço/<br />

Lucro é menos de 22,50).


Capítulo 4<br />

MÉTODOS <strong>DE</strong><br />

<strong>INVESTIMENTO</strong><br />

Categorias de investimento<br />

Todo investidor experiente tem em mente que o seu<br />

sucesso no mercado de ações depende das empresas<br />

ou do fundo de investimentos em que ele investe num<br />

determinado período. Benjamin Graham afirma que<br />

grande parte dos profissionais de mercado obtém um<br />

desempenho aquém do esperado. No entanto, isso<br />

não significa que os investidores, mesmo aqueles que<br />

seguem os princípios do investor hábil, possam ter<br />

uma performance melhor do que a média do mercado.<br />

Isso irá depender de vários fatores, que envolvem conhecimento<br />

do mercado e das empresas selecionadas,<br />

disciplina e controle emocional.<br />

Existem aqueles investidores que em questão de<br />

semanas adquirem conhecimentos e habilidades para<br />

selecionar ações com sucesso, enquanto outros passam<br />

alguns anos para conseguir e, ainda, há os que<br />

percebem que esse trabalho não é para si, passando a<br />

investir através de terceiros, contratando serviços de<br />

fundos de investimento.


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

O processo de seleção de ações parece ser simples,<br />

mas na verdade exige certa dose de perspicácia<br />

e esperteza. O Sr. Mercado, (expressão criada por<br />

Benjamin Graham para personificar o mercado) todo<br />

dia apresenta suas propostas através da oscilação dos<br />

preços dos ativos (ações, opções, índices etc.). Cabe<br />

ao investidor analisar cuidadosamente as provocações<br />

do Sr. Mercado e fazer suas operações. No capítulo I<br />

foi fornecida a base para aquisição de ações através do<br />

conceito de margem de segurança, que tem se mostrado<br />

muito eficiente em aplicações de longo prazo. No<br />

capítulo II demonstrou-se, em linhas gerais, como se<br />

comporta o investidor diante das oscilações do mercado.<br />

E, no capítulo III, foi exposto o pensamento de<br />

Graham em relação à seleção de ações para investidores<br />

conservadores. Neste capítulo, serão discutidas<br />

algumas técnicas de investimento desenvolvidas por<br />

grandes investidores, disponibilizando ao leitor um<br />

referencial de estudo e reflexão para que possa definir<br />

sua própria maneira de investir.<br />

Indiscutivelmente, existem muitos métodos de<br />

investimento em ações, mas a grande maioria pode ser<br />

classificada em uma das seguintes categorias:<br />

• Value Investment<br />

• Market Timing<br />

• Momentum Investment<br />

• Indexing<br />

• Growth Stocks<br />

Será mantido os termos em inglês porque foi nos<br />

Estados Unidos que essas estratégias foram formuladas.<br />

A seguir detalharemos cada uma delas.<br />

78


Value Investment<br />

Métodos de Investimento<br />

O Value Investment é o método adotado por<br />

Graham, exposto nos capítulos anteriores. Nossa principal<br />

fonte de pesquisa foi sua obra, escrita em 1949,<br />

The Intelligent Investor (O Investidor Inteligente) que<br />

foi direcionado para o pequeno investidor. Conforme<br />

foi exposto, o Value Investment se utiliza exclusivamente<br />

de técnicas da Análise Fundamentalista. Seus<br />

princípios fundamentais são:<br />

a) O valor intrínseco, ou valor econômico de uma<br />

empresa é dado em função do potencial do negócio<br />

em gerar e distribuir lucros. O valor intrínseco não é<br />

um valor exato, mas uma faixa de possíveis valores<br />

que se desloca de forma lenta no tempo. No caso de<br />

empresas que apresentam uma boa estabilidade em seus<br />

resultados, a faixa pode ser identificada com razoável<br />

precisão.<br />

b) A bolsa de valores é simplesmente, para o Value<br />

Investment, um lugar para se comprar e vender ações.<br />

Não é um mecanismo para avaliar ações, pois está<br />

sujeita as mais variadas emoções do público. A única<br />

vantagem de se utilizar a bolsa é a de adquirir ações<br />

mais baratas nos momentos de pânico.<br />

c) Ao longo dos anos, o valor de uma empresa na<br />

bolsa (seu valor de mercado) oscila em torno do seu<br />

valor intrínseco, muitas vezes divergindo deste valor -<br />

quando a bolsa está excessivamente em alta ou em baixa.<br />

Como o mercado de ações é razoavelmente eficiente,<br />

há sempre a tendência do valor de mercado voltar, em<br />

médio e longo prazo, para o seu valor intrínseco.<br />

79


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

d) É em períodos de baixa da bolsa, quando o valor<br />

de mercado estiver abaixo do valor intrínseco, que as<br />

grandes oportunidades de compra surgem, garantindo<br />

uma “margem de segurança” para o investidor. E,<br />

quanto maior for esta diferença, esta margem, maior<br />

serão as possibilidades de ganho para o investidor. Esta<br />

“margem de segurança” minimiza a chance de perda e<br />

maximiza o potencial de ganho.<br />

e) Para se obter o valor intrínseco de uma companhia,<br />

deve-se analisar seu desempenho por um período<br />

significativo, entre 10-20 anos. Embora seja difícil<br />

para o pequeno investidor conseguir estes dados, uma<br />

empresa que não tiver interesse em fornecê-los, deve<br />

ser descartada pelo investidor.<br />

f) Se o investidor tiver tempo e perícias necessárias<br />

para encontrar boas oportunidades de investimentos em<br />

companhias listadas em bolsa deve investir uma percentagem<br />

significativa de seus fundos em cada empresa:<br />

tais descobertas são raras e devem ser aproveitadas,<br />

pois oferecem oportunidades superiores de ganho. Em<br />

consequência, este investidor terá poucas empresas em<br />

sua carteira e as deverá manter durante muitos anos.<br />

g) Assim, o investidor deverá conhecer em profundidade<br />

cada uma das empresas que selecionou e<br />

acompanhar de perto seus negócios.<br />

h) Nos casos em que o investidor não dispuser de<br />

tempo para acompanhar seus investimentos, o ideal é<br />

que escolha uma carteira diversificada de ações, com<br />

no mínimo 10(dez) empresas de bons fundamentos.<br />

Assim, o desempenho médio da carteira compensará<br />

80


eventuais erros de avaliação ou impacto de imprevistos<br />

negativos oriundos do mercado.<br />

i) De acordo com o Value Investment, todo investimento<br />

deve conter a aplicação de 50% de seus<br />

fundos (ou no mínimo 25%) em renda fixa. A renda<br />

fixa fornece um colchão para eventuais emergências,<br />

além de complementar a renda variável, aumentando<br />

quando esta diminui e vice- versa.<br />

Market timing<br />

Métodos de Investimento<br />

As estratégias de Market timing tentam prever<br />

os pontos de reversão do mercado. A idéia é comprar<br />

ações quando o mercado estiver no fim de uma baixa<br />

e vendê-las quando o mercado estiver no fim de uma<br />

alta (“buy low, sell high”), conforme expusemos na<br />

introdução deste trabalho. Para tentar prever os movimentos<br />

do mercado os analistas adeptos desta estratégia<br />

utilizam tanto a análise fundamentalista como a gráfica,<br />

