04.02.2019 Views

De hoje não passa

O “Buteco do Edu” e o “Boteco do JB” (assim mesmo, cada um grafado a seu modo) eram leituras obrigatórias para quem se interessava por boemia, boa comida e bebida pelos idos de 2007. Era, aliás, uma época bem diferente na internet, quando ainda não vivíamos encarcerados no monopólio do Zuckerberg. Bebedores impenitentes, dos que amam mais os balcões do que a própria casa, observadores meticulosos e ácidos na escrita, Edu e JB fazem uma daquelas tabelinhas de ouro na literatura. É chope com colarinho, passe de trivela, torresmo sequinho. Acompanhar um papo dos dois, seja numa crônica ou ao vivo, é prazer raro. Foi sabendo disso e depois de umas cervejas numa calçada em São Paulo que surgiu a ideia deste livro. Poucas semanas depois Julio veio ao Rio e, numa noite regada a Gimlet, amadurecemos o conceito: seria um livro de cartas, uma conversa permeada por provocações, impressões do mundo e da aldeia, por tudo aquilo, afinal, que acomete os que sabem o valor de partilhar uma garrafa com um amigo. JB e Edu têm muito em comum. Não é por acaso que, durante a leitura, você pode estar na carta de um e se pegar pensando, “ora, não foi o outro que escreveu?”. São “precisos do início ao fim” (como diz o carioca), “resistentes à ressaca” (na definição de Julio) e donos de uma escrita detalhadamente corrosiva. Mas é na fresta das diferenças que nós, leitores, nos esbaldamos. Edu é do dia, do samba. Julio é da noite, do rock. Um preza pela solidão, o outro adora casa cheia. “De hoje não passa” é um papo entre dois amigos que observam a vida com lentes raras em um mundo que é cada vez mais hostil à generosidade, à transparência e ao que não é patrocinado no Instagram. É privilégio para esta editora poder levar para o bom e velho impresso, costurado e colado, rodado em offset, as crônicas de Eduardo Goldenberg e Julio Bernardo. Por aqui ainda se faz livro como antigamente.

O “Buteco do Edu” e o “Boteco do JB” (assim mesmo, cada um grafado a seu modo) eram leituras obrigatórias para quem se interessava por boemia, boa comida e bebida pelos idos de 2007. Era, aliás, uma época bem diferente na internet, quando ainda não vivíamos encarcerados no monopólio do Zuckerberg.

Bebedores impenitentes, dos que amam mais os balcões do que a própria casa, observadores meticulosos e ácidos na escrita, Edu e JB fazem uma daquelas tabelinhas de ouro na literatura. É chope com colarinho, passe de trivela, torresmo sequinho. Acompanhar um papo dos dois, seja numa crônica ou ao vivo, é prazer raro.

Foi sabendo disso e depois de umas cervejas numa calçada em São Paulo que surgiu a ideia deste livro. Poucas semanas depois Julio veio ao Rio e, numa noite regada a Gimlet, amadurecemos o conceito: seria um livro de cartas, uma conversa permeada por provocações, impressões do mundo e da aldeia, por tudo aquilo, afinal, que acomete os que sabem o valor de partilhar uma garrafa com um amigo.

JB e Edu têm muito em comum. Não é por acaso que, durante a leitura, você pode estar na carta de um e se pegar pensando, “ora, não foi o outro que escreveu?”. São “precisos do início ao fim” (como diz o carioca), “resistentes à ressaca” (na definição de Julio) e donos de uma escrita detalhadamente corrosiva.
Mas é na fresta das diferenças que nós, leitores, nos esbaldamos. Edu é do dia, do samba. Julio é da noite, do rock. Um preza pela solidão, o outro adora casa cheia.

“De hoje não passa” é um papo entre dois amigos que observam a vida com lentes raras em um mundo que é cada vez mais hostil à generosidade, à transparência e ao que não é patrocinado no Instagram. É privilégio para esta editora poder levar para o bom e velho impresso, costurado e colado, rodado em offset, as crônicas de Eduardo Goldenberg e Julio Bernardo. Por aqui ainda se faz livro como antigamente.

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

10<br />

um salto no escuro, sem motivo pra comemorar, bebendo o<br />

fel do amargor com duas pedras de gelo de poética melancolia:<br />

“<strong>não</strong> conheço maneira mais honrada de morrer que a<br />

atitude de ter um filho”. E entre lembranças boêmias, cólicas e<br />

paternidade, o livro vai deslizando suave como um bom trago<br />

de whisky. Apenas dois amigos, seus dissabores e esperanças,<br />

suas mulheres e a falta delas — “as mulheres só me suportam<br />

bêbado” / “<strong>De</strong>us me livre e guarde, Julio! <strong>De</strong>sconjure! Se você<br />

já é tão amargo bebum imagine sóbrio? Eu tô é fora!” — , suas<br />

tentativas de suicídio discreto, eventuais turbulências em um<br />

voo que parece fadado ao leve farfalhar de nuvens sem maiores<br />

consequências. Enquanto Eduardo parece <strong>não</strong> se conter de<br />

alegria e ansiedade contando os dias que antecedem a chegada<br />

do filho, Julio enumera seus dias de infortúnio que culminam<br />

na tentativa de se empregar como Santa Claus em um boteco<br />

onde poderia “xingar os convidados” e acaba por sair de lá<br />

chutando renas e duendes assim que descobre que o evento<br />

é patrocinado por uma marca de cachaça repudiada por ele.<br />

Enquanto Julio lamenta tristemente o suicídio do grande<br />

escritor cozinheiro Anthony Bourdain, Edu segue otimista<br />

prevendo e planejando o encontro dos amigos no final de ano.<br />

Duas vidas correndo paralelas, mas ligadas pela simbiose<br />

perfeita da amizade. É um livro para ler sem reservas, para<br />

ser devorado com sofreguidão como um dos pratos adorados<br />

pelo chef Jota Bê (pseudônimo do escritor Julio Bernardo),<br />

como a dobradinha de Talitha Barros (iguaria também venerada<br />

por esse que vos escreve). Um livro que persegue dias<br />

de sol mesmo nos períodos mais nublados. Por isso <strong>não</strong> há

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!