10.12.2018 Views

Como Eu Era Antes de Voce - Jojo Moyes

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

me dizendo que eu <strong>de</strong>veria viajar. Que eu <strong>de</strong>veria... fazer coisas.<br />

Ela me olhou com atenção. Concordou com a cabeça.<br />

— Sei. Will é assim mesmo. — Devolveu-me a papelada.<br />

— <strong>Eu</strong>... — Respirei fundo e, para minha surpresa, vi que não conseguia falar.<br />

Engoli em seco com dificulda<strong>de</strong>, duas vezes. — O que você disse antes. <strong>Eu</strong>...<br />

Ela não parecia disposta a esperar pelo que eu ia dizer. Inclinou a cabeça,<br />

seus <strong>de</strong>dos finos alcançando a corrente em seu pescoço.<br />

— Sim. Bom, melhor eu entrar. Vejo você amanhã. Depois me conte o que<br />

ele disse.<br />

* * *<br />

Naquela noite, não voltei para a casa <strong>de</strong> Patrick. <strong>Eu</strong> queria, mas algo me afastou<br />

da área industrial e, em vez <strong>de</strong> ir até lá, atravessei a rua e tomei o ônibus que ia<br />

para a minha casa. Percorri os cento e oitenta passos até a porta e entrei. <strong>Era</strong><br />

uma noite quente, todas as janelas estavam abertas numa tentativa <strong>de</strong> captar uma<br />

brisa. Mamãe cozinhava, cantando pela cozinha. Papai estava no sofá com uma<br />

caneca <strong>de</strong> chá, vovô cochilava na poltrona <strong>de</strong>le, a cabeça pen<strong>de</strong>ndo para um dos<br />

lados. Thomas <strong>de</strong>senhava atentamente nas biqueiras pretas dos seus sapatos.<br />

Cumprimentei-os e passei por eles, pensando como eu po<strong>de</strong>ria tão <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressa<br />

parecer não pertencer mais àquele lugar.<br />

Treena trabalhava no meu quarto. Bati na porta e entrei, e a encontrei na<br />

escrivaninha, <strong>de</strong>bruçada sobre uma pilha <strong>de</strong> livros, com óculos que eu não<br />

conhecia pendurados no nariz. <strong>Era</strong> estranho vê-la ro<strong>de</strong>ada das coisas que eu tinha<br />

escolhido para mim, com as fotos <strong>de</strong> Thomas já escon<strong>de</strong>ndo as pare<strong>de</strong>s que eu<br />

tinha pintado com tanto cuidado, seu <strong>de</strong>senho à caneta ainda rabiscado no canto<br />

da minha cortina. Tive <strong>de</strong> dar um jeito <strong>de</strong> racionalizar aquilo, <strong>de</strong> modo a não ficar<br />

inconscientemente ressentida.<br />

Ela me olhou por cima do ombro.<br />

— Mamãe está me chamando? — perguntou. Olhou o relógio. — Pensei que<br />

ela fosse fazer o lanche <strong>de</strong> Thomas.<br />

— E fez. Ele está comendo tirinhas <strong>de</strong> peixe empanado.<br />

Ela me olhou, <strong>de</strong>pois tirou os óculos.<br />

— Você está bem? Está com uma cara <strong>de</strong> bunda.<br />

— Você também.<br />

— <strong>Eu</strong> sei. Fiz aquela maldita dieta <strong>de</strong> <strong>de</strong>sintoxicação. O que me <strong>de</strong>u urticária.<br />

— Colocou a mão no queixo.<br />

— Você não precisava <strong>de</strong> dieta.<br />

— É. Bom... tem esse cara <strong>de</strong> quem eu gosto, que estuda Contabilida<strong>de</strong> Dois.<br />

Pensei que eu po<strong>de</strong>ria fazer um esforço. Manchas enormes <strong>de</strong> urticária na cara<br />

são sempre um bom visual, não?

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!