frequentemente em combinação. Como vimos, prever<br />

com exatidão os movimentos do mercado é uma tarefa<br />

difícil, principalmente para o pequeno investidor.<br />

• Momentum investiment<br />

Momentum investment é uma estratégia adotada por<br />

especuladores que tentam maximizar suas aplicações<br />

financeiras em curtos espaços de tempo. A idéia é adquirir<br />

ações que estão crescendo rapidamente, permanecer<br />

com elas por alguns dias e se desfazer logo depois, com<br />

grande percentual de lucro. Trata-se de uma estratégia<br />

altamente especulativa e arriscada, não é recomendada<br />

para pequenos investidores.<br />

81


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

Indexing<br />

Indexing ou investimento passivo, consiste simplesmente<br />

em adquirir ações indexadas a um índice.<br />

Pode-se, por exemplo, adquirir todas as ações do Índice<br />

Ibovespa - respeitando seus pesos, ou comprar<br />

cotas de um fundo com esta composição, que se estará<br />

indexando o valor da aplicação ao Índice Bovespa.<br />

Essa estratégia permite apenas a obtenção dos mesmos<br />

resultados do índice.<br />

Growth Stocks<br />

A idéia aqui é investir em empresas que apresentam<br />

lucros crescentes e que a tendência também é de alta<br />

para os lucros. Isso está na margem do Value Investment,<br />

que seleciona ações depois de longos períodos<br />

de geração e distribuição de lucros, conforme vimos no<br />

capítulo II. É uma estratégia interessante, no entanto<br />

Graham identifica três perigos nessa estratégia.<br />

O primeiro vem do fato que empresas com bom<br />

potencial geralmente apresentam preços correspondentemente<br />

altos. Assim, mesmo que as previsões se<br />

realizassem, o investidor não teria um grande retorno. O<br />

segundo risco, e sério, diz respeito a não concretização<br />

das previsões, que são feitas, geralmente, para períodos<br />

de 10 a 15 anos. O último risco está relacionado com<br />

a tendência dos preços das ações de empresas de alto<br />

crescimento apresentarem grandes oscilações. Apesar<br />

disso, Graham admite que Growth Stocks poderia ser<br />

um campo apropriado para Value Investment, desde<br />

82


Métodos de Investimento<br />

que as projeções para o futuro sejam conservadoras e<br />

tenham alguma margem de segurança.<br />

Cabe observar, contudo, que investidores arrojados<br />

geralmente possuem seu próprio método para selecionar<br />

seus ativos, ou seja, suas ações. Alguns gerentes de<br />

fundos de investimentos optam por investir somente<br />

em empresas que distribuem bons dividendos, formando<br />

uma carteira de ações conservadora que prioriza<br />

o recebimento dos dividendos dessas empresas.<br />

Atualmente, no mercado brasileiro, podemos destacar<br />

empresas com bons fundamentos e dividendos acima<br />

de 6% ao ano, conforme tabela abaixo:<br />

Código B3 Companhia Setor de Atuação<br />

% Dist<br />

Dividendos<br />

EZTC3 EZETEC Construção Civil 16,27<br />

TRPL4<br />

CIA <strong>DE</strong><br />

TRANSMISSÃO Energia Elétrica 10,50<br />

PAULISTA<br />

BRKM5 BRASK<strong>EM</strong> Petroquímico 8,42<br />

CSMG3 COPASA<br />

Saneamento Básico<br />

7,47<br />

MPLU3 MULTIPLUS Diversos - Program 7,14<br />

EGIE3 ENGIE BRASIL Energia Elétrica 6,90<br />

BBSE3<br />

BB<br />

SEGURIDA<strong>DE</strong><br />

Seguros 6,36<br />

Fonte: Economática - Dados atualizados até 31 de julho de 2018.<br />

Há gerentes um pouco mais arrojados que preferem<br />

investir em pequenas empresas (denominadas Small<br />

Caps), adquirindo seus papéis quando esses estão excessivamente<br />

baratos, ou seja, com grande margem de<br />

segurança. Por exemplo, nos Estados Unidos alguns<br />

fundos mútuos preferem investir em empresas relati-<br />

83


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

vamente pequenas, com preço de mercado estipulado<br />

em aproximadamente 60% do Patrimônio Líquido,<br />

ou seja, uma relação P/PL em torno de 0,60. O que<br />

representa uma boa margem de segurança. Os riscos<br />

dessas operações estão relacionados à baixa liquidez<br />

característica desse tipo de empresa.<br />

A maneira de investir de Warren Buffett<br />

- Warren’s Way<br />

A seguir, demonstrar-se-á a maneira de investir<br />

de Buffett:<br />

“Seu objetivo como investidor deveria ser simplesmente<br />

comprar, a um preço racional, uma participação<br />

num negócio que é fácil de entender, e cujos<br />

lucros, está praticamente certo, vão ser significativamente<br />

mais altos daqui 5, 10 e 20 anos. Com o tempo<br />

vai descobrir que poucas empresas se encaixam<br />

neste padrão. Por isso, se descobrir uma, você deve<br />

comprar uma quantidade significativa de suas ações.<br />

Você também deve resistir à tentação de se desviar de<br />

suas diretrizes. Se não estiver disposto a manter uma<br />

ação durante 10 anos, evite mantê-la por 10 minutos.<br />

Junte uma carteira de empresas cujos lucros marcham<br />

para cima ao longo dos anos, e o valor do mercado<br />

da carteira marchará junto.”<br />

“Investimento inteligente não é complexo, o que<br />

tampouco signifique que seja fácil. O que um investidor<br />

precisa é de uma capacidade para avaliar<br />

corretamente negócios selecionados. Note a palavra<br />

84


“selecionados”: não precisa ser um especialista em<br />

todas as empresas, nem, necessariamente, em muitas.<br />

Você só precisa ter a habilidade para avaliar as<br />

empresas que ficam dentro de seu círculo de competência.<br />

O tamanho do círculo não é muito importante;<br />

o conhecimento de suas extremidades, no entanto,<br />

é vital.”<br />

- Warren Buffett<br />

Métodos de Investimento<br />

“Invista em negócios, não em ações”<br />

As duas citações destilam uma boa parte da filosofia<br />

de Warren Buffett, um dos investidores mais renomados<br />

dos Estados Unidos, e o expoente mais conhecido<br />

de investimento em valor (Value Investment). Como<br />

pode ser visto, ele é a antítese da concepção popular<br />

de um investidor em bolsa: considera que investe<br />

em negócios, não em ações; não se preocupa com o<br />

movimento dos preços de suas ações, mas com as<br />

vendas, lucros, margens e necessidades de capital de<br />

suas empresas; não procura ganhos de capital de curto<br />

prazo, mas compra participações em poucas empresas<br />

para mantê-las durante anos, se não décadas; e mora<br />

em Omaha, bem longe de Wall Street. Mas com sua<br />

técnica “pão-pão, queijo-queijo” conseguiu juntar uma<br />

das maiores fortunas do país.<br />

Procura-se uma margem enorme<br />

O conceito da margem de segurança, o coração da<br />

escola de investimento em valor (value Investment)<br />

85


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

estabelecida por Graham, envolve “uma procura por<br />

discrepâncias entre o valor de um negócio e o preço<br />

de pedaços pequenos do mesmo negócio no mercado”.<br />

Não é uma discrepância pequena, mas nas palavras de<br />

Buffett, “uma margem enorme”. De Fisher aprendeu<br />

