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Como Eu Era Antes de Voce - Jojo Moyes

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atuta e <strong>de</strong> repente a sala foi tomada pelo som. Senti a música como se fosse algo<br />

físico que não entrava só pelos meus ouvidos, mas uía <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim, me<br />

cercava, fazia meus sentidos vibrarem. Estava toda arrepiada e minhas mãos<br />

caram úmidas. Will não tinha falado que era assim. Pensei que fosse car<br />

entediada. Mas aquela era a coisa mais linda que eu já tinha ouvido.<br />

E ainda fazia a minha imaginação percorrer caminhos inesperados; sentada<br />

ali, pensei em coisas que não passavam mais pela minha cabeça havia anos, fui<br />

invadida por velhas emoções; novas i<strong>de</strong>ias e pensamentos surgiam como se minha<br />

percepção se ampliasse. <strong>Era</strong> quase excessivo, mas eu não queria que parasse.<br />

Queria car sentada ali para sempre. Dei uma olhada em Will. Ele estava<br />

enlevado, distraído. Virei-me para a frente, com um medo inesperado <strong>de</strong> estar<br />

observando-o. Temia o que ele pu<strong>de</strong>sse estar sentindo, o tamanho da entrega, a<br />

extensão dos seus medos. A vida <strong>de</strong> Will Traynor era tão diferente da minha.<br />

Quem era eu para dizer como ele <strong>de</strong>veria viver?<br />

* * *<br />

O amigo músico <strong>de</strong> Will mandou um bilhete nos convidando para irmos ao<br />

camarim <strong>de</strong>pois da apresentação, mas Will não quis. Insisti, porém, pela tensão<br />

em suas mandíbulas, percebi que ele realmente não estava com vonta<strong>de</strong>. Não<br />

podia culpá-lo. Lembrei como seus ex-colegas <strong>de</strong> trabalho o olharam naquele dia:<br />

com um misto <strong>de</strong> pena, repulsa e, <strong>de</strong> certa maneira, profundo alívio por terem<br />

sido poupados daquele golpe do <strong>de</strong>stino. Desconei que ele não suportava muito<br />

esse tipo <strong>de</strong> visita.<br />

Esperamos a plateia esvaziar e então empurrei sua ca<strong>de</strong>ira até o elevador que<br />

dava para o estacionamento. Não tive problemas para colocar Will no carro.<br />

Falei pouco, pois a música ainda tocava na minha cabeça e eu não queria que<br />

parasse. Fiquei pensando nela e em como o amigo <strong>de</strong> Will estava tão absorto pelo<br />

que tocava. <strong>Eu</strong> não sabia que a música era capaz <strong>de</strong> fazer com que coisas novas<br />

surgissem <strong>de</strong>ntro da gente e <strong>de</strong> nos levar a lugares que nem o compositor<br />

imaginou. Deixava uma marca no ar a nossa volta e era como se, ao sair do<br />

concerto, você carregasse os resquícios consigo. Sentada ali na plateia, por algum<br />

tempo, esqueci até que Will estava ao meu lado.<br />

Chegamos ao anexo. Na nossa frente, por cima do muro, surgia o castelo<br />

iluminado pela lua cheia, observando-nos sereno do alto da colina.<br />

— Quer dizer que você não gosta <strong>de</strong> música clássica?<br />

Olhei pelo retrovisor. Will estava sorrindo.<br />

— Não gostei nem um pouco.<br />

— <strong>Eu</strong> vi.<br />

— Não gostei especialmente daquele final, com o solo <strong>de</strong> violino.<br />

— Percebi. Aliás, você <strong>de</strong>testou tanto que ficou com lágrimas nos olhos.

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