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se <strong>de</strong>stacava dos <strong>de</strong>mais passageiros. Comeu e assistiu a um lme e,<br />
principalmente, dormiu.<br />
Nathan e eu sorrimos precavidos um para o outro e tentamos nos comportar<br />
como se tudo estivesse bem, tudo ótimo. Olhei para fora da janela, com as i<strong>de</strong>ias<br />
tão confusas quanto as nuvens abaixo <strong>de</strong> nós, ainda incapaz <strong>de</strong> pensar no fato <strong>de</strong><br />
que aquilo não era apenas um <strong>de</strong>sao logístico, mas uma aventura para mim —<br />
que eu, Lou Clark, estava literalmente a caminho do outro lado do mundo. <strong>Eu</strong> não<br />
enxergava isso. Não conseguia enxergar nada além <strong>de</strong> Will àquela altura. <strong>Eu</strong> me<br />
senti como minha irmã assim que <strong>de</strong>u à luz Thomas. “É como se eu estivesse<br />
vendo o mundo através <strong>de</strong> um funil” ela dissera, olhando para aquele ser recémnascido.<br />
“O mundo ficou reduzido apenas a mim e a ele.”<br />
Ela tinha me mandado uma mensagem <strong>de</strong> texto quando eu estava no<br />
aeroporto.<br />
Você consegue. Estou superorgulhosa <strong>de</strong> você. Bjs<br />
Abri a mensagem <strong>de</strong> novo, só para olhar para ela, sentindo-me subitamente<br />
emocionada, talvez pela escolha das palavras. Ou talvez porque eu estava<br />
cansada, com medo e ainda achando difícil acreditar que eu tinha conseguido nos<br />
levar tão longe. Por m, para bloquear meus pensamentos, liguei minha pequena<br />
TV, olhando sem ver alguma série americana <strong>de</strong> humor até que o céu à nossa<br />
volta escurecesse.<br />
E então acor<strong>de</strong>i com a aeromoça parada à nossa frente, oferecendo o café da<br />
manhã, e notei que Will estava conversando com Nathan sobre um lme a que<br />
tinham acabado <strong>de</strong> assistir juntos e — surpreen<strong>de</strong>ntemente e contra todas as<br />
possibilida<strong>de</strong>s —, estávamos a menos <strong>de</strong> uma hora do pouso nas Ilhas Maurício.<br />
Acho que não acreditei que tudo aquilo pu<strong>de</strong>sse acontecer até que tivéssemos<br />
aterrissado no Aeroporto Internacional Sir Seewoosagur Ramgoolam. Surgimos,<br />
meio grogues, no portão <strong>de</strong> chegada, ainda enrijecidos pelo tempo <strong>de</strong> voo, e eu<br />
quase chorei <strong>de</strong> alívio ao ver o motorista do táxi especialmente adaptado. Naquela<br />
primeira manhã, quando o motorista nos levou rapidamente ao resort, reparei<br />
muito pouco da ilha. Claro, as cores pareciam mais fortes que as da Inglaterra, o<br />
céu era mais vívido, <strong>de</strong> um tom azul-celeste que apenas se perdia <strong>de</strong> vista cando<br />
mais e mais profundo até o innito. Notei que a ilha era viçosa e ver<strong>de</strong>, margeada<br />
por quilômetros <strong>de</strong> canaviais, o mar surgindo como uma faixa <strong>de</strong> mercúrio por<br />
entre as colinas vulcânicas. O ar tinha tinha um matiz fumacento e enérgico, o sol<br />
estava tão alto no céu que tive <strong>de</strong> semicerrar os olhos na luz branca. No estado <strong>de</strong><br />
exaustão em que me encontrava, era como se me acordassem no meio das<br />
páginas brilhantes <strong>de</strong> uma revista.<br />
Mas, mesmo com os meus sentidos lutando contra o <strong>de</strong>sconhecido, meu olhar<br />
se voltava repetidamente para Will, para o seu rosto pálido, cansado, para a sua