os benefícios de “encontrar as verdadeiras grandes<br />

empresas, e ficar com elas por todas as flutuações do<br />

turbilhão que é o mercado”.<br />

Quatro empresas: 76% da carteira<br />

Se juntarmos o pensamento de Fisher de procurar<br />

as “verdadeiras grandes empresas” com a insistência de<br />

Graham de uma “margem enorme” entre preço e valor,<br />

é fácil entender porque há poucas firmas que preenchem<br />

os requisitos. Isso explica uma outra característica de<br />

Buffett, o pequeno número de seus investimentos. No<br />

fim de 1993, por exemplo, ele mantinha as ações de<br />

somente 9 empresas em carteira. Quatro destas empresas<br />

representaram 76% do valor total do portfólio.<br />

A crítica alocação de capital<br />

Buffett vai mais além em seus investimentos, quando<br />

possível prefere obter o controle de uma empresa<br />

para poder influenciar a condução do negócio.<br />

Ele está particularmente interessado na questão<br />

crítica de alocação de capital. Se não tiver oportunidade<br />

de adquirir controle ele opta pela compra de<br />

ações ordinárias na bolsa de valores. Ele considera<br />

que esta segunda alternativa tem duas vantagens: na<br />

86


Métodos de Investimento<br />

bolsa há mais opções e as oportunidades para encontrar<br />

pechinchas são maiores.<br />

Concentre-se, diz Keynes<br />

Mas não é necessário diversificar para limitar o<br />

risco? Para justificar sua posição Buffett cita as palavras<br />

do economista John Maynard Keynes<br />

“Estou cada vez mais convencido que o método<br />

correto em investimento é investir somas relativamente<br />

grande em negócios que se pensa que entende e em<br />

cuja administração se tem fé total. É um erro imaginar<br />

que se limita o risco quando se distribui fundos entre<br />

empresas que pouco se conhece e em cuja administração<br />

não se tem nenhuma razão particular para ter<br />

confiança especial”. 8<br />

A bolsa não serve como guia<br />

A primeira coisa de Buffett que chama a atenção<br />

é sua visão da bolsa de valores. Para ele, a bolsa não<br />

serve como um guia na escolha de investimentos - é<br />

simplesmente um local onde se executam operações<br />

de compra e venda.<br />

O valor cotado em bolsa, movido mais a sentimento<br />

do que a dados fundamentais, nada tem a ver, necessariamente,<br />

com o valor verdadeiro de um negócio. É por<br />

isso que um investidor de sucesso é, frequentemente,<br />

aquele que consegue dominar suas emoções durante<br />

o processo de investimento.<br />

8<br />

KEYNES, J.M. The general theory of employment, interest and money.<br />

New York: HBJ Book, 1964<br />

87


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

O nível da bolsa é imaterial<br />

O nível da bolsa não é um empecilho para Buffett.<br />

Se encontrar uma empresa interessante a um preço que<br />

considera bom, ele comprará em qualquer época. Só<br />

que, numa época em que a bolsa estiver em baixa, o<br />

número de oportunidades será maior.<br />

Desempenho de algumas companhias<br />

listadas na B3.<br />

A seguir demonstraremos a importância da aplicação<br />

da estratégia do Value Investment, em que<br />

empresas de bons fundamentos, que apresentam bons<br />

resultados em longo prazo, têm mostrado um excelente<br />

desempenho (valorização de ações) no decorrer<br />

dos anos, em contraposição àquelas que apresentam<br />

desempenho pífio ou negativo.<br />

Itaúsa<br />

A Itaúsa - Investimentos Itaú S.A. é uma holding<br />

que administra um conglomerado de empresas industriais<br />

e financeiras, constituindo-se num dos mais<br />

sólidos grupos empresariais brasileiros. O início de<br />

suas atividades data de 1966, com a criação do Banco<br />

Federal Itaú de Investimentos S.A., o primeiro banco de<br />

investimento do país. Atualmente, a holding centraliza<br />

as decisões financeiras e estratégicas de várias empresas,<br />

tendo como principais destaques as seguintes: Itaú<br />

Unibanco Holding S.A. e suas controladas Banco Itaú<br />

e Banco Itaú BBA, no segmento financeiro, e Duratex,<br />

88


Métodos de Investimento<br />

Alpargatas, NTS e Itautec, no setor não financeiro.<br />

Atualmente, seus ativos somam R$ 62,7 bilhões<br />

de reais. A seguir, demonstra-se o gráfico da evolução<br />

de suas ações no período de 2000 a 2018. Suas ações<br />

se valorizaram 1.320% no período de 19 anos.<br />

Gráfico 1 - Itausa PN moeda: em R$ Real até:<br />

2018.09.<br />

Na coluna da extrema direita do gráfico, tem-se os<br />

preços correspondentes a uma ação da Itausa PN. Na<br />

horizontal inferior, tem-se a linha do tempo, período<br />

1999 -2018.<br />

Vale<br />

A VALE é uma das maiores mineradoras do mundo.<br />

Além da sua atividade principal, a mineração, atua<br />

em mais três negócios principais, que dão suporte e<br />

complementam a atividade básica, de forma sinérgica:<br />

energia, siderurgia e logística. É uma companhia<br />

genuinamente brasileira, mas está presente em mais<br />

89


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

de 30 países ao redor do mundo. Na mineração, o<br />

destaque fica por conta do minério de ferro - seu<br />

principal produto, tendo em Carajás, no Estado do<br />

Pará, sua principal mina, de onde se extrai o minério<br />

de ferro de melhor qualidade do globo. De acordo<br />

com relatórios da própria empresa³, a produção desse<br />

mineral será de 400 milhões de toneladas em 2018.<br />

Destaca-se também na produção de níquel (Brasil,<br />

Canadá, Indonésia e Nova Calendônea), cobre<br />

(Brasil, Canadá e Zâmbia) pelotas de minério de<br />

ferro (Brasil, China e Omã), manganês e ferro-ligas<br />

(Brasil), carvão (Austrália, Moçambique e China).<br />

Sua receita e lucro líquidos, nos últimos 12 meses,<br />

foram de R$ 117,6 bilhões de reais, e R$ 15,09<br />

bilhões de reais, respectivamente. Segue abaixo o<br />

gráfico da cotação de suas ações, do ano 2000 a 2018.<br />

Suas ações se valorizaram cerca 3.400% no período<br />

de 18 anos.<br />

Gráfico 2 - Vale ON moeda: em R$ Real até:<br />

2018.12.<br />

90


Métodos de Investimento<br />

Na coluna da extrema direita do gráfico, têm-se os<br />

preços correspondentes a uma ação da VALE-ON. Na<br />

horizontal inferior, tem- se a linha do tempo, período<br />

1999-2018.<br />

Petrobrás-PN<br />

O Brasil é o 9.o produtor mundial de petróleo, de<br />

acordo com dados da AIE (Agência Internacional de<br />

Energia), referentes ao ano de 2017, com uma produção<br />

de 3,2 milhões de barris/dia, o que representa 3%<br />

da produção no mundo. Essa produção é quase que<br />

totalmente realizada pela Petrobrás, uma empresa<br />

genuinamente brasileira, criada em 1953. Durante os<br />

65 anos de sua existência, passou por vários desafios<br />

e já proporcionou muitas alegrias aos seus acionistas.<br />

Conforme antes mencionamos, essa empresa passou,<br />

recentemente, por uma grande ingerência política em<br />

sua gestão, comprometendo resultados dos últimos<br />

cinco anos. Houve uma série de prejuízos financeiros,<br />

apesar de ter investido, pesadamente, na exploração<br />

