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Como Eu Era Antes de Voce - Jojo Moyes

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É isso que dá morar em cida<strong>de</strong> pequena. Todo mundo sabe da sua vida. Não<br />

há segredo: nem o fato <strong>de</strong> eu, aos quatorze anos, ter sido vista fumando no<br />

estacionamento <strong>de</strong> um supermercado fora da cida<strong>de</strong>; nem o fato <strong>de</strong> meu pai ter<br />

colocado telhado novo no banheiro <strong>de</strong> baixo. Os <strong>de</strong>talhes do cotidiano das pessoas<br />

eram tema <strong>de</strong> conversa <strong>de</strong> mulheres como Deirdre.<br />

— O trabalho é bom, sim.<br />

— E paga bem.<br />

— É.<br />

— Fiquei muito contente por você, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> toda aquela história do café.<br />

Uma pena terem fechado. A cida<strong>de</strong> está per<strong>de</strong>ndo os melhores estabelecimentos<br />

comerciais. Lembro que tínhamos uma mercearia, uma padaria e um açougue<br />

na avenida principal. Só faltava um fabricante <strong>de</strong> velas!<br />

— Hum. — Vi que ela olhava a minha lista e fechei o bloco. — Bom, pelo<br />

menos ainda temos on<strong>de</strong> comprar cortinas. <strong>Como</strong> vai a sua loja?<br />

— Ah, ótima... é. Mas o que tem nesse bloquinho? Alguma coisa <strong>de</strong> trabalho?<br />

— Só estou pensando em coisas que Will possa gostar <strong>de</strong> fazer.<br />

— Will é o seu <strong>de</strong>ficiente?<br />

— É. Meu patrão.<br />

— Seu patrão. É um jeito simpático <strong>de</strong> dizer. — Ela me cutucou. — E como a<br />

sua inteligente irmã está na faculda<strong>de</strong>?<br />

— Está bem. Thomas também.<br />

— Ela vai acabar mandando no país, aquela menina. Mas preciso dizer uma<br />

coisa, Louisa, eu pensava que você sairia <strong>de</strong> casa antes <strong>de</strong>la. Sempre achamos<br />

você tão espertinha. Continuamos achando, claro.<br />

Dei um sorriso educado. Não sabia o que mais podia fazer.<br />

— Mas alguém tem <strong>de</strong> car, não é? E é ótimo para sua mãe que você goste<br />

<strong>de</strong> ficar por perto.<br />

Tive vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> discordar <strong>de</strong>la, mas <strong>de</strong>pois lembrei que nada do que z nos<br />

últimos sete anos sugeria alguma ambição ou vonta<strong>de</strong> minha <strong>de</strong> ir além do nal<br />

da rua. Continuei sentada ali, enquanto o velho e cansado motor do ônibus rosnava<br />

e engasgava; <strong>de</strong> repente tive a sensação <strong>de</strong> ver o tempo passar e <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r gran<strong>de</strong><br />

parte <strong>de</strong>le nas pequenas idas e vindas pelo mesmo caminho. Contornando o<br />

castelo. Olhando Patrick dar uma volta na pista. As besteiras <strong>de</strong> sempre. A<br />

mesma rotina.<br />

— Ah, vou <strong>de</strong>scer nesse ponto. — Deirdre se levantou, pesada, pendurando no<br />

ombro a bolsa <strong>de</strong> verniz. — Man<strong>de</strong> um beijo para sua mãe. Diga que amanhã<br />

apareço por lá.<br />

Olhei para ela, piscando.<br />

— Fiz uma tatuagem. Uma abelha — falei, <strong>de</strong> repente.<br />

Ela hesitou, segurando-se na beira do banco.<br />

— No quadril. Uma tatuagem permanente — acrescentei.

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