Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
minutos, digitei o nome <strong>de</strong>le novamente, <strong>de</strong>ssa vez buscando por imagens, e lá<br />
estava ele, em algum tipo <strong>de</strong> conferência, usando um terno escuro — Michael<br />
Lawler, especialista em testamentos e certidões, o mesmo homem que cara<br />
uma hora com Will.<br />
<strong>Eu</strong> me mu<strong>de</strong>i para o apartamento <strong>de</strong> Patrick naquela noite, na uma hora e<br />
meia entre o m do meu expediente e a saída <strong>de</strong>le para o treino. Peguei tudo,<br />
menos a cama e as cortinas novas. Ele veio com o carro e carregamos os meus<br />
pertences em sacos plásticos <strong>de</strong> lixo. Em duas viagens, levamos tudo para o<br />
apartamento <strong>de</strong>le — exceto meus livros escolares, que estavam no sótão.<br />
Mamãe chorou, achou que estava me expulsando.<br />
— Pelo amor <strong>de</strong> Deus, querida. Está na hora <strong>de</strong> ela sair <strong>de</strong> casa. Tem vinte e<br />
sete anos — papai lhe disse.<br />
— Ela ainda é o meu bebê — lastimou mamãe, me entregando duas latas<br />
cheias <strong>de</strong> bolo <strong>de</strong> frutas e uma sacola com produtos <strong>de</strong> limpeza.<br />
Fiquei sem saber o que falar. <strong>Eu</strong> nem gosto <strong>de</strong> bolo <strong>de</strong> frutas.<br />
Foi surpreen<strong>de</strong>ntemente fácil colocar minhas coisas no apartamento <strong>de</strong><br />
Patrick. Ele quase não tinha nada mesmo, nem eu, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> anos morando no<br />
quartinho. O único inci<strong>de</strong>nte foi por causa da minha coleção <strong>de</strong> CDs, que<br />
aparentemente só po<strong>de</strong>ria se juntar à <strong>de</strong>le <strong>de</strong>pois que eu colasse etiquetas na<br />
parte <strong>de</strong> trás das caixinhas e a colocasse em or<strong>de</strong>m alfabética.<br />
— Fique à vonta<strong>de</strong> — repetia ele, como se eu fosse uma espécie <strong>de</strong> visita.<br />
Estávamos nervosos, estranhamente sem jeito um com o outro, como duas<br />
pessoas num primeiro encontro. Enquanto eu <strong>de</strong>sempacotava as coisas, ele me<br />
trouxe chá e disse:<br />
— Pensei que esta po<strong>de</strong>ria ser a sua caneca. — Mostrou o lugar <strong>de</strong> tudo na<br />
cozinha e disse várias vezes: — Claro, ponha as coisas aon<strong>de</strong> quiser. <strong>Eu</strong> não ligo.<br />
Ele tinha esvaziado duas gavetas e o guarda-roupa do quarto extra. As outras<br />
duas gavetas estavam cheias com suas roupas <strong>de</strong> ginástica. <strong>Eu</strong> não sabia que havia<br />
tantas combinações entre lycra e fleece. Minhas roupas loucamente coloridas<br />
<strong>de</strong>ixaram muitos centímetros <strong>de</strong> espaço ainda vazio, os cabi<strong>de</strong>s <strong>de</strong> arame ficaram<br />
balançando pesarosamente no closet.<br />
— Preciso comprar mais roupa só para encher o armário — constatei,<br />
olhando lá para <strong>de</strong>ntro.<br />
Ele riu, nervoso.<br />
— O que é isso?<br />
Estava apontando para o meu calendário, pregado na pare<strong>de</strong> do quarto extra,<br />
com as i<strong>de</strong>ias em ver<strong>de</strong> e os programas já marcados em preto. Quando alguma<br />
coisa tinha dado certo (música, <strong>de</strong>gustação <strong>de</strong> vinhos), eu colocava uma cara<br />
sorri<strong>de</strong>nte na data. Quando não tinha (corrida <strong>de</strong> cavalos, galerias <strong>de</strong> arte),<br />
<strong>de</strong>ixava vazio. As duas semanas seguintes tinham poucos programas — Will<br />
estava cansado dos lugares próximos e eu ainda não o convencera a ir mais longe.