de petróleo na camada do pré-sal, no litoral do estado<br />

do Rio de Janeiro e nas atividades de refino e exploração<br />

de gás.<br />

Como consequência das intervenções políticas<br />

em sua administração, a Petrobrás acumulou uma dívida<br />

bruta, hoje avaliada em R$ 353 bilhões de reais.<br />

Contudo, a empresa está sob nova gestão e parece se<br />

recuperar - seus ativos totais somam R$ 850 bilhões,<br />

a receita líquida somou R$ 307 bilhões e o lucro lí-<br />

91


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

quido quase R$ 12 bilhões de reais nos últimos 12<br />

meses, de acordo com dados do balanço patrimonial<br />

de 30/06/2018.<br />

Segue abaixo o desempenho de suas ações de 1999<br />

a 2018, que se valorizaram 3.100% em 18 anos.<br />

Gráfico 3 - Petrobrás PN moeda: em R$ Real até<br />

2018.12.<br />

Na coluna à extrema direita do gráfico, têm-se os<br />

preços correspondentes a uma ação da Petrobrás-PN.<br />

Na horizontal inferior, tem-se a linha do tempo, período<br />

1999-2018.<br />

92<br />

Porto Seguro<br />

A Porto Seguro está entre as três maiores seguradoras<br />

do Brasil. Fundada em 1945, possui uma história<br />

de crescimento e inovação de serviços bastante<br />

consistente, em 73 anos de existência. Embora seu<br />

foco principal seja o segmento de seguros, a companhia<br />

também atua, através de empresas coligadas, em


Métodos de Investimento<br />

diversos outros segmentos, a exemplo de previdência<br />

privada, investimentos financeiros, consórcios, seguro<br />

e capitalização, serviços médicos etc. Também está<br />

presente no Uruguai, no segmento de seguros.<br />

O Ativo Total da companhia, em 30.06.2018, era de<br />

R$ 28,8 bilhões de reais, e dívida bruta zero. A seguir,<br />

demonstramos o desempenho de suas ações na bolsa<br />

brasileira, a B3, no período de 2004 a 2018, as quais<br />

se valorizaram cerca de 1.600% no período.<br />

Gráfico 4 - Porto Seguro ON moeda: em R$ Real<br />

até: 2018.12.<br />

Na coluna à extrema direita do gráfico, têm-se os<br />

preços de uma ação da Porto Seguro ON. Na horizontal<br />

inferior, tem-se a linha do tempo, período 2004 -2018.<br />

Banco do Brasil<br />

O Banco do Brasil é uma das companhias brasileiras<br />

que historicamente tem apresentado bons fundamentos.<br />

Como conseqüência dos lucros que vem<br />

93


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

obtendo, suas ações valorizaram-se cerca de 6.400%<br />

nos últimos 20 anos, conforme ilustração abaixo.<br />

Gráfico 5 - Brasil ON moeda: em R$ Real até:<br />

2018.12.<br />

Na coluna à extrema direita do gráfico, têm-se<br />

os preços de uma ação do Banco do Brasil S. A. Na<br />

horizontal inferior, tem-se a linha do tempo, período<br />

1999-2018.<br />

Ambev<br />

A AMBEV é a maior cervejaria do Brasil e uma das<br />

maiores do mundo. Sua história tem início em 1885,<br />

com a produção da cerveja Antártica e, em 1888, ocorre<br />

a criação da pequena cervejaria Brahma. Em 1999 foi a<br />

anunciada a união da Companhia Antarctica Paulista<br />

e da Companhia de Bebidas das Américas, Compañia<br />

de Bebidas de Las Américas, American Beverage<br />

Company. Primeira multinacional brasileira, a Ambev<br />

torna-se a terceira maior indústria cervejeira e quinta<br />

94


Métodos de Investimento<br />

maior produtora de bebidas do mundo.<br />

Seus ativos totais somam R$ 95,6 bilhões de reais,<br />

a receita líquida nos últimos 12 meses atingiu R$<br />

49,2 bilhões e o lucro líquido R$ 10,7 bilhões nos<br />

últimos 12 meses, de acordo com Balanço Patrimonial<br />

de 30/09/2018.Devido a sua alta lucratividade,<br />

seu valor de mercado supera largamente o valor dos<br />

seus ativos, sendo avaliada, atualmente, em R$ 260<br />

bilhões de reais.<br />

Suas ações se valorizaram cerca de 4.800% no<br />

período de 18 anos.<br />

Segue abaixo o gráfico da evolução de suas ações<br />

para o período 2000-2018.<br />

Gráfico 6 - Ambev<br />

Equatorial<br />

A Equatorial Energia S.A. (anteriormente denominada<br />

Brisk Participações S.A.) (“Companhia”) foi<br />

constituída em 16 de junho de 1999 pela PPL Global<br />

95


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

LLC., inicialmente, para participar do leilão de privatização<br />

da Companhia Energética do Maranhão<br />

(“C<strong>EM</strong>AR”). A Companhia tem por objeto social a<br />

participação no capital social de outras sociedades,<br />

consórcios e empreendimentos que atuem no setor de<br />

energia elétrica ou em atividades correlatas. Além da<br />

C<strong>EM</strong>AR, a partir de 2016, a Cia ingressou no segmento<br />

de transmissão de energia elétrica, vencendo leilões da<br />

ANEEL, cujos contratos firmados rezam a construção<br />

de 2,5 mil km de linhas de transmissão, que cobrirão<br />

os Estados do Pará, Piauí, Minas Gerais e Bahia.<br />

A companhia tem se mostrado uma das mais lucrativas<br />

da Bolsa de Valores brasileira. Seus ativos<br />

somam R$ 18,35 bilhões de reais, a receita líquida foi<br />

de R$ 9,8 bilhões e o lucro líquido de R$ 1,0 bilhão de<br />

reais nos últimos 12 meses. Suas ações se valorizaram<br />

cerca de 800% nos últimos 9 anos.<br />

Segue abaixo o gráfico da evolução de suas ações<br />

para o período de 2009 a 2018.<br />

Gráfico 7 - Equatorial<br />

96


Métodos de Investimento<br />

Estas são algumas das inúmeras empresas que<br />

possuem bons fundamentos e estão listadas na Bolsa<br />

de Valores do Brasil. Poderíamos ter citado várias<br />

outras, mas a intenção aqui é destacar as companhias<br />

mais seguras e rentáveis da bolsa brasileira nas ultimas<br />

décadas. Caberá, ao investidor, ampliar o leque<br />

de opções, pois existem várias outras empresas de<br />

bons fundamentos listadas na B3 e aptas, portanto, a<br />

receber investimentos.<br />

97


Capítulo 5<br />

NEGOCIANDO AÇÕES<br />

NA <strong>BOLSA</strong><br />

Atualmente, a negociação de ações na B3 (A Bolsa<br />

de Valores do Brasil) está muito facilitada. Existem<br />

basicamente duas maneiras: i) via Internet, através<br />

das Corretoras de Valores Mobiliários e seus Agente<br />

Autônomos de Investimento (que são membros da<br />

B3) e ii) através dos Bancos, em que você escolhe o<br />

perfil do fundo - se arrogado, moderado ou conservador,<br />

dependendo das ações que são gerenciadas pelo<br />

fundo. Na verdade, toda transação de ações na Bolsa<br />

brasileira é intermediadas pelas Corretoras de Valores<br />

ou suas coligadas filiadas à B3, as quais cobram taxas<br />

de corretagem por cada negociação realizada, seja na<br />

compra ou venda de títulos de valores imobiliários.<br />

Para quem pretende investir através das corretoras<br />

(via Internet) um dos procedimentos é o seguinte:<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

5<br />

Acesse o site da B3: www.b3.com.br<br />

Selecione o ícone CORRETORAS;<br />

Veja a lista das corretoras filiadas;<br />

Acesse os sites relacionados;<br />

Selecione uma corretora para se<br />

cadastrar e iniciar os negócios.


