Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
que era um aparelho muito <strong>de</strong>licado. Reservamos três assentos seguidos para que<br />
Nathan pu<strong>de</strong>sse dar a ajuda médica <strong>de</strong> que Will precisasse sem contar com<br />
olhares curiosos. A empresa aérea garantiu que os braços dos assentos<br />
levantavam, assim não machucaríamos os quadris <strong>de</strong> Will ao transferi-lo da<br />
ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas para o assento do avião. Ele po<strong>de</strong>ria car entre nós dois o tempo<br />
todo. E seríamos os primeiros a <strong>de</strong>sembarcar.<br />
Tudo isso estava na minha lista “aeroporto”. <strong>Era</strong> a página que vinha antes da<br />
lista “hotel”, mas <strong>de</strong>pois da lista “um dia antes da partida” e do itinerário. Mesmo<br />
com todas essas garantias em or<strong>de</strong>m, eu me sentia enjoada.<br />
Toda vez que olhava para Will, eu me perguntava se tinha feito a coisa certa.<br />
Will recebera <strong>de</strong> seu clínico geral a autorização para viajar somente na noite<br />
anterior. Comera pouco e passara quase o dia todo dormindo. Parecia cansado<br />
não só por causa da doença, mas exausto com relação à vida, cansado das nossas<br />
interferências, das nossas entusiasmadas tentativas <strong>de</strong> conversar, da nossa<br />
incansável <strong>de</strong>terminação em tentar melhorar as coisas para ele. Ele me<br />
suportava, mas eu tinha a sensação <strong>de</strong> que, frequentemente, queria car sozinho.<br />
Ele não sabia que essa era a única coisa que eu não o <strong>de</strong>ixaria fazer.<br />
— Ali está a moça da companhia aérea — falei, quando uma jovem <strong>de</strong><br />
uniforme, com um gran<strong>de</strong> sorriso e uma prancheta, veio rápido na nossa direção.<br />
— Bom, ela vai ser muito útil na transferência — Nathan murmurou. —<br />
Parece que não consegue levantar um camarão congelado.<br />
— Vamos dar um jeito — respondi. — Aqui entre nós, damos um jeito.<br />
Tinha se tornado o meu bordão, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que <strong>de</strong>cidi o que queria fazer. Des<strong>de</strong><br />
minha conversa com Nathan no anexo, fui tomada por um renovado entusiasmo<br />
em provar que todos estavam errados. Só porque não podíamos fazer a viagem<br />
que planejei não queria dizer que Will não pu<strong>de</strong>sse fazer nada.<br />
Acessei os sites <strong>de</strong> bate-papo na internet e disparei perguntas. Que lugar seria<br />
bom para um agora bem mais fraco Will se recuperar? Alguém sabia aon<strong>de</strong><br />
podíamos ir? O clima era a minha principal preocupação — o clima inglês era<br />
muito instável (e não há nada mais <strong>de</strong>primente do que um hotel à beira-mar com<br />
chuva). Gran<strong>de</strong> parte da <strong>Eu</strong>ropa estava quente <strong>de</strong>mais no m <strong>de</strong> julho, o que<br />
excluía as praias da Itália, da Grécia, do sul da França e outras regiões litorâneas.<br />
<strong>Eu</strong> tinha uma visão, sabe? Imaginava Will relaxando à beira-mar. O problema era<br />
que, com tão pouco tempo para planejar e embarcar, havia pouca chance <strong>de</strong><br />
tornar tudo realida<strong>de</strong>.<br />
Houve muitas mensagens solidárias, e muitas, muitas histórias sobre<br />
pneumonia. Aquele parecia ser o fantasma que assombrava a todos eles. Houve<br />
algumas sugestões <strong>de</strong> lugares aon<strong>de</strong> ele po<strong>de</strong>ria ir, mas nenhuma que me<br />
inspirasse. Ou, mais importante, nenhuma sugestão que pu<strong>de</strong>sse interessar a Will.<br />
<strong>Eu</strong> não queria spas, ou lugares on<strong>de</strong> ele pu<strong>de</strong>sse ver pessoas na mesma situação<br />
que ele. <strong>Eu</strong> não sabia direito o que queria, mas revi as sugestões da lista <strong>de</strong>