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Como Eu Era Antes de Voce - Jojo Moyes

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* * *<br />

A diferença entre a minha educação e a <strong>de</strong> Will era que ele <strong>de</strong>sfrutava daquilo<br />

que tinha <strong>de</strong> maneira leviana. Quem foi educado como ele, com pais ricos, numa<br />

casa bacana, frequentou boas escolas e ótimos restaurantes, como era o caso, é<br />

claro, provavelmente tem a impressão <strong>de</strong> que as coisas boas se encaixam e que<br />

você goza <strong>de</strong> uma posição naturalmente superior no mundo.<br />

Will escapulira para os jardins vazios do castelo a infância inteira, como ele<br />

mesmo me contou. O pai <strong>de</strong>ixava-o perambular pelo lugar, conando em que ele<br />

não tocaria em nada. Depois das cinco e meia da tar<strong>de</strong>, quando o último turista<br />

tinha saído, os jardineiros começavam a podar e arrumar as plantas, os faxineiros<br />

esvaziavam as latas <strong>de</strong> lixo e varriam as caixas <strong>de</strong> bebidas vazias e as embalagens<br />

<strong>de</strong> bala toffee, e então o lugar todo se transformava em seu parque <strong>de</strong> diversões<br />

particular. Quando me contou isso, pensei que, se Treena e eu tivéssemos tido a<br />

liberda<strong>de</strong> do castelo só para nós, caríamos incrédulas, dando socos no ar e<br />

girando por todo lado.<br />

— Meu primeiro beijo em uma garota foi na frente da ponte levadiça — disse<br />

ele, diminuindo a marcha da ca<strong>de</strong>ira para olhar a tal ponte à medida que<br />

percorríamos a trilha <strong>de</strong> cascalho.<br />

— Você disse a ela que este lugar era seu?<br />

— Não. Talvez <strong>de</strong>vesse ter dito. Ela me trocou pelo garoto que trabalhava no<br />

minimercado uma semana <strong>de</strong>pois.<br />

Virei-me e olhei para ele, chocada.<br />

— Terry Rowlands? Um garoto <strong>de</strong> cabelo preto comprido, tatuagens nos<br />

cotovelos?<br />

Ele ergueu uma sobrancelha.<br />

— Ele mesmo.<br />

— Ele ainda trabalha lá, sabe. No minimercado. Se isso o faz se sentir<br />

melhor.<br />

— Acho que ele não vai sentir muita inveja <strong>de</strong> como quei — disse Will, e<br />

parou <strong>de</strong> falar novamente.<br />

<strong>Era</strong> estranho ver o castelo daquele jeito, em silêncio, nós dois sendo os únicos<br />

ali, além do solitário jardineiro, ao longe. Em vez <strong>de</strong> olhar os turistas, <strong>de</strong> me<br />

distrair com os sotaques e suas vidas estrangeiras, eu me peguei olhando para o<br />

castelo talvez pela primeira vez e comecei a assimilar um pouco da história<br />

daquele lugar. Seus muros <strong>de</strong> pedra estavam ali havia mais <strong>de</strong> oitocentos anos. Ali<br />

tinha nascido e morrido gente, corações tinham se enchido <strong>de</strong> paixão e se partido.<br />

Agora, no silêncio, você quase po<strong>de</strong> ouvir a voz <strong>de</strong>les, seus passos na trilha.<br />

— Muito bem, hora da conssão — comecei. — Você nunca andou por aqui<br />

e fez <strong>de</strong> conta que era um príncipe guerreiro?<br />

Will me olhou <strong>de</strong> esguelha.

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