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

Dicas importantes:<br />

Existem dezenas de corretoras filiadas à B3. Portanto,<br />

a seleção deve ser feita com critério. É importante<br />

atentar para as taxas de corretagem há taxas de<br />

variam de R$ 5,00 a R$ 20,00, dependo da corretora<br />

e algumas delas só operam por mesa, utilizando-se da<br />

tabela Bovespa cobram taxas normais da Bolsa, 0,5%<br />

(meio por cento) sobre o valor de cada ordem, seja de<br />

compra ou de venda.<br />

Outro aspecto importante diz respeito à qualidade<br />

no atendimento. Verifique se a corretora dispõe de<br />

um bom serviço de atendimento ao cliente, tipo linha<br />

0800, ligação local, e-mail, chat, entre outros. O canal<br />

de comunicação é fundamental, pois você precisará<br />

entrar em contato com corretores, esclarecer dúvidas<br />

sobre companhias nas quais está investindo e aspectos<br />

técnicos de negociação.<br />

Por último, verifique se a corretora dispõe de Home<br />

Broker, que é o ambiente de negociação online ligado<br />

ao supercomputador da B3, através do qual se pode<br />

selecionar as ações das empresas desejadas, observar<br />

gráficos, volume de transações e enviar ordens de<br />

compra ou venda de ações, esteja você em casa, no<br />

ambiente de trabalho ou em qualquer lugar do globo.<br />

100


CONCLUSÃO<br />

“Investir com segurança no mercado de ações”. Esta<br />

frase pode soar como um grande paradoxo para a maioria<br />

das pessoas, e até mesmo para agentes de negócios<br />

de renda variável, tendo em vista que o mercado acionário<br />

é essencialmente de risco. No entanto, aqueles<br />

que leram este guia de investimentos ou outra literatura<br />

sobre o assunto, sabem que isso é perfeitamente possível.<br />

Conforme exposto nos quatro capítulos anteriores,<br />

o conceito de “margem de segurança” nos oferece uma<br />

proteção contra as intempéries do mercado. Além da<br />

segurança, o método do “Value Investment” se tem<br />

mostrado bem eficaz para o processo de seleção de<br />

companhias listadas em Bolsa de Valores, fundos de<br />

investimento ou para aquisição de outros bens econômicos.<br />

Na grande maioria dos casos, os verdadeiros<br />

investidores têm auferido lucros dignos de um investidor<br />

hábil.<br />

A teoria aqui exposta remonta há mais de 80 anos,<br />

época em que Graham começou a atuar como investidor.


102<br />

Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

Todos esses anos de experiência nos deixa confortáveis<br />

para repassar essa teoria ao pequeno investidor<br />

brasileiro; uma história de sucesso, que foi capaz de<br />

passar com êxito pelo conturbado século XX, tempo<br />

em que a humanidade passou por duas guerras mundiais,<br />

grandes transformações políticas, revoluções<br />

tecnológicas, mudanças radicais de estilo de vida e<br />

alternância de períodos de escassez e abundância de<br />

recursos financeiros.<br />

O método do investidor inteligente ou do investidor<br />

tranquilo, que tem como pilares centrais a realização<br />

de investimentos em empresas de bons fundamentos,<br />

com foco em longo prazo, mix de carteira entre 25 e<br />

75% em renda variável e o uso da técnica “Dollar-cost<br />

averaging”, em que o aplicador investe valores iguais<br />

em intervalos de tempo regulares (de um mês, um<br />

trimestre, semestre ou um ano), é um método bastante<br />

eficaz, sobretudo quando se analisa as altas taxas de<br />

retorno daqueles que seguem este método. Os rendimentos<br />

dos seguidores de Graham cresceram inúmeras<br />

vezes em décadas passadas e continuam ainda hoje.<br />

(Ver resultados dos fundos de investimentos apresentados<br />

por Buffett no apêndice do Intelligent Investor,<br />

revised edition, 2003).<br />

Os postulados de Graham ainda permanecem atualizados.<br />

Prova disso ocorreu durante a segunda metade<br />

da década de 90, quando as ações de empresas de Internet<br />

dos Estados Unidos atingiram patamares altíssimos<br />

na grande bolha dos mercados de alta tecnologia.<br />

Alguns investidores, entre eles Buffett, afirmaram que


os preços estavam ridiculamente elevados, não havendo<br />

nenhuma condição de sustentabilidade, enquanto<br />

vários profissionais de Wall Street argumentavam que<br />

o mundo estava passando por uma mudança de paradigma,<br />

podendo conviver vários anos com preços de<br />

ações muito acima do preço justo das companhias.<br />

Com o estouro da bolha no final da década e o preço<br />

da maioria das ações retornando para patamares próximos<br />

ao valor intrínseco das empresas, a realidade<br />

dos fatos comprovou, mais uma vez, a eficiência do<br />

“Value Investment”.<br />

Esperamos realmente ter contribuído com os investidores<br />

brasileiros, sobretudo com aqueles que<br />

operam ou desejam operar no mercado de capitais,<br />

disponibilizando-lhes este material para consulta e,<br />

quiçá, possa servir de guia para seus investimentos.<br />

Temos esperança de que nos encontraremos na Vila<br />

de Dodds e Graham.<br />

Bons investimentos!<br />

Conclusão<br />

103


Apêndice<br />

Uma palavra sobre a crise financeira<br />

de 2008 e suas repercussões<br />

A professora pergunta ao Joãozinho:<br />

“ Se você tivesse 12 ovelhas e uma pulasse a cerca,<br />

quantas ovelhas você ainda teria?<br />

Joãozinho responde: “Nenhuma.”<br />

“Bem”, disse a professora, “certamente você não<br />

entende nada de subtração”.<br />

“ Talvez não”, disse Joãozinho, mas entendo tudo<br />

de ovelhas”. 9<br />

Velha piada texana<br />

A crise financeira de 2008, que teve origem no<br />

mercado imobiliário dos Estados Unidos da América, é<br />

tida como a segunda maior crise global dos últimos 90<br />

anos, ficando atrás somente do grande crash da Bolsa<br />

9<br />

GRAHAM , Benjamin. O investidor inteligente. 2007, p. 276.


