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Como Eu Era Antes de Voce - Jojo Moyes

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Olá Abelha Atarefada,<br />

Por que acha que o seu amigo/paciente/o que for precisa mudar <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ia?<br />

Se eu conseguisse um jeito <strong>de</strong> morrer com dignida<strong>de</strong> e se eu soubesse que<br />

isso não <strong>de</strong>vastaria minha família, eu me mataria. Estou confinado a esta<br />

ca<strong>de</strong>ira há oito anos e minha vida consiste numa série <strong>de</strong> humilhações e<br />

frustrações. Você consegue mesmo se colocar no lugar <strong>de</strong>le? Sabe o que é<br />

não conseguir nem evacuar sem ajuda? Saber que ficará <strong>de</strong> cama para<br />

sempre; sem po<strong>de</strong>r comer, se vestir ou se comunicar com o mundo exterior sem<br />

que alguém o aju<strong>de</strong>? Nunca mais transar? Encarar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter<br />

escaras, adoecer e até precisar <strong>de</strong> respiradores? Você parece uma pessoa<br />

ótima, e tenho certeza que tem boas intenções. Mas talvez você não cui<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>le na semana que vem. Talvez no futuro seja alguém que o <strong>de</strong>ixe<br />

<strong>de</strong>primido, ou até que não goste muito <strong>de</strong>le. Isso, como todas as outras<br />

coisas, está fora do controle <strong>de</strong>le. Nós, portadores <strong>de</strong> LME, sabemos que<br />

muito pouco está sob nosso controle — quem nos alimenta, quem nos veste,<br />

quem nos lava, quem prescreve nosso remédio. Viver consciente disso é muito<br />

duro.<br />

Por isso, acho que você está fazendo a pergunta errada. Quem são os<br />

fortes e sadios para <strong>de</strong>cidir como <strong>de</strong>ve ser a nossa vida? Se essa não é a vida<br />

certa para o seu amigo, a questão <strong>de</strong>veria ser: como posso ajudá-lo a acabar<br />

com isso?<br />

Sinceramente,<br />

Gforce, Missouri, Estados Unidos<br />

Fiquei olhando para a mensagem, meus <strong>de</strong>dos parados sobre o teclado. Depois,<br />

passei para as mensagens restantes. <strong>Era</strong>m <strong>de</strong> outros tetraplégicos criticando as<br />

palavras <strong>de</strong>sanimadoras <strong>de</strong> Gforce, armando que eles conseguiram um jeito <strong>de</strong><br />

seguir em frente, que a vida <strong>de</strong>les valia a pena. Houve uma pequena discussão que<br />

parecia não ter nada a ver com Will.<br />

A seguir, voltaram a comentar o meu pedido. Havia sugestões <strong>de</strong><br />

anti<strong>de</strong>pressivos, massagens, recuperações miraculosas, histórias <strong>de</strong> como a vida<br />

dos próprios membros da comunida<strong>de</strong> passou a ter um novo valor. Havia algumas<br />

sugestões práticas: <strong>de</strong>gustação <strong>de</strong> vinho, música, exposições <strong>de</strong> arte, teclados <strong>de</strong><br />

computador especialmente adaptados.<br />

“Sugiro uma companheira”, escreveu Grace31, <strong>de</strong> Birmigham. “Se ele amar,<br />

sentirá que po<strong>de</strong> seguir em frente. Sem amor, eu já teria afundado várias vezes.”<br />

Essa frase ecoou na minha cabeça até bem <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> eu sair da biblioteca.<br />

* * *<br />

Will saiu do hospital na quinta-feira. Fui buscá-lo com o carro adaptado e trouxe-o

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