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Como Eu Era Antes de Voce - Jojo Moyes

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Maio foi um mês estranho. Os jornais e a TV veiculavam várias notícias sobre o<br />

que chamavam <strong>de</strong> “direito <strong>de</strong> morrer”. Uma mulher que tinha uma doença<br />

<strong>de</strong>generativa pediu que o marido fosse protegido por lei, caso a levasse para a<br />

Dignitas quando o sofrimento <strong>de</strong>la se tornasse insuportável. Um jovem jogador <strong>de</strong><br />

futebol cometeu suicídio <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> convencer os pais a levá-lo até lá. A polícia<br />

estava investigando o caso. O assunto seria <strong>de</strong>batido no Parlamento.<br />

<strong>Eu</strong> assistia aos noticiários e ouvia os argumentos legais <strong>de</strong> pessoas a favor da<br />

vida, avaliava os argumentos morais e não sabia muito bem <strong>de</strong> que lado car. Por<br />

mais estranho que fosse, nada daquilo parecia ter a ver com Will.<br />

Enquanto isso, Will e eu passamos a sair <strong>de</strong> casa com mais frequência e a<br />

distância dos passeios também aumentou. Fomos ao teatro, pegamos a estrada<br />

para assistir a um ensaio <strong>de</strong> dança tradicional Morris (Will tentou olhar sério para<br />

os sinos e lenços que eles agitavam mas acabou cando vermelho por causa do<br />

esforço). Uma noite, fomos a um concerto ao ar livre numa imponente residência<br />

(o que tinha mais a ver com ele do que comigo) e, certa vez, no cinema, por eu<br />

não ter pesquisado direito, assistimos a um lme sobre uma menina que sofria <strong>de</strong><br />

uma doença terminal.<br />

Mas eu sabia que ele também estava vendo aquelas notícias. Depois que<br />

instalamos um novo software, ele passou a usar mais o computador e conseguiu<br />

até mexer no mouse passando o <strong>de</strong>do no trackpad. Esse esforço permitia que lesse<br />

os jornais na internet. Certa manhã, ao levar uma xícara <strong>de</strong> chá para ele, vi que<br />

estava lendo uma reportagem sobre o jovem jogador <strong>de</strong> futebol, repleta <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>talhes sobre tudo o que aconteceu até ele se matar. Will minimizou a tela<br />

quando percebeu que eu estava atrás <strong>de</strong>le e isso me <strong>de</strong>u um nó no peito que<br />

<strong>de</strong>morou mais <strong>de</strong> meia hora para passar.<br />

Procurei na biblioteca essa mesma reportagem sobre o jogador. <strong>Eu</strong> vinha<br />

lendo os jornais. Vi quais argumentos eram mais sólidos: nem sempre as<br />

informações mais difíceis, mais duras, eram as mais úteis.<br />

Os tabloi<strong>de</strong>s arrasaram com os pais do jogador. As manchetes gritavam:<br />

<strong>Como</strong> o <strong>de</strong>ixaram morrer? <strong>Eu</strong> também me perguntava isso. Leo McInerney tinha<br />

24 anos e estava doente havia três, portanto, não muito mais tempo que Will. Ele<br />

não era jovem <strong>de</strong>mais para ter certeza <strong>de</strong> que não tinha mais razão para viver? Só<br />

então li a mesma matéria que Will lera: não era um texto opinativo, mas um<br />

amplo histórico sobre o que acontecera com o rapaz. Dava a enten<strong>de</strong>r que o

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