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

de Valores de Nova York, em 1929. Neste apêndice,<br />

faremos uma breve retrospectiva dos antecedentes da<br />

crise, demonstrando a cronologia dos acontecimentos,<br />

o pano de fundo teórico que fundamentou a ação dos<br />

agentes econômicos no processo, a análise da crise e<br />

as repercussões de um fenômeno que quase levou o<br />

sistema financeiro internacional a bancarrota.<br />

Alguns autores e participantes de peso no mercado<br />

financeiro internacional, notadamente George<br />

Soros (2008), compartilham da ideia de que a origem<br />

das crises financeiras do final do século XX e início<br />

do XXI está diretamente relacionada com o aumento<br />

das taxas de juros efetuadas pelos países centrais,<br />

principalmente os Estados Unidos e Reino Unido, no<br />

início da década de 1980, coincidindo com os mandatos<br />

do presidente Ronald Reagan e da primeira ministra<br />

Margareth Thatcher, respectivamente. Com o<br />

aumento das taxas de juros cobradas principalmente<br />

por bancos desses dois países, mais o FMI (Fundo<br />

Monetário Internacional), economias de vários países<br />

entraram em grandes dificuldades, sendo a década de<br />

1980 considerada a “década perdida” para diversos<br />

países, para a América Latina em especial, em termos<br />

de crescimento econômico.<br />

Essa mudança na política de financiamento aos<br />

países em desenvolvimento trouxe como consequência<br />

maior vulnerabilidade financeira a várias nações, que<br />

passaram a ter dificuldades em honrar seus compromissos<br />

- pagamento de juros maiores e amortização<br />

de dívidas, aos países centrais. Assim, começaram a<br />

106


Apêndice<br />

surgir bolhas no mercado de dívidas, que têm como<br />

causa maior a intervenção das autoridades monetárias<br />

internacionais. As bolhas são caracterizadas pela extensão<br />

insensata do crédito e da alavancagem financeira.<br />

De acordo com Soros (2008, pág.11), as autoridades<br />

monetárias sempre intervêm em momentos de crise, o<br />

que gera superbolhas, não permitindo que pequenas<br />

bolhas sigam seu curso normal e assim possam extinguir-se<br />

sem causar danos maiores.<br />

O pano de fundo teórico que norteou as intervenções<br />

das autoridades monetárias internacionais, no início da<br />

década de 1980, foi a crença na hipótese do mercado<br />

eficiente e na teoria das expectativas racionais. Essas<br />

teorias são consideradas esotéricas por alguns pensadores,<br />

incluindo Soros, pois seus pressupostos têm pouca<br />

relevância com o mundo real. Apesar disso, essas teorias<br />

encontram milhares de adeptos, pois tornaram-se um<br />

marco da nova economia clássica; são bastante utilizadas<br />

na análise macroeconômica e fazem parte da área<br />

de estudos da economia comportamental. Essas teorias<br />

dominaram os departamentos de economia dos Estados<br />

Unidos e da Inglaterra e se tornaram guias das políticas<br />

econômicas desses países. Com a globalização, a partir<br />

da década de 1980, essas teorias espalharam-se pelo<br />

mundo, impondo suas crenças e valores, que incluíam,<br />

em especial, a desregulamentação dos mercados, num<br />

processo de difícil resistência, pois os países não funcionam<br />

sem o capital financeiro.<br />

A história recente do capitalismo tem provado que<br />

essa tese fundamentalista não produz os efeitos deseja-<br />

107


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

dos. Pelo contrário, sem a devida regulamentação, ao<br />

invés de conduzir ao equilíbrio das finanças, tende a<br />

criar bolhas. O sistema de Bretton Woods, criado logo<br />

após a II Guerra Mundial, implantou mecanismos de<br />

regulação para os bancos e mercado de câmbio, que<br />

funcionaram de forma eficiente até a metade dos anos<br />

de 1970 - o que coincide com os trinta anos de glória<br />

do capitalismo recente - de 1945 a 1975, aproximadamente.<br />

Com o gradual abandono desse sistema, as crises<br />

financeiras passam a ocorrer de forma mais frequente<br />

a partir da década de 1980. E as intervenções feitas<br />

pelas autoridades monetárias, incluindo o FMI, têm<br />

resolvido apenas uma parte do problema: geralmente<br />

salvam os bancos, mas as dívidas continuam nas mãos<br />

dos países, empresas e famílias. Segundo Soros (2008,<br />

pág. 10), “sempre que o sistema financeiro incorreu em<br />

problemas sérios, as autoridades intervieram. Apoiaram<br />

e financiaram a liquidação de instituições falidas ou a<br />

sua fusão com instituições maiores”.<br />

A primeira crise bancária internacional da superbolha<br />

ocorreu em 1982, quando o crédito concedido por<br />

bancos a países soberanos no período inflacionário dos<br />

anos 70 se tornou insustentável e entrou em colapso.<br />

Dando início às intervenções, as autoridades monetárias<br />

se uniram para persuadir os bancos a rolarem<br />

as dívidas dos países endividados, além de conceder<br />

novos empréstimos para pagarem os juros. Assim, o<br />

sistema bancário foi salvo e os países, em sua maioria<br />

em desenvolvimento, ficaram altamente endividados,<br />

o que comprometeu o crescimento econômico em<br />

108


Apêndice<br />

várias regiões do globo. Como consequência desse<br />

processo, os bancos criaram reservas com a finalidade<br />

de gerir dívidas com uma margem de segurança<br />

maior. Também foram criados os chamados Brady<br />

bonds - instrumentos financeiros que transformaram<br />

as dívidas dos países em desenvolvimento em títulos<br />

de negociação, o que permitiu retirar do balanço patrimonial,<br />

do passivo bancário, os valores referentes<br />

a essas dívidas. (Soros, 2008).<br />

Em sequência, tem-se uma nova grande crise financeira,<br />

que se originou na Ásia, no biênio 1997-<br />

1998. Esta crise foi causada pela indexação de algumas<br />

moedas nacionais ao dólar, onde alguns países usaram<br />

empréstimos titulados em dólares para financiar o<br />

crescimento interno. Este mecanismo logo se mostrou<br />

incompatível com a realidade desses países. Os<br />

déficits externos começaram a se acumular, tornando<br />

incompatível a indexação dessas moedas ao dólar.<br />

Quando esta ligação se quebrou, uma variedade de<br />

empréstimos tornou-se de alto risco. Novamente o<br />

FMI interviu, protegeu os bancos e impôs uma severa<br />

disciplina aos países endividados. A partir da Ásia,<br />

a crise se espalhou para diversas partes do mundo,<br />

inclusive o Brasil, com uma grande queda na bolsa<br />

de valores, alta nas taxas de juros e uma maxidesvaloriação<br />

cambial. Na Rússia, não foi possível evitar a<br />

bancarrota do sistema (default). Nas palavras de Soros<br />

(2008, pág. 13):<br />

Isto, por seu turno, expôs a vulnerabili¬dade do<br />

Long Term Capital Management (LTCM), um hedge<br />

109


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

fund extremamente alavancado que aplicava técnicas<br />

de gestão de risco altamente sofisticadas baseadas<br />

na hipótese da eficiência dos mercados. Isto colocou<br />

uma ameaça real ao sistema financeiro global porque<br />

a maioria dos maiores bancos foi envolvida em empréstimos<br />

LTCM e em tomar as mesmas posições por<br />

sua própria conta e risco. O Federal Reserve Bank de<br />

Nova Iorque juntou os representantes dos maiores<br />

bancos na mesma sala e convenceu os a socorrer o<br />

LTCM. Evitou se o seu desmoronamento e a superbolha<br />

continuou a crescer. 10<br />

Outro episódio importante foi a eclosão da crise<br />

(bolha) das empresas tecnológicas americanas em<br />

2001, cuja maioria detinha ações na bolsa eletrônica<br />

NASDAQ. Esta crise foi diferente porque ocorreu no<br />

mercado de ações, onde a sobrevalorização das ações<br />

superou a insensatez do crédito e da alavancagem.<br />

Como consequência, o Federal Reserve teve que baixar<br />

