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Como Eu Era Antes de Voce - Jojo Moyes

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— Não faço a menor i<strong>de</strong>ia — respondi.<br />

* * *<br />

Ela nalmente se levantou no dia seguinte, tomou um banho, vestiu roupas limpas<br />

e eu disse para papai e mamãe não comentarem nada. Dei a enten<strong>de</strong>r que era<br />

problema com namorado e papai ergueu as sobrancelhas e fez uma cara como<br />

se isso explicasse tudo e só Deus sabia por que estávamos fazendo tanta confusão<br />

a respeito do caso. Mamãe ligou correndo para o Clube do Bingo para avisar que<br />

mudou <strong>de</strong> opinião sobre os perigos das viagens aéreas.<br />

Lou comeu um pedaço <strong>de</strong> torrada (não quis almoçar), colocou um gran<strong>de</strong><br />

chapéu <strong>de</strong> abas largas e fomos ao castelo com Thomas para dar comida aos<br />

patos. Acho que ela não estava com muita vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ir, mas mamãe insistiu que<br />

todos nós precisávamos <strong>de</strong> ar fresco. Isso, na linguagem <strong>de</strong> mamãe, queria dizer<br />

que ela estava louca para entrar no quarto, arejá-lo e trocar a roupa <strong>de</strong> cama.<br />

Thomas correu e pulou na nossa frente, segurando um saco <strong>de</strong> cascas <strong>de</strong> pão, e<br />

nos esquivamos dos turistas graças a anos <strong>de</strong> prática, evitando levar mochiladas e<br />

contornando casais fazendo pose para fotos. O castelo assava no sol quente do<br />

verão, o chão <strong>de</strong> terra estava rachado e a grama rala parecia os <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iros os<br />

<strong>de</strong> cabelo na cabeça <strong>de</strong> um careca. As ores nos canteiros pareciam <strong>de</strong>rrotadas,<br />

como se já se preparassem para o outono.<br />

Lou e eu falamos pouco. O que havia para se dizer?<br />

Quando passamos pelo estacionamento, eu a vi olhar sob a aba do seu chapéu<br />

na direção da casa dos Traynor. Estava lá, elegante com seus tijolos vermelhos,<br />

suas altas e vazias janelas disfarçando qualquer tragédia transformadora que<br />

pu<strong>de</strong>sse estar acontecendo lá <strong>de</strong>ntro, talvez até naquele mesmo instante.<br />

— Sabe, você podia ir falar com ele — disse eu. — <strong>Eu</strong> espero por você aqui.<br />

Ela olhou para o chão, cruzou os braços no peito e continuamos a andar.<br />

— Não adianta — disse ela. <strong>Eu</strong> conhecia a outra parte, a parte que ela não<br />

mencionou. Ele provavelmente nem estará lá.<br />

Demos uma pequena volta no castelo, olhando Thomas rolar nas partes<br />

íngremes da colina, dar comida aos patos que, a essa altura do ano, estavam tão<br />

gordos que mal se incomodavam em vir receber mero pão. Observei minha irmã<br />

enquanto andávamos, vendo suas costas bronzeadas na blusa <strong>de</strong> frente única, os<br />

ombros caídos, e concluí que, mesmo se ela ainda não tivesse notado, tudo tinha<br />

mudado para ela. Ela não po<strong>de</strong>ria car ali agora, não importava o que<br />

acontecesse com Will Traynor. Estava com um jeito, um jeito novo <strong>de</strong><br />

conhecimento, <strong>de</strong> coisas vistas, lugares em que esteve. Finalmente, minha irmã<br />

tinha novos horizontes.<br />

— Ah — falei, quando íamos para os portões <strong>de</strong> saída —, chegou uma carta<br />

para você. Da faculda<strong>de</strong>, quando você estava viajando. Desculpe... eu abri, pensei

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