10.12.2018 Views

Como Eu Era Antes de Voce - Jojo Moyes

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

voltarei <strong>de</strong> manhã cedo.<br />

* * *<br />

Existem horas normais e horas inúteis, nas quais o tempo para e escorre e a vida<br />

— a vida real — parece distante. Vi um pouco <strong>de</strong> TV, jantei, arrumei a cozinha e<br />

an<strong>de</strong>i pelo anexo em silêncio. Por fim, voltei ao quarto <strong>de</strong> Will.<br />

Ele se mexeu quando fechei a porta e levantou um pouco a cabeça.<br />

— Que horas são, Clark? — Sua voz estava meio abafada pelo travesseiro.<br />

— Oito e quinze.<br />

Ele <strong>de</strong>ixou a cabeça cair no travesseiro e pensou a respeito.<br />

— Posso beber alguma coisa?<br />

Sua voz não estava agressiva ou ríspida. Foi como se, ao adoecer, ele<br />

nalmente se tornasse vulnerável. Dei um suco a ele e acendi a luz da cabeceira.<br />

Inclinei-me ao lado da cama e toquei sua testa como minha mãe fazia quando eu<br />

era criança. Ainda estava um pouco quente, mas não como antes.<br />

— Mãos frias.<br />

— Você já reclamou <strong>de</strong>las mais cedo.<br />

— Foi? — Ele parecia realmente surpreso.<br />

— Quer uma sopa?<br />

— Não.<br />

— Está confortável?<br />

<strong>Eu</strong> nunca sabia o quanto ele estava <strong>de</strong>sconfortável, mas suspeitava que <strong>de</strong>via<br />

ser mais do que <strong>de</strong>monstrava.<br />

— Seria bom virar para o outro lado. Basta rolar meu corpo. Não precisa me<br />

fazer sentar.<br />

Subi na cama e rolei-o, o mais <strong>de</strong>licadamente possível. Ele não irradiava mais<br />

um calor sinistro, só o calor usual <strong>de</strong> um corpo que ficou muito tempo embaixo do<br />

edredom.<br />

— Posso fazer mais alguma coisa?<br />

— Você não <strong>de</strong>via ir para casa?<br />

— Não se preocupe, vou passar a noite aqui.<br />

Lá fora, a última luz do dia já tinha sumido há algum tempo. Ainda nevava. A<br />

luz que entrava pela janela do vestíbulo era <strong>de</strong> um dourado suave, melancólico.<br />

Ficamos sentados ali num silêncio pacífico, olhando hipnotizados a neve cair.<br />

— Posso perguntar uma coisa? — falei, por fim.<br />

Vi as mãos <strong>de</strong>le sobre o lençol. <strong>Era</strong> estranho que parecessem tão normais e<br />

tão fortes, mas não servissem para nada.<br />

— Imagino que vá perguntar <strong>de</strong> qualquer jeito.<br />

— O que houve? — <strong>Eu</strong> não parava <strong>de</strong> pensar nas cicatrizes nos pulsos <strong>de</strong>le.<br />

Essa era a única pergunta que eu não podia fazer diretamente.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!