as taxas de juros para revitalizar a economia. O<br />

problema foi que, o então presidente do Banco Central<br />

americano, manteve as taxas de juros demasiadamente<br />

baixas, cerca de 1% ao ano, por um longo período.<br />

Com taxas de juros extremamente atrativas, originouse<br />

um boom imobiliário que atingiu seu pico em 2006,<br />

causou uma crise financeira em 2007 e um desfecho<br />

catastrófico, um crash, em 2008.<br />

Como se sabe, essa crise abalou profundamente os<br />

mercados financeiros em nível global. Um dos mer-<br />

10<br />

LIMA, Félix Alberto G. A crise financeira de 2008 e suas consequências<br />

econômicas,. Universidade de Lisboa.<br />

110


Apêndice<br />

cados mais atingidos foi o de ações, se traduzindo em<br />

enormes desvalorizações nos quatro cantos da terra.<br />

A queda foi tão acentuada que em alguns mercados,<br />

como o brasileiro, as bolsas só vieram a recuperar<br />

as cotações de 2008, dez anos depois, em 2018, influenciadas<br />

pela queda nos preços das commodities,<br />

que também demoraram quase uma década para se<br />

recuperar, com destaque para os preços do petróleo e<br />

do minério de ferro.<br />

O crash imobiliário de 2008 foi diferente de outras<br />

crises imobiliárias. Esta se diferenciou pelo uso<br />

excessivo de instrumentos financeiros estruturados e<br />

de técnicas de gestão do risco sofisticadas baseadas na<br />

hipótese da eficiência dos mercados. Como vimos, “esta<br />

hipótese assume que os mercados financeiros tendem<br />

para equilíbrio como uma teoria científica universal e<br />

eternamente válida” (Soros, 2008, pág 14). No entanto,<br />

não conseguiu prever o efeito do uso desses instrumentos<br />

no comportamento dos agentes do mercado. Um dos<br />

instrumentos mais poderosos utilizados para alavancar<br />

o setor imobiliário americano foi o CDO - Collateralized<br />

debt obligations, que são títulos de investimento<br />

conside¬rados como ativos, em princípio garantidos por<br />

um conjunto de títulos de dívida, empréstimos e outros<br />

ativos. As hipotecas dos imóveis foram convertidas<br />

em CDOs, que foram concebidas sob o pressuposto de<br />

que os declínios no setor imobiliário nunca ocorrem<br />

de maneira uniforme em todo o território dos Estados<br />

Unidos. Ou seja, entendia-se que o risco estaria reduzido<br />

através da diversificação geográfica.<br />

111


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

No entanto, o que ocorreu na prática foi o uso exacerbado<br />

dos CDOs, que se alastraram por todo o país e<br />

além das fronteiras, pois investidores de várias partes<br />

do globo, sobretudo da Europa, também adquiriram os<br />

CDOs, já que estes eram títulos de investimento vendidos<br />

em quantidades muito superiores às hipotecas. Assim,<br />

houve uma explosão dessa bolha, pois os bancos não<br />

tinham lastro suficiente para honrar seus compromissos<br />

perante os investidores, num acontecimento sem precedentes<br />

nos Estados Unidos da América. Portanto, a<br />

explosão da bolha imobiliária não se restringiu apenas ao<br />

mercado hipotecário subprime, mas abalou fortemente<br />

todo o sistema bancário internacional. Essa dimensão da<br />

crise constitui-se numa surpresa para diversos agentes e<br />

para os reguladores do mercado, todos eles ludibriados<br />

por uma doutrina que prega a eficiência dos mercados<br />

financeiros.<br />

Para aplacar a crise, o governo dos Estados Unidos<br />

teve que intervir fortemente. A decisão de deixar quebrar<br />

o Lehman Brothers se revelou um erro. Logo após esse<br />

episódio, todo o sistema sucumbiu. Houve pânico geral<br />

nos mercados de bolsa, balcão, câmbio, commodities<br />

etc, e desdobramentos na economia real. Contudo, a<br />

partir deste ponto, os governos dos países centrais se<br />

uniram e decidiram salvar qualquer instituição financeira<br />

importante que viesse a ter problemas de insolvência.<br />

O ponto alto da intervenção talvez tenha sido a solicitação<br />

por parte do secretário do Tesouro dos EUA<br />

ao Congresso, para criar um fundo de resgate de 700<br />

bilhões de dólares, que veio a chamar-se de Troubled<br />

112


Apêndice<br />

Asset Relief Program (TARP). 11<br />

Em síntese, a intervenção evitou uma vez mais a<br />

explosão generalizada da superbolha. As autoridades<br />

substituíram o crédito comercial que tinha entrado em<br />

colapso pelo crédito do Estado. Irrigando as instituições<br />

financeiras com mais capital, a manobra deu certo e os<br />

mercados financeiros voltaram a funcionar quase que<br />

normalmente e as autoridades reestabeleçam o controle<br />

sobre a grande finança. No entanto, os desequilíbrios<br />

que se desenvolveram durante a superbolha deixaram<br />

marcas profundas no sistema, com visíveis consequências<br />

mesmo vários depois. De acordo com Soros, o<br />

sistema está longe do equilíbrio. O crédito concedido<br />

pelo Estado no resgaste do sistema financeiro está sob<br />

suspeita. As sementes de futuras crises foram lançadas,<br />

sendo a crise do Euro, talvez a mais iminente.<br />

As dívidas soberanas de vários países centrais,<br />

sobretudo Estados Unidos (que alcançou 105% do PIB<br />

em dezembro de 2017, de acordo com o site trading<br />

economics) e Europa (que segundo a mesma fonte<br />

consta países com dívidas elevadas, algumas acima<br />

do PIB, notadamente Grécia, Itália, Bélgica, Portugal,<br />

Espanha e França) e mesmo alguns periféricos,<br />

como o Brasil (com dívida pública de 84% do PIB),<br />

juntamente com o montante de instrumentos derivativos<br />

que circundam os mercados globais, cerca de<br />

600 trilhões de dólares - o que representa 7,6 vezes o<br />

PIB mundial, são a prova inconteste de que o sistema<br />

11<br />

LIMA, Félix Alberto G. A crise financeira de 2008 e suas consequências<br />

econômicas,. Universidade de Lisboa.<br />

113


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

financeiro internacional está sob ameaça.<br />

Caso o crescimento do PIB venha a diminuir nos<br />

próximos anos, principalmente nas economias centrais,<br />

o risco de nova crise financeira aumentará substantivamente.<br />

A propositura de George Soros, de que<br />

“... a única maneira de evitar o desastre econômico é<br />

explorar uma nova estrutura de conceitos sobre o funcionamento<br />

dos mercados”, diante do que foi exposto,<br />

parece bastante convincente.<br />

Essas considerações devem servir de alerta para os<br />

investidores do mercado de ações e investidores em<br />

geral, o que não deve implicar em mudança de rumo<br />

nos planos daqueles que pretendem investir. Afinal,<br />

a humanidade já vivenciou momentos de incertezas<br />

extremos, bem maiores do que as incertezas da atualidade,<br />

haja vista o conturbado século XX, quando<br />

vivenciamos duas Guerras Mundiais, a ameaça da<br />

Guerra Fria entre EUA e a antiga URSS, as grandes<br />

tensões do Oriente Médio, severas crises econômicas<br />

em vários países capitalistas etc. Contudo, os negócios<br />

prosperaram, várias empresas sobreviveram e cresceram<br />

mesmo diante das adversidades. Recomendado<br />

se faz, no entanto, ficar atento a essa questão - crises<br />

financeiras agudas podem ocorrer nos próximos anos<br />

e, desta forma, buscar se proteger e aproveitar as oportunidades<br />

daí advindas, de acordo com os postulados<br />

do investidor inteligente.<br />

114


EPÍLOGO<br />

ANÔNIMO<br />

EU SOU O INVESTIDOR?<br />

TU ÉS O INVESTIDOR?<br />

ELE É O INVESTIDOR?<br />

ELA É A INVESTIDORA?<br />

NÓS SOMOS OS INVESTIDORES?<br />

VÓS SOIS OS INVESTIDORES?<br />

ELES SÃO OS INVESTIDORES?<br />

ELAS SÃO AS INVESTIDORAS?<br />

EU SOU O INVESTIDOR?<br />

(Repetir) 12<br />

12<br />

Adaptação feita do epílogo do livro de Eileen Myles - “ I Must Be<br />

Living Twice”, 2015. p. 341.


