Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
para casa. Estava pálido e exausto; cou olhando distraidamente pela janela<br />
durante todo o trajeto.<br />
— Não dá para dormir nesses lugares — explicou, quando perguntei se estava<br />
bem. — Tem sempre alguém gemendo na cama ao lado.<br />
<strong>Eu</strong> disse que ele teria o m <strong>de</strong> semana para se recuperar, mas que <strong>de</strong>pois eu<br />
tinha planejado vários passeios. Disse também que estava seguindo o conselho<br />
<strong>de</strong>le e tentando fazer coisas novas e ele teria <strong>de</strong> me acompanhar. <strong>Era</strong> uma<br />
mudança sutil no enfoque, mas eu sabia que era a única forma <strong>de</strong> conseguir com<br />
que ele fosse comigo.<br />
Na verda<strong>de</strong>, eu tinha planejado uma programação <strong>de</strong>talhada para as próximas<br />
semanas. Cada programa foi cuidadosamente marcado em preto no meu<br />
calendário; em vermelho, os cuidados que eu <strong>de</strong>veria ter, e, em ver<strong>de</strong>, os<br />
acessórios <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>ria precisar. Toda vez que eu olhava atrás da porta do meu<br />
quarto, sentia certa animação por ser tão organizada e também porque um<br />
daqueles programas po<strong>de</strong>ria realmente mudar a visão que Will tinha do mundo.<br />
<strong>Como</strong> papai sempre diz, minha irmã é o cérebro da família.<br />
A visita à galeria <strong>de</strong> arte durou pouco menos <strong>de</strong> vinte minutos. Incluindo<br />
contornar o quarteirão três vezes à procura <strong>de</strong> uma vaga que servisse. Chegamos<br />
e, antes mesmo <strong>de</strong> eu fechar a porta, Will disse que todas as obras eram horríveis.<br />
Perguntei por quê, ele respon<strong>de</strong>u que, se eu não conseguia ver, não dava para<br />
explicar. Tivemos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sistir do cinema após o funcionário, <strong>de</strong>sculpando-se,<br />
explicar que o elevador estava quebrado. Outros programas, como a tentativa<br />
fracassada <strong>de</strong> nadar, exigiam mais tempo e organização — ligar antes para a<br />
piscina, combinar com Nathan para ele car <strong>de</strong>pois do horário. E, quando<br />
chegamos, Will bebeu o chocolate quente em silêncio no estacionamento do<br />
centro <strong>de</strong> lazer e se recusou a entrar.<br />
Na quarta-feira seguinte, à noite, fomos ao show <strong>de</strong> um cantor que ele tinha<br />
visto uma vez em Nova York. Foi uma boa viagem. Quando ouvia música, sua<br />
expressão cava bastante concentrada. <strong>Era</strong> como se, na maior parte do tempo,<br />
ele não estivesse totalmente presente, como se uma parte <strong>de</strong>le lutasse com dores,<br />
lembranças ou pensamentos sombrios. Mas com a música tudo era diferente.<br />
No dia seguinte, eu o levei a uma <strong>de</strong>gustação <strong>de</strong> vinhos promovida por uma<br />
vinícola numa loja especializada. Tive <strong>de</strong> prometer a Nathan que não <strong>de</strong>ixaria<br />
Will se embriagar. Segurei cada taça para Will sentir o aroma do vinho e ele<br />
sabia qual era cada um <strong>de</strong>les antes mesmo <strong>de</strong> provar. <strong>Eu</strong> me esforcei para não rir<br />
quando Will cuspiu a prova na cuspi<strong>de</strong>ira (era mesmo muito engraçado), e ele<br />
me olhou sério e disse que eu era uma criança. O dono da loja passou <strong>de</strong> um<br />
estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconcerto esquisito por ter um ca<strong>de</strong>irante ali para outro muito<br />
impressionado. À medida que a tar<strong>de</strong> correu, ele se sentou e começou a abrir<br />
outras garrafas, discutindo com Will sobre cada região produtora e cada tipo <strong>de</strong><br />
uva, enquanto eu andava <strong>de</strong> um lado para outro olhando os rótulos e cando, para