Glossário<br />

Apresento a seguir algumas explicações sobre palavras<br />

técnicas que você vai encontrar neste livro, que<br />

facilitarão a sua leitura. Consulte-as a qualquer tempo.<br />

Também sugiro que você visite o site: www.bovespa.<br />

com.br<br />

- click em Investidor - Dicionário de finanças e<br />

veja outras palavras.<br />

Ação<br />

• Valor mobiliário, emitido pelas companhias,<br />

representativo de parcela do capital. Representa a menor<br />

parcela em que se divide o capital da companhia.<br />

• Título negociável em mercados organizados.<br />

Ação ordinária<br />

• Ação que confere ao titular os direitos essenciais<br />

do acionista, especialmente participação nos resultados<br />

da companhia e direito de voto em Assembleias. A cada


118<br />

Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

ação ordinária corresponde um voto nas deliberações<br />

da Assembleia Geral.<br />

Ação preferencial<br />

Ação que confere ao titular:<br />

• Prioridade na distribuição de dividendo, fixo<br />

ou mínimo<br />

• Prioridade no reembolso do capital, com prêmio<br />

ou sem ele<br />

• Acumulação dessas preferências e vantagens.<br />

Balanço patrimonial<br />

• Demonstração contábil destinada a evidenciar<br />

o Patrimônio e o Patrimônio Líquido da empresa,<br />

quantitativa e qualitativamente, numa determinada<br />

data que coincide com o fim do exercício social, mas<br />

que não precisa coincidir com o ano civil.<br />

Bolsa de valores<br />

• Local onde se negociam ações e títulos mobiliários<br />

de empresas de capital aberto.<br />

Carteira de ações<br />

• Conjunto de ações de um investidor<br />

Demonstração de resultados<br />

• Demonstração contábil constante das demonstrações<br />

financeiras destinada a evidenciar a composição<br />

do resultado formado num determinado período de<br />

operações da empresa.


Glossário<br />

Dividendo<br />

• Valor distribuído ao acionista como participação<br />

nos resultados da companhia.<br />

Fluxo de caixa descontado<br />

• Projeção do fluxo de caixa num prazo futuro<br />

definido em análise financeira de empresas (ou de<br />

produtos numa empresa), trazendo o fluxo projetado<br />

a valor presente. O método é utilizado para estimar a<br />

atratividade de uma oportunidade de investimento.<br />

Índice Bovespa (Ibovespa)<br />

• Índice que acompanha a evolução média das<br />

cotações das ações negociadas na B3 - A Bolsa do<br />

Brasil. É o valor atual, em moeda corrente, de uma<br />

carteira teórica de ações, constituída em 1968 a partir<br />

de uma aplicação hipotética. EnFin. A carteira teórica<br />

é integrada pelas ações que, em conjunto, representaram<br />

80% do volume transacionado a vista nos 12<br />

meses anteriores à formação da carteira.<br />

A carteira teórica é composta pelas ações que<br />

atenderam cumulativamente aos seguintes critérios,<br />

com relação aos doze meses anteriores à formação<br />

da carteira:<br />

a) Estar incluída em uma relação de ações cujos<br />

índices de negociabilidade somados representem 80%<br />

do valor acumulado de todos os índices individuais;<br />

b) Apresentar participação, em termos de volume,<br />

superior a 0,1% do total;<br />

119


Estratégias de Investimento em Bolsa de Valores<br />

c) Ter sido negociada em mais de 80% do total de<br />

pregões do período. Para que sua representatividade se<br />

mantenha ao longo do que a Bovespa concentra mais<br />

de 90% dos negócios do País, trata-se do mais importante<br />

índice disponível, permitindo tanto avaliações<br />

de curtíssimo prazo como observações de expressivas<br />

séries de tempo.<br />

Margem de segurança<br />

• Diferença entre o preço justo de um bem ou<br />

título (que podem ser ações de companhias) e o valor<br />

de mercado. Ou seja, ocorre quando o preço praticado<br />

pelo mercado é inferior ao valor real do bem ou da<br />

mercadoria.<br />

Preço justo<br />

• Critério utilizado na análise fundamentalista<br />

de investimentos para avaliar se o preço de uma ação<br />

em Bolsa está caro ou barato. Resultado da divisão<br />

do lucro por ação projetado pela soma do custo de<br />

oportunidade mais o prêmio de risco. Os valores são<br />

estabelecidos pelos analistas, e dependem dos seus<br />

critérios de avaliação. Preço de emissão em caso de<br />

OPA - Oferta Pública de Ações. Fixado em laudo que<br />

indica os critérios de avaliação do preço de oferta, que<br />

deve conter, no mínimo, o preço médio das ações nos<br />

últimos doze meses, o valor patrimonial por ação, e o<br />

valor econômico da companhia, calculado pelo fluxo<br />

de caixa descontado ou por múltiplos.<br />

120


Glossário<br />

Risco<br />

• Probabilidade de perda ou ganho numa decisão<br />

de investimento. Grau de incerteza do retorno de um<br />

investimento.<br />

Timing<br />

• Previsão do momento de compra ou venda de<br />

ações, com base em critérios técnicos.<br />

Valor intrínseco da ação ou valor<br />

econômico<br />

• Valor estimado em análise de investimentos,<br />

considerando o valor presente e o resultado das projeções<br />

de lucros futuros, ou outros modelos de avaliação.<br />

121


BIBLIOGRAFIA<br />

CONSULTADA<br />

GRAHAM, B. The Intelligent Investor. New York:<br />

Harper Business, 2003.<br />

GRAHAM, Benjamin. O investidor inteligente. atualizado<br />

com novos comentários de Jason Zweig; prefácio<br />

e apêndice de Warren E. Buffett; tradução de Lourdes<br />

Sette. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,2007.<br />

KEYNES, J.M. The general theory of employment,<br />

interest and money. New York: HBJ Book, 1964.<br />

LIMA, Félix Alberto G. A crise financeira de 2008<br />

e suas consequências econômicas,. Universidade de<br />

Lisboa.2018.<br />

MYLES, Eileen. “I Must Be Living Twice”. New<br />

York, NY: HarperCollins Publishers. 2015.


PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Tradução<br />

Monica Baumgarten de Bolle. Rio de Janeiro:<br />

Intrínseca, 2014.<br />

SOROS, George. A alquimia das finanças: lendo a<br />

mente do mercado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,<br />

1996.<br />

SOROS, George. O novo paradigma para os mercados<br />

financeiros: a crise financeira de 2008 e seu<br />

significado. 2008.<br />

Sites pesquisados:<br />

https://ri.equatorialenergia.com.br/<br />

www.ambev.com.br<br />

www.guide.com.br<br />

www.acaoereacao.net<br />

www.b3.com.br<br />

www.tradingeconomics.com<br />

www.itausa.com.br<br />

www.vale.com.br<br />

www.petrobras.com.br<br />

www.economatica.com<br />

www.fundamentus.com.br

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